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29 junho, 2020

Taurus tem recordes no Ebitda, no lucro bruto e no fluxo de caixa, mas variação cambial pesa



*LRCA Defense Consulting - 29/06/2020

A Taurus Armas S.A. divulgou hoje o seu balanço referente aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2020, primeiro trimestre fiscal deste ano.

Os robustos números apresentados ao mercado evidenciam que a empresa está fazendo o dever de casa, ou seja, produzindo muito, racionalizando custos e vendendo muito.

Desempenho recorde no Ebitda, no lucro bruto e no caixa líquido
No trimestre, foram produzidas 263 mil armas,  sendo 82,9% desse total na fábrica do Brasil e 17,1% na nova unidade dos Estados Unidos, significando um volume 5,6% superior ao 4T19. Em ambos os países, por ser considerada como estratégica e de interesse da segurança nacional, a empresa manteve a operação industrial ativa e com segurança para os colaboradores desde o início do cenário da pandemia COVID-19.

Apesar de o primeiro trimestre do ano ser um período historicamente com volume de vendas inferior ao último trimestre do ano, a Taurus aproveitou o aquecimento do mercado de armas pessoais nos EUA e incrementou suas vendas em 11% em relação ao 4T19, atingindo a marca de 310,1 mil unidades vendidas. O aquecimento do mercado de armas pessoais nos EUA se deu principalmente a partir do mês de março, devido à ampliação da condição de pandemia causada pela Covid-19, que levou a uma maior procura por parte do consumidor individual norte-americano.

No Brasil, o desempenho da empresa  mostrou um aumento de 52% na receita com a venda de armas, quando comparado ao primeiro trimestre de 2019. No mercado interno, as vendas foram de 52,1 mil unidades de armas, superando em 4,2% as vendas do trimestre anterior e mais do que dobrando (+111,2%) em relação ao volume vendido no mesmo trimestre de 2019.

Somando as vendas no mercado doméstico e nos EUA, a Taurus totalizou 366,5 mil unidades vendidas.

A receita operacional líquida de R$ 298,3 milhões foi 18,3% superior ao 1T19, mantendo a tendência de crescimento contínua observada nos últimos trimestres, com destaque para o aumento de 48,5% da receita líquida do mercado interno.

Considerando a receita do segmento de armas isoladamente, de R$ 296,8 milhões no 1T20, o crescimento foi de 18,9% em relação ao 1T19. O desempenho reflete, principalmente, o aumento da receita no mercado norte-americano, uma vez que esse país - que tem o maior e mais competitivo mercado mundial de armas - respondeu por 79,7% da receita da Taurus no segmento, no trimestre.

O lucro bruto de R$ 102,9 milhões, com margem de 34,5%, obteve o recorde de melhor resultado da companhia em um trimestre, com alta de 11,8% comparado ao 1T19. Esse nível de margem bruta foi mantido a despeito de custos extras relacionados à situação de pandemia, como a adoção de turnos para maior distanciamento físico entre os colaboradores da fábrica, pois a empresa deu maior foco à produção de linhas que incorporam maior valor agregado.

O aumento da receita e a manutenção dos custos e das despesas operacionais sob controle proporcionaram à Taurus um Ebitda recorde de R$ 45,4 milhões no 1T20, gerado exclusivamente pela operação de armas e sem incluir qualquer efeito extraordinário, não recorrente. A maior eficiência operacional levou à também maior capacidade de geração de caixa da companhia. O Ebitda do trimestre supera o registrado no 1T19 em 17,9%.

Para finalizar as principais notícias positivas, a Taurus informou que o seu fluxo de caixa foi R$ 77,7 milhões de caixa líquido gerado nas atividades operacionais, recorde da companhia em um trimestre, com aumento do saldo de caixa e equivalentes em R$ 30,6 milhões no período.

Peso contábil da variação cambial afeta o lucro líquido
Apesar dos recordes e dos demais excelentes resultados obtidos, nem tudo foram flores para a Taurus Armas nesse período.

No primeiro trimestre de 2020, o dólar registrou a maior valorização trimestral em 18 anos, com cerca de 29%. Como, para fins contábeis de balanço, é utilizada a cotação de fechamento do dólar do final de cada trimestre, este fato intempestivo - um verdadeiro "pênalti financeiro convertido aos 45 minutos do segundo tempo" - fez com que as empresas brasileiras que têm boa parte da dívida em moeda estrangeira (como a Taurus) vissem o lucro líquido ser derrubado em quase 70%, como mostra esta reportagem do Estadão de 02/06: "Alta do dólar pressiona dívida e derruba lucro das empresas em 70% no trimestre".

Assim, como já era esperado pelo mercado, esse fato impactou fortemente a dívida em dólares da Taurus Armas, fazendo com que suas despesas financeiras passassem de R$ 16,2 milhões no 1T19, para R$ 209,2 milhões no 1T20. Desse total, R$ 195,4 milhões, ou 93,4%, são referentes às variações cambiais passivas.

No entanto, devido aos esforços de redução de custos, as demais despesas financeiras da Companhia apresentaram redução de 5,5%, somando R$ 13,7 milhões no mesmo período.

As receitas financeiras também foram impactadas pela variação cambial, mas atuando de forma ativa, uma vez que grande parte da receita da Taurus (81,2% no 1T20) é realizada em dólares, a partir das vendas no exterior, e contabilizada em moeda nacional, funcionando como um hedge natural. Como a variação cambial se acentuou mais para o final do final do trimestre,  a maioria das vendas não pode dela se beneficiar. Mesmo assim, a Companhia registrou o total de R$ 20,3 milhões a título de receita financeira no 1T20, montante quase 5 vezes superior aos R$ 4,2 milhões apurados no primeiro trimestre de 2019.

Ao fim e ao cabo, refletindo a forte desvalorização da moeda nacional no período, o resultado financeiro líquido no 1T20 foi negativo em R$ 188,9 milhões, ante à despesa líquida registrada no 1T19 de R$ 12,0 milhões.

Considerando o pagamento de R$ 8,3 milhões a título de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro e o resultado positivo da operação de capacetes de R$ 0,5 milhão, a Taurus registrou no 1T20 um resultado líquido negativo de R$ 157,1 milhões.

Contudo, vale reforçar que o efeito registrado pela variação do real frente ao dólar norte-americano é apenas contábil e não tem efeito caixa, a não ser nos respectivos vencimentos.


Conclusões e perspectivas para o trimestre em curso

1. Conclusões
Ao analisar o balanço do 1T20 da Taurus Armas é necessário fugir da visão simplista de lucro ou prejuízo líquido, pois esta pode ser distorcida por um fator apenas conjuntural e intempestivo, como foi o caso da variação cambial extremada que impactou também todas as demais empresas brasileiras com dívida em moeda estrangeira.

A Taurus é uma empresa que se reinventou a partir de 2018 e, de lá para cá, iniciou um processo de turnaround que a está permitindo fazer o dever de casa de forma eficaz, ou seja: produzir muito, racionalizar custos e vender muito.

Esta afirmativa está traduzida nos robustos números, alguns deles recordes, que trouxe ao mercado hoje nos quesitos: produção, vendas, receita operacional líquida, lucro bruto, Ebitda e fluxo de caixa.

2. Perspectivas para o trimestre em curso
Com relação ao trimestre em curso (2T20), esta Consultoria acredita que as perspectivas para a empresa sejam muito positivas.

Nos Estados Unidos, país responsável por cerca de 80% das receitas da Taurus, as vendas têm apresentado recordes a partir de março, devido à pandemia, à proximidade das eleições e, principalmente, aos distúrbios civis que lá estão acontecendo, como pode ser visto nestas reportagens:

No Brasil, segundo maior mercado da Taurus, a flexibilização da posse de armas possibilitada pelo atual governo também permite supor a continuidade dos robustos números hoje apresentados, como pode ser constatado nestas matérias:
- PF bate recorde de autorizações de posse de armas no governo de Bolsonaro
- Vendas de munições dispararam no Brasil: em maio, foram vendidos mais de 2 mil cartuchos por hora

A variação cambial do 2T20 tende a se situar em torno de 5%, com o trimestre inciando com um dólar alto, crescendo em abril e maio, e só declinando novamente em junho (em termos meramente comparativos, a variação cambial média de 2019 foi de 7,9% e, apesar dela, a empresa apresentou lucro anual).

Este fato deve inverter a situação acontecida no 1T20, levando a Taurus a auferir ganhos financeiros com a variação cambial, haja vista que a maior parte das vendas já foi faturada com base em uma cotação maior da moeda norte-americana e a dívida em moeda estrangeira não será impactada da mesma maneira.

Assim, mantidas ou aumentadas as vendas como se prevê, é razoável supor que a companhia reverta completamente o quadro e apresente, no 2T20, um resultado líquido positivo e bastante consistente.

Para outras informações sobre o balanço da empresa, acesse aqui.





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