Embraer C-390 para a Força Aérea da Índia?

Por que o "Millennium" brasileiro é um forte concorrente para fechar o acordo MTA com a Índia e substituir as frotas de An-32 e Il-76?

Aeronave militar Embraer KC-390 Millennium da Força Aérea Brasileira em exibição durante o Salão Internacional da Aeronáutica de Paris (SIAE), no Aeroporto Paris-Le Bourget, ao norte de Paris, em 17 de junho de 2025. (Foto de Bertrand GUAY / AFP)

*Eurasian Times, por Marechal do Ar Anil Chopra – 26/10/2025

A Embraer, líder global em aeroespacial, iniciou um novo e ousado capítulo no mercado de aviação de crescimento mais rápido do mundo, a Índia, ao inaugurar seu novo escritório no prestigiado edifício WorldMark 4 na Aerocity, Nova Déli.

Com este movimento visionário, a Embraer pretende participar do setor aeroespacial e de defesa da Índia por meio de parcerias com a indústria indiana. A cerimônia contou com a presença do Vice-Presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, do Ministro da Defesa do Brasil, José Mucio, do Ministro da Aviação Civil da Índia, Shri KR Naidu, e do Embaixador do Brasil na Índia, Kenneth Nóbrega.

A Embraer estabeleceu um compromisso compartilhado com a inovação e a colaboração. No cerne deste marco está um profundo aprofundamento das relações indo-brasileiras.

A grande missão da Embraer para esta subsidiária integral indiana é ter uma presença estratégica em um dos mercados aeroespaciais mais vibrantes e promissores do mundo.

A Embraer quer aprofundar seu envolvimento em todos os seus principais setores: aviação comercial, defesa, jatos executivos, serviços e suporte e mobilidade aérea urbana (UAM).

A Embraer está ciente das principais políticas de condução da Índia, incluindo Atmanirbhar Bharat (Índia autossuficiente) e a iniciativa Make in India, e alinhou sua presença com essas metas nacionais.

A empresa tem clareza sobre o fortalecimento de parcerias locais, a construção de capacidades locais e o cultivo de um ecossistema sólido de cadeia de suprimentos e engenharia brilhante. A Embraer quer unir a inovação brasileira à engenhosidade indiana.

Relações Índia-Brasil

Índia e Brasil compartilham uma Parceria Estratégica desde 2006, caracterizada por fortes laços bilaterais e cooperação em fóruns internacionais como BRICS, G-20 e ONU.

O relacionamento se baseia em valores democráticos compartilhados, complementaridade econômica e uma visão para uma ordem global mais equitativa. As principais áreas de colaboração incluem comércio, defesa, espaço, energia e agricultura. O volume total de comércio bilateral atingiu US$ 12,2 bilhões no ano fiscal de 2024-25.

As principais exportações da Índia incluem produtos farmacêuticos e de engenharia, enquanto o Brasil exporta petróleo bruto e produtos agrícolas, como óleo de soja. Estima-se que os investimentos indianos no Brasil excedam US$ 6 bilhões, e os investimentos brasileiros na Índia giram em torno de US$ 1 bilhão.

Os dois países mantêm Diálogos Estratégicos regulares para discutir questões globais e regionais. Um acordo de cooperação em segurança cibernética foi assinado em 2020. Ambos os países estão trabalhando para aumentar a cooperação na indústria de defesa.

Embraer

A Embraer SA é uma empresa aeroespacial multinacional brasileira fundada em 1969 pelo governo brasileiro como campeã nacional de tecnologia aeroespacial nacional.

A empresa foi privatizada em 1994 e começou a se expandir para a produção de aviões regionais de grande porte e jatos executivos menores. Em 2000, a Embraer tornou-se uma sociedade anônima, com ações negociadas publicamente nos Estados Unidos (NYSE) e no Brasil (B3).

Com sede em São Paulo, possui escritórios e operações na China, Holanda, Portugal, Cingapura, Estados Unidos e agora na Índia.

Ela desenvolve e fabrica aeronaves e sistemas de aviação, além de fornecer serviços de leasing, equipamentos e suporte técnico. A Embraer é a terceira maior produtora de aeronaves civis do mundo, depois da Boeing e da Airbus.

A Embraer é líder no mercado de jatos executivos, sendo sua série Phenom o jato leve mais vendido do mundo. A empresa também tem presença significativa na aviação militar, figurando entre as 100 maiores contratantes de defesa. Em um ranking aeroespacial por capitalização de mercado, a Embraer ocupa a 29ª posição.

Embora a empresa continue a produzir aeronaves para o setor de defesa (C-390, EMB 312 Tucano, EMB 314 Super Tucano, AMX, R-99), é mais conhecida pelas famílias ERJ e E-Jet de aeronaves de fuselagem estreita e curto e médio alcance, e por sua linha de jatos executivos. Até maio de 2024, a Embraer entregou mais de 8.000 aeronaves, incluindo 1.800 E-Jet.

Relação de Aviação Indo-Brasileira

A trajetória da Embraer na Índia já dura quase duas décadas. Em 2005, os icônicos E-Jets da Embraer alçaram voo pela primeira vez nos céus indianos. Desde então, quase 50 aeronaves Embraer, de 11 tipos diferentes, têm operado em diversas funções nos setores militar, governamental, empresarial e comercial.

A Força Aérea Indiana (IAF) e a Força de Segurança de Fronteira (BSF) há muito tempo contam com as aeronaves da Embraer para missões críticas.

A IAF opera um total de 11 aeronaves Embraer, consistindo de quatro jatos Embraer ERJ-135BJ Legacy 600 VIP, três ERJ-145 como a aeronave 'Netra' de Alerta Aéreo Antecipado e Controle (AEW&C) (há uma proposta para mais seis) e quatro aeronaves Embraer 145 de 20 lugares são usadas pelo Esquadrão de Comunicação do Quartel-General Aéreo para funções não especificadas.

Os jatos Embraer ERJ 135, adquiridos originalmente em 2005, têm alcance de 1.750 milhas náuticas (NM) e capacidade para 14 passageiros. A Força de Segurança de Fronteira (BSF) possui um jato Embraer 135 em sua frota, utilizado pelo Ministério do Interior.

Em agosto de 2025, a Força Aérea Indiana (IAF) contratou uma empresa de aviação sediada em Gurugram para modernizar sua frota de Embraer 135BJ, com 20 anos de existência e 14 assentos. Os trabalhos planejados incluirão uma repintura completa da aeronave, além de uma revisão completa e reforma da cabine de comando e da cabine de passageiros.

C-390 Millennium

O Embraer C-390 Millennium é uma aeronave de transporte militar bimotora de médio porte, com propulsão a jato. A aeronave mais pesada já fabricada pela Embraer.

O projeto teve início em meados dos anos 2000. Em abril de 2009, o governo brasileiro emitiu um contrato de US$ 1,5 bilhão para dois protótipos. Parcerias foram prontamente firmadas com diversas outras empresas aeroespaciais participantes do programa, incluindo FAdeA, ENAER e OGMA. As principais subcontratadas na fabricação da aeronave incluem Aero Vodochody, BAE Systems e Rockwell Collins.

O primeiro dos dois protótipos realizou seu voo inaugural em 3 de fevereiro de 2015. Em 4 de setembro de 2019, a primeira aeronave de produção foi entregue à Força Aérea Brasileira.

Sua arquitetura modular permite reconfiguração rápida para uma ampla gama de missões, incluindo transporte de carga e tropas, evacuação médica, combate a incêndios, busca e salvamento e assistência humanitária.

A aeronave também pode ser configurada para reabastecimento ar-ar, tanto como avião-tanque quanto como receptor. Ela pode transportar cargas úteis de até 26 toneladas, como dois veículos blindados de transporte de pessoal M113 totalmente lagartas, um veículo blindado Boxer, um helicóptero Sikorsky H-60, até 80 soldados ou 66 paraquedistas com equipamento completo, e cargas de até 19 toneladas podem ser lançadas do ar.

No primeiro trimestre de 2023, a frota de C-390 da Força Aérea Brasileira acumulou mais de 8.000 horas de voo, tendo participado de feiras de aviação e realizado missões em todos os continentes, incluindo a Antártida. Cada aeronave custaria cerca de € 80 milhões em 2024.

C-390: chegada de brasileiros e estrangeiros da Ucrânia durante a Operação Repatriação, março de 2022

O C-390 é o modelo padrão da aeronave para operações de transporte, busca e salvamento (SAR) e combate a incêndios aéreos. O KC-390 é a variante de reabastecimento aéreo. O C-390 IVR é a variante antissubmarino e de patrulha marítima.

Operadores Atuais

O Brasil encomendou 22 aeronaves (8 em serviço), Portugal 6 e Hungria 2, e também foi selecionado por países como Portugal, Hungria, Holanda, Áustria, Coreia do Sul, República Tcheca, Suécia, Eslováquia e, mais recentemente, Lituânia e Uzbequistão.

O C-390 alegou ter alcançado uma taxa de capacidade de missão de 93% e uma taxa de conclusão de missão superior a 99%. Esta aeronave superou as expectativas e já registrou mais de 20.000 horas de voo em apenas seis anos desde sua entrada em serviço.

Programa MTA da IAF

O programa de aeronaves de transporte médio (MTA) da IAF é uma iniciativa multibilionária e há muito adiada para adquirir novas aeronaves de transporte para substituir suas antigas frotas Antonov An-32 e Ilyushin Il-76.

O programa adquirirá entre 60 e 80 aeronaves na classe de carga útil de 18 a 30 toneladas, com forte ênfase na transferência de tecnologia e na fabricação nacional, no âmbito da iniciativa "Make in India". Os principais concorrentes incluem o Embraer C-390 Millennium, o Lockheed Martin C-130J Super Hercules e o Airbus A400M Atlas.

Anteriormente, o programa MTA Índia-Rússia, uma joint venture para desenvolver a aeronave Il-214, era um projeto paralisado há muito tempo que acabou sendo cancelado pela Índia por volta de 2016 devido a desentendimentos.

Embora a Índia e a Rússia tenham renovado o interesse na cooperação de defesa em uma aeronave semelhante, agora designada Il-276 (anteriormente MTA), o projeto original foi formalmente encerrado devido a problemas como coordenação de design e desacordos sobre a seleção do motor entre a HAL da Índia e a UAC da Rússia.

A nova frota proposta preencherá uma lacuna crítica de carga útil, melhorando a capacidade da IAF de implantar tropas e equipamentos rapidamente, especialmente em áreas de grande altitude.

Um objetivo fundamental é construir um ecossistema de fabricação aeroespacial nacional incentivando a transferência de tecnologia e a produção local por meio de parcerias estratégicas com empresas internacionais.

A nova aeronave também aumentará a capacidade da Força Aérea da Índia (FAI) em missões de assistência humanitária e socorro em desastres. Relatórios recentes indicam que a aeronave deverá ser capaz de transportar o tanque leve Zorawar, desenvolvido pela Índia, que pesa 25 toneladas.

O Embraer C-390 Millennium é um forte concorrente devido à sua capacidade de carga útil e à disposição de parcerias para produção local. O Airbus A400M Atlas é a aeronave com maior capacidade de carga útil, mas também é considerado o mais caro.

Embora a IAF já opere o C-130J Super Hercules, sua capacidade de carga impede o transporte do tanque leve Zorawar.

Fabricação do C-390 na Índia como potencial MTA da IAF?

A Embraer está de olho na próxima grande oportunidade: o C-390 Millennium. Esta aeronave militar multimissão oferece flexibilidade operacional, aliada à sua eficiência e tecnologia avançada, e é uma forte candidata ao programa MTA da IAF.

Projetado para versatilidade, ele pode transportar 26 toneladas de carga útil, voar mais rápido (470 nós) e mais longe do que outras aeronaves de sua classe, e é totalmente capaz e certificado para operações em pistas não pavimentadas ou temporárias, tornando-o uma escolha ideal para os terrenos diversos da Índia, desde os campos de aviação de alta altitude do Himalaia até regiões costeiras e desérticas.

Um memorando de entendimento entre a Embraer Defesa & Segurança e o Grupo Mahindra foi assinado em fevereiro de 2024 para trabalhar em conjunto no fornecimento de aeronaves C-390 à IAF.

As empresas estudarão a possibilidade de tornar a Índia um futuro polo regional para o C-390. Em colaboração com o Grupo Mahindra, a Embraer sugeriu a instalação de uma linha de montagem em setembro de 2024.

Em 17 de outubro de 2025, a Embraer Defesa & Segurança e o Mahindra Group assinaram um acordo de cooperação estratégica para desenvolver a aeronave C-390 Millennium para o programa MTA da IAF.

Simultaneamente, a Embraer inaugurou seu escritório nacional em Nova Déli para explorar oportunidades de produção local, montagem, marketing conjunto e instalações de MRO, além de se envolver com o ecossistema aeroespacial indiano.

Conteúdo estrangeiro em C-390

Os principais parceiros estrangeiros que contribuem para os sistemas do C-390 incluem a International Aero Engines (IAE), responsável pelos motores turbofan V2500-E5. A BAE Systems, do Reino Unido, fornece o sistema primário de controle de voo fly-by-wire da aeronave. A Aero Vodochody (República Tcheca) fabrica a seção traseira da fuselagem.

Uma subsidiária da Embraer, a OGMA (Portugal), está envolvida no projeto e na fabricação de componentes de fuselagem, leme e trem de pouso.

Fábrica Argentina de Aviones (FAdeA): Esta empresa fornece o cone de cauda, ​​a porta de carga e as portas do trem de pouso. A Rockwell Collins (EUA) fornece aviônicos, manuseio de carga e o sistema de entrega aérea.

O C-390 tem uma ampla cadeia de suprimentos europeia, com a UE respondendo por 42% de suas peças. A Embraer declarou sua intenção de comercializar a variante de reabastecimento KC-390 nos Estados Unidos.

Para qualquer potencial acordo com os EUA, a empresa afirma que poderia adquirir até 70% do conteúdo da aeronave localmente, para cumprir com o Buy American Act. Um acordo semelhante teria que ser firmado com a Índia.

Outras iniciativas da Embraer Índia

A visão da Embraer alinha-se perfeitamente às necessidades da aviação regional da Índia. Sua família de E-Jets, conhecida pela eficiência de combustível e conforto para os passageiros, está pronta para aprimorar a conectividade entre cidades de segundo e terceiro níveis e apoiar o programa UDAN do governo indiano, que visa tornar as viagens aéreas acessíveis e econômicas para cidadãos em cidades menores.

A companhia aérea regional Star Air exemplifica essa parceria. Com uma frota exclusivamente Embraer, composta por nove aeronaves, quatro E175 e cinco E145, a Star Air anunciou planos de expansão para 25 jatos Embraer até 2027. Esse crescimento não apenas fortalecerá a presença da Star Air, mas também aprimorará significativamente a infraestrutura de conectividade regional da Índia.

Além da implantação de aeronaves, a Embraer trabalha ativamente para se integrar ao ecossistema industrial da Índia. Ao fortalecer sua base de cadeia de suprimentos no país, a empresa pretende contribuir para a iniciativa governamental "Make in India".

Essa estratégia reflete o compromisso de longo prazo da Embraer em apoiar as ambições aeroespaciais da Índia e promover capacidades tecnológicas e de fabricação locais.

Os investimentos da Embraer em Mobilidade Aérea Urbana (UAM) demonstram seu compromisso em moldar os céus do futuro. A Eve, empresa de UAM da Embraer, está entrando com confiança no mercado indiano, formando parcerias estratégicas para revolucionar o transporte urbano.

Com as cidades da Índia ficando cada vez mais congestionadas, a introdução de soluções de decolagem e pouso vertical elétrico (eVTOL) pode redefinir a mobilidade pessoal, oferecendo opções de deslocamento sustentáveis, eficientes e futuristas.

Para resumir

Na Aero India 2025, o C-390 Millennium atraiu grande interesse da comunidade de defesa, refletindo a crescente demanda por plataformas multifuncionais que podem não apenas aumentar a flexibilidade e a prontidão operacional, mas também oferecer ótimo custo-benefício.

Agosto de 2025 marcou o 56º aniversário da Embraer, um marco em uma trajetória marcada pela excelência em engenharia, inovação e resiliência. Somente nas últimas duas décadas, a Embraer projetou, desenvolveu e colocou em serviço mais de 20 tipos diferentes de aeronaves nas áreas de defesa, aviação comercial e executiva.

A empresa continua a ter uma forte trajetória de crescimento, destacada por um backlog recorde de US$ 31,3 bilhões até o final do terceiro trimestre, um aumento de 38% em relação ao ano anterior.

A empresa espera entregar entre 77 e 85 jatos comerciais e 145 a 155 jatos executivos durante todo o ano, o que representa um aumento de 10% e 15% nos pontos médios, respectivamente, em comparação ao ano anterior.

O foco da Embraer é sustentabilidade e inovação. Suas aeronaves de última geração prometem redução de emissões, alinhando-se aos esforços globais de combate às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, atendendo à crescente demanda por viagens aéreas na Índia.

Dos céus ao chão de fábrica, o envolvimento da Embraer com a Índia abrange defesa, aviação comercial e colaboração industrial. Ao fornecer soluções personalizadas e promover parcerias locais, a Embraer se posicionou como um player fundamental na história de crescimento da Índia.

Com seus jatos regionais prontos para transformar a conectividade e suas plataformas de defesa aprimorando a segurança nacional, a Embraer se destaca como a fabricante de aeronaves preferida da Índia. Com a inovação como seu núcleo e a colaboração como motor, a Embraer não está apenas se expandindo na Índia; ela está se integrando ao futuro aeroespacial do país.

O Brasil é um líder do Sul global, assim como a Índia. Os dois países trabalham em estreita colaboração nos BRICS.

O C-390 já foi testado e aprovado. A Embraer ficará feliz em transferir tecnologia e produzir na Índia, embora detalhes mais sutis ainda devam ser levantados durante as negociações formais.

Ao contrário de outros países, o Brasil tem menos probabilidade de pressionar a Índia e será um parceiro mais confiável. A Embraer firmou parceria com o Grupo Mahindra, da Índia. A proposta inclui montagem local na Índia e transferência de tecnologia.

Portanto, é provável que o C-390 seja o principal concorrente.

*O Marechal do Ar Anil Chopra (aposentado) é um veterano da Força Aérea Indiana, piloto de testes de caça e ex-diretor-geral do Centro de Estudos do Poder Aéreo em Nova Déli. Ele foi condecorado com bravura e medalhas de serviço distinto durante seus 40 anos de serviço na Força Aérea Indiana.