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23 novembro, 2025

ENDEFORTE: nova estatal visa impulsionar projetos estratégicos do Exército Brasileiro e fortalecer Base Industrial de Defesa

 


*LRCA Defense Consulting - 23/11/2025

O Exército Brasileiro deu um passo significativo para sua modernização ao assinar, no Quartel-General em Brasília, a Carta de Intenções que formaliza o início dos estudos para a criação da Empresa Nacional de Desenvolvimento da Força Terrestre (ENDEFORTE). Essa nova estatal terá a missão de financiar projetos estratégicos da Força Terrestre, contribuindo para a atualização tecnológica e operacional da instituição, sem ultrapassar os limites orçamentários previstos pela Lei Orçamentária Anual da União (LOA).

Durante a cerimônia, presidida pelo General de Exército Anísio David de Oliveira Júnior, chefe do Departamento de Engenharia e Construção, estiveram presentes autoridades militares e civis, incluindo o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Francisco Humberto Montenegro Junior, e representantes do Ministério da Defesa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

A vez do Exército
A ENDEFORTE será uma empresa estatal não dependente, com sede em Brasília e vinculada ao Ministério da Defesa por meio do Comando do Exército. Diferente das Forças Aérea e Naval, que já contam com empresas públicas para gerir projetos específicos, o Exército é a última instituição a criar uma estrutura desse tipo, capaz de captar recursos financeiros externos e realizar investimentos em longo prazo.

O principal objetivo da ENDEFORTE é permitir a injeção de recursos financeiros adicionais para projetos de modernização, informatização, desenvolvimento de tecnologias em defesa cibernética, comunicação, veículos blindados, sistemas de monitoramento de fronteiras, e outras capacidades consideradas estratégicas. O Portfólio Estratégico do Exército, conduzido pelo Escritório de Projetos, conta com 13 programas estruturantes, como Astros, Forças Blindadas, Sisfron, Amazônia Protegida e Defesa Cibernética, que poderão ser beneficiados pela nova estatal.

Fomentar a BIDS e contribuir para a autonomia tecnológica
Além do fortalecimento da capacidade operacional da Força Terrestre, a ENDEFORTE busca fomentar a Base Industrial de Defesa (BID) nacional, ampliando a pesquisa, desenvolvimento e inovação, bem como a geração de empregos de alta qualificação. A expectativa é que a empresa contribua para a autonomia tecnológica do Brasil, reduzindo a dependência de equipamentos importados, fortalecendo a economia regional e promovendo ações alinhadas à sustentabilidade, com foco na Amazônia e na transição energética.

A criação da estatal depende da aprovação final do Congresso Nacional, mas o passo dado com a assinatura do protocolo de intenções sinaliza um compromisso institucional firme para superar as restrições orçamentárias tradicionais, dando maior previsibilidade e continuidade às iniciativas de defesa no país. 

22 novembro, 2025

A influência da Embraer na autonomia militar e interoperabilidade do ecossistema de defesa europeu

Imagem meramente representativa

 *LRCA Defense Consulting - 22/11/2025 

A Embraer Defesa e Segurança consolidou na Europa um eixo estratégico centrado no KC/C-390 Millennium e no A-29N Super Tucano, ancorado em encomendas de múltiplos países da OTAN, acordos industriais profundos e parcerias tecnológicas em defesa digital e serviços, criando massa crítica suficiente para um papel estrutural no ecossistema de defesa europeu nas próximas décadas. Essa expansão tende a acelerar, com efeitos relevantes sobre a autonomia militar europeia, a interoperabilidade OTAN e o peso político-industrial do Brasil no continente.

Panorama atual da presença na Europa
A coluna vertebral da expansão é o C-390 Millennium/KC-390, hoje em operação em Portugal e Hungria, com encomendas firmes ou seleções oficiais por Holanda, Áustria, República Tcheca, Lituânia, Suécia e Eslováquia. Paralelamente, o A-29N Super Tucano entrou no mercado europeu com Portugal como cliente-âncora, oferecendo uma solução integrada de treinamento avançado, ataque leve e, em sua versão em desenvolvimento, defesa anti-drone.

Nos Países Baixos, a Embraer consolidou uma parceria estratégica com contrato para nove C-390 (cinco para a Holanda e quatro para a Áustria) em arranjo cooperativo que padroniza configuração, treinamento e suporte. O Fokker Services Group foi designado como centro de modificação, engenharia e certificação do C-390M, criando um polo de MRO e engenharia de relevância europeia.

A criação da Embraer Defense Europe: estratégia e significado
Em dezembro de 2024, a Embraer deu um passo estratégico significativo para consolidar sua presença no continente europeu ao inaugurar a subsidiária dedicada a defesa e segurança em Lisboa, denominada Embraer Defense Europe. Essa iniciativa marca a materialização da visão de longo prazo da Embraer para a região e demonstra seu comprometimento em atender as necessidades específicas das forças armadas dos países membros da OTAN e da União Europeia.

Com uma equipe especializada em gerenciamento de programas, apoio e engenharia, a subsidiária assume o papel de hub regional para coordenar projetos, suporte logístico e desenvolvimento tecnológico, alinhando soluções inovadoras de defesa às exigências operacionais europeias. A formalização dessa unidade em Portugal também reforça o relacionamento institucional e político com o país, por meio da ligação com a subsidiária portuguesa do grupo, aproximando governo, indústria e Força Aérea.

A Embraer Defense Europe atua na interface entre o desenvolvimento tecnológico da empresa, a adaptação das plataformas KC-390 Millennium e A-29N Super Tucano às necessidades locais, e a coordenação de parcerias industriais e comerciais em todo o continente. Esse centro não apenas favorece a entrega de soluções customizadas, mas também facilita a participação em licitações multilaterais europeias, valorizando o conteúdo industrial local e a cooperação estratégica.

A subsidiária simboliza a ambição da Embraer de se tornar protagonista no ecossistema de defesa europeu, oferecendo capacidade de resposta ágil, suporte permanente e inovação contínua, em um cenário marcado por desafios crescentes de segurança e por mercados altamente competitivos. A cerimônia de inauguração, presidida pelo Ministro da Defesa Nacional de Portugal, Nuno Melo, ressaltou a importância desse movimento para a indústria nacional e para o posicionamento internacional da empresa.

Dessa forma, a Embraer Defense Europe representa um vetor essencial para a sustentabilidade e expansão das operações da Embraer, ampliando sua influência política, industrial e militar no continente, enquanto contribui para a autonomia e integração das forças de defesa da Europa. 


Embraer Defense Europe

Modelo de expansão: encomendas e ecossistema C-390
A estratégia de Embraer combina vendas governamentais, memorandos de entendimento multilaterais e compensação industrial local. A Suécia ingressou em 2025 com pedido de quatro aeronaves e sete opções, liderando um modelo trilateral com Holanda e Áustria que padroniza frotas e maximiza interoperabilidade e eficiência de custos.

A República Tcheca e a Lituânia completam o quadro europeu: a primeira com encomenda de duas aeronaves enfatizando benefícios industriais locais; a segunda associando a compra a pacotes de cooperação tecnológica e MRO que ampliam a inserção de sua base industrial. Essa modelo de aquisição compartilhada define o paradigma atual de defesa europeia colaborativa.

A-29N Super Tucano: do treinamento à defesa anti-drone
O A-29N representa a entrada da Embraer no segmento de treinamento avançado e ataque leve em padrão OTAN, com custo operacional competitivo (menos de US$ 1.000/hora). Portugal encomendou 12 aeronaves em 2024, recebendo as primeiras unidades em 2025 para integração de equipamentos OTAN.

A Embraer está desenvolvendo uma versão adaptada para missões de Counter-UAS (CUAS), respondendo à crescente ameaça de drones táticos e suicidas evidenciada no conflito Rússia-Ucrânia. Equipada com sensores eletro-ópticos avançados, armamento guiado e enlaces de dados para defesa em rede, esta variante oferece uma solução econômica e flexível para enfrentar drones dos grupos 2 a 5 da classificação OTAN. Seu baixo custo operacional, aliado à capacidade de operar em pistas curtas, a torna ideal para defesa descentralizada e resposta rápida em operações híbridas. Essa evolução multiplica o valor estratégico do Super Tucano, posicionando-o como vetor chave na defesa aérea multicamadas europeia.

Rede industrial e parcerias tecnológicas na UE
A Embraer transcendeu o papel de fornecedora de plataformas, estruturando uma rede industrial europeia em pesquisa aplicada, software de defesa e simulação. Nos Países Baixos, acordos com TNO, OPT/NET e ILIAS visam desenvolver sistemas multiagentes, gestão de dados para vigilância e plataformas integradas de logística, manutenção e treinamento para forças armadas.

Na Lituânia, a empresa assinou múltiplos MoUs com universidades (KTU, Vilnius Tech), empresas de tecnologia avançada (Aktyvus Photonics, Brolis Defence, J&C Aero, Nordic Aircraft Systems, DAT) e o Instituto Báltico de Tecnologia Avançada, cobrindo MRO, engenharia e cadeia de suprimentos integrada. Paralelamente, acordos com Rheinmetall (simuladores de voo, centros de treinamento) estabelecem infraestrutura europeia compartilhada, reduzindo custos e aumentando interoperabilidade.

O papel da OGMA no ecossistema de defesa europeu da Embraer
A OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.), empresa do Grupo Embraer, desempenha um papel crucial na estratégia da gigante brasileira para consolidar sua presença e ampliar capacidades no mercado de defesa europeu. Como principal centro português de manutenção, reparo e revisão (MRO) de aeronaves militares e civis, a OGMA se configura como um elo fundamental para a sustentação operacional do KC-390 Millennium e do A-29N Super Tucano em Portugal e além.

Sua participação possibilita que a Embraer ofereça não apenas aeronaves, mas também um suporte logístico e de manutenção local robusto, reduzindo tempos de indisponibilidade e aumentando a disponibilidade operacional das plataformas no continente. Além disso, a OGMA viabiliza o desenvolvimento de projetos industriais cooperativos, integrando fornecedores portugueses e facilitando a transferência tecnológica alinhada aos programas multilaterais europeus.

A inserção da OGMA no ecossistema de defesa fortalece a cadeia de valor regional, contribui para a autonomia técnica e estratégica de Portugal e da União Europeia em defesa aérea, e cria sinergias essenciais para a expansão da Embraer como integradora completa de soluções em defesa. Dessa forma, a colaboração com a OGMA materializa-se em vantagem competitiva para a Embraer, agregando valor tangível às suas ofertas e consolidando parcerias institucionais que incentivam o crescimento sustentável no setor de defesa europeu.

Sede da OGMA

Vetores de expansão futura
A consolidação de um "cluster C-390" é iminente, com vocação para: centro de MRO (Holanda/Fokker com satélites na Europa Central), hub de treinamento (Rheinmetall e centros europeus de simulação) e rede de P&D (TNO, universidades lituanas e outros parceiros). Esse ecossistema reduz barreiras políticas para futuras aquisições, pois entrega contrapartidas industriais tangíveis e reforça a narrativa de autonomia estratégica europeia.

Alvos comerciais naturais incluem: países dependentes de C-130 legados, nações com frotas fragmentadas de cargueiros médios, e Estados buscando diversificação de fornecedores além de dependências norte-americanas. A participação da Embraer em feiras como MSPO, oferecendo nacionalização de sistemas e centros de manutenção, a posiciona bem para futuras licitações na Europa Central e Oriental.

Impactos estratégicos: consequências para a Embraer
Para a Embraer, a Europa torna-se o principal mercado-âncora do C-390 fora do Brasil, com impacto positivo em escala de produção, diluição de custos fixos e previsibilidade de backlog de longo prazo. A densidade de clientes europeus reforça a credibilidade em outras regiões (Oriente Médio, Ásia-Pacífico, África), que veem a adoção pela OTAN como selo de confiança operacional.

A empresa evolui de fornecedora de aeronaves para integradora de soluções de defesa completa, incluindo software de C2, análise avançada de dados, simulação e ciclo de vida, ampliando margens de serviço e resiliência de receita. Politicamente, o enraizamento industrial em Estados-membros da UE cria "partidários naturais" em Bruxelas e capitais nacionais, mitigando riscos comerciais em cenários protecionistas.

Impactos militares: consequências para a Europa
A difusão do C-390 gera ganhos concretos de interoperabilidade em transporte tático, evacuação médica, reabastecimento em voo e operações humanitárias, padronizando doutrinas, treinamento e logística entre forças aéreas europeias. Sua performance em carga útil, velocidade e alcance, aliada a alto índice de disponibilidade, aumenta a capacidade de resposta rápida da OTAN no flanco Leste.

A entrada de um fornecedor não europeu, com forte conteúdo industrial local e parcerias tecnológicas profundas, introduz competição e inovação na base industrial de defesa europeia. A versão anti-drone do Super Tucano adiciona um componente inovador à defesa aérea tática, equilibrando custo e eficácia contra ameaças assimétricas emergentes. Simultaneamente, a cooperação Brasil-Europa em tecnologias de vigilância, IA aplicada a C2 e logística de defesa cria interdependência estratégica explorável diplomaticamente em agendas de segurança global.

Protagonista na arquitetura de defesa europeia
A Embraer ultrapassou o estágio de campanhas pontuais, construindo um ecossistema robusto em torno do KC-390 Millennium, do A-29N Super Tucano (incluindo sua variante anti-drone) e de parcerias industriais profundas. A combinação de encomendas multiestatais, centros de MRO, simulação, P&D e software de defesa posiciona a empresa como protagonista na arquitetura de defesa europeia.

Este movimento eleva a influência e sustentabilidade comercial da Embraer, fortalece a capacidade militar e a interoperabilidade OTAN, amplia a autonomia estratégica da Europa em operações aéreas conjuntas, e estabelece bases sólidas para presença duradoura da empresa brasileira no mercado global de defesa. A expansão europeia exemplifica como um fabricante emergente pode integrar-se profundamente no tecido industrial-estratégico de aliados, transformando transações comerciais em parcerias estruturantes para décadas.

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