*LRCA Defense Consulting - 24/12/2025
O que começou como uma polêmica acabou se transformando em uma oportunidade de cooperação. A Taurus, maior vendedora de armas leves do mundo, e a Marinha do Brasil anunciaram que prepararão um memorando de entendimento para desenvolvimento e homologação de armamentos após um imbróglio envolvendo a aquisição de 140 fuzis da fabricante americana Colt's Manufacturing Company.
A polêmica teve início quando a coluna de Paulo Cappelli, do portal Metrópoles, noticiou que a Marinha gastou R$ 1,3 milhão na compra de fuzis da Colt por dispensa de licitação. A Taurus reagiu criticando a decisão, argumentando que produzia equipamento equivalente no Brasil desde 2017.
O mal-entendido e os esclarecimentos
Segundo nota divulgada pela própria Taurus, houve um desencontro de
informações. A empresa esclarece que a matéria crítica foi publicada fora do
momento adequado e que, em contato posterior com a Marinha, foi informada de
que a compra não se tratava de aquisição de novo armamento, mas simplesmente do
recompletamento de acervo existente, padronizado há mais de 25 anos.
A justificativa da Marinha para a dispensa de licitação baseou-se na Lei nº 14.133/2021, que permite a aquisição sem certame quando há necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio logístico dos meios navais, aéreos e terrestres.
A capacidade industrial brasileira
A crítica inicial da Taurus tinha fundamento técnico. A empresa produz o
fuzil T4, calibre 5.56mm, considerado equivalente ao modelo americano
adquirido. O Taurus T4, apresentado no SHOT Show de 2017, é fabricado
totalmente nas instalações da empresa em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
De acordo com o presidente da Taurus, Salesio Nuhs, aproximadamente 100 mil unidades do modelo foram produzidas desde 2017, sendo adotado por diversas forças nacionais e exportado para vários países. O armamento já é usado por agências policiais como a Polícia Militar de Santa Catarina e a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo, além do Exército Filipino e da Gendarmerie do Senegal.
Contexto geopolítico e tarifas
A reação inicial da Taurus também considerou o contexto das relações
comerciais com os Estados Unidos. A empresa argumentou que era contraditório o
Brasil importar armamentos americanos enquanto os Estados Unidos impõem tarifas
de aproximadamente 50% sobre produtos brasileiros exportados por empresas do
setor.
TCU alerta para proteção da indústria nacional
A polêmica coincidiu com um momento de atenção especial do Tribunal de
Contas da União sobre o tema. O TCU recomendou ao Ministério da Defesa que
desestimule compras militares de bens e serviços no exterior quando esses
também estiverem disponíveis no mercado nacional.
O órgão de controle apontou irregularidades nas compras externas, incluindo falhas na publicidade das licitações, inconformidades contábeis, fragilidades nos controles internos e favorecimento a determinadas empresas. Para o ministro-substituto Weder de Oliveira, o Ministério da Defesa, por meio da Portaria GM-MD 5175/2021, criou condições que direcionam as compras militares a empresas estrangeiras em detrimento das nacionais.
Base Industrial de Defesa em expansão
O episódio ilumina um debate mais amplo sobre a Base Industrial de Defesa
(BID) brasileira. A indústria de defesa nacional registrou crescimento de 114%
entre 2023 e 2025, alcançando US$ 3,1 bilhões em autorizações de exportação.
Atualmente, cerca de 80 empresas exportadoras comercializam para
aproximadamente 140 países, sendo os principais mercados Alemanha, Bulgária,
Emirados Árabes, Estados Unidos e Portugal.
A Taurus, em particular, tem forte presença internacional. Mais de 80% do faturamento da empresa vem de exportações, e a companhia possui até mesmo uma fábrica nos Estados Unidos.
O acordo e o futuro
Após os esclarecimentos sobre o caráter da compra, o desfecho foi positivo.
A Taurus informa que empresa e Corpo de Fuzileiros Navais realizaram reunião
onde ficou decidida a preparação de memorando de entendimento para
desenvolvimento e homologação de armas de calibres 9mm, 5.56, 7.62 e .50, em
parceria técnica com a Marinha.
Os equipamentos desenvolvidos nessa parceria atenderão as necessidades tanto das Forças Armadas quanto das Forças Policiais brasileiras, potencialmente fortalecendo a autonomia tecnológica do país em armamentos estratégicos.
O episódio demonstra que, embora a padronização de equipamentos já existentes justifique compras específicas no exterior, há espaço crescente para a indústria nacional suprir as demandas das Forças Armadas brasileiras, especialmente em novos projetos e modernizações futuras.
Saiba mais:
- CEO da Taurus apresenta portfólio militar ao Comando do Corpo de Fuzileiros Navais

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