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14 outubro, 2023

Como que Israel - o país mais ameaçado do mundo - foi apanhado de surpresa?


*LRCA Defense Consulting - 14/10/2023 (atualizado em 15/10 às 11h59)

No dia 07 de outubro, Israel sofreu um ataque sem precedentes. O grupo terrorista islâmico Hamas, na operação ‘Tempestade Al-Aqsa’, atravessou as fronteiras israelitas por todos os meios possíveis: marítimo, terrestre e aéreo. Os fundamentalistas islâmicos destruíram infraestruturas fronteiriças e penetraram em Israel com jipes, motos e paragliders.

O grupo terrorista islâmico infiltrou-se no sul de Israel e invadiu os kibutzim (comunidade onde as pessoas vivem e trabalham juntas voluntariamente, numa base não competitiva). As imagens ilustram o clima de terror que se instalou perante a barbaridade dos atos cometidos pelos terroristas contra civis, incluindo o assassinato de idosos e crianças, o estupro de mulheres e o sequestro de cerca de 150 pessoas de diversas nacionalidades. 

Terroristas tripulando paragliders atravessaram também a fronteira e levaram a cabo uma carnificina num festival de música, matando a sangue frio cerca de 260 pessoas, a maioria jovens. O ataque foi conduzido um dia depois do quinquagésimo aniversário da guerra do Yom Kippur. 

Não há memória de um ataque como o que o Hamas levou a cabo esta semana a partir da Faixa de Gaza. Israel foi apanhado completamente de surpresa e mais de mil pessoas foram mortas brutal e friamente, levando ao maior número de judeus assassinados desde o Holocausto.

Mas como que Israel, um país com um poderio militar superior e com um dos serviços de inteligência (e de fronteira) até então considerado como dos mais avançados do mundo, foi apanhado de surpresa? Como a mobilização do Hamas passou despercebida pelas autoridades e governos diretamente interessados?

Na verdade, segundo a CNN, a Inteligência dos Estados Unidos teria feito ao menos duas avaliações baseadas parcialmente em informações fornecidas por Israel, alertando o governo de Joe Biden sobre risco de conflito na região nas semanas anteriores ao ataque do Hamas, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.

Uma atualização feita em 28 de setembro alertava, com base em múltiplos fluxos de informações, que o grupo radical islâmico Hamas estava preparado para intensificar os ataques com foguetes através da fronteira. Já um telegrama de 5 de outubro da CIA, a agência de Inteligência dos EUA, alertou para a possibilidade crescente de violência por parte do Hamas. Depois, em 6 de outubro, um dia antes do ataque, autoridades dos Estados Unidos compartilharam informações de Israel indicando atividade incomum por parte do Hamas – o que agora fica claro: um ataque era iminente.

Por outro ângulo, as imagens veiculadas mundo afora anteriormente, mostrando cidadãos armados andando pelas ruas de cidades de Israel, ao lado da falsa noção de que cada israelense que prestou o serviço militar tinha um fuzil em casa para o caso de uma rápida mobilização, mostraram não ser verídicas. A realidade é que a posse e o porte de armas sofreram drásticas restrições no país, devido aos constantes roubos. Em consequência, a pronta defesa que os cidadãos israelenses poderiam oferecer contra os terroristas do Hamas, desde que dispusessem de armas adequadas, praticamente não aconteceu.

Hipóteses
Para tentar entender como Israel foi surpreendido, são esboçadas três hipóteses, sem prejuízo de outras que podem ter colaborado isolada ou conjuntamente para a falta de um alerta e a adoção oportuna das consequentes medidas de defesa necessárias.

Com relação aos relatórios do serviço secreto americano, via de regra compartilhados com Israel, é provável que tenham sido completamente subestimados pelos dois países, pois não eram consistentes e não traziam grandes novidades. “O problema é que nada disso é novo. Isso é algo que tem sido historicamente a norma entre o Hamas e Israel. Acho que o que aconteceu é que todos viram esses relatórios e pensaram: ‘Sim, claro. Mas sabemos como será isso'”, ponderou uma das fontes familiarizadas com o assunto para uma reportagem da CNN.

Por outro lado, o apoio às ações armadas, seja por meio de informações sobre os israelenses, seja por eventuais facilitações às operações, pode ter tido origem nos palestinos que trabalham no país. “Nunca se pensou. O atual governo cometeu um erro, flertando com o Hamas e permitindo a entrada de 20 mil palestinos para trabalhar. Houve uma colaboração de fato”, explicou o jornalista Henrique Cymerman em entrevista ao portal Nascer do SOL. 

Por fim, esboça-se agora o cenário em que o Hamas, com o decisivo auxílio do governo do Irã, teria realizado um massivo e coordenado ataque cibernético contra os sistemas eletrônicos de alertas presentes nas fronteiras de Israel, desativando-os parcial ou totalmente enquanto suas tropas avançavam por terra, mar e ar. Obviamente, será muito difícil que Israel admita publicamente este cenário, pois tornaria evidente o seu despreparo nessas lides.

Seja como for, as hipóteses atuais podem explicar o desleixo governamental para com os relatórios dos serviços secretos (de Israel e dos EUA) e até a surpreendente e não detectada infiltração pelas fronteiras israelenses de mais de mil terroristas do Hamas.

No entanto, ainda não há nenhuma explicação razoável para o fato de a mobilização que precedeu o ataque ter passado despercebida por quem nela devia estar atento, haja vista que envolveu a reunião de meios, a preparação, o treinamento e o deslocamento inicial de mais de mil combatentes que utilizaram carros, motocicletas, paragliders e barcos.

Conclusões
Assim como a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia está modificando substancialmente as táticas e as estratégias militares, é bastante provável que o ataque do Hamas contra Israel vá mudar também os atuais conceitos de prevenção e de guerra contra o terrorismo, especialmente por países que tenham esse problema em suas fronteiras.

O fato também serve de alerta às Forças Armadas de alguns países que, neste século e por motivos ideológicos atrelados a eventuais governantes, deixaram de ministrar com profundidade, nas escolas de formação e nos corpos de tropa, as estratégias, táticas e técnicas de contraguerrilha a seus efetivos militares.

Por fim, países que tenham histórico de terrorismo em suas fronteiras ou que lutam contra facções do crime organizado fortes e bem armadas, talvez tenham que repensar as restrições ao armamento de seus cidadãos. Como foi dito em outra matéria, terroristas e outros bandidos ""não querem tiros vindo em sua direção. Eles querem alvos indefesos e fáceis".

Saiba mais:
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