O Brasil está diante de uma de suas decisões mais estratégicas desde a descoberta do pré-sal. Com 21 milhões de toneladas em reservas de Terras Raras, o país dispõe de uma das maiores bases minerais do mundo, mas ainda precisa decidir qual papel quer jogar na nova economia tecnológica.
Enquanto a China controla 90% do processamento mundial desses elementos, usados em semicondutores, turbinas eólicas, carros elétricos e sistemas de defesa, o Brasil segue exportando minério bruto e importando tecnologia acabada. O dilema é simples e profundo: ser fornecedor de matéria-prima ou player global em valor agregado.
Brasil A x Brasil B: a diferença de uma decisão
Do ponto de vista econômico, as ramificações são drásticas.
O “Brasil A”, voltado apenas à exportação de minério bruto, capturaria no máximo 10% do valor global, com geração estimada entre 15 e 20 mil empregos até 2035. É a mesma lógica do café em grão: o mundo paga mais para quem refina, embala e distribui.
O “Brasil B”, focado em processamento e refino, pode capturar 60% do valor da cadeia, gerar 280 mil postos de trabalho e transformar-se em hub tecnológico da América Latina. A analogia é com a Noruega, que convertendo seus recursos naturais em tecnologia e governança, construiu uma das economias mais sofisticadas do planeta.
O mundo em transição
O setor de Terras Raras vive uma reorganização global e
acelerada.
- A Austrália destinou US$
777 milhões a um fundo estratégico e ampliará a capacidade da Lynas,
que deve triplicar sua produção até 2027.
- O Vietnã,
em parceria com o Japão, pretende elevar seu processamento anual para
quase 4 mil toneladas, reforçando o papel de fornecedor confiável
para o mercado asiático.
- Já a Mongólia, cercada por China e Rússia, tende a seguir como exportadora de produto bruto, dependente das rotas e preços impostos por seus vizinhos.
Nesse tabuleiro, consolida-se o novo mapa geoeconômico: de um lado, China e aliados; de outro, Estados Unidos e parceiros de confiança. Quem não se posicionar nos próximos 24 meses corre o risco de ficar à margem das cadeias estratégicas do futuro.
Quatro caminhos para o Brasil
O país tem quatro caminhos à frente, cabendo a seus dirigentes decidir o rumo que norteará a próxima década.
- Hub
da América Latina: transformar-se em centro de processamento de
minérios de Brasil, Bolívia, Peru e Chile. Assim como Cingapura tornou-se
potência em refino sem produzir petróleo, o país pode centralizar valor
tecnológico regional.
- Fornecedor
neutro: assumir papel diplomático de equilíbrio, atendendo a
múltiplos mercados em meio à fragmentação global, como fez a Suíça durante
a Segunda Guerra.
- Domínio
tecnológico: repetir o modelo do pré-sal, atraindo tecnologia
estrangeira inicial, adaptando-a e desenvolvendo soluções próprias com
inovação nacional.
- Industrialização avançada: integrar a cadeia final, produzindo ímãs de alta performance, catalisadores, cerâmicas avançadas e produtos para defesa e energia limpa.
O que o país precisa fazer
Cinco pilares definem a transição para o Brasil B:
- Decisão
estratégica: é preciso definir se o país quer ser fornecedor ou
protagonista.
- Parcerias
tecnológicas: alianças com Japão e Europa podem acelerar a curva de
aprendizado.
- Capital
de longo prazo: fundos soberanos do Oriente Médio somam US$ 4
trilhões e buscam novas frentes de investimento industrial.
- Infraestrutura
sólida: portos, energia e zonas industriais no Nordeste são peças
centrais da transformação.
- Regulação moderna: modelos inspirados em Austrália e Vietnã garantem segurança jurídica e previsibilidade.
A janela é curta; a oportunidade, rara
As grandes nações só mudam quando tomam decisões nas
encruzilhadas certas. Os Emirados Árabes diversificaram sua economia,
e hoje o petróleo representa menos de 1% do PIB de Dubai. Cingapura virou
potência logística sem reservas naturais. Coreia do Sul investiu em
semicondutores nos anos 1980 e, décadas depois, colhe o domínio global da Samsung.
O Brasil vive seu próprio momento de bifurcação. A diferença não está no subsolo, mas na estratégia. Entre 15 mil empregos e 280 mil, entre receita limitada ou multiplicada por seis, há uma escolha de futuro.
A pergunta que define a década é simples e decisiva: qual Brasil queremos ser em 2035?
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Saiba mais:
- Terras raras: o tesouro mineral que pode redefinir a soberania e a defesa do Brasil no Século XXI
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