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20 outubro, 2025

Brasil precisa decidir seu futuro nas Terras Raras: fornecedor ou potência tecnológica?

 


*Baseado no texto de Rodrigo Paiva, Chairman & CEO da Seven Sands Holdings, em Dubai, Emirados Árabes Unidos

O Brasil está diante de uma de suas decisões mais estratégicas desde a descoberta do pré-sal. Com 21 milhões de toneladas em reservas de Terras Raras, o país dispõe de uma das maiores bases minerais do mundo, mas ainda precisa decidir qual papel quer jogar na nova economia tecnológica.

Enquanto a China controla 90% do processamento mundial desses elementos, usados em semicondutores, turbinas eólicas, carros elétricos e sistemas de defesa, o Brasil segue exportando minério bruto e importando tecnologia acabada. O dilema é simples e profundo: ser fornecedor de matéria-prima ou player global em valor agregado.

Brasil A x Brasil B: a diferença de uma decisão
Do ponto de vista econômico, as ramificações são drásticas.

O “Brasil A”, voltado apenas à exportação de minério bruto, capturaria no máximo 10% do valor global, com geração estimada entre 15 e 20 mil empregos até 2035. É a mesma lógica do café em grão: o mundo paga mais para quem refina, embala e distribui.

O “Brasil B”, focado em processamento e refino, pode capturar 60% do valor da cadeia, gerar 280 mil postos de trabalho e transformar-se em hub tecnológico da América Latina. A analogia é com a Noruega, que convertendo seus recursos naturais em tecnologia e governança, construiu uma das economias mais sofisticadas do planeta.

O mundo em transição
O setor de Terras Raras vive uma reorganização global e acelerada.

  • A Austrália destinou US$ 777 milhões a um fundo estratégico e ampliará a capacidade da Lynas, que deve triplicar sua produção até 2027.

  • O Vietnã, em parceria com o Japão, pretende elevar seu processamento anual para quase 4 mil toneladas, reforçando o papel de fornecedor confiável para o mercado asiático.

  • Já a Mongólia, cercada por China e Rússia, tende a seguir como exportadora de produto bruto, dependente das rotas e preços impostos por seus vizinhos.

Nesse tabuleiro, consolida-se o novo mapa geoeconômico: de um lado, China e aliados; de outro, Estados Unidos e parceiros de confiança. Quem não se posicionar nos próximos 24 meses corre o risco de ficar à margem das cadeias estratégicas do futuro.

Quatro caminhos para o Brasil
O país tem quatro caminhos à frente, cabendo a seus dirigentes decidir o rumo que norteará a próxima década.

  1. Hub da América Latina: transformar-se em centro de processamento de minérios de Brasil, Bolívia, Peru e Chile. Assim como Cingapura tornou-se potência em refino sem produzir petróleo, o país pode centralizar valor tecnológico regional.

  2. Fornecedor neutro: assumir papel diplomático de equilíbrio, atendendo a múltiplos mercados em meio à fragmentação global, como fez a Suíça durante a Segunda Guerra.

  3. Domínio tecnológico: repetir o modelo do pré-sal, atraindo tecnologia estrangeira inicial, adaptando-a e desenvolvendo soluções próprias com inovação nacional.

  4. Industrialização avançada: integrar a cadeia final, produzindo ímãs de alta performance, catalisadores, cerâmicas avançadas e produtos para defesa e energia limpa.

O que o país precisa fazer

Cinco pilares definem a transição para o Brasil B:

  • Decisão estratégica: é preciso definir se o país quer ser fornecedor ou protagonista.

  • Parcerias tecnológicas: alianças com Japão e Europa podem acelerar a curva de aprendizado.

  • Capital de longo prazo: fundos soberanos do Oriente Médio somam US$ 4 trilhões e buscam novas frentes de investimento industrial.

  • Infraestrutura sólida: portos, energia e zonas industriais no Nordeste são peças centrais da transformação.

  • Regulação moderna: modelos inspirados em Austrália e Vietnã garantem segurança jurídica e previsibilidade.

A janela é curta; a oportunidade, rara
As grandes nações só mudam quando tomam decisões nas encruzilhadas certas. Os Emirados Árabes diversificaram sua economia, e hoje o petróleo representa menos de 1% do PIB de Dubai. Cingapura virou potência logística sem reservas naturais. Coreia do Sul investiu em semicondutores nos anos 1980 e, décadas depois, colhe o domínio global da Samsung.

O Brasil vive seu próprio momento de bifurcação. A diferença não está no subsolo, mas na estratégia. Entre 15 mil empregos e 280 mil, entre receita limitada ou multiplicada por seis, há uma escolha de futuro.

A pergunta que define a década é simples e decisiva: qual Brasil queremos ser em 2035?

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