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21 dezembro, 2021

Embraer (EMBR3): com acordo da Eve melhor do que o esperado, empresa coroa salto de mais de 160% da ação em 2021


*InfoMoney - 21/12/2021

No apagar das luzes de 2021, a Embraer (EMBR3) coroou um ano que já caminhava para ser bastante positivo para a ação da companhia com uma notícia que era bastante esperada pelos investidores, fazendo os ativos EMBR3 dispararem mais de 17% na máxima do dia e de mais de 160% no acumulado do ano. Às 14h15 (horário de Brasília), as ações subiam 17,33% na B3, a R$ 23,37.

A Eve Urban Air Mobility, unidade da Embraer de mobilidade aérea urbana, anunciou a fusão com a Zanite Acquisition no ano que vem, em mais um acordo em que startups de táxis voadores buscam capital no mercado aberto.

A operação inclui US$ 237 milhões em capital da Zanite, uma empresa de aquisição de propósito específico (SPAC, na sigla em inglês), e US$ 305 milhões por meio de uma colocação privada em ações públicas, instrumento conhecido como PIPE (sigla em inglês para “Private Investment in Public Equity), que conta com vários investidores. Entre eles a Embraer, com US$ 175 milhões, e US$ 105 milhões de um consórcio que inclui BAE Systems, Rolls-Royce e duas companhias aéreas regionais dos EUA, Republic Airways e SkyWest.

Com alguns desses investidores, a Embraer celebrou acordos para protegê-los com relação a variações de até US$ 30 milhões do valor de seus compromissos de investimento, mediante outorga de créditos para compra de peças ou pagamento em caixa pela transferência de ações da nova empresa. Assim, a companhia terá caixa inicial de US$ 512 milhões.

A Embraer, por meio de sua subsidiária Embraer Aircraft Holding, Inc., permanecerá como acionista majoritária, com uma participação acionária de aproximadamente 82% na Eve Holding após o fechamento do negócio, incluindo seu investimento no PIPE.

Após a conclusão da transação, a Zanite mudará seu nome para Eve Holding, Inc. e será listada na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) sob o ticker “EVEX” e “EVEXW”.

A combinação de negócios atribui à Eve um valor implícito de US$ 2,4 bilhões. Como, após o fechamento da transação, e assumindo que não haja nenhum resgate pelos acionistas da Zanite, a Eve terá aproximadamente US$ 512 milhões em dinheiro, resulta-se em um valor patrimonial pro forma total de aproximadamente US$ 2,9 bilhões.

As negociações para a fusão com a SPAC estavam no radar dos investidores, desde junho desde que foi publicada uma reportagem pela Bloomberg. Mas o valor atribuído na época era de US$ 2 bilhões. Ou seja, o valor efetivado de US$ 2,4 bilhões é 20% maior do que divulgado em meados de 2021, ajudando a impulsionar ainda mais os ativos.

A fusão coloca a companhia ainda mais no mapa das líderes em inovação e disrupção na mobilidade urbana. Cabe ressaltar que, nesse mesmo dia em que a fusão foi anunciada, vários anúncios foram feitos. A Embraer anunciou até 500 encomendas de aeronaves elétricas da Eve de pouso e decolagem verticais (eVTOL), com as encomendas feitas por Azorra (até 200 unidades), Republic Airways (até 200 unidades) e SkyWest (100 unidades).

Novas frentes se abrem
O eVTOL é um tipo de veículo que se assemelha muito a um helicóptero (que é definido pela sigla VTOL), mas tem já como grande diferencial ser totalmente elétrico. Mais do que isso, a ideia futurista desses veículos também trazem comparações com um grande drone, já que parte de seu projeto também já é focado em ele não ter um piloto.

O interesse de muitas empresas pelo veículo é por conta do custo de compra e de operação. A expectativa é de que, quando houver maior produção, em escala, o eVTOL custará cerca de 30% menos do que um helicóptero, além de ter uma manutenção considerada mais simples.

Desta forma, saindo na frente nessa operação, a Embraer tem conseguido provar cada vez mais o seu potencial após o forte baque das suas ações em 2020, ano que foi marcado pela desistência da Boeing em fazer uma joint venture com a companhia brasileira. Além disso, ela viu a sua situação financeira piorar bastante no ano passado com o estouro da pandemia do coronavírus, que paralisou sua produção e fez despencar os pedidos por novas unidades conforme os voos no mundo todo foram cancelados.

Mas o último resultado da companhia, por exemplo, referente ao terceiro trimestre e divulgado no início de novembro, animou os investidores, com o destaque ficando para as medidas de eficiência operacional, com a Embraer registrando o primeiro período do terceiro trimestre de geração de caixa livre em 10 anos, historicamente com sazonalidade ruim para a Embraer, mesmo com volume de entregas menor. A geração de caixa livre ficou em R$ 123,3 milhões. Além disso, os impactos relacionados à pandemia têm diminuído, aumento as expectativas de que as companhias aéreas renovem sua frota

Na ocasião, o Bradesco BBI destacou: “a Embraer tem otimizado com sucesso seu legado de negócios, melhorando sua estrutura de custos e focando na geração de fluxo de caixa. Isso deve posicionar melhor a empresa para se beneficiar da recuperação na aviação comercial. Além disso, a Embraer tem diversas oportunidades de crescimento advindas de seus novos produtos, como as aeronaves eVTOL e turboélice”, apontam os analistas do BBI.

Já nesta terça-feira, em breve comentário após ser confirmado o acordo de combinação de negócios entre a Eve e a Zanite, o BBI destacou ver que a transação pode materializar US$ 13,00 por ADR (na prática, papéis da companhia negociados na Bolsa de Nova York) ERJ ou R$ 18,70 por ativo EMBR3 negociado na B3.

Atualmente, os analistas do banco possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado)  para os ativos da companhia, com preço-alvo de US$ 26 por ADR, ou um potencial de valorização de 87% em relação ao fechamento da véspera.

Eles, por sinal, elevaram a recomendação justamente em junho, com o anúncio das negociações com a SPAC, apontando que essa operação não faria apenas só parte da estratégia da Embraer de investir em novos produtos, mas também de compartilhar parte do risco de desenvolvimento.

Os analistas também destacaram que os pedidos feitos para a Eve (a Embraer atualizou os números, destacando que a empresa já recebeu ordens de cerca de US$ 5 bilhões  de 1.735 aeronaves por 17 clientes, que vão de empresas de leasing, operadores de helicópteros e empresas de compartilhamento de transporte) devem reduzir significativamente o risco do projeto e podem atrair investidores para financiar o desenvolvimento desta aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical que deve entrar em serviço até 2026. A Embraer tem experiência comprovada no desenvolvimento de produtos e a associação com a Zanite e outras parcerias estratégicas potenciais ajudam a financiar o projeto eVTOL, avaliaram.

Francisco Gomes Neto, presidente-executivo da Embraer, destacou que o caixa da Eve deve ser suficiente para cobrir os custos de desenvolvimento da aeronave elétrica até sua certificação, esperada para 2025.

Gomes Neto espera que a Eve tenha vários locais de produção porque terá que fazer entregas a clientes em vários continentes, mas os locais das fábricas ainda não foram escolhidos. O presidente-executivo projeta uma receita de US$ 4,5 bilhões da Eve em 2030, e uma participação de 15% no mercado global de mobilidade urbana aérea.

A fase de produção provavelmente será financiada pela emissão de dívida, afirmou ainda o co-presidente-executivo da Eve Jerry DeMuro, ex-presidente da BAE Systems. O outro co-presidente-executivo da Eve é Andre Stein, executivo da Embraer por mais de duas décadas.

A Embraer fornecerá infraestrutura para a Eve, incluindo a alocação de engenheiros de acordo com a necessidade dos projetos, locais para teste e simuladores de voo. “Isso permitirá reduzir os custos de produção”, disse DeMuro em entrevista.

O Morgan Stanley destacou que o valor atribuído foi substancialmente acima do que ele projetava, mas também destacou que o caixa poderia ser baixo em relação ao capital total necessário para desenvolver o projeto. “Também vale a pena mencionar que há sempre o risco de ajustes nos termos dado que a transação ainda está pendente de aprovação dos acionistas da Zanite”, avaliaram os analistas, notando que já houve casos parecidos com ajustes significativos.

Dito isso, destaca a reação positiva das ações uma vez que não havia garantia até então de que a negociação com a SPAC chegaria à fase de assinatura e a Embraer, pelo que os analistas tinham entendido, não tinha um plano B claro para financiar o projeto.

“Além disso, embora não seja uma surpresa para nós, também fomos encorajados ao ver que Eve será capaz de alavancar a infraestrutura, colaboradores e conhecimento da Embraer para prosseguir com o desenvolvimento de seu eVTOL”, ressaltaram. A recomendação dos analistas do Morgan para o papel é equalweight (exposição em linha com a média do mercado), com preço-alvo de US$ 20 para o ADR (ou upside de 44% em relação ao fechamento da véspera).

De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de doze casas que cobrem o ADR, 7 recomendam compra, enquanto 5 possuem recomendação neutra, com preço-alvo médio de US$ 21,82, um potencial de alta de 57% em relação ao fechamento da véspera.

Com a assinatura de acordo para a fusão da Eve com a SPAC, a expectativa é de que a Embraer avance mais em suas novas frentes de negócios, mas sem gerar preocupação sobre os outros negócios, mais “tradicionais”, da companhia. Após um 2021 de recuperação, analistas têm mostrado mais otimismo com a companhia.

Conforme destacou a Levante de Investimentos em relatório recente, a preocupação com o alto endividamento e com o consumo agressivo de caixa pode ter passado, “de modo que o mercado agora olha a Embraer como um dos principais players do setor de aviação e, agora, de inovação na mobilidade urbana e transporte aéreo”.

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