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30 dezembro, 2025

A revolução dos drones na logística de guerra: como veículos não tripulados estão redefinindo o campo de batalha moderno

 Há um novo paradigma logístico nos conflitos do Século XXI...

 


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LRCA Defense Consulting - 30/12/2025

Os campos de batalha de 2025 pouco se parecem com as imagens gravadas em guerras anteriores. Em trincheiras ucranianas, não são mais caminhões militares que levam munição, água e alimentos às posições mais avançadas. São drones terrestres e aéreos que, silenciosamente, atravessam zonas perigosas para reabastecer combatentes. Esta mudança fundamental na logística militar representa uma das transformações mais significativas na arte da guerra desde a mecanização das forças armadas.

A guerra na Ucrânia tornou-se um laboratório em tempo real para inovações militares, especialmente no uso de veículos aéreos não tripulados. O que começou como uma necessidade tornou-se doutrina: drones não são mais apenas ferramentas de reconhecimento ou armas de ataque, mas a espinha dorsal da logística tática moderna.

A logística da "última milha" transformada
Em algumas brigadas ucranianas de elite, como a 3ª Brigada de Assalto e unidades Azov, os números são impressionantes. Entre 50% e 80% das entregas de suprimentos na zona mais avançada já são realizadas por robôs terrestres e multirrotores pesados, substituindo completamente os veículos tripulados nas áreas mais perigosas. Uma brigada específica relatou que seus robôs terrestres transportam cerca de 40 toneladas de carga por semana para cinco batalhões, chegando a responder por aproximadamente 80% da logística de linha de frente em condições favoráveis de terreno.

Os motivos para essa transformação são claros: veículos convencionais tornaram-se alvos fáceis diante da saturação de drones de reconhecimento e ataque. A ameaça constante de UAVs russos transformou cada movimento de caminhão ou blindado em uma operação de alto risco. A resposta ucraniana foi criar um "método alternativo de entrega" que reduz drasticamente a vulnerabilidade humana.

Outra brigada de Assalto Aéreo reportou 10 a 12 toneladas mensais entregues por robôs, equivalendo a aproximadamente 80% dos suprimentos de primeira linha. Estes dados demonstram não apenas a viabilidade técnica, mas a escalabilidade da solução quando há número suficiente de sistemas disponíveis.

O ciclo industrial: da encomenda ao campo em 24 horas
A guerra ucraniana também revolucionou a cadeia de suprimentos de equipamentos militares. Em vez de grandes estoques centralizados e vulneráveis, unidades já encomendam drones diretamente a fabricantes ou plataformas digitais de aquisição, com ciclos de 24 horas entre pedido e entrega na linha de frente. Esta logística just-in-time reduz a necessidade de armazéns intermediários e minimiza perdas por ataques a depósitos.

A Ucrânia desenvolveu capacidade de produção em escala industrial, multiplicando sua fabricação de drones em mais de 100 vezes desde 2022, atingindo milhões de unidades anuais. Esta produção massiva converteu os VANTs táticos em "arma central" do conflito, democratizando o acesso a capacidades que antes eram restritas a grandes potências.

Saturação aérea: quando o céu se torna digital
Análises recentes indicam que entre 80% e 85% dos alvos de linha de frente são engajados por UAVs na guerra da Ucrânia, um número que revela a centralidade dessas plataformas no conflito moderno. A guerra mostrou que drones FPV (First Person View), multirrotores logísticos e robôs de solo podem ser usados em escala industrial, criando um ambiente de combate completamente novo.

Esta saturação implica que o controle do espaço aéreo baixo (até algumas centenas de metros) tornou-se tão crucial quanto o domínio aéreo tradicional. Forças que não conseguem proteger suas operações logísticas contra enxames de drones encontram-se em desvantagem crítica.

Europa e OTAN respondem à nova realidade
A União Europeia e a OTAN não ignoraram as lições ucranianas. A UE colocou sistemas de drones e contramedidas entre as prioridades máximas de investimento em defesa, financiando pesquisa, desenvolvimento e produção via Fundo Europeu de Defesa e projetos PESCO. O "White Paper for European Defence – Readiness 2030" lista drones e sistemas anti-drone como área prioritária, ao lado de defesa antiaérea, artilharia e munições.

Planos recentes projetam grandes investimentos conjuntos até 2027, com meta de elevar a 40% a proporção de aquisições de defesa feitas coletivamente entre Estados-membros. A OTAN, por sua vez, enfatiza a expansão de produção de munições, defesa aérea e plataformas não tripuladas, reconhecendo a necessidade de recursos suficientes para uma guerra prolongada em ambiente saturado por drones.

O futuro da guerra: enxames autônomos
Análises doutrinárias recentes sugerem que o futuro dos conflitos envolverá presença humana cada vez mais complementada por enxames de sistemas não tripulados no ar e no solo. Drones para reconhecimento, ataque de precisão, saturação e logística de última milha criarão campos de batalha onde a linha entre retaguarda e vanguarda se dissolve.

Esta visão reforça que Europa e OTAN precisam maximizar investimentos não apenas em VANTs, mas em contramedidas, guerra eletrônica e infraestrutura de dados associada. A guerra moderna exige integração completa entre sistemas tripulados e não tripulados, com capacidades de comando e controle que operem em tempo real.

Brasil: oportunidade estratégica em mercado bilionário

A base industrial brasileira
O Brasil encontra-se em posição única para capitalizar sobre esta transformação. O país já possui capacidades tecnológicas comprovadas no setor aeroespacial e de defesa, com empresas como Embraer, reconhecida globalmente por sua excelência em engenharia aeronáutica.

O Exército Brasileiro lançou recentemente uma Requisição de Informações para aquisição de drones de ataque das Categorias 0 e 1, sinalizando a modernização das Forças Armadas e o reconhecimento da centralidade desses sistemas na guerra contemporânea. Este movimento estratégico marca uma adaptação às realidades mostradas na Ucrânia, impulsionando a busca por soberania tecnológica.

A Marinha do Brasil ativou no último dia 12 de dezembro o Esquadrão de Drones Táticos de Esclarecimento e Ataque no Batalhão de Combate Aéreo, localizado no Complexo Naval da Ilha do Governador. A iniciativa representa um marco na modernização das Forças Armadas brasileiras e coloca o Corpo de Fuzileiros Navais na vanguarda tecnológica e doutrinária do país.


Drones Atobá, da Stella/Thales (acima), e Nauru 1000C da XMobots

Capacidades técnicas existentes
O Brasil já demonstra competências significativas na área de drones. A Stella Tecnologia desenvolveu o Atobá, considerado o maior drone da América Latina, com capacidade de voo de 35 horas e 40% maior que o israelense Hermes 900, potencializado agora após parceria com a Thales. Este feito evidencia o alto nível de engenharia presente na indústria nacional.

A Akaer desenvolveu família completa de sistemas não tripulados, incluindo o Albatross (classe 3, 1000 kg) para patrulha marítima e reconhecimento, e o Osprey, versão monomotor para missões similares. Ambos compartilham sistemas de terra e comunicação, permitindo otimização operacional. A empresa também trabalha em conceitos avançados como o AKR-HA, aeronave para missões na estratosfera acima de 15 km de altitude.

A XMobots, classificada como a sexta maior empresa de drones do mundo e com participação da Embraer, especializa-se em plataformas VTOL de alto desempenho, sensores multiespectrais e softwares de análise com inteligência artificial. A Tupan Aircraft desenvolve drones de carga com capacidades que variam de 125 kg a 400 kg de carga útil, com aplicações tanto civis quanto militares.

A SkyDrones forneceu plataformas Pelicano customizadas para o Technology Innovation Institute nos Emirados Árabes Unidos, operando com radares da brasileira Radaz. A Radaz, referência mundial em radares SAR para drones, possui tecnologia inédita de operação simultânea em múltiplas bandas, tendo inclusive criado subsidiária nos Emirados.

Drone Pelicano, da SkyDrones, com radar SAR da RADZ

A Moya Aero se destaca no desenvolvimento de drones logísticos elétricos. A empresa projetou o Moya eVTOL, primeiro veículo autônomo de alta capacidade totalmente elétrico do Hemisfério Sul. Em junho de 2025, anunciou sua família completa de drones elétricos de carga com arquitetura modular comum. 
 
O Moya 256, já em testes de voo, transporta até 30 kg por 160 km a 130 km/h, ideal para entregas urgentes. O Moya 760, com protótipo em desenvolvimento para testes em 2026, carrega até 190 kg por 190 km a 160 km/h. A versão híbrida estende o alcance para 300 km mantendo 200 kg de carga. Os drones utilizam configuração inovadora de asas basculantes em tandem, reduzindo arrasto em mais de 50% comparado a outros eVTOLs, com estrutura em fibra de carbono e módulos compartilhados entre modelos. 
 
A Moya é membro do Drone Logistics Ecosystem (50 organizações em 21 países), recebeu US$ 2 milhões da FINEP, participou do Techstars Los Angeles e possui cartas de intenção para mais de 100 unidades, incluindo 50 da Helisul Aviação. O primeiro voo do protótipo ocorreu com sucesso em dezembro de 2023, com meta de comercialização até 2027.
 
 
Moya eVTOL

Mercado interno: necessidades urgentes
Com a vasta extensão territorial brasileira e a complexidade das fronteiras, o país enfrenta desafios significativos de vigilância e defesa. A Amazônia, com seus 5,5 milhões de km², exige capacidades de monitoramento que sistemas tripulados tradicionais não conseguem prover com eficiência econômica. Drones oferecem solução ideal para patrulhamento de longas distâncias, combate ao desmatamento ilegal, fiscalização de garimpos e controle de fronteiras.

As Forças Armadas brasileiras necessitam modernizar capacidades em várias áreas:

Logística militar: em operações na Amazônia, o reabastecimento de posições isoladas é desafio constante. Drones logísticos poderiam transformar a capacidade de sustentação de destacamentos remotos, reduzindo custos e riscos.

Vigilância e reconhecimento: a vastidão do território nacional demanda sistemas de observação persistente. Drones de longa duração podem cobrir áreas impossíveis para meios tradicionais.

Defesa costeira e marítima: com mais de 7.400 km de costa e a Amazônia Azul (mais de 4,5 milhões de km² de zona econômica exclusiva), drones navais e submarinos oferecem multiplicação de força para a Marinha.

Potencial de exportação: América Latina e África
As exportações do setor de defesa brasileiro atingiram US$ 3,1 bilhões em 2025, aumento de 74% em relação a 2024, demonstrando o crescimento expressivo e a competitividade internacional da indústria nacional.

O mercado latino-americano de defesa deve crescer de US$ 1,38 bilhão em 2024 para US$ 1,78 bilhão até 2029, com taxa anual de 5,30%. Países da região enfrentam desafios similares ao Brasil: vastos territórios, florestas densas, controle de narcotráfico e vigilância de fronteiras. Drones brasileiros, desenvolvidos para essas condições, têm vantagem competitiva natural.

A África representa outro mercado estratégico. Nações africanas necessitam sistemas de vigilância acessíveis para combater insurgências, proteger recursos naturais e patrulhar fronteiras. Drones brasileiros, com custo inferior a equivalentes europeus ou americanos e adequados a ambientes tropicais, posicionam-se idealmente para esse mercado.

Diversificação: drones logísticos civis
Além de aplicações militares, drones logísticos têm enorme potencial civil no Brasil. Entregas médicas em áreas remotas da Amazônia, transporte de suprimentos para plataformas offshore, logística agrícola e entrega urbana são mercados em expansão global.

A experiência militar em drones logísticos pode catalisar desenvolvimento de soluções civis, criando indústria dual que amplia mercados e reduz custos por economia de escala. O Brasil poderia tornar-se hub de desenvolvimento e produção de drones logísticos para toda América Latina.

Desafios e oportunidades
Para capitalizar plenamente esta oportunidade, o Brasil enfrenta desafios:

Escala de produção: a experiência ucraniana mostra que conflitos modernos consomem drones aos milhares. Desenvolver capacidade industrial para produção em massa é essencial, tanto para atender necessidades nacionais quanto para competir em exportações.

Certificações e padrões: conquistar mercados internacionais exige conformidade com padrões rigorosos de defesa. Investimentos em certificação e homologação são necessários.

Pesquisa e desenvolvimento: manter competitividade tecnológica demanda investimento contínuo em P&D, especialmente em áreas como inteligência artificial, autonomia, guerra eletrônica e contramedidas anti-drone.

Integração de sistemas: drones modernos devem integrar-se perfeitamente com redes de comando e controle, compartilhando dados em tempo real. Desenvolver esta capacidade é crucial.

Formação de recursos humanos: a indústria necessita engenheiros, técnicos e operadores especializados. Investir em educação e treinamento é fundamental para sustentabilidade do setor.
 

Albatross (direita) e Osprey (esquerda) formam a nova família de UAVs da Akaer

Momentum político e industrial
O RFI do Exército Brasileiro e a ativação d
o Esquadrão de Drones Táticos de Esclarecimento e Ataque no Batalhão de Combate Aéreo dos Fuzileiros Navais representam momentum importante. Autoridades militares reconhecem a importância de incorporar tecnologias avançadas para assegurar soberania nacional. Representantes da indústria esperam que este movimento estimule inovação, crie empregos e aumente competitividade global.

A Embraer, já com parcerias estratégicas com gigantes como Saab, BAE Systems, Thales e L3 Harris, demonstra interesse crescente no mercado de drones. A aquisição de participação na XMobots e o desenvolvimento do Super Tucano em versão anti-drone indicam que a maior fabricante de aeronaves do Brasil vê potencial estratégico neste segmento.

Visão de futuro
O Brasil tem uma janela de oportunidade única. A guerra na Ucrânia demonstrou definitivamente que drones são componentes centrais da guerra moderna, e a demanda global por esses sistemas crescerá exponencialmente. Países que dominarem tecnologias de VANTs, tanto para uso próprio quanto para exportação, ganharão vantagem estratégica e econômica.

Com capacidades técnicas já estabelecidas, indústria aeroespacial madura, necessidades militares claras e mercados de exportação em expansão, o Brasil pode posicionar-se como potência regional em drones militares e logísticos. Este movimento fortaleceria não apenas a defesa nacional, mas criaria indústria tecnológica de alto valor agregado, gerando empregos qualificados e divisas.

A experiência ucraniana mostra o caminho: investimento massivo, produção em escala, integração operacional e adaptação doutrinária. O Brasil tem todos os elementos necessários. Resta decisão política e comprometimento industrial para transformar potencial em realidade.

Drones da Tupan Aircraft

O momento de agir é agora
A revolução dos drones na logística militar não é tendência passageira, mas transformação fundamental na natureza da guerra. Forças que não se adaptarem encontrar-se-ão em desvantagem crítica nos conflitos futuros. A União Europeia e a OTAN já reconheceram esta realidade e mobilizam recursos massivos.

Para o Brasil, esta é oportunidade de modernizar suas Forças Armadas, desenvolver soberania tecnológica em área estratégica e criar indústria competitiva globalmente. A base existe, as capacidades estão sendo desenvolvidas e o mercado está em franca expansão. O momento de agir é agora, antes que a janela de oportunidade se feche e outros países consolidem posições dominantes neste mercado bilionário.

A questão não é mais se drones dominarão a logística militar do futuro, mas quais países terão capacidade de produzi-los, operá-los e exportá-los. O Brasil pode e deve estar entre eles.

Com caça F-39E Gripen plenamente operacional, FAB eleva dissuasão e soberania no espaço aéreo brasileiro

 


*LRCA Defense Consulting - 30/12/2025

A Força Aérea Brasileira (FAB) consolidou um dos passos mais aguardados de seu processo de modernização ao declarar que o caça F-39E Gripen alcançou plena capacidade operacional, coroando uma sequência de ensaios, certificações e exercícios de tiro real conduzidos ao longo de 2024 e 2025. O marco coloca o Brasil em um novo patamar de dissuasão e capacidade de resposta, ao combinar armamentos de última geração, integração em rede e elevada consciência situacional em um vetor já inserido na rotina operacional do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), o Esquadrão Jaguar.​

Segundo a FAB, a certificação operacional do Gripen resulta de uma campanha abrangente que envolveu o lançamento real do míssil ar-ar de longo alcance Meteor, a integração de mísseis de curto alcance e a plena validação dos sistemas de reabastecimento em voo com o KC-390 Millennium, além do primeiro exercício de tiro aéreo com o canhão Mauser BK-27 de 27 mm. Esses eventos, realizados em coordenação com o Instituto de Aplicações Operacionais (IAOP) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), permitiram avaliar desempenho, logística e doutrina de emprego em cenários reais, desde o alerta de defesa aérea até desdobramentos em diferentes regiões do território nacional.​

Do ponto de vista operacional, a chegada do Gripen representa um salto em relação às plataformas de gerações anteriores, como o F-5M, ao oferecer maior alcance, melhor performance em combate além do alcance visual (BVR) e um pacote de sensores e armamentos capaz de engajar múltiplos alvos em ambientes complexos. Com a combinação do radar avançado, sistemas de guerra eletrônica e datalinks táticos, o caça torna-se um nó central na arquitetura de comando e controle da FAB, ampliando a capacidade de vigilância e resposta rápida frente a ameaças aéreas ou incursões em áreas sensíveis.​

A plena capacidade operacional do F-39E também tem impacto direto sobre a doutrina e a formação de pilotos de caça, que vêm passando por processos de treinamento específicos, tanto na Suécia quanto no Brasil, para explorar todo o potencial do novo vetor multimissão. Exercícios recentes de tiro e reabastecimento em voo são usados como laboratório para o desenvolvimento de táticas, técnicas e procedimentos, reforçando a prontidão do 1º GDA para manter o alerta de defesa aérea 24 horas por dia.​

No plano estratégico, a FAB destaca que a consolidação do Gripen como caça plenamente operacional fortalece a soberania e o domínio aeroespacial do país, ao integrar capacidade de defesa aérea, policiamento do espaço aéreo e missões de emprego de precisão em profundidade. A frota em expansão de F-39E, recebida em lotes ao longo dos últimos anos, passa agora a operar com todo o espectro de armamentos homologados, elevando o patamar tecnológico da Força e projetando efeitos sobre a indústria de defesa nacional, envolvida em transferência de tecnologia, engenharia e suporte logístico ao longo de todo o ciclo de vida da aeronave.

29 dezembro, 2025

Polônia está vivamente de olho nas asas brasileiras: Embraer na rota da modernização militar europeia

País prepara força aérea para cenário de guerra prolongada com a Rússia e aeronaves brasileiras surgem como soluções estratégicas 

Imagem meramente ilustrativa mostrando um A-29N e um C-390 sobre Varsóvia

 *LRCA Defense Consulting - 29/12/2025

Em um hangar da Força Aérea Polonesa, o General de Divisão Ireneusz Nowak não esconde a urgência. "Talvez precisemos manter certas posições por muitos meses, ou até anos", afirma o comandante, referindo-se à nova doutrina militar do país. A guerra na Ucrânia mudou tudo. E nessa reformulação estratégica, duas aeronaves brasileiras da Embraer emergem como candidatas fortes: o cargueiro militar KC-390 Millennium e o avião de ataque leve A-29 Super Tucano.

A transformação em curso na Polônia vai muito além da compra de equipamentos. Trata-se de reconstruir toda a arquitetura do poder aéreo polonês para um cenário que ninguém na Europa imaginava possível há apenas três anos: uma guerra de alta intensidade contra uma potência militar próxima, com linhas logísticas sob pressão constante e incertezas políticas.

A lição ucraniana
A invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 expôs uma verdade brutal: superioridade aérea não significa nada sem a capacidade de sustentá-la. Aviões de combate sofisticados ficam inúteis no solo sem combustível, peças de reposição ou munição. Foi essa lição que levou Varsóvia a repensar prioridades.

"O foco não está mais apenas no combate aéreo em si, mas na capacidade de sustentá-lo em um conflito prolongado contra um adversário equiparado", explicou Nowak em entrevista à publicação especializada Defence24. Por isso, antes mesmo de adicionar novos esquadrões de caça, a Polônia está correndo para preencher lacunas críticas em transporte aéreo, reabastecimento em voo e suporte logístico.

É nesse contexto que entram as aeronaves brasileiras.

KC-390: o cargueiro tático que Varsóvia quer
O KC-390 Millennium, jato cargueiro militar desenvolvido pela Embraer, não está competindo com ninguém na Polônia — ao menos não diretamente. O país europeu adota uma estratégia de complementaridade: o espanhol C-295 cobre o transporte leve, o brasileiro KC-390 assumiria o segmento médio, e o europeu A400M Atlas ficaria responsável pelas cargas pesadas e desdobramentos estratégicos.

"Não se trata de uma competição, mas de camadas de capacidade alinhadas aos padrões operacionais da OTAN", esclareceu o Coronel Paluch, responsável por aquisições na Força Aérea Polonesa. O KC-390 oferece velocidade, eficiência logística e custos operacionais mais baixos — atributos essenciais para operações sustentadas.

A Embraer não está fazendo apenas promessas comerciais. Em 2 de dezembro de 2025, a empresa brasileira assinou cinco memorandos de entendimento com a Polska Grupa Zbrojeniowa (PGZ), o conglomerado de defesa estatal polonês, e suas subsidiárias. Os acordos estabelecem cooperação de longo prazo que inclui produção local de componentes, polonização dos sistemas da aeronave, manutenção e até a possível instalação de uma linha de montagem final na Polônia.

"Estamos oferecendo muito mais do que aviões. Estamos oferecendo transferência de tecnologia, capacitação industrial e soberania operacional", destacou um executivo da Embraer presente nas negociações. Para um país como a Polônia, traumatizado pela experiência com os F-16 — onde a falta de capacidade local de manutenção de motores se tornou um problema estrutural —, essa proposta tem peso.

Analistas do setor avaliam a probabilidade de concretização do negócio do KC-390 entre 70% e 80%. Ainda não há contrato assinado, mas os sinais são inequívocos: a Polônia precisa da aeronave, a Embraer está disposta a se comprometer industrialmente, e não há concorrência direta no segmento específico que o KC-390 ocuparia.

Super Tucano: o caçador de drones de uso duplo
Mais instigante que o interesse no KC-390 é o olhar polonês sobre o A-29 Super Tucano, um turboélice de ataque leve que parece saído de outra era. Mas a guerra moderna tem suas ironias.

A Ucrânia revelou um problema que poucos previram: a proliferação massiva de drones de todos os tipos e tamanhos. Desde pequenos quadricópteros comerciais adaptados para lançar granadas até UAVs de reconhecimento de médio porte, essas ameaças de baixo custo se multiplicam mais rápido do que as defesas conseguem acompanhar. Usar um caça a jato moderno, que custa dezenas de milhares de dólares por hora de voo, para abater um drone de US$ 5.000 não faz sentido econômico ou operacional.

É aí que entra o Super Tucano. "Tem que ser uma solução de treinamento e combate, de uso duplo: quando não está treinando pilotos, pode ser usada para missões simples de combate ou patrulha", explicou o General Nowak. A aeronave brasileira combina sensores eletro-ópticos, enlaces de dados e armamentos guiados a laser, exatamente o necessário para detectar, rastrear e interceptar drones. E faz isso por uma fração do custo de um jato supersônico.

"Definitivamente testaremos o Super Tucano e o examinaremos mais de perto no início de 2026", confirmou Nowak. A Embraer apresentou oficialmente as capacidades contra-UAS (sistemas aéreos não tripulados) do A-29 durante a cerimônia de assinatura dos memorandos em dezembro passado.

Mas o Super Tucano enfrenta mais incertezas. A avaliação só começará em 2026, não há definição de quantidades, e outras plataformas - incluindo helicópteros Apache AH-64E e até o transporte leve M-28 Brisa - também estão sendo consideradas para missões anti-drones. A probabilidade de aquisição é estimada entre 55% e 65% — menor que a do KC-390, mas ainda significativa.

Soberania industrial: a nova moeda europeia
O que torna a estratégia da Embraer particularmente inteligente é o timing. A Europa, e especialmente a Europa Oriental, está obcecada com soberania industrial em defesa. A dependência de fornecedores externos - sejam americanos, russos ou até mesmo de outros países europeus - revelou-se uma vulnerabilidade perigosa.

"No caso de um conflito, você nunca sabe se haverá restrições de acesso às aeronaves por razões políticas", argumentou Nowak, justificando por que a Polônia recusou soluções multinacionais da OTAN para reabastecimento aéreo e preferiu desenvolver capacidade nacional própria.

A Embraer entendeu o recado. Os acordos com a PGZ não são meros contratos de compensação industrial — são parcerias de longo prazo que visam integrar empresas polonesas na cadeia de valor global da fabricante brasileira. Isso inclui não apenas produção de componentes, mas desenvolvimento de novas capacidades e até a possibilidade de que a indústria polonesa contribua para operações da Embraer em outros mercados europeus.

"A Polônia não está buscando soluções exóticas ou que criem dependência, mas plataformas comprovadas, interoperáveis e sustentáveis", resume a análise publicada pela Aviacionline, portal especializado em defesa. "Precisamente o domínio onde o KC-390, o A400M, o Super Tucano e o A330 MRTT têm mais a oferecer."

A janela de oportunidade
Para o Brasil e para a Embraer, o momento é histórico. Pela primeira vez, uma nação europeia da OTAN considera seriamente a aquisição em escala de aeronaves militares brasileiras, não por filantropia ou cooperação Sul-Sul, mas porque elas representam a melhor solução técnica, operacional e industrial para necessidades reais e urgentes.

A transformação da Força Aérea Polonesa está apenas começando. O país planeja investir dezenas de bilhões de euros na próxima década para se tornar a força aérea mais poderosa da Europa Oriental, uma posição que a geografia e a história lhe impõem. Nesse processo, haverá espaço para múltiplos fornecedores: Airbus, Lockheed Martin, Boeing e, potencialmente, Embraer.

"A Polônia não está se preparando para dissuadir. Está se preparando para resistir", concluiu um analista de defesa europeu que pediu anonimato. "E quando você se prepara para uma guerra longa, cada decisão de compra se torna estratégica. A Embraer entendeu isso."

Os próximos meses dirão se as asas brasileiras cruzarão definitivamente os céus do Leste Europeu. Mas uma coisa é certa: Varsóvia está prestando atenção. E no atual cenário de segurança europeu, atenção é o primeiro passo para um contrato.

28 dezembro, 2025

Da defensiva à vanguarda: como a Ucrânia pode se tornar o escudo aéreo da Europa

Taxa de interceptação de 97% em ataque russo demonstra capacidade que poucos países da OTAN possuem 

*LRCA Defense Consulting - 28/12/2025

A data de 23 de dezembro de 2025 pode marcar um ponto de inflexão não apenas para a defesa aérea ucraniana, mas para toda a arquitetura de segurança europeia. Naquele dia, pilotos ucranianos de F-16 interceptaram 34 dos 35 mísseis de cruzeiro lançados pela Rússia em um ataque maciço que mobilizou 673 armas aéreas, incluindo 635 drones e 38 mísseis de diversos tipos.

A taxa de interceptação de 97% surpreendeu analistas militares e reacendeu um debate que ganha urgência crescente em Bruxelas e capitais europeias: a Ucrânia, depois de quase três anos absorvendo a experiência de combate mais intensa desde a Segunda Guerra Mundial, está desenvolvendo capacidades de defesa aérea que a maioria dos países da OTAN não possui.

A batalha que mudou a narrativa
O Coronel Yurii Ihnat, chefe de comunicações da Força Aérea ucraniana, confirmou que os F-16 desempenharam papel fundamental na interceptação dos mísseis de cruzeiro. O ataque russo tinha como alvos principais a infraestrutura energética nas regiões ocidentais da Ucrânia, e visava causar apagões em massa durante o inverno.

O que torna esse resultado particularmente significativo é a complexidade do cenário: além dos F-16, participaram da defesa caças Mirage-2000, MiG-29, Su-27, drones interceptadores e grupos móveis de fogo. A coordenação entre sistemas antigos soviéticos e plataformas ocidentais modernas demonstra um nível de integração operacional que poucos países conseguem alcançar mesmo em tempos de paz.

Tecnologia e experiência: a combinação letal
A capacidade demonstrada pelos pilotos ucranianos não surgiu do vácuo. Imagens recentes revelaram que os F-16 ucranianos estão equipados com pods de direcionamento Sniper, que incluem câmeras de luz diurna e infravermelho, além de designador a laser.

Esta tecnologia permite que os pilotos detectem mísseis de cruzeiro e drones usando câmeras ou radar, e então os "iluminem" com o laser para guiar armamentos. Mais importante, os pods Sniper são sensores passivos que não emitem radiação, permitindo que o F-16 opere "silencioso" sem revelar sua localização.

O armamento também evoluiu. Os F-16 ucranianos agora utilizam o Sistema Avançado de Arma de Precisão Letal (APKWS), um foguete guiado a laser de 15 kg com alcance de até 11 km. Com custo de apenas US$ 35 mil por unidade, o APKWS é uma das poucas munições anti-drone no inventário ucraniano mais barata que seu alvo, em comparação com os US$ 500 mil de um míssil AIM-9.

O contexto europeu: um continente despreparado
A performance ucraniana expõe uma vulnerabilidade crítica: a Europa não está preparada para defender seus próprios céus contra ameaças em massa. Segundo estimativas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), até o final de 2023, a Ucrânia possuía aproximadamente 564 plataformas antiaéreas em serviço. Para comparação, todos os países europeus combinados têm apenas cerca de 1.600 plataformas.

A desproporção é ainda mais gritante quando se considera a extensão territorial e populacional da Europa comparada à Ucrânia. A realidade é que a demanda ocidental por sistemas de defesa aérea era historicamente baixa, e a produção industrial não acompanhou as novas ameaças.

Esta lacuna tornou-se dolorosamente evidente em setembro de 2025, quando enxames de drones russos Gerbera violaram o espaço aéreo polonês. A assimetria de custos enfrentada pelos aliados ao interceptar a frota de drones Gerbera sobre a Polônia deixou clara a necessidade de adquirir sistemas mais econômicos, como o caça leve turboélice Embraer A-29N Super Tucano em sua nova configuração anti-drone. Usar caças e mísseis ar-ar caros para derrubar drones é operacionalmente possível, mas economicamente insustentável.

Operação Eastern Sentry e a resposta da OTAN
A resposta da OTAN não tardou. A Operação Eastern Sentry, lançada ao longo do flanco oriental da aliança, visa fortalecer ainda mais a postura de proteção de todos os aliados. A Dinamarca contribuiu com dois F-16 e uma fragata antiaérea, a França com três Rafales, e a Alemanha com quatro Eurofighters.

Paralelamente, está em desenvolvimento a Linha de Dissuasão do Flanco Oriental (EFDL, na sigla em inglês), uma iniciativa que busca desenvolver sistemas padronizados baseados em dados, lançadores comuns e coordenação baseada em nuvem. O conceito prevê a implantação de milhares de drones comerciais, sensores em rede e postos de comando digital que podem detectar e atacar em profundidade.

O paradoxo estratégico
Enquanto a Europa corre para construir suas defesas, a Ucrânia já possui pilotos com centenas de horas de combate real, testando táticas contra a força aérea russa e seu sistema integrado de defesa aérea. F-16s fornecidos à Ucrânia como parte da ajuda militar ocidental agora voam aproximadamente 80% das missões de combate da Força Aérea ucraniana.

Esta experiência é inestimável. Fornecer F-16s à Ucrânia apresenta à OTAN e aos Estados Unidos uma oportunidade única de coletar inteligência sobre a potência de aeronaves e armas aliadas contra equipamentos e táticas russas e iranianas. A guerra na Ucrânia tornou-se, involuntariamente, o maior laboratório de guerra moderna desde 1945.

A afirmação de Stan Zemlyanyy: visão ou realidade?
Quando Stan Zemlyanyy postou no LinkedIn que "nesse ritmo, a Ucrânia pode em breve estar ajudando a proteger o céu da Europa, em vez de a Europa proteger o da Ucrânia", muitos podem ter interpretado como bravata. Os fatos, contudo, sustentam a afirmação.

A Ucrânia possui:

  • Pilotos com experiência de combate real contra ameaças russas modernas
  • Capacidade comprovada de integrar sistemas ocidentais e soviéticos
  • Doutrina operacional testada em batalha para defesa aérea em camadas
  • Taxa de interceptação superior a 90% em múltiplas operações
  • Experiência em operar sob intensa guerra eletrônica

Compare isso com a maioria dos países europeus, cujos pilotos voam principalmente missões de treinamento e patrulha em tempo de paz. Países do flanco oriental com maior potencial continuarão a desenvolver capacidades de ataque de longo alcance como meio de punição convencional, mas a capacidade defensiva continua deficiente.

 

O Centro Europeu de Treinamento F-16
Reconhecendo esta realidade, a Romênia adquiriu 18 F-16 holandeses por apenas um euro cada para dedicá-los ao Centro Europeu de Treinamento F-16 (EFTC). A importância do EFTC só aumenta à medida que Holanda, Dinamarca e Noruega aposentam completamente seus F-16, enquanto Bélgica está em processo de fazê-lo.

O EFTC oferece agora uma capacidade única na Europa, fornecendo um programa completo de treinamento para pilotos de F-16, bem como uma estrutura na qual instrutores e pilotos de diferentes países da OTAN - incluindo a Ucrânia - podem treinar juntos, segundo os mesmos padrões.

Desafios e limitações
Apesar dos sucessos, a situação ucraniana permanece precária. As forças aéreas enfatizaram que mísseis para sistemas de defesa aérea e mísseis ar-ar fornecidos por parceiros não estão chegando nas quantidades necessárias. A escassez de munições é citada repetidamente por pilotos, liderança militar e pelo presidente Zelenskyy.

Além disso, a Ucrânia ainda opera com número limitado de F-16 - cerca de 50 dos 87 prometidos - e sofreu perdas, incluindo pelo menos quatro aeronaves destruídas ou abatidas desde agosto de 2024. A Ucrânia não pode se dar ao luxo de usar seus F-16 como consumíveis.

Implicações para a defesa europeia
A questão central não é se a Ucrânia pode ajudar a proteger os céus europeus, mas quando e sob quais condições. A União Europeia e a OTAN estão desenvolvendo múltiplas iniciativas:

  • Muro europeu de drones: proposto pela presidente da Comissão von der Leyen durante seu discurso de 2025 sobre o Estado da União, busca integrar defesas antidrones ao longo da fronteira oriental.
  • Vigilância do flanco oriental: reforçaria as fronteiras orientais da UE contra ameaças híbridas, cibernéticas, marítimas e convencionais da Rússia e Belarus através da integração de defesa aérea, guerra eletrônica, vigilância e sistemas de segurança marítima.
  • Escudo aéreo europeu: visa criar uma defesa antimísseis integrada continental.
  • Na composição da vigilância e do muro é que seriam inseridas as aeronaves Embraer A-29N Super Tucano, aptas a realizar patrulha aérea de longa duração e, se for necessário, atuar contra drones russos. 

O fator experiência
O que diferencia a proposta ucraniana de uma mera especulação é a experiência operacional. Nenhuma força aérea da OTAN enfrentou combate aéreo de alta intensidade nas últimas décadas. Os pilotos da OTAN são altamente treinados, mas carecem da experiência que apenas o combate real proporciona.

Até o momento na guerra, a Ucrânia abateu mais de 100 aeronaves russas, e a Rússia abateu pelo menos 75 aeronaves ucranianas. Este intercâmbio manteve ambos os lados cautelosos, mas forneceu aos ucranianos conhecimento tático inestimável sobre como operar contra sistemas russos modernos.

O caminho à frente
A transição da Ucrânia de país que recebe proteção para país que fornece proteção não acontecerá da noite para o dia. Requer:

  1. Continuidade do fornecimento de F-16 e munições: sem armas suficientes, mesmo os pilotos mais experientes são ineficazes.
  2. Integração institucional com estruturas de comando da OTAN: a experiência ucraniana precisa ser formalizada e integrada nos sistemas de defesa coletiva.
  3. Sustentação da base industrial: manutenção e suporte logístico são tão críticos quanto as aeronaves em si.
  4. Transferência de conhecimento: a OTAN deveria incorporar pilotos de caça às unidades da Força Aérea ucraniana para auxiliar em debriefings, aprendizado e planejamento de missões.

Um novo paradigma de segurança
A afirmação de Stan Zemlyanyy, longe de ser exagero nacionalista, reflete uma realidade emergente que a Europa precisa confrontar. Após quase três anos de guerra de alta intensidade, a Ucrânia desenvolveu capacidades e expertise em defesa aérea que a maioria dos países europeus simplesmente não possui.

A questão para os formuladores de políticas europeus não é se devem aceitar ajuda ucraniana, mas como institucionalizar e integrar essa experiência antes que seja tarde demais. Com a Rússia demonstrando disposição crescente para testar as defesas da OTAN através de violações de espaço aéreo e guerra híbrida, o tempo para decisões estratégicas está se esgotando.

Como demonstrou o ataque de 23 de dezembro, quando se trata de defender os céus contra mísseis e drones em massa, a Ucrânia pode não estar apenas à altura do desafio - pode estar liderando o caminho.

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