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30 julho, 2025

Sistema de autodefesa do KC-390 Millennium é avaliado pela FAB


*LRCA Defense Consulting - 30/07/2025

A Força Aérea Brasileira (FAB) conduziu entre os dias 21 e 25/07, na Base Aérea de Canoas (BACO), a Avaliação Operacional Contratual (AVOP) do sistema de autodefesa da aeronave KC-390 Millennium. A atividade integrou a Operação Zeus 2025 – Fase Self Protection System (SPS) e teve como objetivo verificar a eficácia e a conformidade dos sistemas de autoproteção do vetor, essenciais para missões em cenários operacionais modernos.

Coordenada pelo Instituto de Pesquisa e Ensaios em Voo (IPEV), do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), a avaliação contou com o apoio do Comando de Preparo (COMPREP), por meio do Instituto de Aplicações Operacionais (IAOp), e de Organizações Militares como o Primeiro Grupo de Transporte de Tropa a (1º GTT) – Esquadrão Zeus, o Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT) – Esquadrão Gordo, o Primeiro Grupo de Defesa Antiaérea (1º GDAAE), o Grupo Logístico de Anápolis (GLOG-AN). Especialistas da empresa EMBRAER participaram como observadores da atividade.

Com o apoio do Primeiro Esquadrão do Décimo Quarto Grupo de Aviação (1º/14º GAV) – Esquadrão Pampa, sediado na Base Aérea de Canoas (BACO), a AVOP teve como objetivo validar a capacidade do KC-390 Millennium de detectar e reagir a ameaças guiadas por radiofrequência — fator essencial para a sobrevivência da aeronave em ambientes aéreos hostis. A atividade foi marcada pela sinergia entre as equipes técnicas, responsáveis pelo planejamento das missões e pela programação dos sistemas embarcados, como o Radar Warning Receiver (RWR) e o Counter Measure Dispenser System (CMDS), e as equipes operacionais, encarregadas da elaboração da doutrina de emprego e do suporte logístico necessário ao pleno funcionamento do sistema de autodefesa.

“A capacidade de identificar e neutralizar ameaças é fundamental para a segurança. A avaliação permitiu ao KC-390 fornecer informações precisas e opções de autodefesa cruciais para os pilotos em situações de combate”, afirmou o Capitão Aviador Fernando Polizel Culhari, do Instituto de Pesquisa e Ensaios em Voo (IPEV).

O Capitão Aviador Matheus Protásio do Nascimento, do Primeiro Grupo de Transporte de Tropa (1º GTT), destacou que a AVOP foi essencial para validar a capacidade do KC-390 de detectar ameaças e utilizar contramedidas de forma eficaz. Segundo ele, os resultados e as lições aprendidas durante a campanha devem contribuir significativamente para o aumento da taxa de sobrevivência da aeronave em cenários adversos. “O uso eficaz de contramedidas eletrônicas contribui diretamente para o aumento da taxa de sobrevivência da aeronave em situações reais de combate”, ressaltou. 

Tecnologia portátil reforça defesa contra ameaças aéreas não tripuladas


*LRCA Defense Consulting - 30/07/2025

Entre os dias 16 e 18 de junho, foram realizadas a entrega e a capacitação operacional de dois bloqueadores (jammers) de mão SCJ2000M, no Forte Marechal Rondon, em Brasília. Esse eventos dão continuidade às ações de fortalecimento da capacidade operacional do Exército Brasileiro, no contexto dos Projetos de Sensoriamento e Apoio à Decisão, integrantes do Programa Estratégico do Exército Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras. 

Os equipamentos, compactos e de alta eficiência, são voltados para a proteção da tropa contra os Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARPs), especialmente em cenários de ameaças aéreas de baixa altitude.

A capacitação contou com a presença do General de Brigada Jacy Barbosa Junior, Comandante de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército e Gerente dos Projetos SAD/SISFRON, cuja participação reforçou a relevância da atividade e evidenciou o compromisso da Força com a modernização dos meios e o constante preparo da tropa.

As instruções práticas foram conduzidas com a participação de militares do 1º Batalhão de Guerra Eletrônica, que realizaram simulações de interferência e bloqueio eletrônico. As atividades foram acompanhadas por um engenheiro da Organização Brasileira para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Controle do Espaço Aéreo e por representantes da empresa fornecedora do sistema. Durante os testes, foram empregados drones comerciais e modelos de fabricação não padronizada, demonstrando a eficácia e a adaptabilidade da tecnologia em diferentes cenários operacionais.

A iniciativa integra os esforços contínuos do CCOMGEX para dotar as Forças de recursos modernos, alinhados às exigências do campo de ação, consolidando o papel dos Projetos SAD/SISFRON como vetores de inovação, capacitação e superioridade tecnológica no ambiente operacional terrestre.


Tecnologia
O SC-J2000M é um sistema portátil de interferência eletromagnética, com controle direcional definido por software, capaz de atuar em múltiplas faixas de frequência programáveis. Essa flexibilidade permite adaptação dinâmica ao tipo de ameaça, possibilitando a atuação precisa contra diferentes modelos de SARPs, inclusive aqueles fora dos padrões comerciais. 

Suas principais características incluem:

- Faixa de frequência: 2.4 GHz, 5.8 GHz, GPS, 400 MHz a 2 GHz (incluindo faixas definidas pelo usuário com largura de banda de 200 MHz).

- Distância máxima de controle: até 1500 metros em áreas abertas.

- Design portátil: leve, com bateria de lítio de alta capacidade que oferece até 120 minutos de operação contínua.

- Modo de controle: pode forçar o drone a pousar no local ou retornar ao ponto de origem.

Além de sua eficiência técnica, o bloqueador destaca-se por sua leveza, facilidade de transporte e manuseio intuitivo, características ideais para contextos de rápida entrada em operação. Essa combinação de desempenho e praticidade amplia a proteção de tropas em deslocamento e de instalações temporárias, aumentando significativamente a prontidão operacional da Força.

O jammer SC-J2000M é fabricado pela Novasky Technology Company Limited by Shares, uma empresa chinesa especializada em tecnologias de detecção eletromagnética, sensores e sistemas de defesa, incluindo soluções antidrones. A empresa, fundada em 2006, possui centros de pesquisa em Changsha, Chengdu e Xi'an, além de subsidiárias em Pequim e Xangai, e é reconhecida como uma empresa de alta tecnologia na China.


 

29 julho, 2025

China avança estrategicamente no Brasil: investimentos militares e financeiros sob escrutínio

A expansão do gigante asiático na América Latina preocupa os Estados Unidos, enquanto Pequim reforça sua presença em setores-chave como defesa e sistema bancário


*Red Pat - 28/07/2025

A influência da China no Brasil deixou de ser meramente comercial e agora se posiciona como uma estratégia geopolítica de longo prazo. Dois setores-chave — o militar e o financeiro — estão atraindo a atenção do governo de Xi Jinping, levantando suspeitas tanto no Congresso dos EUA quanto nas Forças Armadas brasileiras.

Um dos movimentos mais significativos é o interesse do conglomerado estatal chinês Norinco em estabelecer operações de defesa no estado da Bahia e adquirir uma participação na empresa brasileira de sistemas de mísseis Avibras. Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China em maio, ele se encontrou pessoalmente com o CEO da Norinco, Cheng Defang, abrindo caminho para futuras colaborações nos setores militar, de segurança pública e de produção de armamentos no Brasil.

O jornalista William Waack , em artigo no jornal O Estado de São Paulo, alertou que o objetivo da China é transformar o Brasil em um centro de operações militares para a América Latina, desafiando o domínio histórico de potências como Estados Unidos, França e Alemanha. A Norinco, sancionada pelos EUA por ligações com o programa de mísseis do Irã, também foi acusada de supostamente fornecer armas ao Hamas e de componentes encontrados em armas russas na Ucrânia.

Além do interesse na Avibras, a proposta da Norinco inclui o fornecimento do sistema de defesa aérea Sky Dragon 50, tanques VT4 e tecnologias baseadas em inteligência artificial, todos com possibilidade de fabricação local. As negociações ocorrem em meio ao aumento das tensões entre o Brasil e os EUA, em um momento em que Washington mantém cooperação ativa com as Forças Armadas brasileiras, incluindo a recente compra de mísseis Javelin e helicópteros Black Hawk .

Sistema financeiro: um novo campo de disputa
Ao mesmo tempo, o avanço da China no setor financeiro brasileiro está se acelerando. A Mastercard anunciou que será o primeiro banco latino-americano a aderir ao Sistema Interbancário Internacional da China (CIPS), uma plataforma projetada por Pequim para facilitar pagamentos internacionais em renminbi, a moeda oficial da China, contornando assim o sistema financeiro ocidental, dominado pelo dólar.

A chegada da UnionPay, a maior rede de cartões de crédito da China, também representa um marco. Sua operação no Brasil está vinculada ao sistema CIPS e é vista como parte fundamental do projeto do BRICS para desdolarizar o comércio internacional.

O economista Hugo Queiroz alertou ao veículo O Antagonista que esses avanços, embora apresentados como desdobramentos de mercado, têm um forte componente político. "Isso pode desencadear retaliações dos Estados Unidos, principalmente se for percebido como uma manobra para driblar sanções internacionais", observou.

Do ponto de vista militar, o professor Robert Evan Ellis, da Escola de Guerra do Exército dos EUA, alerta que a cooperação com a China pode permitir que o Exército de Libertação Popular (ELP) obtenha conhecimento das estruturas militares latino-americanas, uma vantagem no caso de um conflito com Washington, por exemplo, sobre Taiwan.

Uma mudança na América Latina?
A estratégia de Pequim é consistente com sua Iniciativa de Segurança Global (GSI) e com os objetivos delineados nos Livros Brancos de Defesa de 2015 e 2019. Durante a reunião China-CELAC em maio, Xi Jinping reafirmou seu compromisso com uma "zona de paz" nas Américas, mas sob uma lógica de segurança paralela à oferecida pelo Ocidente.

Enquanto isso, os Estados Unidos continuam monitorando de perto esses movimentos. A crescente proeminência da China no Brasil levanta questões sobre a soberania estratégica, o papel dos BRICS e o equilíbrio geopolítico da região. 

26 julho, 2025

Terras raras: o tesouro mineral que pode redefinir a soberania e a defesa do Brasil no Século XXI



 *LRCA Defense Consulting - 26/07/2025

Em um tabuleiro geopolítico cada vez mais complexo, onde a disputa por recursos estratégicos se acirra, o Brasil emerge como um protagonista inesperado. Detentor da segunda maior reserva mundial de terras raras — um grupo de 17 elementos químicos vitais para a tecnologia moderna e, crescentemente, para a defesa nacional —, o país se encontra no centro de uma "corrida do ouro do século XXI" e a discussão sobre o potencial e os desafios das terras raras brasileiras nunca foi tão pertinente.

Esta reportagem mergulha na importância dessas riquezas, nos dilemas enfrentados pelo Brasil e, crucialmente, na intrínseca ligação entre as terras raras e a capacidade do país de proteger sua soberania e avançar em um cenário global dinâmico.

O que são e por que valem tanto
As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos, como neodímio, praseodímio e disprósio, que, apesar do nome, não são tão "raros" na crosta terrestre. A raridade reside na dificuldade e nos desafios econômicos e ambientais de sua extração, separação e purificação. Suas propriedades magnéticas e condutoras únicas os tornam insubstituíveis na fabricação de alta tecnologia: de smartphones e veículos elétricos a turbinas eólicas e equipamentos médicos de ponta.

No campo da defesa, a relevância é ainda maior. Esses minerais são a espinha dorsal de sistemas de armas avançados, conferindo precisão, eficiência e capacidade de resposta que definem a superioridade militar na era moderna.

O gigantismo do Brasil em reservas
O Brasil detém aproximadamente 23% das reservas globais de terras raras, estimadas em impressionantes 21 milhões de toneladas. Este volume coloca o país em uma posição de destaque, atrás apenas da China, que concentra cerca de 49% do total mundial. Esse patrimônio mineral está distribuído em regiões estratégicas, como a Bacia do Parnaíba (Maranhão, Piauí e Ceará), Minaçu (Goiás), e áreas na Bahia, Amazonas e Minas Gerais.

Estudos do Serviço Geológico do Brasil (SGB) apontam um potencial econômico estratosférico: com a exploração, processamento e refino adequados, o país poderia agregar R$ 243 bilhões anuais ao Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos 25 anos.

O domínio chinês e a busca por alternativas
Apesar de suas vastas reservas, o Brasil figura com uma participação modesta de apenas 1% na oferta global, produzindo cerca de 20 toneladas em 2024, um contraste gritante com as 270 mil toneladas da China. Pequim não apenas domina a produção (70% global), mas também detém o quase monopólio do processamento (92%), controlando a cadeia de valor.

Essa concentração gera uma dependência estratégica alarmante para o Ocidente, que busca desesperadamente diversificar suas fontes. Os Estados Unidos, em particular, têm direcionado seu olhar para o Brasil, sinalizando abertamente o interesse em acordos comerciais para acessar esses minerais críticos, em meio a tensões comerciais e ameaças de tarifas. A resposta brasileira (pelo menos no discurso) tem sido enfática na defesa da soberania nacional, priorizando também uma futura agregação de valor e o processamento interno.

Os desafios da exploração e o caminho brasileiro

A baixa produção brasileira não reflete apenas a falta de recursos, mas sim uma série de entraves:
- Licenciamento ambiental demorado: a burocracia para obter licenças para mineração é um gargalo significativo.

- Carência de tecnologia: o Brasil ainda carece de know-how e infraestrutura para as etapas de separação e refino, que agregam maior valor aos minerais. Especialistas apontam que a China detém essa tecnologia, o que encarece a importação de produtos já processados.

- Falta de investimentos: embora haja interesse estrangeiro, os aportes ainda não são suficientes para impulsionar a cadeia produtiva em larga escala.

- Impactos socioambientais: a mineração de terras raras é poluente e tem gerado conflitos em áreas como Minaçu (Goiás), onde processos minerários se sobrepõem a assentamentos rurais e comunidades tradicionais, exigindo regulamentação clara e atenção às populações locais.

Apesar dos desafios, há um movimento crescente para reverter esse quadro. O Ministério de Minas e Energia (MME) traçou a meta ambiciosa de posicionar o Brasil entre os cinco maiores produtores globais em poucos anos. Projetos como a Mineração Serra Verde, em Minaçu (GO), já em produção comercial, e os investimentos da australiana Meteoric Resources em Poços de Caldas (MG), demonstram o potencial. Iniciativas como a criação de um fundo de R$ 1 bilhão para pesquisa mineral, o Centro de Inovação e Tecnologia para Ímãs de Terras Raras do Senai e a aquisição de um laboratório-fábrica pela FIEMG visam desenvolver a tecnologia e a industrialização nacional.

Locais de maior incidência do extrativismo de terras raras

Terras raras e a defesa nacional: o ativo estratégico
A relação entre terras raras e defesa é um capítulo fundamental na estratégia de segurança de qualquer nação. Para o Brasil, essa conexão é duplamente importante, dado o vasto potencial do país.

As terras raras são componentes indispensáveis na fabricação de equipamentos militares avançados. A capacidade de desenvolver e manter uma indústria de defesa autônoma e moderna depende diretamente do acesso seguro a esses minerais. A dependência de fontes externas pode comprometer a capacidade operacional das Forças Armadas e a autonomia do país em decisões cruciais.

Motor da tecnologia militar
A aplicação de terras raras eleva o nível tecnológico dos sistemas de defesa. Elas são essenciais em:

- Sistemas de comunicação avançados: radares e sistemas via satélite, garantindo transmissões rápidas e seguras.

- Mísseis guiados: motores de precisão e sistemas de guiamento que tornam os mísseis mais exatos e letais.

- Tecnologias de detecção: sensores, lasers e equipamentos de visão noturna, cruciais para a vigilância e a identificação de alvos.

- Aeronaves e submarinos: componentes que contribuem para a leveza, eficiência e desempenho de motores e sistemas eletrônicos em plataformas militares complexas.

Vulnerabilidade da dependência externa
O quase monopólio chinês representa um risco geopolítico imenso. Em caso de conflitos ou restrições de exportação, a interrupção no fornecimento poderia paralisar a produção e a manutenção de equipamentos vitais, afetando severamente a segurança nacional.

Políticas de segurança de suprimento

O governo brasileiro tem implementado políticas para mitigar esses riscos. A discussão sobre uma Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos é um passo importante para definir quais minérios são essenciais para a defesa. O investimento em P&D, incentivos fiscais e parcerias estratégicas (que não comprometam a soberania) buscam desenvolver uma cadeia produtiva interna robusta.

A "compra" de minas brasileiras e o que isso significa
A questão da "compra" de minas brasileiras de terras raras por entidades estrangeiras é complexa e merece atenção. Embora não haja um registro generalizado de aquisições diretas de grandes minas brasileiras de terras raras por empresas estatais chinesas, o que se observa é uma forte influência por meio de acordos estratégicos. 

O caso da Mineração Serra Verde, em Minaçu (GO), é emblemático. Apesar de ter recebido investimentos significativos de fundos americanos e ser a única produtora de terras raras pesadas em escala fora da Ásia, sua produção está, em grande parte, contratualmente comprometida com a China até pelo menos 2027. Isso ocorre porque a China detém o monopólio quase absoluto da tecnologia de processamento e separação desses elementos. Essa situação, onde a produção de uma mina estratégica é direcionada a um único país com capacidade de processamento, levanta sérias questões sobre a soberania e o controle do Brasil sobre seus próprios recursos. Mesmo que a propriedade da mina não seja chinesa, o destino de sua produção é. Isso significa que, na prática, o Brasil continua a ser um exportador de matéria-prima, sem agregar valor internamente e sem garantir o suprimento para sua própria indústria de defesa ou para aliados estratégicos.

Outro exemplo relevante é a venda da Mineração Taboca, controladora da Mina de Pitinga (AM), para uma estatal chinesa, que reacendeu discussões sobre soberania nacional. A Mina de Pitinga é rica em cassiterita, nióbio, terras raras e urânio. Especialistas alertam que a transferência de controle para empresas estrangeiras pode resultar na perda de domínio sobre recursos críticos, comprometendo a capacidade do Brasil de desenvolver sua própria indústria de alta tecnologia e defesa. 

A australiana Meteoric Resources, por exemplo, adquiriu o projeto Caldeira em Minas Gerais, um importante depósito de terras raras de argila iônica, e está buscando financiamento, inclusive do governo brasileiro, para desenvolver a cadeia de valor. 

A implicação para o Brasil é clara: a ausência de infraestrutura e know-how para o processamento de terras raras nos torna vulneráveis. A "compra" da produção, mesmo sem a aquisição da mina, é uma forma de controle que impede o País de usar seus recursos como alavanca geopolítica e de segurança nacional. Para reverter esse quadro, é imperativo que o Brasil invista massivamente em tecnologia de processamento e em toda a cadeia de valor, garantindo que a riqueza extraída do solo brasileiro beneficie primeiramente o desenvolvimento nacional e a defesa.

Espera-se que Serra Verde produza pelo menos 5.000 toneladas (t) de óxido de terras raras anualmente. Crédito: Serra Verde.

Futuro da defesa com terras raras
As perspectivas para a defesa nacional brasileira estão diretamente ligadas à capacidade do País de transformar suas reservas em produtos de alto valor agregado. A demanda por equipamentos militares mais leves, eficientes e de alto desempenho continuará a crescer. Investimentos em infraestrutura, capacitação de mão de obra e políticas públicas que conciliem desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental serão fundamentais para que o Brasil não apenas utilize esses recursos para sua própria segurança, mas também se posicione como um fornecedor estratégico e confiável no cenário global.

Nióbio e grafeno: outros pilares da defesa nacional
Além das terras raras, o Brasil possui outras riquezas minerais que são igualmente estratégicas para a defesa nacional: o nióbio e o grafeno. O país detém as maiores reservas mundiais de nióbio, sendo o principal produtor global, com cerca de 98% das reservas globais. Este metal é fundamental para a produção de ligas metálicas de alta resistência e leveza, essenciais na indústria aeroespacial e de defesa. O nióbio é empregado em componentes de aeronaves, mísseis, veículos blindados e navios, onde a redução de peso e o aumento da durabilidade são cruciais para o desempenho e a segurança. Sua capacidade de formar superligas o torna indispensável para motores a jato e turbinas, que operam em condições extremas, e também é usado em supercondutores e na indústria de inteligência artificial e armamentos avançados.

Já o grafeno, derivado do grafite (mineral abundante no Brasil, que possui a segunda maior reserva mundial e é o terceiro em reservas, com cerca de 22% das reservas globais de grafite), é considerado o "material do futuro" devido às suas propriedades extraordinárias: é o material mais fino, mais forte e mais condutor de eletricidade e calor conhecido, sendo 200 vezes mais forte que o aço. Na defesa, o grafeno promete revolucionar diversas áreas: desde o desenvolvimento de armaduras mais leves e resistentes, passando por sensores ultrassensíveis para detecção de ameaças, até a criação de eletrônicos flexíveis e transparentes para equipamentos de comunicação e visão. Sua aplicação em baterias e supercapacitores pode aumentar significativamente a autonomia de drones e veículos militares. 

O domínio da cadeia de valor do nióbio e o investimento em pesquisa e desenvolvimento de grafeno são, portanto, cruciais para que o Brasil não apenas fortaleça sua indústria de defesa, mas também se posicione na vanguarda da inovação tecnológica militar global.

A encruzilhada geopolítica: China, EUA e Brasil
O Brasil se encontra em uma posição delicada, mas também privilegiada. O interesse dos EUA pode abrir portas para investimentos e mercados, aliviando pressões comerciais. Contudo, a China permanece o principal destino das exportações minerais brasileiras, e manter boas relações com Pequim é crucial para a balança comercial. A decisão do governo brasileiro exigirá habilidade diplomática para negociar com ambas as potências, sem comprometer a soberania nacional ou os laços comerciais já estabelecidos.

Oportunidade histórica

As terras raras, o nióbio e o grafeno representam uma oportunidade histórica para o Brasil. A transição de um mero detentor de reservas para um ator relevante na cadeia de valor global desses minerais é um caminho complexo, mas imperativo. Superar os desafios técnicos, ambientais e sociais, e investir maciçamente em pesquisa, desenvolvimento e industrialização, permitirá ao país não apenas impulsionar sua economia, mas também fortalecer sua capacidade de defesa e consolidar sua posição como uma potência emergente no cenário geopolítico mundial. 

A "corrida do ouro do século XXI" está em seu auge, e o Brasil tem em mãos um dos maiores tesouros para moldar seu próprio destino.

Workshop de integração do Link-BR2 no F-39 Gripen acontece no DCTA

 


*LRCA Defense Consulting - 26/07/2025

Entre os dias 22 e 24/07, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), sediado em São José dos Campos (SP), realizou o Workshop de Integração do Link-BR2 na aeronave F-39 Gripen.

O encontro técnico-operacional foi realizado no Laboratório de Guerra Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e reuniu militares da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), do Comando de Preparo (COMPREP), do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) e do DCTA.

O evento teve como objetivo avançar na integração do Sistema de Enlace de Dados Link-BR2 ao F-39, caça de última geração incorporado pela Força Aérea Brasileira (FAB), ampliando significativamente as capacidades de Comando e Controle no âmbito do Comando da Aeronáutica (COMAER).

Durante o workshop, foram discutidos e aprimorados aspectos do Conceito Operacional (CONOPS) relacionados ao emprego do Link-BR2, alinhando suas funcionalidades técnicas aos objetivos estratégicos da FAB. Um dos principais focos foi a interoperabilidade entre diferentes vetores aéreos da Força, reforçando a coesão entre os diversos meios de combate e elevando a consciência situacional no ambiente operacional.

Ferramenta essencial de Comando e Controle
De acordo com o representante da COPAC, que compõe a Gerência do Projeto F-X2, o Coronel Especialista em Comunicações Romulo Silva de Oliveira, a atividade foi decisiva para o progresso operacional da Força. “O workshop teve grande relevância para as áreas técnica e operacional, pois marca o progresso profissional das equipagens de combate, além de consolidar o Link-BR2 como ferramenta essencial de Comando e Controle no âmbito do COMAER”, destacou.

O Gerente Técnico do Projeto F-X2, Coronel Aviador George Luiz Guedes de Oliveira, também ressaltou o impacto estratégico do encontro. “Esta fase de integração é um marco para a consolidação das capacidades do F-39. O Link-BR2 representa uma das principais ferramentas de conectividade e consciência situacional da FAB, e a participação conjunta das áreas técnica e operacional é fundamental para assegurar sua eficácia no ambiente real de missão”, pontuou.

A iniciativa reforça o compromisso da FAB com a modernização de suas plataformas e doutrinas, promovendo a excelência no preparo e emprego do poder aeroespacial em prol da soberania do espaço aéreo brasileiro. 

Link-BR2
O programa Link-BR2 brasileiro visa fornecer recursos de datalink nacional seguro, habilitar a conectividade digital de todas as plataformas aéreas entre si e estabelecer a interoperabilidade Multi Domínio. A próxima fase de integração será a bordo das aeronaves Gripen NG da SAAB, enquanto o roteiro do programa Link-BR2 inclui a integração dos recursos do Sistema a bordo de todas as aeronaves da FAB.

As funcionalidades incluem o fornecimento de consciência situacional multidomínio, permitindo ligações de dados baseadas em Rede Ad Hoc Móvel (MANET) (ar-ar e ar-terra), facilitando a transmissão de aplicações aéreas por longos alcances incluindo áudio e dados simultâneos e exibição de uma imagem operacional comum que é compartilhada entre todos os membros da rede – segmentos aéreos e segmentos terrestres.

Demonstrando a capacidade de transmissão multicanal simultânea, o Link-BR2 permite que forças aéreas e terrestres realizem interceptação de alvos, recebimento de informações de radares terrestres e fechamento rápido de loops sensor-atirador, como parte da arena multidimensional. O programa estratégico Link BR2 levará as Forças Armadas Brasileiras a operar no conceito NCW, uma tecnologia disruptiva que traz uma enorme vantagem no cenário operacional local.

AEL Sistemas
A AEL Sistemas - principal empresa responsável pelo desenvolvimento e integração do Link‑BR2, em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB) e outras empresas nacionais (Embraer, Atech, Kryptus Defesa e Segurança e Aeromot) -  é uma empresa brasileira subsidiária da israelense Elbit Systems que, há 40 anos se dedica ao projeto, desenvolvimento, fabricação, manutenção e suporte logístico de sistemas eletrônicos militares e espaciais, para aplicações em plataformas aéreas, marítimas e terrestres. Atualmente, participa do desenvolvimento de diversos Projetos Estratégicos das Forças Armadas do Brasil e dos principais programas de Comando e Controle do Ministério da Defesa, como: Link-BR2, STERNA, SIC2MB e RDS Defesa. Atualmente, a empresa é considerada um Centro de Excelência em Tecnologia de Defesa. 

23 julho, 2025

Agentes da Segurança Pública do Acre participam de treinamento com drone Harpia na sede da ADtech em São Paulo

O primeiro Harpia será operado a partir de Rio Branco e um segundo exemplar, já em processo de aquisição, será baseado em Cruzeiro do Sul

Quatro agentes que atuam na Segurança Pública do Acre participam do treinamento em SP. Foto: Ascom/Sejusp

*Agência de Notícias do Acre, por Aline Vitória - 22/07/2025

Em maio deste ano, o Acre tornou-se o primeiro estado brasileiro a obter, por meio da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp), um drone Harpia. O dispositivo espião conta com a tecnologia para o reforço no videomonitoramento da Segurança Pública. Como parte do investimento, a equipe que irá operar o equipamento iniciou o treinamento na sede da Advanced Technologies Security & Defense (ADtech), em São Paulo, na segunda-feira, 21.

O drone Harpia, desenvolvido pela ADtech, é um Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant), de alta tecnologia, do Sistema Aeronaves Remotamente Pilotadas (Sarp). O sistema será utilizado em operações policiais, monitoramento de atividades ilícitas em tempo real e apoio em desastres ambientais.

O secretário adjunto de Segurança, Evandro Bezerra, destaca a importância desse investimento para o estado do Acre. “Somos o primeiro estado brasileiro a adquirir essa tecnologia de ponta, o que demonstra nosso pioneirismo e visão estratégica. O investimento não se limita à aquisição do equipamento. Estamos capacitando nossa equipe técnica para operar o sistema com excelência”, disse.

Equipe de agentes da Segurança Pública participam do treinamento na sede da AdTech, em São Paulo. Foto: Ascom/Sejusp

O treinamento terá duração de 2 meses e inclui instruções teóricas e práticas para agentes das forças de segurança. Os quatro alunos, Delmar Cavalcante, Frank Damaceno, Tarso de Souza e Wagner da Silva, aprenderão sobre legislação de drones, capacidades do sistema, montagem e manutenção da aeronave, além da operação dos softwares e sensores embarcados.

Policial penal, Delmar Cavalcante, enfatiza sobre a importância dessa tecnologia para a segurança pública do estado. Foto: Ascom/Sejusp

O policial penal, Delmar Cavalcante, que integra a equipe de alunos do Acre, afirma que ao incorporar essa tecnologia de ponta, o Estado fortalece seu poder de vigilância em áreas sensíveis, amplia a capacidade de resposta a incidentes e eleva o padrão de atuação das forças de segurança. “A formação em operação de Vant representa um divisor de águas para a segurança pública do nosso Estado. Mais do que uma capacitação técnica, ela é uma resposta direta e estratégica às crescentes demandas por inteligência, eficiência e proteção nas ações da Sejusp”, concluiu.

Estado foi pioneiro em adquirir o drone tático
O  Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada (Sarp) Harpia foi projetado para oferecer uma cobertura ampla e eficaz. Com antenas de transmissão que alcançam 218 km, o drone permite um monitoramento detalhado do território. Equipado com uma câmera eletro-óptica e infravermelha/térmica de alta resolução, o Harpia proporciona observação precisa e segura, sendo uma ferramenta estratégica para diversas operações. Possui autonomia de até 12 horas, pode voar a 100 km/h, cobrindo uma distância de até 1.200 e teto de voo de 5.000 metros. Dotado de câmeras de alta resolução e transmissão em tempo real, o sistema também pode receber sensores adicionais, como radar SAR, inteligência de sinais e fotogrametria, elevando exponencialmente a capacidade de vigilância aérea do estado.

Foram mais de R$ 6,6 milhões de investimentos, provenientes de recursos do governo e de emenda parlamentar destinada pelo deputado federal Ulysses Araújo. Foto Dhárcules Pinheiro/Sejusp

O primeiro Harpia será operado a partir de Rio Branco e um segundo exemplar, já em processo de aquisição, será baseado em Cruzeiro do Sul, cobrindo a região do Vale do Juruá. O equipamento atenderá todo o sistema de Segurança Pública, incluindo Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e órgãos de fiscalização ambiental.
 

Tarifa de 50% sobre aviões da Embraer pode desencadear crise no setor aéreo regional dos EUA

Taxação ameaça dependência crucial, elevando custos e prejudicando a conectividade nacional nos EUA



*LRCA Defense Consulting - 23/07/2025

A iminente imposição de uma tarifa de 50% sobre os aviões da Embraer pelos Estados Unidos, com previsão de entrada em vigor em agosto, pode desencadear uma série de consequências negativas profundas para o próprio mercado norte-americano, indo muito além do impacto direto na fabricante brasileira. Especialistas e dados de mercado apontam para um cenário de perdas significativas para companhias aéreas regionais, a cadeia de suprimentos dos EUA e até mesmo para as relações comerciais bilaterais, contrariando o que se poderia esperar de uma medida protecionista.

Dependência crítica das companhias aéreas regionais dos EUA: um cenário sem alternativas
A Embraer não é apenas uma fornecedora, mas uma peça fundamental na estrutura da aviação regional dos EUA. Os modelos E170 e E175 da Embraer representam aproximadamente metade dos 1.367 jatos regionais operados pelas principais companhias aéreas americanas, como Alaska Airlines, American Airlines, Delta Air Lines e United Airlines. A aeronave E175, em particular, detém uma impressionante fatia de 86% do mercado de pedidos líquidos no segmento de até 90 assentos nos Estados Unidos.

Companhias como SkyWest Airlines (a maior operadora global de jatos Embraer, com 36.907 voos programados em novembro último), Republic Airways e Envoy Air dependem fortemente da frota da Embraer para suas operações. A ausência de concorrentes viáveis nesse nicho de mercado agrava a situação. O E175 é atualmente o único avião produzido em seu segmento, e a versão mais recente, o E175-E2, é considerada muito grande para as cláusulas de escopo dos contratos de pilotos dos EUA, tornando-o inviável para as companhias aéreas americanas.

Isso significa que as companhias aéreas dos EUA não têm alternativas prontas para substituir os jatos da Embraer. A imposição da tarifa tornaria as entregas de aeronaves "inviáveis", adicionando cerca de US$ 9 milhões ao custo de cada avião exportado para os EUA. Esse custo adicional, que poderia totalizar US$ 3,6 bilhões até 2030, seria repassado às companhias aéreas, elevando significativamente seus custos operacionais. Isso poderia levar a:

- Aumento dos preços das passagens: para compensar os custos mais altos, as companhias aéreas provavelmente aumentariam os preços das passagens, impactando diretamente os consumidores americanos.

- Redução da conectividade: com aeronaves mais caras e menos acessíveis, as companhias aéreas regionais podem ser forçadas a reduzir a frequência de voos ou até mesmo cortar rotas para comunidades menores, prejudicando a conectividade aérea em diversas regiões dos EUA, especialmente aquelas que dependem exclusivamente de voos regionais.

- Dificuldade na renovação da frota: a renovação da frota se tornaria proibitiva, levando ao envelhecimento das aeronaves e potenciais problemas de manutenção e eficiência, comprometendo a segurança e a modernidade da aviação regional.

Impacto na cadeia de suprimentos dos EUA e perda de empregos
Embora a Embraer seja uma empresa brasileira, ela possui uma presença significativa e integrada na economia dos EUA. A empresa tem uma presença "tributável" em 31 estados e opera 12 instalações, incluindo fábricas de montagem final para jatos executivos na Flórida e centros de manutenção, reparo e revisão (MRO). A Embraer também compra componentes de fornecedores americanos e exporta peças para o Brasil.

O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, alertou que as tarifas prejudicariam os fornecedores americanos de componentes essenciais, como motores e aviônicos. Uma redução nas vendas de aeronaves da Embraer para os EUA significaria uma diminuição nos pedidos para esses fornecedores, o que poderia resultar em:

- Perda de empregos: demissões em empresas americanas que fazem parte da cadeia de suprimentos da Embraer, afetando trabalhadores de alta qualificação no setor aeroespacial.

- Desestabilização da cadeia: interrupção de redes de suprimentos estabelecidas e eficientes, forçando as empresas a buscar alternativas mais caras ou menos eficientes, o que pode comprometer a competitividade.

- Redução de investimentos: a incerteza gerada pelas tarifas pode desestimular investimentos futuros no setor aeroespacial dos EUA, impactando a inovação e o crescimento.

Risco de retaliação e guerra comercial
A ameaça de tarifas já provocou uma resposta do Brasil. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o Brasil imporia tarifas retaliatórias se os EUA prosseguissem com a medida. Essa ação poderia escalar para uma guerra comercial, semelhante à que ocorreu entre os EUA e a China, impactando diversos setores da economia norte-americana.

A retaliação brasileira poderia afetar diversos setores da economia dos EUA, com grupos empresariais brasileiros já expressando preocupação com o aumento dos custos de equipamentos importados dos EUA. Uma guerra comercial prejudicaria as relações comerciais históricas entre os dois países e a credibilidade dos EUA como parceiro comercial confiável, além de potencialmente expor outros setores da economia a riscos de tarifação.

Impacto financeiro na Embraer e repercussões amplas
Analistas estimam que a tarifa de 50% poderia reduzir o lucro operacional anualizado da Embraer em até 41% e afetar a margem EBIT entre 0,7% e 0,9%. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, comparou o potencial impacto das tarifas à crise enfrentada durante a pandemia de COVID-19, destacando a gravidade da situação.

Apesar da robusta carteira de pedidos da Embraer, que somava US$ 29,7 bilhões ao final do segundo trimestre de 2025, e da desvalorização do real brasileiro em relação ao dólar (que favorece a empresa com receitas em dólar e custos em reais), o impacto negativo de uma tarifa de tal magnitude provavelmente superaria qualquer benefício cambial, forçando a Embraer a reconsiderar sua estratégia de mercado e investimentos.

Um tiro no próprio pé?
Em suma, a imposição de uma tarifa de 50% sobre os aviões da Embraer não seria uma medida isolada, mas uma ação com potencial para causar danos colaterais extensos. Ela representa um risco significativo para a estabilidade e a eficiência do setor de aviação regional dos EUA, a saúde de sua cadeia de suprimentos e suas relações comerciais internacionais. As consequências seriam sentidas por companhias aéreas, trabalhadores, fornecedores e, em última instância, pelos próprios consumidores americanos, que arcariam com passagens mais caras e menos opções de voo.

A medida, concebida para proteger interesses domésticos, pode, paradoxalmente, enfraquecer um setor vital da economia dos EUA, revelando a complexidade e as armadilhas das políticas comerciais unilaterais em um cenário econômico globalizado.

A urgência da negociação: evitando um cenário "perde-perde"
Diante das severas consequências projetadas para ambos os lados, a necessidade de negociação entre Brasil e Estados Unidos torna-se imperativa. A imposição unilateral de tarifas, como a proposta de 50% sobre os aviões da Embraer, cria um cenário de "perde-perde" que prejudica não apenas a indústria aeroespacial, mas também a economia mais ampla e as relações diplomáticas.

O próprio CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, descreveu a situação como "lose-lose" (perde-perde), enfatizando que as tarifas não só tornariam as exportações inviáveis para a Embraer, mas também afetariam os fornecedores americanos e as companhias aéreas dos EUA que dependem de seus produtos. A história recente de disputas comerciais globais demonstra que a escalada de tarifas raramente resulta em ganhos líquidos para qualquer das partes, levando a retaliações que desorganizam cadeias de valor e elevam custos para consumidores e empresas.

A busca por uma solução diplomática é o caminho mais sensato. Isso poderia envolver discussões sobre cotas, isenções específicas ou acordos de longo prazo que garantam a competitividade da Embraer no mercado americano sem desestabilizar o setor aéreo regional dos EUA. A cooperação, em vez do confronto, permitiria que ambos os países preservassem os benefícios de uma relação comercial robusta e evitassem os custos de uma guerra tarifária que ninguém pode se dar ao luxo de perder.

22 julho, 2025

Possibilidade de bloqueio do GPS pelos EUA gera preocupação no Brasil. Entenda a questão


*LRCA Defense Consulting - 22/07/2025

Nas últimas semanas, intensificaram-se especulações sobre possíveis retaliações dos Estados Unidos ao Brasil — entre elas, o bloqueio do acesso ao sistema GPS (Global Positioning System), controlado pelos EUA. A medida tem sido ventilada como parte de um pacote de sanções emergentes, alinhado a propostas de aumentos tarifários e ações diplomáticas envolvendo até a OTAN. 

Apesar disso, nenhuma declaração oficial de membros do governo americano confirmou esse tipo de intenção. Analistas apontam que se trata, em grande parte, de especulação conduzida via redes sociais e veículos sensacionalistas.

Como o GPS, operado pelos EUA, é amplamente utilizado em setores como agricultura, transporte, defesa e pesquisa, a possibilidade de sua interrupção levanta questões sobre os impactos no Brasil e a capacidade do país de mitigar essa perda. 

O que é o GPS e por que ele é importante?
O GPS é um sistema de navegação por satélite que fornece dados de posicionamento, navegação e tempo (PNT) para usuários civis e militares em todo o mundo. Com cerca de 31 satélites em órbita, o GPS é a espinha dorsal de aplicações que vão desde a navegação de smartphones até a agricultura de precisão e operações militares. 

No Brasil, ele é essencial para o agronegócio, que utiliza o posicionamento para o plantio e monitoramento de culturas, além de setores como aviação, logística e geodésia. Recentemente, tensões geopolíticas têm alimentado rumores de que os EUA poderiam restringir o acesso ao GPS como parte de sanções contra o Brasil, em resposta a divergências comerciais ou políticas. Embora tal medida seja considerada extrema, ela não é impossível, já que os EUA controlam o sistema e já aplicaram restrições seletivas no passado, como durante conflitos internacionais.

Há risco real de bloqueio seletivo do GPS?
Segundo especialistas ouvidos em análises técnicas e verificações de boatos, a interrupção do sinal somente para o Brasil é considerada tecnicamente inviável. O acesso civil ao GPS é aberto, gratuito e global — uma mudança seletiva exigiria alteração da arquitetura técnica do serviço e afetaria inclusive empresas americanas operando em solo brasileiro. Boatos que sugerem que “Trump ameaçou cortar o GPS do Brasil” não têm qualquer respaldo oficial ou registro confiável.

O que mudaria se o sinal fosse bloqueado?
Apesar da baixa viabilidade técnica, muitos especialistas analisam os impactos hipotéticos de uma interrupção do GPS no País:

- Agronegócio: o agronegócio, pilar da economia brasileira, depende do GPS para o mapeamento de terras e a operação de máquinas automatizadas. A ausência do GPS poderia causar interrupções temporárias, mas equipamentos modernos já são compatíveis com GLONASS, Galileo e BeiDou. Fazendeiros com dispositivos mais antigos, no entanto, poderiam enfrentar dificuldades até a substituição ou atualização dos equipamentos.

- Logística e transportes: rastreamento de cargas, gestão de frotas, aplicativos de entrega e mobilidade urbana seriam atingidos, causando caos nos sistemas urbanos e comerciais. A navegação aérea, marítima e terrestre seria impactada, especialmente em sistemas que dependem exclusivamente do GPS. A transição para outras constelações exigiria ajustes em softwares e hardwares, o que poderia gerar atrasos e custos significativos adicionais.

- Sistemas financeiros e telecomunicações: serviços dependem do tempo preciso transmitido via GPS para sincronização; sua ausência poderia comprometer a segurança de transações e redes. 

- Defesa e segurança: a maioria dos sistemas militares baseados em posicionamento depende da infraestrutura americana para operações confiáveis e enfrentaria desafios significativos. O Brasil precisaria negociar acordos com outros países, como a Rússia ou a China, para acessar sinais seguros de suas constelações, uma solução que poderia ser politica e estrategicamente sensível.

- Pesquisa e Geodésia: a RBMC garante que atividades científicas e de mapeamento continuem funcionando com alta precisão, já que a rede já utiliza múltiplos sistemas GNSS. O impacto nesse setor seria mínimo, mas ajustes em modelos de correção poderiam ser necessários.

Estimativas indicam que a adaptação total a sistemas alternativos poderia levar de 1 a 2 anos para setores críticos, ou até 2 a 5 anos para recuperação integral da infraestrutura tecnológica 

Quais seriam as alternativas?
Caso o sinal GPS fosse cortado, o Brasil ainda poderia recorrer a outros GNSS (Global Navigation Satellite Systems):

- Galileo (União Europeia), com 30 satélites (24 operacionais) em três planos orbitais a aproximadamente 23.200 km de altitude.

- GLONASS (Rússia), com 26 satélites (24 operacionais) em três planos orbitais a cerca de 19.100 km de altitude.

- BeiDou (China), com 35 satélites (24 operacionais) com uma combinação de satélites geoestacionários e não geoestacionários, a cerca de 21.150 km de altitude.

A maioria dos dispositivos modernos já é compatível com múltiplos sistemas, o que permitiria alguma continuidade operacional. No entanto, setores críticos necessitariam readequação técnica e regulatória, além de treinamentos específicos e recalibração de equipamentos.

RBMC: o escudo brasileiro contra a dependência do GPS
O Brasil, no entanto, não está de mãos atadas. A Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC), operada pelo IBGE, é uma infraestrutura robusta composta por cerca de 140 estações base equipadas com receptores GNSS (Sistemas Globais de Navegação por Satélite). Diferentemente do GPS, que é apenas um dos sistemas GNSS, a RBMC rastreia sinais de múltiplas constelações, incluindo o GLONASS (Rússia), Galileo (Europa) e BeiDou (China). Isso significa que, mesmo sem o GPS, o Brasil pode continuar a realizar posicionamento de alta precisão.

A RBMC, por si só, não substitui o GPS ou qualquer outro sistema GNSS, mas pode ajudar a mitigar parcialmente os efeitos da perda de acesso ao sinal GPS dos EUA, se usada em combinação com outras tecnologias e estratégias. Se o sinal do GPS fosse negado, a RBMC poderia:

- Ajudar na transição para outros GNSS (GLONASS, Galileo, BeiDou), pois recebe sinais de múltiplos sistemas GNSS. Isso permite fornecer correções diferenciais para melhorar a precisão de sinais não americanos.

- Fornecer dados para posicionamento preciso por métodos alternativos, pois mesmo sem o sinal GPS, é possível fazer posicionamento pós-processado usando os dados da RBMC combinados com GLONASS/Galileo. A RBMC permite técnicas como o Posicionamento por Ponto Preciso (PPP) e o Real-Time Kinematic (RTK), que garantem precisão centimétrica. Essa infraestrutura é capaz de integrar sinais de diferentes sistemas GNSS, reduzindo a vulnerabilidade a uma eventual suspensão do GPS.

- Servir como base para um sistema regional alternativo, tornando-se uma infraestrutura de apoio para um sistema GNSS regional, como o projeto argentino-brasileiro SAC-E, ou um sistema terrestre tipo eLORAN. Também poderia integrar redes internacionais para ampliar a resiliência nacional. 

Estações terrestres da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC)

Capacidade de resposta do Brasil
A RBMC é um trunfo importante, mas o Brasil ainda depende - e muito - de constelações de satélites estrangeiras, já que não possui um sistema GNSS próprio. A perda do GPS, hipotética ou não, poderia, portanto, ser um catalisador para nortear investimentos visando uma maior autonomia tecnológica, como as seguintes medidas de longo prazo:

- Expansão da RBMC: aumento do número de estações base para cobrir áreas remotas, como a Amazônia, onde a visibilidade de satélites pode ser limitada.

- Incentivo a receptores multissistema: promoção à adoção de dispositivos compatíveis com GLONASS, Galileo e BeiDou em todos os setores.

- Parcerias internacionais: fortalecimento de acordos com a União Europeia (Galileo) ou países do BRICS (como a China, com o BeiDou) para garantir acesso a sinais alternativos.

- Tecnologias complementares: investimento em sistemas de posicionamento baseados em redes terrestres, como uma versão modernizada do LORAN (LOng RAnge Navigation), para reduzir a dependência de satélites. O eLORAN é a evolução digital e aprimorada do antigo sistema LORAN-C, desenvolvido originalmente durante a Segunda Guerra Mundial. Ele usa sinais de rádio de baixa frequência (LF) emitidos por torres terrestres para fornecer Posicionamento (latitude/longitude), Navegação (em tempo real) e Temporização (com precisão compatível com aplicações críticas). Embora demande infraestrutura física (torres transmissoras) e não tenha tanta aplicabilidade, é mais barato que lançar e manter satélites, mais seguro, possui resiliência estratégica e oferece redundância crítica.

Sistema próprio?
E por que o Brasil não pensa em um sistema próprio, garantindo autonomia estratégica, resiliência cibernética e redução da dependência de potências estrangeiras, especialmente em tempos de conflito ou sanções?
Embora construir um sistema brasileiro de navegação por satélite global seja tecnicamente viável, trata-se de um projeto multibilionário, de décadas. No curto e no médio prazo, o mais prudente seria investir em redundância tecnológica, cooperação internacional e sistemas regionais de apoio, que garantam autonomia operacional mesmo diante de negações do GPS.

Um alerta geopolítico
A possibilidade de os EUA bloquearem o GPS para o Brasil está ainda no campo das especulações e não possui base técnica nem confirmação oficial até o momento. Mesmo que a medida fosse considerada, sua execução seletiva seria tecnicamente muito difícil de ser executada (mas não impossível), e os efeitos diplomáticos seriam severos. No entanto, em um até agora hipotético cenário extremo, haveria impacto rápido e significativo em setores estratégicos como agronegócio, transportes, aviação, telecomunicações e defesa, mas não só nestes. 

A mera possibilidade de sanções envolvendo o GPS destaca a vulnerabilidade do Brasil à dependência de tecnologias estrangeiras. Nenhum país está imune a pressões geopolíticas quando se trata de sistemas como o GNSS, e o Brasil precisa diversificar suas parcerias e investir em resiliência tecnológica para proteger seus interesses.

Embora a RBMC ofereça uma base para mitigar, mesmo que parcialmente, a perda do GPS, a transição exigiria tempo, recursos vultuosos e coordenação entre governo, indústria e academia, além de grandes ajustes operacionais em todas as áreas. 

Assim, a ameaça de sanções, mesmo que permaneça no campo hipotético, serve como um lembrete da importância de se preparar para cenários extremos, garantindo que o Brasil possa continuar a navegar – literal e figurativamente – mesmo em tempos de incerteza. 

Torre REMAN meia-cúpula, produzida pela Ares, segue para avaliação técnica e operacional na plataforma Guaicurus

 

*LRCA Defense Consulting - 22/07/2025

Na última semana, a Ares Aeroespacial e Defesa realizou, no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no Rio de Janeiro (RJ), o Curso de Operação e Manutenção da torre REMAN meia-cúpula, voltado à capacitação de militares do CAEx, da Diretoria de Fabricação (DF) e do Arsenal de Guerra do Rio (AGR). 

Ministrado por instrutores da Ares, o curso abordou conteúdos teóricos e práticos relacionados à operação e manutenção da torre, que foi recentemente integrada à viatura blindada multitarefa leve sobre rodas (VBMT-LSR) 4x4 Guaicurus.

Desenvolvida e fabricada integralmente no Brasil, a REMAN é a única torre blindada de operação manual com projeto 100% nacional. Já adotada oficialmente pelo Exército Brasileiro para equipar a viatura Guarani 6×6, a torre segue agora para a etapa de avaliação técnica e operacional na plataforma Guaicurus.

Sobre a Ares Aeroespacial e Defesa
Fundada há mais de 50 anos, é uma empresa especializada em defesa, operando desde 2010 como subsidiária da Elbit Systems, uma empresa israelense líder global no fornecimento de sistemas de defesa. A Ares concentra-se no desenvolvimento, produção, fornecimento e suporte logístico de produtos para as Forças Armadas Brasileiras, incluindo o Exército e a Marinha. Suas principais linhas de atuação incluem:
- Estações de Armas e Torres (ex.: REMAX, sistema de armas controlado remotamente);
- Sistemas Navais (ex.: sistema de vigilância eletro-óptica Atena);
- Sistemas Ópticos e Eletro-Ópticos (ex.: aparelhos de pontaria e colimadores).

A empresa é reconhecida por sua inovação, parcerias com as Forças Armadas, universidades e centros de pesquisa, além de manter um Centro de Excelência para desenvolvimento de tecnologias de defesa. Em 2017, assinou um contrato de US$ 100 milhões para fornecer sistemas REMAX ao Exército Brasileiro, e em 2018 instalou sistemas na fragata Defensora da Marinha. A Ares também enfatiza a ética nos negócios, com políticas públicas de conduta antissuborno e códigos de ética. 

Além da Embraer: Brasil quer construir uma aliança estratégica de defesa com o Marrocos

Imprensa marroquina destaca a ampliação da proposta brasileira, que incluiria a aeronave Embraer C-390 mas iria além


*La Vérité, por Fayçal El Amrani - 22/07/2025

O que começou como uma dinâmica comercial promissora entre Rabat e Brasília parece agora entrar em uma nova fase. No Fórum LIDE Brasil-Marrocos, realizado de 8 a 11 de julho em Marrakech, o Brasil apresentou uma proposta clara: construir uma aliança estratégica de defesa com o Marrocos. Este projeto ambicioso, apoiado por bases jurídicas consolidadas, marca uma continuação lógica dos avanços econômicos bilaterais dos últimos anos.

Embora o comércio tenha sido frequentemente o primeiro passo em parcerias internacionais, os tempos estão mudando. Novas potências emergentes, das quais Marrocos agora faz parte, buscam ir além: compartilhar, codesenvolver e adquirir soberania industrial. O Brasil, ciente dessa aspiração, está se aproximando de Rabat com um projeto concreto, lúcido e vantajoso para todos.

Proposta clara: construir uma aliança estratégica com o Marrocos na área de defesa
É nesse contexto que o Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo Rodrigues, Secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa do Brasil, anunciou em Marrakech a intenção de seu país de firmar uma verdadeira aliança estratégica com o Reino. Uma aliança que, segundo ele, se baseia em uma "profunda convergência" de visões entre os dois Estados: a de um desenvolvimento industrial nacional baseado na transferência de tecnologia, no desenvolvimento de competências locais e na criação de empregos de alto valor agregado.

O Marrocos, que recentemente intensificou suas relações econômicas com o Brasil — em especial por meio da gigante de fertilizantes OCP —, vive agora uma nova era. O eixo Rabat-Brasília, que começou com acordos comerciais, caminha agora para uma cooperação militar e tecnológica estrutural. Este é um desenvolvimento natural, até mesmo inevitável, em um mundo onde segurança e resiliência industrial andam de mãos dadas.

A abordagem brasileira não surgiu do nada. Ela se apoia em uma base jurídica sólida: um acordo de cooperação em defesa assinado em 2023, apoiado por um acordo anterior de 2019, que já prevê intercâmbios de treinamento, manobras conjuntas e o desenvolvimento de capacidades compartilhadas. Em outras palavras, as bases existem; é só uma questão de ativá-las em maior escala.

O Brasil aposta em seus sucessos em cooperação tecnológica para atrair Rabat. Por exemplo, produziu o caça com a Suécia, os submarinos com a França e as fragatas com a Alemanha. Uma indústria de defesa que sabe aprender, se adaptar e transmitir conhecimento: um perfil raro entre parceiros internacionais. Para o Marrocos, frequentemente confrontado com a relutância ocidental em relação à transferência de tecnologia, esta é uma oportunidade a ser aproveitada.

Embraer KC-390 Millennium, mísseis, blindados 6x6, radares, drones etc.

A parceria proposta abrange diversos aspectos. No âmbito aéreo, a Embraer, carro-chefe da aeronáutica brasileira, propõe a integração de sua aeronave de transporte militar KC-390 à frota da Força Aérea Real Marroquina. Esta aeronave moderna, de alto desempenho e já testada em campo poderá agregar valor real às capacidades logísticas do Reino. A presença em Marrakech de Márcio Monteiro, Vice-Presidente de Defesa da Embraer, apenas confirmou a solidez da oferta.

Mas a oferta brasileira vai além disso: sistemas de lançamento de mísseis, veículos blindados 6x6, radares, drones e muito mais. Todos esses equipamentos podem estar sujeitos a acordos de produção local. E esse é o cerne da proposta: ir além do ato de comprar para construir uma soberania industrial compartilhada.

Projeto humano e civilizacional
Essa mudança estratégica não é insignificante. Ela reflete o firme desejo do Marrocos de construir uma base industrial de defesa autônoma. Em um ambiente regional instável e diante das atuais realidades geopolíticas, o Reino não tem escolha a não ser acelerar seu crescimento tecnológico. A experiência brasileira, não vinculada a condicionalidades políticas restritivas como às vezes ocorre na Europa, constitui um modelo de parceria mais flexível e mais adequado às nossas prioridades nacionais.

MoU entre o Colégio Real de Ensino Superior Militar e a Escola Superior de Defesa

Sinais tangíveis corroboram esse impulso: um memorando de entendimento entre o Colégio Real de Ensino Superior Militar e a Escola Superior de Defesa foi assinado recentemente, enquanto um adido militar marroquino permanente assumirá suas funções na embaixada de Rabat em Brasília. Essas decisões reforçam a clara intenção de manter a cooperação bilateral.

Mas esta aliança não se resume apenas à ação militar. Ela também representa um projeto humano e civilizacional que formará engenheiros marroquinos, criará centros de pesquisa conjuntos e proporcionará oportunidades para o desenvolvimento de competências nacionais frequentemente forçadas ao exílio. Ela oferece outro caminho: o de um desenvolvimento industrial inclusivo e arraigado, que respeite os interesses mútuos.

Ao se abrir a esse tipo de parceria Sul-Sul, o Marrocos afirma sua independência estratégica e, ao mesmo tempo, consolida sua influência regional e continental. Quanto ao Brasil, confirma seu papel como um ator global capaz de construir alianças sólidas além de seu continente. Essa convergência, nascida do diálogo econômico, pode muito bem se tornar um dos pilares de uma nova arquitetura de segurança e desenvolvimento compartilhada entre duas potências emergentes. 

21 julho, 2025

Máxima histórica: Embraer encerrou o 2T25 com uma carteira de pedidos de US$ 29,7 bilhões

 


*LRCA Defense Consulting - 21/07/2025

A Embraer registrou uma carteira de pedidos (backlog) de US$ 29,7 bilhões no segundo trimestre de 2025 (2T25) – o maior nível já registrado pela empresa.

A Embraer entregou 61 aeronaves no 2T25 em todas as suas unidades de negócios. O resultado reflete um aumento de 30% em relação ao segundo trimestre do ano passado (2T24), quando 47 jatos foram entregues, e mais que o dobro do número de aeronaves (30) registrado no primeiro trimestre de 2025 (1T25).

Aviação Comercial
A Aviação Comercial reportou um recorde de backlog em 8 anos de US$ 13,1 bilhões no 2T25. (O recorde anterior da divisão era de US$ 13,4 bilhões no 4T17.) O backlog aumentou 31% em relação ao 1T25 e 16% em relação ao 2T24. Além do forte desempenho de vendas, a unidade de negócios comemorou um marco importante: 1.000 unidades E175 vendidas desde seu lançamento em 2005.

Durante o trimestre, a Embraer recebeu um pedido firme da SkyWest para 60 aeronaves E175, com direitos de compra para 50 unidades adicionais. Enquanto isso, a Scandinavian Airlines (SAS) firmou um acordo para adquirir 45 aeronaves E195-E2, com direitos de compra para 10 unidades adicionais – o maior pedido de jatos da SAS diretamente de um fabricante nos últimos 30 anos. O índice book-to-bill da divisão atingiu 1,8x nos últimos 12 meses.

No 2T25, a unidade de negócios entregou 19 novas aeronaves, exatamente em linha com o número de aeronaves entregues no 2T24. Consequentemente, no primeiro semestre de 2025, as entregas totalizaram 26 aeronaves e 32% do ponto médio da projeção para o ano inteiro (entre 77 e 85 em 2025), 3 pontos percentuais abaixo da média de 35% registrada nos últimos 5 anos.

Os modelos entregues durante o período foram o E175 para a Republic Airlines (5), SkyWest (2) e Horizon Air (2), o E190-E2 para a Azorra (1) e o E195-E2 para a Aercap (3), Azorra (2), Mexicana (1), Royal Jordania (1), Binter (1) e ICBC (1). Olhando para o futuro, esperamos que nossos esforços de nivelamento da produção produzam resultados mais tangíveis no segundo semestre do ano e a partir do início de 2026.

Aviação Executiva
A Aviação Executiva registrou uma carteira de pedidos (backlog) de US$ 7,4 bilhões no segundo trimestre de 2025, um aumento de 62% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas uma ligeira queda de 2% em relação ao trimestre anterior. As entregas atingiram 38 jatos durante o período, 41% a mais do que os 27 jatos no segundo trimestre de 2024. Consequentemente, no primeiro semestre de 2025, as entregas totalizaram 61 aeronaves e 41% do ponto médio da projeção para o ano inteiro (entre 145 e 155 em 2025), 8 pontos percentuais acima da média de 32% registrada nos últimos 5 anos.

Defesa e Segurança
Em Defesa e Segurança, a carteira de pedidos encerrou em US$ 4,3 bilhões no segundo trimestre de 2025, 3% a mais em relação ao mesmo período do ano anterior e 2x maior do que no ano anterior. A unidade de negócios entregou quatro aeronaves A-29 Super Tucano à Força Aérea Paraguaia durante o período.

Os destaques da divisão incluem o anúncio da Lituânia de que o C-390 Millennium foi selecionado para aprimorar a prontidão militar do país e a decisão de Portugal de adquirir uma sexta aeronave KC-390 Millennium. Além disso, a Embraer e a Força Aérea Portuguesa pretendem incluir dez opções de compra em seu contrato atual para potenciais aquisições futuras por países europeus ou membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A seleção do C-390 Millenium pela Suécia (4) e Eslováquia (3), o pedido adicional de Portugal (1) e o A-29 Super Tucano para o Panamá (4) não estão incluídos na carteira de pedidos, uma vez que os contratos ainda não estão em vigor.

Serviços e Suporte
Serviços e Suporte aumentou sua carteira de pedidos para US$ 4,9 bilhões – um aumento significativo de 55% em relação ao ano anterior, juntamente com um positivo aumento de 5% em relação ao trimestre anterior, devido a diversos contratos firmados durante o segundo trimestre de 2025.

No subsegmento de Aviação Comercial, a unidade de negócios assinou um novo contrato de manutenção com a CommuteAir para suas novas instalações no Aeroporto Perot Field Alliance em Fort Worth, Texas. A divisão implantará um novo simulador de voo completo em Madri para clientes E2 em parceria com a CAE. Por fim, a parceria com a Regional One foi ampliada com a adição de duas conversões de passageiros para carga (P2F), dobrando seus pedidos existentes para quatro unidades – a Bridges Air Cargo será a cliente lançadora do novo produto. Enquanto isso, a Virgin Australia, a Amelia, a Air Montenegro e a Hunnu Air assinaram novos contratos do programa Pool.

Em termos de conectividade, a unidade de negócios oferecerá a solução Gogo Galileo HDX para clientes do mercado de reposição do Phenom 300 por meio de um Certificado de Tipo Suplementar (STC) gerado em parceria com a Gogo, enquanto a Viasat instalará conectividade avançada de internet a bordo nos jatos E190 da Aeromexico, integrando ainda mais a frota da companhia aérea com Wi-Fi rápido para seus clientes. 

Cibersegurança na aviação: protegendo os céus e os aeroportos na era digital


 

*Por Sérgio Muniz - 21/07/2025

A transformação digital no setor de aviação avançou de forma exponencial nos últimos anos, impulsionada pela modernização dos aeroportos, pela automatização dos processos e pela digitalização dos serviços aos passageiros. Nesse contexto, a cibersegurança tornou-se uma variável ainda mais crucial, não apenas para prevenir ataques, mas principalmente para garantir que um ecossistema tão complexo, interconectado e sensível continue operando de maneira segura, confiável e em conformidade com as legislações e regulamentações vigentes. Os aeroportos modernos dependem de infraestrutura digital altamente integrada, que abrange sistemas de controle de tráfego aéreo, gerenciamento de bagagens, plataformas de check-in e emissão de bilhetes. Embora essa digitalização aumente a eficiência, ela também amplia a superfície de ataque cibernético, exigindo atenção constante e medidas robustas de proteção.

Identidade e acesso: o coração da segurança aeroportuária
O gerenciamento de identidade e acesso (IAM) é um dos pilares dessa segurança. O controle rigoroso de quem acessa o quê, quando, de onde e em quais condições, é essencial para proteger ambientes críticos como áreas restritas de aeroportos, data centers, sistemas de reservas e atendimento ao cliente. Isso é ainda mais desafiador quando falamos de milhares de colaboradores diretos e terceiros atuando em diferentes turnos e localidades.

No setor aéreo, é essencial que a rastreabilidade, a conformidade com a LGPD e as normas da ANAC, além da fluidez operacional, caminhem juntas. Para isso, é indispensável o uso de tecnologias de ponta que aliem alta segurança a uma experiência fluida e eficiente. O setor também enfrenta ameaças reais como ataques de ransomware, phishing direcionado a funcionários de aeroportos e tentativas de invasão a sistemas de navegação. Além disso, a interdependência entre sistemas operacionais, bancos de dados de passageiros e plataformas em nuvem amplia os vetores de risco e exige atenção redobrada à segurança cibernética

O papel do Gerenciamento de Acesso e Autenticação Inteligente
Soluções como GridSure, um token baseado em padrão para uso nos ambientes onde o celular não está permitido, e políticas de autenticação , são ferramentas essenciais para mitigar riscos. A implementação de uma gestão de acesso moderna, ao mesmo tempo robusta e amigável, baseada em contexto, localização e dispositivo do usuário, permite às organizações reagirem de forma inteligente a tentativas de intrusão sem comprometer a experiência dos usuários legítimos.

Além disso, a segurança em nuvem ganhou destaque, especialmente com a descentralização dos sistemas aeroportuários. Proteger dados sensíveis de passageiros, cronogramas de voo e operações internas exige criptografia robusta, visibilidade em tempo real e compliance com normas internacionais como o GDPR e o ISO/IEC 27001.

O risco crescente para infraestruturas críticas
Infelizmente, os casos de ataques cibernéticos a aeroportos estão se tornando mais frequentes e mais sofisticados. Há pouco tempo, o Aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, foi alvo de um ransomware com pedido de US$ 10 milhões. Embora o governo tenha recusado pagar, o incidente demonstrou como sistemas críticos, como os de bagagem ou controle de tráfego, podem ser vulneráveis.

É preciso reforçar: nenhuma infraestrutura está imune. O que podemos fazer é mitigar riscos, adotando tecnologias de IAM modernas, criptografia de ponta a ponta, estratégias zero-trust e monitoramento contínuo. A cibersegurança deixou de ser apenas um item da agenda de TI. Ela é, hoje, uma prioridade estratégica para a continuidade dos negócios na aviação.

Cibersegurança como diferencial estratégico

Mais do que uma obrigação técnica, investir em cibersegurança tornou-se um diferencial competitivo. Empresas que adotam soluções proativas de proteção digital ganham a confiança de passageiros e parceiros, fortalecendo sua reputação e reduzindo riscos operacionais.

O setor aéreo está entre os mais estratégicos e sensíveis à cibersegurança. Garantir que aeroportos e companhias aéreas estejam protegidos contra ameaças digitais é essencial para a continuidade dos negócios, a proteção da vida humana e a soberania nacional.


*Sérgio Muniz é Vice-Presidente de Vendas, Identity & Access Management da Thales na América Latina

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