Taxação ameaça dependência crucial, elevando custos e prejudicando a conectividade nacional nos EUA
*LRCA Defense Consulting - 23/07/2025
A iminente imposição de uma tarifa de 50% sobre os aviões da Embraer pelos Estados Unidos, com previsão de entrada em vigor em agosto, pode desencadear uma série de consequências negativas profundas para o próprio mercado norte-americano, indo muito além do impacto direto na fabricante brasileira. Especialistas e dados de mercado apontam para um cenário de perdas significativas para companhias aéreas regionais, a cadeia de suprimentos dos EUA e até mesmo para as relações comerciais bilaterais, contrariando o que se poderia esperar de uma medida protecionista.
Dependência crítica das companhias aéreas regionais dos EUA: um cenário sem alternativas
A Embraer não é apenas uma fornecedora, mas uma peça fundamental na estrutura da aviação regional dos EUA. Os modelos E170 e E175 da Embraer representam aproximadamente metade dos 1.367 jatos regionais operados pelas principais companhias aéreas americanas, como Alaska Airlines, American Airlines, Delta Air Lines e United Airlines. A aeronave E175, em particular, detém uma impressionante fatia de 86% do mercado de pedidos líquidos no segmento de até 90 assentos nos Estados Unidos.
Companhias como SkyWest Airlines (a maior operadora global de jatos Embraer, com 36.907 voos programados em novembro último), Republic Airways e Envoy Air dependem fortemente da frota da Embraer para suas operações. A ausência de concorrentes viáveis nesse nicho de mercado agrava a situação. O E175 é atualmente o único avião produzido em seu segmento, e a versão mais recente, o E175-E2, é considerada muito grande para as cláusulas de escopo dos contratos de pilotos dos EUA, tornando-o inviável para as companhias aéreas americanas.
Isso significa que as companhias aéreas dos EUA não têm alternativas prontas para substituir os jatos da Embraer. A imposição da tarifa tornaria as entregas de aeronaves "inviáveis", adicionando cerca de US$ 9 milhões ao custo de cada avião exportado para os EUA. Esse custo adicional, que poderia totalizar US$ 3,6 bilhões até 2030, seria repassado às companhias aéreas, elevando significativamente seus custos operacionais. Isso poderia levar a:
- Aumento dos preços das passagens: para compensar os custos mais altos, as companhias aéreas provavelmente aumentariam os preços das passagens, impactando diretamente os consumidores americanos.
- Redução da conectividade: com aeronaves mais caras e menos acessíveis, as companhias aéreas regionais podem ser forçadas a reduzir a frequência de voos ou até mesmo cortar rotas para comunidades menores, prejudicando a conectividade aérea em diversas regiões dos EUA, especialmente aquelas que dependem exclusivamente de voos regionais.
- Dificuldade na renovação da frota: a renovação da frota se tornaria proibitiva, levando ao envelhecimento das aeronaves e potenciais problemas de manutenção e eficiência, comprometendo a segurança e a modernidade da aviação regional.
Impacto na cadeia de suprimentos dos EUA e perda de empregos
Embora a Embraer seja uma empresa brasileira, ela possui uma presença significativa e integrada na economia dos EUA. A empresa tem uma presença "tributável" em 31 estados e opera 12 instalações, incluindo fábricas de montagem final para jatos executivos na Flórida e centros de manutenção, reparo e revisão (MRO). A Embraer também compra componentes de fornecedores americanos e exporta peças para o Brasil.
O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, alertou que as tarifas prejudicariam os fornecedores americanos de componentes essenciais, como motores e aviônicos. Uma redução nas vendas de aeronaves da Embraer para os EUA significaria uma diminuição nos pedidos para esses fornecedores, o que poderia resultar em:
- Perda de empregos: demissões em empresas americanas que fazem parte da cadeia de suprimentos da Embraer, afetando trabalhadores de alta qualificação no setor aeroespacial.
- Desestabilização da cadeia: interrupção de redes de suprimentos estabelecidas e eficientes, forçando as empresas a buscar alternativas mais caras ou menos eficientes, o que pode comprometer a competitividade.
- Redução de investimentos: a incerteza gerada pelas tarifas pode desestimular investimentos futuros no setor aeroespacial dos EUA, impactando a inovação e o crescimento.
Risco de retaliação e guerra comercial
A ameaça de tarifas já provocou uma resposta do Brasil. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o Brasil imporia tarifas retaliatórias se os EUA prosseguissem com a medida. Essa ação poderia escalar para uma guerra comercial, semelhante à que ocorreu entre os EUA e a China, impactando diversos setores da economia norte-americana.
A retaliação brasileira poderia afetar diversos setores da economia dos EUA, com grupos empresariais brasileiros já expressando preocupação com o aumento dos custos de equipamentos importados dos EUA. Uma guerra comercial prejudicaria as relações comerciais históricas entre os dois países e a credibilidade dos EUA como parceiro comercial confiável, além de potencialmente expor outros setores da economia a riscos de tarifação.
Impacto financeiro na Embraer e repercussões amplas
Analistas estimam que a tarifa de 50% poderia reduzir o lucro operacional anualizado da Embraer em até 41% e afetar a margem EBIT entre 0,7% e 0,9%. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, comparou o potencial impacto das tarifas à crise enfrentada durante a pandemia de COVID-19, destacando a gravidade da situação.
Apesar da robusta carteira de pedidos da Embraer, que somava US$ 29,7 bilhões ao final do segundo trimestre de 2025, e da desvalorização do real brasileiro em relação ao dólar (que favorece a empresa com receitas em dólar e custos em reais), o impacto negativo de uma tarifa de tal magnitude provavelmente superaria qualquer benefício cambial, forçando a Embraer a reconsiderar sua estratégia de mercado e investimentos.
Um tiro no próprio pé?
Em suma, a imposição de uma tarifa de 50% sobre os aviões da Embraer não seria uma medida isolada, mas uma ação com potencial para causar danos colaterais extensos. Ela representa um risco significativo para a estabilidade e a eficiência do setor de aviação regional dos EUA, a saúde de sua cadeia de suprimentos e suas relações comerciais internacionais. As consequências seriam sentidas por companhias aéreas, trabalhadores, fornecedores e, em última instância, pelos próprios consumidores americanos, que arcariam com passagens mais caras e menos opções de voo.
A medida, concebida para proteger interesses domésticos, pode, paradoxalmente, enfraquecer um setor vital da economia dos EUA, revelando a complexidade e as armadilhas das políticas comerciais unilaterais em um cenário econômico globalizado.
A iminente imposição de uma tarifa de 50% sobre os aviões da Embraer pelos Estados Unidos, com previsão de entrada em vigor em agosto, pode desencadear uma série de consequências negativas profundas para o próprio mercado norte-americano, indo muito além do impacto direto na fabricante brasileira. Especialistas e dados de mercado apontam para um cenário de perdas significativas para companhias aéreas regionais, a cadeia de suprimentos dos EUA e até mesmo para as relações comerciais bilaterais, contrariando o que se poderia esperar de uma medida protecionista.
Dependência crítica das companhias aéreas regionais dos EUA: um cenário sem alternativas
A Embraer não é apenas uma fornecedora, mas uma peça fundamental na estrutura da aviação regional dos EUA. Os modelos E170 e E175 da Embraer representam aproximadamente metade dos 1.367 jatos regionais operados pelas principais companhias aéreas americanas, como Alaska Airlines, American Airlines, Delta Air Lines e United Airlines. A aeronave E175, em particular, detém uma impressionante fatia de 86% do mercado de pedidos líquidos no segmento de até 90 assentos nos Estados Unidos.
Companhias como SkyWest Airlines (a maior operadora global de jatos Embraer, com 36.907 voos programados em novembro último), Republic Airways e Envoy Air dependem fortemente da frota da Embraer para suas operações. A ausência de concorrentes viáveis nesse nicho de mercado agrava a situação. O E175 é atualmente o único avião produzido em seu segmento, e a versão mais recente, o E175-E2, é considerada muito grande para as cláusulas de escopo dos contratos de pilotos dos EUA, tornando-o inviável para as companhias aéreas americanas.
Isso significa que as companhias aéreas dos EUA não têm alternativas prontas para substituir os jatos da Embraer. A imposição da tarifa tornaria as entregas de aeronaves "inviáveis", adicionando cerca de US$ 9 milhões ao custo de cada avião exportado para os EUA. Esse custo adicional, que poderia totalizar US$ 3,6 bilhões até 2030, seria repassado às companhias aéreas, elevando significativamente seus custos operacionais. Isso poderia levar a:
- Aumento dos preços das passagens: para compensar os custos mais altos, as companhias aéreas provavelmente aumentariam os preços das passagens, impactando diretamente os consumidores americanos.
- Redução da conectividade: com aeronaves mais caras e menos acessíveis, as companhias aéreas regionais podem ser forçadas a reduzir a frequência de voos ou até mesmo cortar rotas para comunidades menores, prejudicando a conectividade aérea em diversas regiões dos EUA, especialmente aquelas que dependem exclusivamente de voos regionais.
- Dificuldade na renovação da frota: a renovação da frota se tornaria proibitiva, levando ao envelhecimento das aeronaves e potenciais problemas de manutenção e eficiência, comprometendo a segurança e a modernidade da aviação regional.
Impacto na cadeia de suprimentos dos EUA e perda de empregos
Embora a Embraer seja uma empresa brasileira, ela possui uma presença significativa e integrada na economia dos EUA. A empresa tem uma presença "tributável" em 31 estados e opera 12 instalações, incluindo fábricas de montagem final para jatos executivos na Flórida e centros de manutenção, reparo e revisão (MRO). A Embraer também compra componentes de fornecedores americanos e exporta peças para o Brasil.
O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, alertou que as tarifas prejudicariam os fornecedores americanos de componentes essenciais, como motores e aviônicos. Uma redução nas vendas de aeronaves da Embraer para os EUA significaria uma diminuição nos pedidos para esses fornecedores, o que poderia resultar em:
- Perda de empregos: demissões em empresas americanas que fazem parte da cadeia de suprimentos da Embraer, afetando trabalhadores de alta qualificação no setor aeroespacial.
- Desestabilização da cadeia: interrupção de redes de suprimentos estabelecidas e eficientes, forçando as empresas a buscar alternativas mais caras ou menos eficientes, o que pode comprometer a competitividade.
- Redução de investimentos: a incerteza gerada pelas tarifas pode desestimular investimentos futuros no setor aeroespacial dos EUA, impactando a inovação e o crescimento.
Risco de retaliação e guerra comercial
A ameaça de tarifas já provocou uma resposta do Brasil. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o Brasil imporia tarifas retaliatórias se os EUA prosseguissem com a medida. Essa ação poderia escalar para uma guerra comercial, semelhante à que ocorreu entre os EUA e a China, impactando diversos setores da economia norte-americana.
A retaliação brasileira poderia afetar diversos setores da economia dos EUA, com grupos empresariais brasileiros já expressando preocupação com o aumento dos custos de equipamentos importados dos EUA. Uma guerra comercial prejudicaria as relações comerciais históricas entre os dois países e a credibilidade dos EUA como parceiro comercial confiável, além de potencialmente expor outros setores da economia a riscos de tarifação.
Impacto financeiro na Embraer e repercussões amplas
Analistas estimam que a tarifa de 50% poderia reduzir o lucro operacional anualizado da Embraer em até 41% e afetar a margem EBIT entre 0,7% e 0,9%. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, comparou o potencial impacto das tarifas à crise enfrentada durante a pandemia de COVID-19, destacando a gravidade da situação.
Apesar da robusta carteira de pedidos da Embraer, que somava US$ 29,7 bilhões ao final do segundo trimestre de 2025, e da desvalorização do real brasileiro em relação ao dólar (que favorece a empresa com receitas em dólar e custos em reais), o impacto negativo de uma tarifa de tal magnitude provavelmente superaria qualquer benefício cambial, forçando a Embraer a reconsiderar sua estratégia de mercado e investimentos.
Um tiro no próprio pé?
Em suma, a imposição de uma tarifa de 50% sobre os aviões da Embraer não seria uma medida isolada, mas uma ação com potencial para causar danos colaterais extensos. Ela representa um risco significativo para a estabilidade e a eficiência do setor de aviação regional dos EUA, a saúde de sua cadeia de suprimentos e suas relações comerciais internacionais. As consequências seriam sentidas por companhias aéreas, trabalhadores, fornecedores e, em última instância, pelos próprios consumidores americanos, que arcariam com passagens mais caras e menos opções de voo.
A medida, concebida para proteger interesses domésticos, pode, paradoxalmente, enfraquecer um setor vital da economia dos EUA, revelando a complexidade e as armadilhas das políticas comerciais unilaterais em um cenário econômico globalizado.
A urgência da negociação: evitando um cenário "perde-perde"
Diante das severas consequências projetadas para ambos os lados, a necessidade de negociação entre Brasil e Estados Unidos torna-se imperativa. A imposição unilateral de tarifas, como a proposta de 50% sobre os aviões da Embraer, cria um cenário de "perde-perde" que prejudica não apenas a indústria aeroespacial, mas também a economia mais ampla e as relações diplomáticas.
O próprio CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, descreveu a situação como "lose-lose" (perde-perde), enfatizando que as tarifas não só tornariam as exportações inviáveis para a Embraer, mas também afetariam os fornecedores americanos e as companhias aéreas dos EUA que dependem de seus produtos. A história recente de disputas comerciais globais demonstra que a escalada de tarifas raramente resulta em ganhos líquidos para qualquer das partes, levando a retaliações que desorganizam cadeias de valor e elevam custos para consumidores e empresas.
A busca por uma solução diplomática é o caminho mais sensato. Isso poderia envolver discussões sobre cotas, isenções específicas ou acordos de longo prazo que garantam a competitividade da Embraer no mercado americano sem desestabilizar o setor aéreo regional dos EUA. A cooperação, em vez do confronto, permitiria que ambos os países preservassem os benefícios de uma relação comercial robusta e evitassem os custos de uma guerra tarifária que ninguém pode se dar ao luxo de perder.
Diante das severas consequências projetadas para ambos os lados, a necessidade de negociação entre Brasil e Estados Unidos torna-se imperativa. A imposição unilateral de tarifas, como a proposta de 50% sobre os aviões da Embraer, cria um cenário de "perde-perde" que prejudica não apenas a indústria aeroespacial, mas também a economia mais ampla e as relações diplomáticas.
O próprio CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, descreveu a situação como "lose-lose" (perde-perde), enfatizando que as tarifas não só tornariam as exportações inviáveis para a Embraer, mas também afetariam os fornecedores americanos e as companhias aéreas dos EUA que dependem de seus produtos. A história recente de disputas comerciais globais demonstra que a escalada de tarifas raramente resulta em ganhos líquidos para qualquer das partes, levando a retaliações que desorganizam cadeias de valor e elevam custos para consumidores e empresas.
A busca por uma solução diplomática é o caminho mais sensato. Isso poderia envolver discussões sobre cotas, isenções específicas ou acordos de longo prazo que garantam a competitividade da Embraer no mercado americano sem desestabilizar o setor aéreo regional dos EUA. A cooperação, em vez do confronto, permitiria que ambos os países preservassem os benefícios de uma relação comercial robusta e evitassem os custos de uma guerra tarifária que ninguém pode se dar ao luxo de perder.
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