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12 novembro, 2025

Taurus navega por mar revolto, mas evidencia resiliência antifrágil no 3T25 e tem lucro


*LRCA Defense Consulting - 12/11/2025

A Taurus Armas S.A., uma das líderes globais na fabricação de armas, divulgou seus resultados do terceiro trimestre de 2025 (3T25) e do acumulado dos nove primeiros meses de 2025 (9M25), revelando um cenário de resiliência e adaptação frente a desafios significativos, evidenciando sua característica antifrágil. Mesmo diante de um ambiente adverso no mercado global, impulsionado principalmente pela imposição de tarifas nos Estados Unidos e pelo desaquecimento da demanda, a Companhia conseguiu registrar lucro líquido positivo e manter margens competitivas.

A administração da Taurus destacou a capacidade da empresa de se ajustar a um "cenário adverso, marcado pela imposição da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos — nosso principal mercado — em um momento em que a demanda nesse país já se encontrava enfraquecida", conforme Mensagem da Administração.

Destaques financeiros: resiliência em tempos desafiadores
O 3T25 da Taurus foi marcado por métricas que, embora mostrem os desafios do mercado, evidenciam a solidez da gestão.

Receita operacional líquida
A receita consolidada atingiu R$ 320,3 milhões no 3T25, apresentando uma retração de 11,2% em relação ao mesmo período de 2024. No acumulado dos nove primeiros meses, a receita somou R$ 1.071,8 milhões, uma queda de 12,0% comparado ao 9M24. Essa redução é atribuída, principalmente, às menores vendas de armas no mercado norte-americano, o maior do segmento.

Lucro bruto
A companhia registrou lucro bruto de R$ 99,7 milhões no 3T25, com uma margem bruta de 31,1% sobre a receita operacional líquida. Apesar de uma queda de 4,4 pontos percentuais em relação aos 35,5% do 3T24, a margem se manteve acima do patamar de 30% e superou a de concorrentes como Ruger (25,9%) e S&W (15,1%). No acumulado de 9M25, o lucro bruto foi de R$ 365,5 milhões, com margem bruta de 34,1%, praticamente estável (-0,2 p.p.) frente ao 9M24.

EBITDA
O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) no 3T25 alcançou R$ 49,8 milhões, com margem EBITDA de 15,6%. Esse resultado representou um aumento de 18,0% e 3,9 pontos percentuais em relação ao 3T24, impulsionado pela reversão de contingências tributárias. Contudo, no 9M25, o EBITDA totalizou R$ 106,1 milhões, uma redução de 35,5% em comparação com o 9M24, com margem EBITDA de 13,5% (-3,6 p.p.).

Lucro líquido
A Taurus reportou um lucro líquido de R$ 31,5 milhões no 3T25, contribuindo para um lucro líquido acumulado de R$ 83,3 milhões nos nove primeiros meses de 2025. Esse desempenho foi "fortemente impactado positivamente pelo efeito da reversão das provisões de contingências tributárias (Difal)".

Desempenho operacional: adaptação e mercados
O desempenho operacional da Taurus no 3T25 foi uma resposta direta às condições do mercado, exigindo ajustes estratégicos e foco na eficiência que produziram um resultado muito positivo.

Mercado dos EUA: retração da demanda e tarifas
O mercado de armas nos Estados Unidos, principal destino das exportações da Taurus, permaneceu retraído. O indicador Adjusted NICS (National Instant Criminal Background Check System), que aponta a intenção de compra de armas, registrou menos de 1 milhão de consultas em julho, o menor nível desde 2019. Fatores como juros elevados, inflação, custo de vida e a ausência de risco iminente de restrições legais contribuíram para que os consumidores adiassem decisões de compra, resultando no que a Companhia descreve como "Trump slump" – termo utilizado para a queda no desempenho econômico atribuída às políticas de implementação de tarifas e à instabilidade percebida.

Mercado brasileiro: sinais de reação e mudanças regulatórias
Em contraste, o mercado brasileiro começou a dar "os primeiros indícios de reação", atribuídos à "maior estabilidade regulatória e à reorganização dos processos". A transferência das competências relativas ao setor do Exército para a Polícia Federal, iniciada em 2023, e a confirmação da validade de 10 anos para os Certificados de Registro (CRs) reforçam a previsibilidade para o consumidor. As vendas no Brasil no 3T25 cresceram 18,5% em relação ao 3T24, totalizando 19,6 mil unidades, embora o volume acumulado em 9M25 (46,3 mil unidades) ainda seja 17,6% inferior ao 9M24.

Produção e vendas - ajuste produtivo e volume
A produção da Taurus no 3T25 foi de 197 mil armas, uma redução de 23,9% em relação ao 3T24, reflexo do ajuste do ritmo produtivo às tarifas dos EUA e às condições de demanda. Um ponto estratégico notável foi o aumento da participação das unidades fabricadas nos Estados Unidos sobre o total produzido, passando de 19,7% no 3T24 para 32,0% no 3T25. No 3T25, a Taurus comercializou 217 mil armas globalmente. As vendas nos EUA caíram 17,0% em relação ao 3T24, totalizando 176 mil unidades. A empresa suspendeu os envios de armas longas aos EUA devido à inviabilidade econômica da nova tarifa.

Exportações para outros países e oportunidades
As exportações para mercados fora dos Estados Unidos totalizaram 21,2 mil unidades no 3T25, um crescimento de 2,1% em relação ao 3T24. A Companhia venceu uma licitação para a entrega de 7,5 mil fuzis T4 na África, já com aditivo de cerca de 1.000 armas, e está acompanhando concorrências internacionais que somam um potencial de venda de cerca de 70 mil unidades até meados de 2026. 

Na Índia, a Taurus está tendo muito bons resultados no merrcado civil e participando de cerca de 14/15 licitações para fornecimento de aproximadamente 34 mil armas, com valor estimado em US$ 27 milhões. É importante ressaltar que a megalicitação de 425.000 fuzis, onde a Taurus ficou em 3º lugar, ainda não foi homologada, havendo tratativas legais em curso que, eventualmente, podem alterar o resultado final.

Em outubro, a empresa assinou a prorrogação, até final de novembro, com renovação automática desse prazo por mais dois meses, do Memorando de Entendimentos firmado com a empresa turca MERTSAV e, na sequência, apresentou a proposta inicial para aquisição de participação em seu capital. É provável que seus executivos viagem ao país em breve, a fim de concluir a negociação.

MoU com a Mertsav na LAAD 2025

Fatores externos e estratégias de mitigação
A Taurus implementou uma série de medidas proativas para mitigar os impactos da tarifa de importação norte-americana e do desaquecimento da demanda:

● Transferência de linhas de montagem para os EUA: as linhas de produção de pistolas da família G já foram realocadas para a unidade nos EUA, reduzindo o impacto tarifário ao exportar kits de peças em vez de armas montadas. A mesma estratégia será aplicada aos aos principais modelos de revólveres nos próximos meses. Embora pareça que a questão do tarifaço esteja próxima de uma solução positiva, caso não seja revertida, mais linhas produtivas deverão ser transferidas para os EUA. Os produtos destinados ao mercado brasileiro e demais mercados internacionais continuarão a ser produzidos integralmente no Brasil.

● Redução do preço de transferência Brasil-EUA: ajustes foram realizados para evitar a incidência da tarifa sobre as margens.

 Estoque de produtos reforçado antecipadamente nos EUA: uma medida estratégica que se mostrou acertada, garantindo a preservação de margens sobre parte das vendas.

● Cessão de créditos de ICMS: em negociação com o governo do Rio Grande do Sul, visando fortalecer o fluxo de caixa.

● Negociação com o BNDES no Plano Brasil Soberano: tratativas para acesso a linhas de crédito e incentivos fiscais para empresas exportadoras.

● Contratação de escritórios de assessoria nos EUA: atuação junto ao governo norte-americano para defender os interesses da Taurus, destacando sua presença local e planos de expansão. 

● Reversão de R$ 43,1 milhões anteriormente provisionados: em 2022, diante da publicação da Lei Complementar 190 e da ausência de clareza sobre sua aplicação imediata, na época, a Taurus tomou a decisão estratégica de ingressar com ações judiciais para questionar a cobrança do Difal naquele exercício. Essa medida foi adotada após criteriosa análise jurídica e tributária. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal confirmou essa posição, resultando na reversão de R$ 43,1 milhões anteriormente provisionados. Foi uma postura proativa da gestão, voltada à mitigação de riscos e à proteção do valor para os acionistas, que contribuiu positivamente para o desempenho do trimestre e também fortalecerá o caixa para os trimestres futuros em um momento especialmente oportuno dado todo o cenário atual. 

Paralelamente, seguem as "tratativas diplomáticas em busca de uma solução negociada para a questão da tarifa dos Estados Unidos", com reuniões e aprovações simbólicas no Senado norte-americano que indicam um crescente desconforto com as políticas comerciais atuais.

Estrutura de custos
A gestão rigorosa de custos e o investimento contínuo em inovação são pilares da estratégia da Taurus.

Gestão de custos
O custo dos produtos vendidos (CPV) da Taurus apresentou redução de 5,2% no 3T25 em relação ao 3T24, apesar de uma inflação acumulada de 5,17% no período. Essa redução está associada ao menor volume de produção e a esforços de contenção, embora a Companhia reconheça que "parte relevante dos custos da Companhia é fixa, o que reduz a flexibilidade de ajuste proporcional à queda no volume produzido".

Despesas operacionais
As despesas operacionais totalizaram R$ 62,9 milhões no 3T25, representando 19,6% da receita. Houve uma redução de 45,0% nessas despesas em relação ao 2T25, fruto da austeridade na alocação de recursos. Um destaque positivo foi a contabilização de R$ 39,8 milhões na conta "outras receitas/despesas operacionais", decorrentes da reversão das contingências tributárias relacionadas ao Difal, que "contribuiu positivamente para o desempenho do trimestre”.

Inovação e novos produtos
A inovação continua sendo um pilar estratégico. Os novos produtos contribuíram com 20,2% da receita líquida de armas & acessórios no acumulado até setembro de 2025. A Companhia apresentou, na Shot Fair Brasil, o protótipo do drone "TAS – Tactical Air Soldier", voltado para aplicações de segurança e defesa, novos modelos em calibre .38 TPC e a família de pistolas GX4 Carry. O calibre .38 TPC, lançado em 2024, já representa 62% das pistolas de uso permitido registradas no SINARM, evidenciando o sucesso da pesquisa e desenvolvimento do CITE – Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia Brasil Estados Unidos da Taurus.

Drone TAS

 

Próximos e importantes lançamentos
Nos primeiros dias de janeiro, simultaneamente nos EUA e no Brasil, serão lançadas a pistola TX9
, com mecanismo Striker-Fire e plataforma completamente modular no sistema Taurus Modular System (sistema compatível nos três modelos), inicialmente em calibre 9x19mm com três tamanhos - subcompacta, compacta e full size, e a revolucionária RPC, a submetralhadora em calibre 9x19 mm mais leve, compacta e com maior capacidade do mercado.

Em dezembro deste ano será lançada a pistola .380 na plataforma GX4 (
Striker-Fire), ansiosamente aguardada pelo mercado brasileiro.




Submetralhadora RPC

 

Endividamento e investimentos: disciplina e visão de longo prazo
A Taurus demonstra disciplina na gestão de seu capital, equilibrando endividamento e investimentos estratégicos.

Dívida bancária e alavancagem
A dívida bancária bruta da Companhia em 30/09/2025 era de R$ 774,4 milhões, um aumento de 3,6% em relação a 2024. A dívida líquida atingiu R$ 577,6 milhões, crescimento de 26,2% no mesmo período, refletindo a redução das disponibilidades financeiras. A relação entre dívida líquida e EBITDA ajustado dos últimos 12 meses atingiu 2,95 vezes, um aumento em relação a 1,80x em dezembro de 2024. Apesar disso, a Companhia afirma que "o nível de alavancagem financeira permanece sob controle" e que mantém sua capacidade de honrar os compromissos.

Plano Brasil Soberano
A Taurus está pleiteando a liberação de recursos no âmbito do programa Brasil Soberano, do Governo Federal, que visa apoiar empresas brasileiras impactadas por medidas comerciais internacionais, como as tarifas dos EUA.

Capex e financiamento Finep
No 3T25, o Capex (investimentos) foi de R$ 25,5 milhões, com 43,5% dos recursos provenientes da linha de crédito de inovação da Finep. No acumulado até setembro de 2025, os investimentos somaram R$ 71,7 milhões, majoritariamente direcionados à aquisição de máquinas, equipamentos e ferramentas (66,1%), e ao desenvolvimento de novos produtos (27,7%).

Perspectivas para o restante do ano: navegando na incerteza
Apesar das pressões impostas pelas tarifas e pelo desaquecimento da demanda no mercado norte-americano, a Taurus "continua demonstrando resiliência e proatividade". A Companhia mantém a confiança de que estará "preparada para um momento de retomada mais vigorosa da demanda", seguindo firme em sua estratégia de inovação, gestão de custos, prospecção de oportunidades em diferentes mercados e novas parcerias.

A administração reitera seu compromisso com as boas práticas de governança, com a geração de valor sustentável aos acionistas e com a busca contínua por oportunidades. A trajetória recente da Taurus, inclusive com o sucesso na implementação de medidas para mitigar os impactos das tarifas e a expansão em outros mercados, comprova sua capacidade de superação e evolução.

A Companhia segue "adaptando sua estrutura operacional — como a transferência de linhas de montagem para os Estados Unidos — e intensificando ações de controle de gastos, de modo a se adequar às atuais condições de mercado". O trabalho contínuo de pesquisa e desenvolvimento, conduzido pelo CITE, permanece como um pilar estratégico, visando a criação de produtos inovadores com tecnologia, qualidade e eficiência produtiva.

Notável capacidade de adaptação e resiliência, típicas de uma empresa antifrágil
O terceiro trimestre de 2025 foi um período de teste para a Taurus, que operou em um cenário global complexo, marcado por tarifas protecionistas e demanda retraída em seu principal mercado. No entanto, a Companhia demonstrou notável capacidade de adaptação e resiliência, evidenciando sua característica antifrágil e mantendo resultados financeiros positivos e margens competitivas. 
As estratégias de realocação de produção, gestão de custos e diversificação de mercados, aliadas ao foco em inovação, posicionam a Taurus para enfrentar os desafios futuros e capitalizar em eventuais retomadas da demanda. A empresa continua sua jornada, com a expectativa de escrever seus próximos capítulos com a mesma visão de longo prazo e dedicação.

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