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01 novembro, 2025

Visita do Comandante do Exército à Turquia abre caminho para um “win-win” de defesa entre os dois países

Comunalidade com o Centauro II, modularidade, produção local e possível venda do Embraer KC-390 à Turquia, podem pesar decisivamente em prol do blindado Tulpar.

Tulpar, variante de infantaria (IFV) equipada com a torre Mizrak 30

*LRCA Defense Consulting - 01/11/2025

Em um movimento que pode redefinir a modernização das forças blindadas do Brasil, o comandante do Exército Brasileiro (EB), general de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, liderou uma delegação de alto escalão em uma visita às instalações da fabricante turca de defesa Otokar, em Sakarya, próximo a Istambul.

O encontro, ocorrido na quinta-feira, 31 de outubro, focou na inspeção detalhada do veículo de combate de infantaria Tulpar, posicionando-o como um forte concorrente no ambicioso programa de aquisição de novos blindados sobre lagartas do EB.

A comitiva brasileira, composta por oficiais seniores e especialistas em aquisição de material bélico, assistiu a uma apresentação técnica e demonstração de desempenho do Tulpar em condições reais de campo. O veículo foi exibido em duas configurações principais: a variante de infantaria (IFV) equipada com a torre Mizrak 30, que é um sistema de canhão automático de 30 mm desenvolvido pela Otokar em parceria com a Aselsan, e a versão de tanque médio de batalha (MMBT) armada com a torre HITFACT MkII de 120 mm, fornecida pela italiana Leonardo.

Sinergias logísticas e operacionais
Essa última integração destaca a compatibilidade com o Centauro II, já em avaliação pelo EB, prometendo sinergias logísticas e operacionais que poderiam reduzir custos em até 30% para a frota brasileira.

"O Tulpar representa uma solução modular e adaptável, testada em terrenos extremos semelhantes aos da Amazônia e do Pantanal", comentou um representante da Otokar durante a visita, segundo fontes turcas. A delegação elogiou a mobilidade do veículo que, com peso entre 28 e 45 toneladas, possui um motor Caterpillar de até 1.100 cv que possibilita uma velocidade máxima de 70 km/h e autonomia de 600 km. Sua proteção contra minas e ameaças balísticas é alinhada aos padrões STANAG 4569 nível 6 e o blindado é "livre de restrições ITAR e BAFTA", facilitando exportações e produção local, um ponto crucial para o Brasil.

Tulpar, versão de tanque médio de batalha (MMBT) com a torre John Cockerill 3105 de 105mm, anterior à torre HITFACT MkII de 120 mm, fornecida pela italiana Leonardo

Modernização urgente e parceria bilateral que pode incluir o Embraer KC-390
A visita ocorre no bojo da viagem oficial do Gen Tomás à Turquia, de 25 de outubro a 3 de novembro, que inclui reuniões em Ancara e Istambul para fortalecer laços militares bilaterais. 

Em meio a negociações paralelas sobre a possível venda de aeronaves KC-390 Millennium e A-29 Super Tucano à Turquia, o foco blindado reflete o interesse mútuo em cooperação industrial. Lançado em janeiro de 2025, o programa "Nova Família de Veículos Blindados" (VBC CC/VBC Fuz) do EB visa adquirir 65 carros de combate e 78 IFVs para substituir os envelhecidos Leopard 1A5 e M113, com entregas iniciais em 2028 e orçamento estimado em R$ 10-15 bilhões.

Blindado Tulpar é um dos quatro finalistas selecionados de 11 propostas internacionais:

Candidato

Fabricante

Configuração Principal

Vantagens para o Brasil

Tulpar

Otokar (Turquia)

IFV Mizrak 30 / MMBT HITFACT 120 mm

Transferência total de tecnologia, produção 100% local, integração com Centauro II; custo-benefício e modularidade.

CV90

BAE Systems (Suécia)

120 mm L44A1 + 30 mm Bushmaster

Alta proteção, mas protótipo em fase final (entrega 2027).

Lynx

Rheinmetall (Alemanha)

Skyranger 30 (defesa aérea)

Versatilidade em artilharia, mas alto custo; opção de torre Korhan (Aselsan).

ASCOD

GDELS (Espanha/Áustria)

120 mm HITFACT MkII

Similar ao Tulpar em torre, mas menos flexível em adaptações locais.

Um "win-win" para a Base Industrial de Defesa. Produção na Agrale?
Fontes do EB indicam que o Tulpar se destaca pela proposta de montagem em fábricas brasileiras, como a da Agrale, com transferência de propriedade intelectual – um "win-win" para a Base Industrial de Defesa (BID). "É a opção menos suscetível a dores de cabeça futuras", comentou um analista em fóruns especializados, ecoando o otimismo pós-LAAD 2025, onde o veículo foi apresentado ao general Tomás.

Comunalidade com o Centauro e expansão para os Fuzileiros Navais
Do lado turco, a Otokar – parte do grupo Koç Holding e maior exportadora de plataformas terrestres da Turquia – vê no Brasil um mercado estratégico. "Estamos comprometidos com parcerias de longo prazo na América do Sul, incluindo produção local", afirmou Aykut Özüner, gerente geral da empresa, em declaração recente. A companhia exportou 3.430 unidades em 2025, metade para o exterior, e o Tulpar já atrai interesse de Bangladesh (26 unidades em negociação).

No Brasil, a parceria com a Leonardo reforça o apelo: "A torre HITFACT une o Tulpar ao ecossistema Centauro, promovendo comunalidade", destacou um porta-voz da gigante italiana. Testes de tiro integrados estão agendados para o final de 2025/início de 2026, com decisão final prevista para 2026. Os desafios incluem o orçamento apertado do EB e a concorrência europeia, mas analistas preveem que o Tulpar possa expandir para os Fuzileiros Navais, totalizando 200 ou mais unidades.

Parceria estratégica Brasil-Turquia
Essa inspeção não parece ser uma mera visita protocolar ou de intenções etéreas, mas sim um passo concreto rumo a uma parceria estratégica entre os dois países, potencialmente impulsionando também exportações de drones Bayraktar e mísseis turcos para o Brasil, bem como a exportação do KC-390 Millennium e do A-29 Super Tucano para a Turquia. 

Enquanto o mundo realinha alianças de defesa, o Brasil aposta em inovação acessível para blindar seu futuro. O Comandante do Exército retorna ao País com lições valiosas – e talvez com o blueprint de uma nova era para os blindados sobre lagartas brasileiros. 

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