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16 maio, 2025

Sustentabilidade e Defesa: o Brasil que quer liderar precisa saber se proteger


*Por Luiz Alberto Cureau Júnior, via LinkedIn - 16/05/2025

Com a COP30 se aproximando e marcada para ocorrer em Belém do Pará, o Brasil tem diante de si uma oportunidade estratégica rara: assumir papel de liderança global na agenda climática, sem abrir mão de suas necessidades mais urgentes em defesa, soberania e inovação tecnológica.

Sustentabilidade, muitas vezes tratada apenas pelo viés ambiental, acaba por tratar de maneira menor o problema. Nossos ativos são cobiçados, sim, e tudo isso precisa ser ampliado para abarcar também a capacidade do país de proteger seus ativos naturais e sua posição geopolítica em um cenário internacional cada vez mais competitivo.

A experiência das Forças Armadas dos Estados Unidos é um exemplo concreto de como inovação e defesa podem caminhar juntas. Por lá, consolidou-se uma estrutura que lembra um “Vale do Silício militar”, no qual engenheiros da indústria e operadores militares atuam integrados, desenvolvendo e aplicando soluções tecnológicas com velocidade. Drones autônomos, sensores remotos, redes de comunicação seguras e inteligência artificial não ficam anos esperando licitação: são testados, aplicados e otimizados em ciclos curtos, com foco em resultados práticos. A eficácia desse modelo é visível em cenários como a guerra na Ucrânia, onde a agilidade na incorporação de tecnologias fez diferença real no campo de batalha.

Para o Brasil, adotar esse modelo pode representar um salto. A aproximação entre a Base Industrial de Defesa (BID) e as Forças Armadas, com o envolvimento de startups e empresas nacionais, pode acelerar a criação de soluções sob medida. Isso é essencial para regiões sensíveis como a Amazônia – território estratégico, cobiçado e vulnerável, com biodiversidade, água doce, minerais raros e relevância climática global. Defender essa região exige mais que boas intenções: é necessário investir em sistemas de monitoramento aéreo, sensores terrestres e veículos autônomos, capacidades que a indústria nacional pode desenvolver, desde que haja articulação.

E a nossa indústria está pronta para isso. Durante meu comando na 6ª Brigada de Infantaria Blindada, estabelecemos uma parceria com o Grupo Moura para desenvolver baterias nacionais específicas para o Leopard 1A5, nosso principal vetor blindado. Eles apresentaram soluções tecnicamente viáveis. Mas a burocracia e a falta de visão estratégica impediram sua adoção. Exemplos como esse revelam que temos capacidade industrial e talento técnico e até vontade da indústria participar, o que falta é decisão política, agilidade e integração.

A COP30 não pode ser apenas uma vitrine ambiental. Deve marcar a afirmação de uma soberania sustentável. O Brasil precisa parar de importar soluções e começar a construir as suas. Não haverá sustentabilidade sem soberania. E não haverá soberania sem uma defesa tecnologicamente preparada e estrategicamente conectada à proteção ambiental. 

*Luiz Alberto Cureau Jr. é General de Brigada R/1 do Exército Brasileiro e Consultor em meio ambiente e projetos de crédito de carbono no Instituto Climático VBH em Brasília.

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