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04 dezembro, 2025

Filipinas dobram frota de Super Tucano em meio a tensões no Mar do Sul da China


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LRCA Defense Consulting - 04/12/2025

As Filipinas confirmaram a aquisição de mais seis aeronaves A-29B Super Tucano da Embraer, dobrando sua frota atual e consolidando a relação com a fabricante brasileira. O contrato, assinado em 27 de dezembro de 2024, tem valor estimado em 6,59 bilhões de pesos filipinos (aproximadamente US$ 112 milhões) e marca um passo estratégico no ambicioso programa de modernização militar do país asiático.

A Embraer havia anunciado, em 30/12/2024, um pedido firme de um cliente não revelado para seis aeronaves de ataque leve e treinamento avançado A-29 Super Tucano, equipados com capacidades aprimoradas para realizar missões como interdição aérea, apoio aéreo tático, patrulha marítima, ataque marítimo e outras operações de defesa territorial.  

Substituição de ícones do passado
A cerimônia de descomissionamento das duas últimas aeronaves OV-10 Bronco e dos dois helicópteros de ataque AH-1S Cobra, realizada em 28 de dezembro na Base Aérea Major Danilo Atienza, em Cavite, simbolizou o encerramento de uma era. Os Broncos, que serviram por 33 anos desde 1991, e os Cobras, doados pela Jordânia em 2019, foram fundamentais em operações de contrainsurgência, incluindo a Batalha de Marawi em 2017.

"O OV-10 realizou 88 ataques aéreos durante a Batalha de Marawi, fornecendo apoio aéreo próximo crucial às tropas terrestres que enfrentavam insurgentes do Estado Islâmico e do grupo Maute", destacou a Força Aérea Filipina (PAF) em comunicado oficial.

A aposentadoria dessas aeronaves veteranas abriu espaço para uma geração moderna de plataformas de ataque. Com as novas aquisições, a PAF terá 12 Super Tucanos operacionais, formando um esquadrão completo sob o comando da 15ª Ala de Ataque, baseada em Cavite.

Processo acelerado e justificativas estratégicas
O processo de contratação utilizou a modalidade de aquisição direta, permitida pela Lei de Aquisições Governamentais (RA 12009) para pedidos subsequentes de equipamentos já em operação. A tramitação foi notavelmente rápida: a conferência pré-aquisição ocorreu em 23 de outubro de 2024, seguida pela carta-convite em 28 de novembro, avaliação em 2 de dezembro e emissão do Aviso de Adjudicação em 19 de dezembro.

O valor superior ao primeiro lote – que custou 4,87 bilhões de pesos em 2020 – reflete não apenas a inflação acumulada, mas possíveis melhorias na configuração armamentista e nos sistemas de sensores das novas aeronaves.

Fontes militares consultadas por veículos locais sugeriram que as novas unidades podem incorporar atualizações tecnológicas similares às implementadas pela Força Aérea Brasileira em seu programa de modernização de meia-vida (MLU). Entre as possíveis melhorias estão novos sensores eletro-ópticos, blindagem reforçada, sistemas de proteção contra mísseis e displays de cockpit de ângulo amplo semelhantes aos utilizados no caça Gripen E/F.

As entregas estão programadas para 2026, segundo confirmou a Embraer, que incluiu o pedido em seu backlog do quarto trimestre de 2024.

Contexto geopolítico e estratégia de defesa
A aquisição ocorre em um momento de crescentes tensões no Mar do Sul da China – chamado de Mar das Filipinas Ocidentais por Manila. Sob a presidência de Ferdinand Marcos Jr., o país tem adotado uma postura mais assertiva em relação às reivindicações territoriais chinesas, reforçando alianças tradicionais e acelerando a modernização militar.

Em janeiro de 2024, o presidente Marcos aprovou o plano "Re-Horizon 3", terceira fase do Programa de Modernização das Forças Armadas, com orçamento previsto de US$ 35 bilhões ao longo de uma década. A iniciativa visa transformar as forças armadas filipinas em uma força de defesa credível e multidisciplinar, capaz de responder a ameaças convencionais e assimétricas.

"O programa Re-Horizon 3 concentra-se na melhoria da segurança marítima, vigilância aérea, defesa cibernética e capacidades de comando conjunto", explicou o general Romeo Brawner Jr., chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em declaração oficial.

A compra de Super Tucanos adicionais integra um pacote mais amplo que inclui a duplicação da frota de caças FA-50 sul-coreanos. Em junho de 2025, as Filipinas assinaram um contrato de US$ 700 milhões com a Korea Aerospace Industries (KAI) para a aquisição de 12 novos FA-50 Block 20, que serão entregues até 2030. Com essa compra, a frota filipina de FA-50 também dobrará para 24 unidades.

Super Tucano: versatilidade comprovada
O A-29 Super Tucano, desenvolvido pela Embraer, consolidou-se como uma plataforma versátil para operações de contrainsurgência, apoio aéreo próximo e inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR). A aeronave, operada por 22 forças aéreas ao redor do mundo, é especialmente adequada para teatros de operações assimétricos e ambientes insulares como o arquipélago filipino.

A primeira remessa de seis Super Tucanos chegou às Filipinas em 2020, e a experiência operacional tem sido positiva. Em 2023, a Embraer renovou o contrato de suporte logístico com a PAF, demonstrando a maturidade do programa no país. Em dezembro de 2024, os Super Tucanos filipinos integraram-se pela primeira vez com aeronaves A-10 Warthog da Força Aérea dos Estados Unidos em um exercício de Emprego de Força Dinâmica na Base Aérea de Clark.

Recentemente, a Embraer anunciou o desenvolvimento de capacidades antidrone para o A-29, incorporando novos sensores eletro-ópticos/infravermelhos, data links específicos e armamento de precisão guiado a laser. A modificação responde à crescente ameaça de sistemas aéreos não tripulados em conflitos modernos.

Desafios fiscais e prioridades de longo prazo
Apesar do ímpeto modernizador, analistas apontam desafios fiscais significativos. O orçamento de defesa das Filipinas para 2024 foi de aproximadamente 271,9 bilhões de pesos (US$ 4,65 bilhões), um aumento de 12,3% em relação ao ano anterior. No entanto, alcançar o investimento de US$ 35 bilhões ao longo de uma década exigirá aumentos substanciais e sustentados nos gastos militares.

"O governo precisará aumentar os investimentos significativamente e rapidamente para atingir sua meta. Dez anos é muito tempo e é difícil fazer previsões sobre a década de 2030, mas olhando para a situação fiscal de 2024, a resposta agora é provavelmente não", avaliou reportagem do The Diplomat em maio de 2024.

Mesmo assim, o Departamento de Defesa Nacional tem buscado fontes alternativas de financiamento, e o Congresso filipino tem demonstrado comprometimento com alocações orçamentárias adequadas. Em outubro de 2024, o presidente Marcos sancionou a Lei de Revitalização da Postura de Defesa Autossuficiente, que visa desenvolver a indústria de defesa local e reduzir a dependência de importações.

Implicações regionais
Para especialistas em defesa, a expansão da frota de Super Tucanos representa um avanço significativo, ainda que a partir de uma base relativamente fraca. "A Força Aérea Filipina tem sido historicamente uma das mais fracas da região. Sua capacidade é menor do que aquela que defendia o país durante a Guerra do Pacífico em 1942. Então, essa capacidade adicional é um salto significativo, mas a partir de uma base baixa", observou Malcolm Davis, especialista em defesa da China no Australian Strategic Policy Institute, em entrevista ao Breaking Defense.

Davis avaliou que, embora os Super Tucanos e os FA-50 não representem uma ameaça direta aos caças mais avançados da China, como o J-20, eles complicam o planejamento operacional de Pequim e melhoram a postura defensiva filipina em cenários de baixa intensidade.

A escolha por plataformas como o Super Tucano reflete uma estratégia pragmática: aeronaves robustas, de operação relativamente simples e custo acessível, ideais para missões internas de vigilância e ataque leve, além de treinamento avançado. Com entregas previstas para 2026, as Filipinas dão mais um passo na consolidação de capacidades de defesa aérea adequadas aos desafios do século XXI.

Saiba mais:

- A-29 Super Tucano em configuração de patrulha marítima armada (MPA): a novidade trazida pela Embraer 

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