A LRCA Defense Consulting é uma entidade sem fins lucrativos que se dedica a produzir e divulgar notícias e análises sobre as Empresas de Defesa. Não somos jornalistas e nem este é um blog jornalístico.
O Exército Brasileiro deu um passo significativo para sua modernização ao assinar, no Quartel-General em Brasília, a Carta de Intenções que formaliza o início dos estudos para a criação da Empresa Nacional de Desenvolvimento da Força Terrestre (ENDEFORTE). Essa nova estatal terá a missão de financiar projetos estratégicos da Força Terrestre, contribuindo para a atualização tecnológica e operacional da instituição, sem ultrapassar os limites orçamentários previstos pela Lei Orçamentária Anual da União (LOA).
Durante a cerimônia, presidida pelo General de Exército Anísio David de Oliveira Júnior, chefe do Departamento de Engenharia e Construção, estiveram presentes autoridades militares e civis, incluindo o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Francisco Humberto Montenegro Junior, e representantes do Ministério da Defesa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
A vez do Exército A ENDEFORTE será uma empresa estatal não dependente, com sede em Brasília e vinculada ao Ministério da Defesa por meio do Comando do Exército. Diferente das Forças Aérea e Naval, que já contam com empresas públicas para gerir projetos específicos, o Exército é a última instituição a criar uma estrutura desse tipo, capaz de captar recursos financeiros externos e realizar investimentos em longo prazo.
O principal objetivo da ENDEFORTE é permitir a injeção de recursos financeiros adicionais para projetos de modernização, informatização, desenvolvimento de tecnologias em defesa cibernética, comunicação, veículos blindados, sistemas de monitoramento de fronteiras, e outras capacidades consideradas estratégicas. O Portfólio Estratégico do Exército, conduzido pelo Escritório de Projetos, conta com 13 programas estruturantes, como Astros, Forças Blindadas, Sisfron, Amazônia Protegida e Defesa Cibernética, que poderão ser beneficiados pela nova estatal.
Fomentar a BIDS e contribuir para a autonomia tecnológica Além do fortalecimento da capacidade operacional da Força Terrestre, a ENDEFORTE busca fomentar a Base Industrial de Defesa (BID) nacional, ampliando a pesquisa, desenvolvimento e inovação, bem como a geração de empregos de alta qualificação. A expectativa é que a empresa contribua para a autonomia tecnológica do Brasil, reduzindo a dependência de equipamentos importados, fortalecendo a economia regional e promovendo ações alinhadas à sustentabilidade, com foco na Amazônia e na transição energética.
A criação da estatal depende da aprovação final do Congresso Nacional, mas o passo dado com a assinatura do protocolo de intenções sinaliza um compromisso institucional firme para superar as restrições orçamentárias tradicionais, dando maior previsibilidade e continuidade às iniciativas de defesa no país.
A Embraer Defesa e Segurança consolidou na Europa um eixo
estratégico centrado no KC/C-390 Millennium e no A-29N Super Tucano, ancorado
em encomendas de múltiplos países da OTAN, acordos industriais profundos e
parcerias tecnológicas em defesa digital e serviços, criando massa crítica suficiente para
um papel estrutural no ecossistema de defesa europeu nas próximas décadas. Essa
expansão tende a acelerar, com efeitos relevantes sobre a autonomia militar
europeia, a interoperabilidade OTAN e o peso político-industrial do Brasil no
continente.
Panorama atual da presença na Europa A coluna vertebral da expansão é o C-390 Millennium/KC-390,
hoje em operação em Portugal e Hungria, com encomendas firmes ou seleções
oficiais por Holanda, Áustria, República Tcheca, Lituânia, Suécia e Eslováquia.
Paralelamente, o A-29N Super Tucano entrou no mercado europeu com Portugal como
cliente-âncora, oferecendo uma solução integrada de treinamento avançado,
ataque leve e, em sua versão em desenvolvimento, defesa anti-drone.
Nos Países Baixos, a Embraer consolidou uma parceria
estratégica com contrato para nove C-390 (cinco para a Holanda e quatro para a
Áustria) em arranjo cooperativo que padroniza configuração, treinamento e
suporte. O Fokker Services Group foi designado como centro de modificação,
engenharia e certificação do C-390M, criando um polo de MRO e engenharia de
relevância europeia.
A criação da Embraer Defense Europe: estratégia e significado Em dezembro de 2024, a Embraer deu um passo estratégico
significativo para consolidar sua presença no continente europeu ao inaugurar a
subsidiária dedicada a defesa e segurança em Lisboa, denominada Embraer
Defense Europe. Essa
iniciativa marca a materialização da visão de longo prazo da Embraer para a
região e demonstra seu comprometimento em atender as necessidades específicas
das forças armadas dos países membros da OTAN e da União Europeia.
Com uma equipe especializada em gerenciamento de programas,
apoio e engenharia, a subsidiária assume o papel de hub regional para coordenar
projetos, suporte logístico e desenvolvimento tecnológico, alinhando soluções
inovadoras de defesa às exigências operacionais europeias. A formalização dessa
unidade em Portugal também reforça o relacionamento institucional e político
com o país, por meio da ligação com a subsidiária portuguesa do grupo,
aproximando governo, indústria e Força Aérea.
A Embraer Defense Europe atua
na interface entre o desenvolvimento tecnológico da empresa, a adaptação das
plataformas KC-390 Millennium e A-29N
Super Tucano às
necessidades locais, e a coordenação de parcerias industriais e comerciais em
todo o continente. Esse centro não apenas favorece a entrega de soluções
customizadas, mas também facilita a participação em licitações multilaterais
europeias, valorizando o conteúdo industrial local e a cooperação estratégica.
A subsidiária simboliza a ambição da Embraer de se tornar
protagonista no ecossistema de defesa europeu, oferecendo capacidade de
resposta ágil, suporte permanente e inovação contínua, em um cenário marcado
por desafios crescentes de segurança e por mercados altamente competitivos. A
cerimônia de inauguração, presidida pelo Ministro da Defesa Nacional de
Portugal, Nuno Melo, ressaltou a importância desse
movimento para a indústria nacional e para o posicionamento internacional da
empresa.
Dessa forma, a Embraer Defense Europe representa um vetor
essencial para a sustentabilidade e expansão das operações da Embraer,
ampliando sua influência política, industrial e militar no continente, enquanto
contribui para a autonomia e integração das forças de defesa da Europa.
Embraer Defense Europe
Modelo de expansão: encomendas e ecossistema C-390 A estratégia de Embraer combina vendas governamentais,
memorandos de entendimento multilaterais e compensação industrial local. A
Suécia ingressou em 2025 com pedido de quatro aeronaves e sete opções,
liderando um modelo trilateral com Holanda e Áustria que padroniza frotas e
maximiza interoperabilidade e eficiência de custos.
A República Tcheca e a Lituânia completam o quadro europeu:
a primeira com encomenda de duas aeronaves enfatizando benefícios industriais
locais; a segunda associando a compra a pacotes de cooperação tecnológica e MRO
que ampliam a inserção de sua base industrial. Essa modelo de aquisição
compartilhada define o paradigma atual de defesa europeia colaborativa.
A-29N Super Tucano: do treinamento à defesa anti-drone O A-29N representa a entrada da Embraer no segmento de
treinamento avançado e ataque leve em padrão OTAN, com custo operacional
competitivo (menos de US$ 1.000/hora). Portugal encomendou 12 aeronaves em
2024, recebendo as primeiras unidades em 2025 para integração de equipamentos
OTAN.
A Embraer está desenvolvendo uma versão adaptada para
missões de Counter-UAS (CUAS), respondendo à crescente ameaça de drones táticos
e suicidas evidenciada no conflito Rússia-Ucrânia. Equipada com sensores
eletro-ópticos avançados, armamento guiado e enlaces de dados para defesa em
rede, esta variante oferece uma solução econômica e flexível para enfrentar
drones dos grupos 2 a 5 da classificação OTAN. Seu baixo custo operacional,
aliado à capacidade de operar em pistas curtas, a torna ideal para defesa descentralizada
e resposta rápida em operações híbridas. Essa evolução multiplica o valor
estratégico do Super Tucano, posicionando-o como vetor chave na defesa aérea
multicamadas europeia.
Rede industrial e parcerias tecnológicas na UE A Embraer transcendeu o papel de fornecedora de plataformas,
estruturando uma rede industrial europeia em pesquisa aplicada, software de
defesa e simulação. Nos Países Baixos, acordos com TNO, OPT/NET e ILIAS visam
desenvolver sistemas multiagentes, gestão de dados para vigilância e
plataformas integradas de logística, manutenção e treinamento para forças
armadas.
Na Lituânia, a empresa assinou múltiplos MoUs com
universidades (KTU, Vilnius Tech), empresas de tecnologia avançada (Aktyvus
Photonics, Brolis Defence, J&C Aero, Nordic Aircraft Systems, DAT) e o
Instituto Báltico de Tecnologia Avançada, cobrindo MRO, engenharia e cadeia de
suprimentos integrada. Paralelamente, acordos com Rheinmetall (simuladores de
voo, centros de treinamento) estabelecem infraestrutura europeia compartilhada,
reduzindo custos e aumentando interoperabilidade.
O papel da OGMA no ecossistema de defesa europeu da Embraer A OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.), empresa do Grupo Embraer, desempenha
um papel crucial na estratégia da gigante brasileira para consolidar sua presença e
ampliar capacidades no mercado de defesa europeu. Como principal centro
português de manutenção, reparo e revisão (MRO) de aeronaves militares e civis,
a OGMA se configura como um elo fundamental para a sustentação operacional do
KC-390 Millennium e do A-29N Super Tucano em Portugal e além.
Sua participação possibilita que a Embraer ofereça não
apenas aeronaves, mas também um suporte logístico e de manutenção local
robusto, reduzindo tempos de indisponibilidade e aumentando a disponibilidade
operacional das plataformas no continente. Além disso, a OGMA viabiliza o
desenvolvimento de projetos industriais cooperativos, integrando fornecedores
portugueses e facilitando a transferência tecnológica alinhada aos programas
multilaterais europeus.
A inserção da OGMA no ecossistema de defesa fortalece a
cadeia de valor regional, contribui para a autonomia técnica e estratégica de
Portugal e da União Europeia em defesa aérea, e cria sinergias essenciais para
a expansão da Embraer como integradora completa de soluções em defesa. Dessa
forma, a colaboração com a OGMA materializa-se em vantagem competitiva para a
Embraer, agregando valor tangível às suas ofertas e consolidando parcerias
institucionais que incentivam o crescimento sustentável no setor de defesa
europeu.
Sede da OGMA
Vetores de expansão futura A consolidação de um "cluster C-390" é iminente,
com vocação para: centro de MRO (Holanda/Fokker com satélites na Europa
Central), hub de treinamento (Rheinmetall e centros europeus de simulação) e
rede de P&D (TNO, universidades lituanas e outros parceiros). Esse
ecossistema reduz barreiras políticas para futuras aquisições, pois entrega
contrapartidas industriais tangíveis e reforça a narrativa de autonomia
estratégica europeia.
Alvos comerciais naturais incluem: países dependentes de
C-130 legados, nações com frotas fragmentadas de cargueiros médios, e Estados
buscando diversificação de fornecedores além de dependências norte-americanas.
A participação da Embraer em feiras como MSPO, oferecendo nacionalização de
sistemas e centros de manutenção, a posiciona bem para futuras licitações na
Europa Central e Oriental.
Impactos estratégicos: consequências para a Embraer Para a Embraer, a Europa torna-se o principal mercado-âncora
do C-390 fora do Brasil, com impacto positivo em escala de produção, diluição
de custos fixos e previsibilidade de backlog de longo prazo. A densidade de
clientes europeus reforça a credibilidade em outras regiões (Oriente Médio,
Ásia-Pacífico, África), que veem a adoção pela OTAN como selo de confiança
operacional.
A empresa evolui de fornecedora de aeronaves para
integradora de soluções de defesa completa, incluindo software de C2, análise avançada de dados,
simulação e ciclo de vida, ampliando margens de serviço e resiliência de
receita. Politicamente, o enraizamento industrial em Estados-membros da UE cria
"partidários naturais" em Bruxelas e capitais nacionais, mitigando
riscos comerciais em cenários protecionistas.
Impactos militares: consequências para a Europa A difusão do C-390 gera ganhos concretos de
interoperabilidade em transporte tático, evacuação médica, reabastecimento em
voo e operações humanitárias, padronizando doutrinas, treinamento e logística
entre forças aéreas europeias. Sua performance em carga útil, velocidade e
alcance, aliada a alto índice de disponibilidade, aumenta a capacidade de
resposta rápida da OTAN no flanco Leste.
A entrada de um fornecedor não europeu, com forte conteúdo
industrial local e parcerias tecnológicas profundas, introduz competição e
inovação na base industrial de defesa europeia. A versão anti-drone do Super
Tucano adiciona um componente inovador à defesa aérea tática, equilibrando
custo e eficácia contra ameaças assimétricas emergentes. Simultaneamente, a
cooperação Brasil-Europa em tecnologias de vigilância, IA aplicada a C2 e
logística de defesa cria interdependência estratégica explorável diplomaticamente
em agendas de segurança global.
Protagonista na
arquitetura de defesa europeia A Embraer ultrapassou o estágio de campanhas pontuais,
construindo um ecossistema robusto em torno do KC-390 Millennium, do A-29N
Super Tucano (incluindo sua variante anti-drone) e de parcerias industriais
profundas. A combinação de encomendas multiestatais, centros de MRO, simulação,
P&D e software de defesa posiciona a empresa como protagonista na
arquitetura de defesa europeia.
Este movimento eleva a influência e sustentabilidade
comercial da Embraer, fortalece a capacidade militar e a interoperabilidade
OTAN, amplia a autonomia estratégica da Europa em operações aéreas conjuntas, e
estabelece bases sólidas para presença duradoura da empresa brasileira no
mercado global de defesa. A expansão europeia exemplifica como um fabricante
emergente pode integrar-se profundamente no tecido industrial-estratégico de
aliados, transformando transações comerciais em parcerias estruturantes para
décadas.