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21 junho, 2020

Por que o binômio CBC/Taurus Armas mirou a Índia?


*LRCA Defense Consulting, com a colaboração de Christian Lima - 21/06/2020

Dentro da iniciativa "Make in India", em janeiro deste ano, a brasileira Taurus Armas firmou uma joint venture (JV - parceria) com o Jindal Group, maior fabricante de aço da Índia e um dos dez maiores do mundo, com um faturamento superior a US$ 24 bilhões e com 200 mil funcionários no mundo.

Na mesma perspectiva, a brasileira CBC (controladora da Taurus através da Tauruspar) estabeleceu, no final de 2018, uma joint venture com a empresa indiana Stumpp Schuele & Somappa Springs (SSS Springs) - maior produtora de molas de alta qualidade para o mercado automotivo e de defesa.

Pelos termos das JV, firmadas na proporção 49%-51%, as empresas brasileiras transferirão tecnologia às indianas, não havendo desembolso financeiro.

De maneira sintética, não é difícil entender os motivos que levaram o binômio CBC/Taurus para o mercado indiano.

Índia - um país com números impressionantes
Sob qualquer aspecto em que sejam analisados, os números da Índia são impressionantes. Afinal:
- com mais de 1,37 bilhão de habitantes, é o país capitalista mais populoso do mundo;
- é considerada a quarta potência militar do planeta, atrás apenas dos EUA, Rússia e China;
- suas forças armadas têm mais de 1,3 milhão de integrantes;
- suas forças de segurança possuem um efetivo de mais de 1,4 milhão de policiais;
- a segurança privada do país conta com mais de 7 milhões de homens e mulheres;
- nos últimos cinco anos, a Índia foi o segundo maior importador mundial de armamentos;
- está entre os cinco principais países do mundo com maiores gastos no setor de defesa;
- tem o 8º PIB do mundo, à frente de países como Itália, Coreia do Sul, Canadá e Rússia.

Maior e mais inexplorado mercado do mundo para armas leves e respectivas munições
Em termos militares e de maneira geral, suas forças armadas possuem armamentos atômicos, bem como aviões, navios, artilharia e mísseis modernos, a maior parte importados dos Estados Unidos, Rússia e França, pois a indústria nacional é praticamente estatal e só recentemente começou a produzir armamentos mais modernos.

Com relação ao armamento leve, com exceção de algumas unidades especiais, a maior parte das forças regulares e a quase totalidade das forças de segurança ainda usa metralhadoras de mão, pistolas e fuzis antiquados produzidos pelas fábricas estatais. Recentemente, houve uma grande importação de fuzis de assalto americanos e foi firmada uma joint venture com a Rússia para a produção local do fuzil de assalto AK-203. A partir daí, diversas iniciativas semelhantes estão sendo costuradas com empresas de outros países, sempre com transferência de tecnologia.

Entendendo as joint ventures do binônio CBC/Taurus
A Índia é o país capitalista que tem o maior e mais inexplorado mercado do mundo no tocante a armas leves e respectivas munições. E não só militar ou de segurança, mas também civil, pois a maior parte das pistolas e revólveres lá fabricados são armas antiquadas, quando comparadas ao armamento moderno em uso no mundo.

É esse enorme hiato criado pela obsolescência das armas leves que levou o Jindal Group e a Taurus Armas a firmarem uma joint venture para produzir, na Índia, fuzis CQB (para uso a curta distância), submetralhadoras, carabinas, pistolas e revólveres destinados, conforme o caso, às forças armadas, de segurança e ao mercado civil. Motivo semelhante também norteou a decisão da CBC.

O mercado de armas leves da Índia é estimado em 10 a 12 bilhões de dólares em 15 anos
Em 11 de fevereiro deste ano, durante uma entrevista ao jornal indiano Business Standard, o fundador da Jindal Defense e diretor administrativo da Jindal Stainless, Abhyuday Jindal, afirmou que “Atualmente, os players estrangeiros fornecem quase 50% da necessidade total de equipamentos de defesa da Índia. O mercado de armas leves indiano é estimado em US $ 10 a 12 bilhões até 2035. Isso dá oportunidade suficiente para empresas domésticas como nós (Jindal Defense) se aventurarem na indústria de defesa”.

A chave de todo o processo indiano no setor de defesa, pelo qual o país planeja ser autossuficiente e exportador neste setor, está no programa "Make in India", iniciativa que visa atrair empresas estrangeiras a transferir tecnologia e a produzir no país por meio de joint ventures com empresas locais. Esse programa é hoje prioritário no governo do Primeiro-ministro Narendra Modi.

O Ministério da Defesa indiano estabeleceu uma meta de US $ 26 bilhões, incluindo a exportação de US $ 7 bilhões para a indústria de defesa até 2025-26, por meio de sua Política de Produção de Defesa 2018.

Com base nesses números, JD Patil, diretor e vice-presidente executivo sênior da empresa de defesa L&T, afirmou que “Devido a isso, os investimentos acumulados previstos para a indústria doméstica nos próximos 6 anos seriam de cerca de 10 trilhões de rúpias [130 bilhões de dólares]. Com a iniciativa Make in India, a nacionalização no setor de defesa deve subir de 35-40% para 70-75%. Portanto, há um amplo escopo para os players domésticos”.

O setor tem um potencial saudável de médio a longo prazo para ser um dos principais contribuintes para o 'Make in India' e a modernização das forças armadas por meio da nacionalização. Dada a independência estratégica de longo prazo, o governo tem pouca opção a não ser reorientar e promover a construção de plataformas nacionais diretamente a partir do desenvolvimento de tecnologias e conceitos”, afirmou Patil.

O modelo de parceria estratégica visa reduzir a dependência da Índia em relação às importações de defesa e ajuda as empresas privadas a conquistar uma significativa parcela das compras de defesa do país.

Investimento inicial de US $ 5 milhões na planta fabril da Jindal/Taurus em Hisar
A Jindal Defense planeja um investimento inicial de US $ 5 milhões para sua unidade de armas leves na cidade de  Hisar (Haryana), sede da Jindal Stainless, em um projeto a ser desenvolvido em fases.

A empresa fará um investimento privado na fase inicial e, posteriormente, explorará as oportunidades de financiamento. A intenção da Jindal é se posicionar para prover a substituição de importação a longo prazo.

Nossa grande concorrência será a importação oriunda de fabricantes globais de armas de fogo. Existem algumas outras empresas privadas indianas neste espaço (armas leves). No entanto, eles não possuem capacidades significativas para atender à demanda. Nosso foco será a substituição de importações”, afirmou Abhyuday Jindal.

A previsão inicial era de que as atividades na fábrica de Hisar fossem iniciadas no próximo mês de setembro, com produção plena em setembro de 2021. No entanto, a pandemia poderá atrasar o cronograma, postergando seu início para até o primeiro trimestre do ano que vem. Caso esta hipótese se concretize, fontes indianas afirmaram que os trabalhos seriam acelerados, de modo que produção teria início em abril ou maio, com pleno funcionamento em setembro.

Desde já, a Taurus, através da JV,  está habilitada a participar de licitações na Índia
Salesio Nuhs, Presidente e CEO Global da Taurus Armas, afirmou que “A empresa indiana está apta a participar de processos licitatórios realizados pelo governo da Índia, oferecendo as pistolas, revólveres, carabinas, fuzis e submetralhadoras que a Taurus fabrica, abastecendo o imenso mercado militar, policial e de segurança privada”.

Experiência da Jindal Defense no setor de defesa
A Jindal Defense forneceu com sucesso vários aços especiais para importantes programas de mísseis indianos, veículos lançadores de satélites, submarinos nucleares, lançadores de foguetes, etc. A Companhia desenvolveu ainda materiais avançados de proteção balística e contra explosões, e está trabalhando com o Ministério da Defesa e com o Ministério da Administração Interna para fornecer soluções avançadas de proteção e armaduras leves, além de outros equipamentos de proteção antidistúrbios.

A empresa está trabalhando com alguns parceiros estrangeiros para fabricar versões atualizadas de tubos (canos) para carros de combate (tanques) na Índia. Está também desenvolvendo kits blindados leves com proteção avançada. Com o objetivo de fornecer soluções completas de blindagem para as forças armadas, está trabalhando também com vários parceiros indianos e estrangeiros para desenvolver os melhores coletes e escudos à prova de balas da categoria.

Conflitos fronteiriços com a China podem acelerar o processo
Os recentes conflitos armados entre as forças da Índia e da China na fronteira disputada entre os dois países já causaram várias baixas dos dois lados e, quer sejam incrementados ou não no curto prazo, poderão ser um forte motivo para que a Índia acelere as iniciativas que visam dotar suas forças armadas de um armamento mais moderno, especialmente as forças terrestres no que tange a fuzis de assalto, fuzis CQB e pistolas.

Uma estimativa para as receitas da JV da Taurus
Segundo afirmou Abhyuday Jindal, o mercado indiano de armas pequenas é estimado em US $ 10 a 12 bilhões até 2035, ou seja, uma média de 800 milhões de dólares por ano. Convertida em reais, seria algo como (a grosso modo) uma receita média de 4 bilhões de reais por ano para a JV, caso esta conquistasse a totalidade das encomendas (como é o plano). Esse valor representa cerca de quatro vezes o total de receitas obtidas pela Taurus no ano de 2019. Como a empresa brasileira tem 49% do empreendimento, poderia ficar com quase 2 bilhões de dólares, somente na planta indiana.

Além disso, a Taurus Jindal se constituirá na principal produtora de armas leves do país, capaz de atender sua imensa demanda local e, ainda, exportar para diversos outros países, a fim de colaborar com a  meta de 7 bilhões de dólares em exportações de produtos de defesa estabelecida pelo governo para até 2026.

Saiba mais sobre a Índia e as possibilidades da Taurus/CBC nesse país

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