Pesquisar este portal

22 julho, 2025

Além da Embraer: Brasil quer construir uma aliança estratégica de defesa com o Marrocos

Imprensa marroquina destaca a ampliação da proposta brasileira, que incluiria a aeronave Embraer C-390 mas iria além


*La Vérité, por Fayçal El Amrani - 22/07/2025

O que começou como uma dinâmica comercial promissora entre Rabat e Brasília parece agora entrar em uma nova fase. No Fórum LIDE Brasil-Marrocos, realizado de 8 a 11 de julho em Marrakech, o Brasil apresentou uma proposta clara: construir uma aliança estratégica de defesa com o Marrocos. Este projeto ambicioso, apoiado por bases jurídicas consolidadas, marca uma continuação lógica dos avanços econômicos bilaterais dos últimos anos.

Embora o comércio tenha sido frequentemente o primeiro passo em parcerias internacionais, os tempos estão mudando. Novas potências emergentes, das quais Marrocos agora faz parte, buscam ir além: compartilhar, codesenvolver e adquirir soberania industrial. O Brasil, ciente dessa aspiração, está se aproximando de Rabat com um projeto concreto, lúcido e vantajoso para todos.

Proposta clara: construir uma aliança estratégica com o Marrocos na área de defesa
É nesse contexto que o Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo Rodrigues, Secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa do Brasil, anunciou em Marrakech a intenção de seu país de firmar uma verdadeira aliança estratégica com o Reino. Uma aliança que, segundo ele, se baseia em uma "profunda convergência" de visões entre os dois Estados: a de um desenvolvimento industrial nacional baseado na transferência de tecnologia, no desenvolvimento de competências locais e na criação de empregos de alto valor agregado.

O Marrocos, que recentemente intensificou suas relações econômicas com o Brasil — em especial por meio da gigante de fertilizantes OCP —, vive agora uma nova era. O eixo Rabat-Brasília, que começou com acordos comerciais, caminha agora para uma cooperação militar e tecnológica estrutural. Este é um desenvolvimento natural, até mesmo inevitável, em um mundo onde segurança e resiliência industrial andam de mãos dadas.

A abordagem brasileira não surgiu do nada. Ela se apoia em uma base jurídica sólida: um acordo de cooperação em defesa assinado em 2023, apoiado por um acordo anterior de 2019, que já prevê intercâmbios de treinamento, manobras conjuntas e o desenvolvimento de capacidades compartilhadas. Em outras palavras, as bases existem; é só uma questão de ativá-las em maior escala.

O Brasil aposta em seus sucessos em cooperação tecnológica para atrair Rabat. Por exemplo, produziu o caça com a Suécia, os submarinos com a França e as fragatas com a Alemanha. Uma indústria de defesa que sabe aprender, se adaptar e transmitir conhecimento: um perfil raro entre parceiros internacionais. Para o Marrocos, frequentemente confrontado com a relutância ocidental em relação à transferência de tecnologia, esta é uma oportunidade a ser aproveitada.

Embraer KC-390 Millennium, mísseis, blindados 6x6, radares, drones etc.

A parceria proposta abrange diversos aspectos. No âmbito aéreo, a Embraer, carro-chefe da aeronáutica brasileira, propõe a integração de sua aeronave de transporte militar KC-390 à frota da Força Aérea Real Marroquina. Esta aeronave moderna, de alto desempenho e já testada em campo poderá agregar valor real às capacidades logísticas do Reino. A presença em Marrakech de Márcio Monteiro, Vice-Presidente de Defesa da Embraer, apenas confirmou a solidez da oferta.

Mas a oferta brasileira vai além disso: sistemas de lançamento de mísseis, veículos blindados 6x6, radares, drones e muito mais. Todos esses equipamentos podem estar sujeitos a acordos de produção local. E esse é o cerne da proposta: ir além do ato de comprar para construir uma soberania industrial compartilhada.

Projeto humano e civilizacional
Essa mudança estratégica não é insignificante. Ela reflete o firme desejo do Marrocos de construir uma base industrial de defesa autônoma. Em um ambiente regional instável e diante das atuais realidades geopolíticas, o Reino não tem escolha a não ser acelerar seu crescimento tecnológico. A experiência brasileira, não vinculada a condicionalidades políticas restritivas como às vezes ocorre na Europa, constitui um modelo de parceria mais flexível e mais adequado às nossas prioridades nacionais.

MoU entre o Colégio Real de Ensino Superior Militar e a Escola Superior de Defesa

Sinais tangíveis corroboram esse impulso: um memorando de entendimento entre o Colégio Real de Ensino Superior Militar e a Escola Superior de Defesa foi assinado recentemente, enquanto um adido militar marroquino permanente assumirá suas funções na embaixada de Rabat em Brasília. Essas decisões reforçam a clara intenção de manter a cooperação bilateral.

Mas esta aliança não se resume apenas à ação militar. Ela também representa um projeto humano e civilizacional que formará engenheiros marroquinos, criará centros de pesquisa conjuntos e proporcionará oportunidades para o desenvolvimento de competências nacionais frequentemente forçadas ao exílio. Ela oferece outro caminho: o de um desenvolvimento industrial inclusivo e arraigado, que respeite os interesses mútuos.

Ao se abrir a esse tipo de parceria Sul-Sul, o Marrocos afirma sua independência estratégica e, ao mesmo tempo, consolida sua influência regional e continental. Quanto ao Brasil, confirma seu papel como um ator global capaz de construir alianças sólidas além de seu continente. Essa convergência, nascida do diálogo econômico, pode muito bem se tornar um dos pilares de uma nova arquitetura de segurança e desenvolvimento compartilhada entre duas potências emergentes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque