*LRCA Defense Consulting - 08/07/2025
Os Estados Unidos confirmaram, em 2 de julho de 2025, a venda de um lote inicial de oito blindados Stryker M1126 8x8 à Argentina, em um acordo firmado durante visita do Ministro da Defesa argentino, Luis Petri, ao Pentágono. A decisão marca o fim das negociações para a aquisição de 156 blindados Guarani 6x6 do Brasil, frustradas pelo "veto" do governo brasileiro ao financiamento via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A escolha argentina reflete uma combinação de fatores financeiros, técnicos e políticos, com implicações para as relações regionais e a indústria de defesa brasileira.
"Veto" brasileiro ao financiamento
Em janeiro de 2023, Brasil e Argentina assinaram um memorando para a venda de 156 blindados Guarani, fabricados pela Iveco Defense Vehicles em Sete Lagoas (MG), com transferência de tecnologia e produção parcial de peças na Argentina. No entanto, o Ministério da Fazenda brasileiro, sob comando de Fernando Haddad, considerou o negócio “temerário” devido ao alto risco de inadimplência, em meio à crise econômica argentina, marcada por inflação galopante e escassez de dólares.
O Departamento de Assuntos Estratégicos, de Defesa e de Desarmamento do
Ministério das Relações Exteriores também manifestou "veto" ao negócio em
maio de 2023, mantendo a decisão sob sigilo, mas comunicada à Iveco
Defense Vehicles (IDV) em junho do mesmo ano.
Assim, o "veto" (ou a posição contrária) ao financiamento pelo BNDES, reforçado pelo Ministério das Relações Exteriores, paralisou as negociações, inviabilizando a venda.
Por que os Stryker?
A Argentina optou pelos Stryker, um veículo 8x8 com histórico comprovado em conflitos como Iraque e Afeganistão, por diversos motivos.
Primeiro, os Estados Unidos ofereceram condições de financiamento vantajosas via programa Foreign Military Sales (FMS), com prazos longos e taxas acessíveis, descritos como “financiamento de pai para filho”. Essa flexibilidade foi crucial para um país com orçamento militar limitado. Além disso, o Exército Argentino priorizava veículos 8x8, que oferecem maior mobilidade e capacidade de carga em comparação com os Guaranis 6x6.
O Stryker, com cerca de 20 anos de evolução, 10 variantes e 4.900 unidades produzidas, suporta armamentos mais pesados, como canhões de 105 mm, atendendo melhor às demandas argentinas. Apesar de o Guarani ser anfíbio — uma vantagem inexistente no Stryker —, ele foi considerado menos versátil para os requisitos do país.
A Argentina já considerava os Stryker desde 2020, quando os EUA
aprovaram a venda de 27 unidades por US$ 100 milhões, mas a compra foi
adiada por restrições orçamentárias. A retomada das negociações em 2024 e
a assinatura do acordo em 2025 indicam uma preferência de longa data
pelos Stryker.
A propósito, a Argentina também avaliou blindados chineses (Norinco WMZ551B1) em 2008,
mas a experiência foi negativa devido a falhas técnicas, como problemas
de estanqueidade em travessias anfíbias. Isso reduziu a confiança em
alternativas chinesas e reforçou a preferência por equipamentos
ocidentais.
Histórico e Logística
Os EUA são, historicamente, o principal
fornecedor militar da Argentina, o que facilita a aquisição de
equipamentos como o Stryker, acompanhado de suporte logístico e
treinamento. Embora o acordo inicial preveja apenas oito veículos, com
entregas até o início de 2026, a Argentina planeja adquirir até 209
unidades, conforme seu orçamento militar para 2025. Em contrapartida, a
oferta brasileira de 156 Guaranis, embora mais próxima dessa meta,
perdeu força pela ausência de financiamento e demora nas negociações.
Alinhamento Político com os EUA
A decisão também reflete o alinhamento estratégico do governo de Javier
Milei com os Estados Unidos. Desde sua posse em 2023, Milei expressou
uma política externa voltada para fortalecer laços com Washington,
descrita como uma “aliança carnal”. A compra dos Stryker, anunciada em 2
de julho de 2025, foi acompanhada de acordos mais amplos de
cooperação em defesa, incluindo defesa cibernética e interoperabilidade
militar. Essa aproximação também se reflete na aquisição de caças F-16 e
possíveis negociações para aeronaves KC-135 Stratotanker.
A escolha dos
Stryker, portanto, é também vista como uma decisão política para consolidar a
parceria com os EUA, em detrimento de acordos com o Brasil, considerado
por Milei como “socialista” sob o governo do PT.
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