*LRCA Defense Consulting - 28/10/2025
Em um movimento que surpreendeu muitos observadores da aviação militar global, a Força Aérea Brasileira (FAB) consolidou-se como a operadora mais experiente do caça sueco de última geração Saab JAS 39 Gripen E, superando até mesmo a própria Força Aérea desse país (SwAF). Enquanto a Suécia celebrava a recepção de suas primeiras unidades operacionais neste mês, os céus brasileiros já ecoavam o rugido dos motores do Gripen há anos, acumulando milhares de horas de voo e experiência vital.
No último dia 20 de outubro, a base aérea de Såtenäs, lar da Skaraborg Wing (F 7), testemunhou a cerimônia de entrega formal dos primeiros caças JAS 39 Gripen E à SwAF. Este evento marca o início de uma ambiciosa modernização que prevê a incorporação de 60 aeronaves até 2027. Para os entusiastas suecos, um marco de orgulho nacional.
Contudo, a 12.000 km de distância, pilotos da FAB já eram veteranos no cockpit do mesmo vetor. Em Anápolis, os esquadrões brasileiros já acumulavam mais de 2.000 horas de voo no Gripen E, uma demonstração clara da prioridade e do sucesso da parceria entre Brasil e Suécia.
A pergunta inevitável: por que o Brasil chegou primeiro?
A resposta para essa curiosidade dos hangares de Anápolis e das redes de spotters
brasileiros reside no contrato de 2014, um divisor de águas para a aviação
de caça no país. Em 24 de outubro daquele ano, o então ministro da Defesa assinou em Brasília o maior contrato de caças da história
brasileira: 36 Gripen E/F por US$ 5,4 bilhões. Mais do que uma simples compra,
o acordo incluía a transferência total de tecnologia, a criação de uma linha de
montagem em Gavião Peixoto (SP) e um empréstimo sueco com condições favoráveis.
"O Brasil não foi apenas cliente. Foi parceiro de desenvolvimento", resume o brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, ex-comandante do Programa Gripen no Comando da Aeronáutica. "Financiamos parte da evolução do E, ganhamos prioridade na linha de produção e ainda montamos 15 caças aqui."
Uma cronologia que fala por si:
● 10 de setembro de 2019: entrega formal do FAB 4100, o primeiro Gripen E do mundo, em Linköping, Suécia. O Brasil foi o primeiro a receber.
● 24 de setembro de 2020: primeiro voo do F-39E no Brasil, em Gavião Peixoto.
● Dezembro de 2021: o primeiro esquadrão operacional com quatro aeronaves é estabelecido em Anápolis.
● Setembro de 2024: o décimo Gripen E é entregue à FAB, consolidando sua frota.
● 20 de outubro de 2025: primeiro Gripen E operacional é entregue à Força Aérea Sueca.
Por que a Suécia permitiu essa "ultrapassagem"?
A aparente "lentidão" sueca teve razões estratégicas e técnicas:
● Testes rigorosos para padrões suecos: a Flygvapnet (Força Aérea Sueca) impôs requisitos de certificação NATO pós-adesão (prevista para 2024), além da integração com seu complexo sistema de defesa dispersa (Bas 90) e testes exaustivos em clima ártico. Essas exigências adicionais naturalmente atrasaram a entrega operacional em cerca de dois anos.
● Validação em situação real, o Brasil
como "laboratório vivo": a Saab, fabricante do Gripen,
inteligentemente utilizou o Brasil como um ambiente de testes dinâmico. O FAB
4100, protótipo operacional, foi o primeiro a:
- disparar o míssil Meteor em voo real (2022), um marco para a capacidade ar-ar do Gripen;
- testar o radar AESA Raven ES-05 em ambiente tropical, crucial para a performance em regiões de alta umidade e calor;
- voar em formação com aeronaves distintas da FAB, como o F-5M e o A-29 Super Tucano, avaliando a interoperabilidade.
Produção em duas linhas
Enquanto a Suécia priorizava a fase de protótipos de teste para seus próprios
requisitos específicos, a Saab direcionou esforços para a linha de produção
brasileira, visando cumprir os prazos contratuais firmados com a FAB. O
resultado foi a presença de oito Gripen E em Anápolis antes mesmo de o primeiro
Gripen sueco levantar voo em Såtenäs.
Próximos passos da operação Gripen
O futuro promete mais marcos importantes para ambos os países:
● Novembro de 2025: o primeiro Gripen montado 100% no Brasil deverá sair da linha de produção da Embraer em Gavião Peixoto, um testemunho da capacitação tecnológica nacional.
● 2026: a frota brasileira de 36 caças Gripen E/F estará completa, garantindo a espinha dorsal da defesa aérea por décadas.
● 2027: a Suécia concluirá a entrega de suas 60 unidades, alcançando sua capacidade operacional plena.
Assim, o Brasil não apenas adquiriu o Gripen E; ele o coproduziu e o testou extensivamente, contribuindo significativamente para sua maturidade operacional. A entrega sueca em 20 de outubro de 2025 foi um marco simbólico para Estocolmo. Para Brasília, foi a confirmação de que, no céu de Anápolis, o Gripen já é uma realidade sólida e vitoriosa.
O caça que nasceu na Suécia agora fala português fluente e voa mais alto do que nunca sob as asas da FAB.
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A Força Aérea Sueca recebeu formalmente o primeiro caça JAS 39 Gripen E em uma cerimônia no dia 20 de outubro de 2025, na base aérea de Såtenäs (Skaraborg Wing, F 7). Essa entrega marca o início da modernização da frota sueca, com um total de 60 aeronaves planejadas até 2027.
Suécia recebe seu primeiro Gripen E: quais ganhos operacionais para a Força Aérea Sueca?
*Meta-defense, por Fabrice Wolf - 27/10/2025
A Suécia atingiu um marco importante com a entrega do primeiro JAS 39 Gripen E às forças armadas. Conforme anunciado oficialmente por FMV – Forsvarets materialverk, a aeronave foi transferida para a Flygvapnet. Isso designa a Força Aérea Sueca, que atualmente opera as versões C e D do Gripen. Essa transição para a iteração E confirma a modernização desejada pelo comprador estatal e pelo fabricante da aeronave. O anúncio abre a fase de integração do esquadrão, com os primeiros procedimentos de apropriação e validações associadas. Faz parte de uma trajetória de implantação gradual, que converterá a frota operacional para o novo padrão no ritmo definido pela agência FMV Sweden.
Para mensurar o impacto operacional, essa transferência deve primeiro ser enquadrada na lógica de ramp-up. A transferência inicia uma sequência de treinamento, testes em ambiente nacional e ajustes para suporte. A Força Aérea Sueca valida os procedimentos e, em seguida, expande gradualmente o emprego nas unidades da linha de frente. A agência estatal coordena essas etapas com o fabricante para garantir a disponibilidade e o fluxo de entrega. Essa combinação de operações e qualificação acelera a transição do Gripen C para o D. Também otimiza recursos, pois cada aeronave entregue fornece feedback útil para a próxima entrada em serviço.
Em termos de sensores, a iteração E traz um ganho decisivo para detecção e identificação. De acordo com a Saab – Gripen EA aeronave possui o radar de varredura eletrônica ativa ES-05 Raven, conhecido como AESA. No alcance do Saab Gripen, ele combina esse radar com o sistema de Busca e Rastreamento por Infravermelho, ou IRST Skyward G. A fusão de dados cruza essas fontes e, em seguida, apresenta um quadro tático consolidado ao piloto. O conjunto de guerra eletrônica MFS-EWS detecta e bloqueia ameaças, o que aumenta a capacidade de sobrevivência em ambientes contestados. Essa combinação de sensores e guerra eletrônica multiplica as opções de combate, inclusive na presença de emissões inimigas intensas.
Para propulsão, a aeronave é equipada com o motor GE F414G, que melhora o empuxo e a reserva de energia. De acordo com o fabricante, esse motor atinge aproximadamente noventa e oito quilonewtons em pós-combustão e suporta manobras sustentadas. A iteração E também carrega mais combustível interno, com um aumento de aproximadamente quarenta por cento em comparação com as versões C e D. Essa reserva aumenta a autonomia, o que amplia o alcance sem depender sistematicamente de reabastecimento. Ela fornece uma margem útil para o transporte de armas pesadas, preservando o desempenho. Esse torque motor-combustível permite perfis mais ambiciosos, com transições rápidas entre interceptação, apoio e vigilância aérea prolongada.
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| CEO da SAAB cercado por líderes da Flygvapnet e da FMV durante a entrega do primeiro Gripen E para a Força Aérea Sueca |
Em termos de armamento, o Gripen E pode transportar uma carga útil de mais de cinco toneladas, distribuídas em dez pontos fixos. O fabricante menciona a integração do míssil ar-ar de longo alcance Meteor, capaz de atingir alvos além do alcance visual (BVR). A aeronave também utiliza mísseis de curto alcance IRIS-T, adequados para combate visual. Pode transportar munições guiadas ar-solo, o que consolida seu perfil versátil para interdição e apoio. Essa flexibilidade transforma o planejamento, pois um único voo pode combinar defesa aérea e ataques de precisão. Ela fortalece a dissuasão, que se baseia em opções confiáveis diante das mudanças nas trajetórias inimigas.
Em termos de capacidade de sobrevivência, o conjunto de guerra eletrônica MFS-EWS implementa sensores de alerta, contramedidas e modos de interferência. A aeronave explora esses efeitos para reduzir a exposição e, em seguida, quebrar o bloqueio dos radares e mísseis inimigos. Essa abordagem permite aproximar-se de uma área defendida ou contorná-la, dependendo da missão. Ela complementa o desempenho cinético, que nem sempre é suficiente contra ameaças modernas. A capacidade de operar com emissões controladas também oferece discrição de rádio. Combina-se com a fusão de sensores para ajudar a tripulação a escolher o momento certo para detectar, engajar ou desengajar.
Ao mesmo tempo, a aeronave foi projetada para guerra em rede e interoperabilidade com parceiros. O fabricante enfatiza links de dados seguros, que compartilham alvos e posições continuamente. Essa arquitetura agiliza a cooperação com aliados, inclusive dentro da estrutura escandinava da OTAN. A Força Aérea Sueca pode, assim, inserir Gripen E em sistemas combinados e, em seguida, reunir esforços de vigilância. Esse rápido fluxo de informações encurta os ciclos de tomada de decisão, aumentando a eficácia dos recursos mobilizados. Otimiza o uso de sensores e munições, já que cada patrulha se beneficia dos olhos e armas da força expandida.
Por fim, os ganhos práticos serão alcançados por meio da adoção do esquadrão, com uma transição controlada de C para D. O feedback inicial será incorporado à documentação e, em seguida, consolidará as ações de manutenção e planejamento de missão. O aumento da capacidade combinará treinamento, disponibilidade e integração de novas capacidades para alinhar doutrina e ferramentas. Essa sequência determinará a obtenção da capacidade operacional inicial e, em seguida, a expansão para um uso mais amplo. Isso dará ao comando maior margem para distribuir funções entre os esquadrões. Também reforçará a ambição da Suécia de ter uma ferramenta confiável para enfrentar ambientes contestados no norte da Europa.
Conclusão
Em última análise, a entrega do primeiro Gripen E confirma o
início de uma nova fase para a Flygvapnet. A adição de sensores, guerra
eletrônica e propulsão expande as opções disponíveis para as aeronaves de
combate suecas. O componente multifuncional, com Meteor e IRIS-T, oferece
suporte à defesa aérea e ao ataque de precisão. A integração da rede melhora a
interoperabilidade, o que se aplica à cooperação com a Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) e parceiros nórdicos. Os próximos passos envolverão a
conversão de unidades, seguida pela validação da capacidade operacional
inicial, ou COI. Isso levará à capacidade operacional final, ou COF, após a
consolidação de todos os padrões e volumes.



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