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12 julho, 2025

Potencial veto à tecnologia israelense: um terremoto silencioso à espreita da defesa brasileira

Decisão política poderia paralisar projetos estratégicos, impactar custos e comprometer a segurança nacional, alertam especialistas e setor produtivo

 

 
*LRCA Defense Consulting - 11/07/2025

Uma potencial decisão do governo brasileiro de vetar a aquisição de produtos e serviços de empresas israelenses no setor de defesa e tecnologia, motivada por considerações políticas e ideológicas, acende um alerta vermelho na cúpula das Forças Armadas e na indústria de defesa nacional. A medida, se concretizada, não representaria apenas uma mudança de fornecedores, mas um verdadeiro terremoto com potencial para paralisar projetos estratégicos, elevar custos e, em última instância, comprometer a capacidade de defesa e a soberania do Brasil.

A interdependência entre a indústria de defesa brasileira e a tecnologia israelense é profunda e multifacetada, construída ao longo de décadas. Israel é um parceiro-chave não só na venda de equipamentos, mas na transferência de tecnologia e no desenvolvimento conjunto de soluções que são o "cérebro" de algumas das mais importantes plataformas militares do país.

Projetos de ponta ameaçados
Um dos projetos mais emblemáticos que sentiria o impacto direto é o caça F-39 Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Embora de origem sueca (Saab), o Gripen depende intrinsecamente de tecnologia israelense, incluindo o vital pod de guerra eletrônica da Rafael Advanced Defense Systems. Mais crucial ainda é o papel da AEL Sistemas, subsidiária da israelense Elbit Systems no Brasil. A AEL é a principal contratada para a suíte aviônica do Gripen, responsável por displays avançados, computadores, softwares e o capacete HMD, fundamental para a consciência situacional dos pilotos. "Sem essa tecnologia, a operação plena do Gripen seria inviabilizada", afirma uma fonte ligada ao setor. Há até mesmo discussões internas na FAB sobre a possibilidade de trocar jatos modernos por outros mais antigos, caso o veto se concretize.

O cargueiro KC-390 Millenium, um dos orgulhos da Embraer e com alto potencial de exportação, também seria atingido. Suas suítes de autoproteção e guerra eletrônica, essenciais para a segurança da aeronave em cenários de conflito, são fornecidas pela Elbit Systems.

No Exército, o veículo blindado Guarani, fabricado em parceria com a Iveco, utiliza sistemas de visão e controle de empresas israelenses. A ARES Aeroespacial e Defesa, outra subsidiária da Elbit, integra torres remotamente controladas (UT30BR2) e sistemas de armas (REMAX 4 RCWS) que são cruciais para a capacidade de combate do blindado. A modernização da frota de blindados M113 também é feita com eletrônica e armamentos israelenses.

Além disso, programas vitais como o SISFRON (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), o Link-BR2 (datalink tático para as aeronaves da FAB) e o RDS-Defesa (Rádio Definido por Software para interoperabilidade das Forças Armadas) contam com a participação direta da AEL Sistemas e de tecnologia israelense. Mísseis anticarro Spike (Rafael) e sistemas de defesa antiaérea como o Spyder (Rafael) e o radar ELM-2084 (IAI) equipam as Forças Armadas, e seu suporte e reposição seriam inviabilizados.

Blindado Guarani com torre remotamente controlada e sistemas de armas

Impacto para a indústria brasileira
Um veto total implicaria em muito mais do que apenas a busca por novos fornecedores. A AEL Sistemas e a ARES, por exemplo, empregam milhares de brasileiros e são um polo de excelência em tecnologia de defesa, com intensa transferência de know-how. A paralisação de suas operações ou a desvinculação da tecnologia israelense representaria um duro golpe para a base industrial de defesa do país, que busca autonomia e capacidade de exportação.

"Seria uma decisão tão absurda que paralisaria ou até inviabilizaria alguns dos principais projetos das Forças Armadas e da Indústria de Defesa", destaca um documento interno, listando uma série de projetos afetados: C-390, Gripen, Guarani, M113, mísseis antiaéreos e anticarro, VANT Hermes, Praetor 600 AEW&C, UT30BR2, SISFRON, Link-BR2, E-LynX, RDS-Defesa, Sterna, SIC3MB, e a manutenção e modernização de aeronaves como Super Tucanos, F-5M e AMX.

Displays avançados, computadores, softwares e o capacete HMD, fundamental para a consciência situacional dos pilotos do Gripen
 
Sistema Link-BR: as Forças Armadas brasileiras alcançaram um marco inédito ao integrar, pela primeira vez, sistemas estratégicos de Comunicação, Comando e Controle (C4I) em uma simulação de conflito na Base Aérea de Canoas, no RS.


Custos e alternativas: um desafio gigantesco

A substituição de componentes israelenses não é simples e implicaria em custos e prazos altíssimos. A busca por fornecedores alternativos demandaria reengenharia, certificações complexas e, em muitos casos, o desenvolvimento de novas soluções do zero. Isso se traduziria em atrasos orçamentários, aumento exponencial de despesas e uma potencial defasagem tecnológica das Forças Armadas.

Especialistas alertam que a medida, vista por alguns como puramente "ideológica", teria consequências práticas severas, minando a credibilidade do Brasil como parceiro na área de defesa e comprometendo seu potencial de exportar tecnologia própria, como o Gripen para outros países da América Latina, que teria suas capacidades essenciais inviabilizadas.

Em um cenário de crescentes tensões globais, a fragilização do setor de defesa brasileiro por uma decisão política pode ter ramificações que vão muito além da economia e da diplomacia, afetando diretamente a capacidade do país de proteger seus interesses e sua soberania. A questão agora é se o Brasil está disposto a pagar o alto preço por essa guinada.

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