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12 julho, 2020

Make in Índia só é viável com produção em massa e exportação

Kalashnikov AK-203 na configuração básica russa, que inclui uma coronha fixa e trilho Picatinny, ao contrário do próximo modelo padrão indiano (Fonte da imagem: Kalashnikov)


*LRCA Defense Consulting, com The Economic Times - 12/07/2020

Make in Índia só é viável com produção em massa e exportação
O impasse relatado abaixo, envolvendo a joint venture (JV) indorussa para produzir o fuzil AK-203 (novo fuzil padrão para as FFAA indianas) na Índia, é sintomático da questão maior que assola o programa Make na Índia - a criação de novas instalações de armas custa muito, aumentando o custo das armas fabricadas no país e tornando-as mais caras que as importações diretas.

No entanto, esses custos podem ser reduzidos a longo prazo pela produção em massa e pela busca de oportunidades de exportação, como é o caso da JV entre a Taurus Armas e o Jindal Group firmada em janeiro, onde o propósito é produzir cerca de meio milhão de fuzis Taurus T4 e mais uma outra grande quantidade de pistolas para equipar as foças armadas, paramilitares e policiais do país, partindo também para a exportação.

Impasse na fabricação do fuzil AK-203
O plano indorusso de fabricar fuzis de assalto em Amethi [dentro do programa Make in India] perdeu outro marco importante com as diferenças de preços e a proibição de viagens impostas devido à pandemia do Covid-19, tornando altamente improvável que a fábrica inicie suas operações este ano.

De acordo com o plano, a joint venture OFB-Kalashnikov chegaria a um preço justo pela instalação e produção de quase 670.000 fuzis AK-203 [calibre 7,62 x 39mm] até o final de maio. Essa decisão foi crucial, pois havia planos oficiais para iniciar o trabalho na fábrica até o final deste ano.

Uma nova proposta de preço deveria ser apresentada, mas os termos comerciais não puderam ser acordados, dada a natureza complexa do projeto que envolve a transferência completa de tecnologia e a fabricação de fuzis na Índia para as forças armadas, bem como para possíveis exportações no futuro.

Além de seu significado político, a fábrica deve gerar pelo menos 200 novos empregos, incluindo os de especialistas, e seria projetada para produzir mais de 70.000 fuzis AK 203 por ano. Também se espera que promova um ecossistema maior de fornecedores, pois vários componentes serão terceirizados para MPME em Uttar Pradesh como parte do plano do Corredor de Defesa.

O OFB [Ordnance Factory Board - holding de 41 fábricas governamentais de armas] está passando por uma crise depois que o governo anunciou que seria reestruturado e corporativizado nos próximos meses, como parte de um conjunto maior de reformas para o setor de manufatura de defesa.

A ordem de fabricar um total inicial de 670,00 rifles Kalashnikov AK 203 para o Exército indiano está em discussão há mais de um ano. O projeto conjunto é uma alta prioridade para ambas as nações, com o Primeiro Ministro Modi e o Presidente Vladimir Putin conhecidos por terem tomado uma iniciativa pessoal para levá-la adiante o mais cedo possível.

É provável que o número aumente para pelo menos 750.000 depois, à medida que os requisitos de outras forças forem adicionados à ordem. De acordo com o plano, a transferência completa de tecnologia de todos os componentes será alcançada durante o estágio inicial da produção. Esses rifles substituirão os rifles de assalto INSAS [obsoletos e produzidos em fábricas estatais do OFB] atualmente em serviço.

Enquanto as negociações continuam, há exemplos de projetos colaborativos indo-russos que não decolaram, mesmo após a assinatura de acordos nos níveis mais altos. O plano de desenvolver em conjunto um caça de quinta geração, por exemplo, foi arquivado após anos de trabalho, depois que a Força Aérea não deu prosseguimento. Da mesma forma, há cinco anos há discussões para montar uma fábrica para produzir helicópteros utilitários leves Kamov KA 226T na Índia, mas o projeto não passou para a fase de assinatura do contrato.

Reflexos para a joint venture Taurus Armas / Jindal Group
Embora esta parceria não tenha problemas com relação a preços e não envolva diretamente uma entidade governamental (como a JV indorussa), já que a empresa brasileira entrará somente com a tecnologia e sua parceira é um poderoso grupo privado, a questão da pandemia também poderá atrasar o cronograma inicial de produção, previsto para o último trimestre do ano, transferindo-o para o final do primeiro trimestre de 2020 ou para o início do segundo.

Por outro lado, o impasse entre Índia e Rússia na concretização final da JV para produzir o AK-203, principalmente se gerar um atraso maior do que o esperado (ou até não se concretizar), poderá beneficiar a JV brasileira, haja vista que a Índia terá maior urgência para equipar suas FFAA, substituindo parte de seu obsoleto armamento leve pelos modernos fuzis e pistolas da Taurus.




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