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13 junho, 2025

Argélia e Marrocos: Su-57 e F-35 frente a frente no Norte da África? Embraer C-390 poderá estar presente

Imagem meramente representativa

*LRCA Defense Consulting - 13/06/2025

A Rosoboronexport, agência de exportação russa, confirmou em novembro de 2024, durante o Zhuhai Airshow, a assinatura do primeiro contrato de exportação do seu caça de quinta geração Su-57E, e, em fevereiro de 2025, durante o Aero India, reiterou que as entregas começariam este ano.

O contrato, supostamente assinado em 2021, prevê a entrega de 14 caças Su-57E, com seis unidades em 2025, seis em 2026 e duas em 2027. Pilotos e equipes de manutenção argelinos já estão em treinamento na Rússia, indicando que as entregas são iminentes. A aquisição é vista como uma resposta à modernização das forças aéreas de países vizinhos, como o Marrocos, que está atualizando seus F-16 para o padrão Block 70 e pode adquirir o F-35.

Por outro lado, há fortes indicações de que o vizinho Marrocos esteja avançando para adquirir caças F-35 Lightning II dos Estados Unidos. Notícias de 2024 e 2025, incluindo do jornal israelense Identité Juive e de outras publicações especializadas em defesa, como Times Aerospace e Military Africa, afirmam que Marrocos está próximo de se tornar o primeiro país árabe e africano a adquirir esses caças furtivos de quinta geração. O acordo, estimado em cerca de US$ 17 bilhões ao longo de 45 anos, inclui a compra e manutenção de 32 unidades do F-35. Do ponto de vista de Marrocos, isso representaria um salto considerável em termos de capacidades.

Ainda do lado marroquino, dois novos Gulfstream 350 ISRs, usados ​​em missões de reconhecimento, também estariam em desenvolvimento. "Integrados pela L3 Systems com os sistemas israelenses da Elta, em sua fábrica em Greenville, Texas, e com os dois novos satélites espiões israelenses, os Gulfstream 350 ISRs permitiriam ao Marrocos monitorar seu vizinho e rival geopolítico, em particular a Argélia."

Se o Marrocos tem os F-16 e poderá ter os F-35, a Argélia tem os Su-57, os Sukhoi Su-30 (havendo informes que teria comprado Sukhois Su-34 ou 35) e os MIG-29. O marroquino tanque Abrams enfrenta o argelino T-90S e o sistema antiaéreo Patriot está sendo contrabalançado pelo S-400 Triumf. Para além disso, Argel tem uma vantagem no domínio marítimo - onde, por exemplo, tem até seis submarinos mobilizados, contra nenhum de Marrocos (embora haja rumores de que o reino Alawi planeja adquirir tais embarcações em breve) - e, em termos quantitativos, possui, no geral, mais equipamentos mobilizados do que o seu vizinho.

Assim, a aquisição do caça russo Su-57 pela Argélia e o provável anúncio da compra do F-35 pelos Marrocos representam um novo estágio da rivalidade estratégica entre esses dois países do Magreb, com implicações relevantes tanto regionais quanto geopolíticas.

Implicações geopolíticas
A aquisição do Su-57 pela Argélia representa um alinhamento estratégico com a Rússia e, indiretamente, com o bloco China-Irã, sendo um desafio aberto à hegemonia tecnológica e política dos EUA e da OTAN na região do Magreb.

A compra reforça a postura defensiva/agressiva da Argélia frente ao Marrocos e aos seus aliados ocidentais, com o uso do Su-57 - uma aeronave versátil e poderosa - sendo um elemento de dissuasão no Sahel.

A se confirmar a aquisição dos F-35 pelo Marrocos, o fato reforçará o alinhamento estreito do país com os EUA e Israel, além de consolidá-lo como membro informal do eixo ocidental no Norte da África. O o Marrocos, apostando  na superioridade tecnológica e furtividade do F-35, integra-se mais à estrutura de segurança ocidental.

Se realmente for efetivada, a venda marcará a confiança estratégica americana e de Israel no Marrocos como parceiro estável na contenção da Rússia, Irã e mesmo da China na região, podendo alterar o equilíbrio militar regional e aumentar a pressão sobre a Argélia. 

Aspectos econômicos e logísticos
O Su-57 é mais barato por unidade que o F-35, mas vem com desafios logísticos, sobretudo devido às sanções sobre a Rússia, que podem impactar peças de reposição, manutenção e suporte técnico. Tais aeronaves são interoperáveis com sua frota de Su-30 e MIG-29 (a compra de Su-34 e/ou Su-35 não foi confirmada).

O F-35, embora caro, faz parte de uma rede integrada global, com acesso contínuo a upgrades e interoperabilidade com aliados da OTAN que estão próximos, bem como com suas aeronaves F-16. Além isso, sua Força Aérea poderá dispor de mais do que o dobro de caças de quinta geração em relação à vizinha Argélia. Tais fatos representam uma vantagem significativa para o Marrocos.

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Impacto regional e equilíbrio militar
A dinâmica de uma corrida armamentista no Magreb amplia o risco de escalada militar entre Argélia e Marrocos e do risco de confronto indireto ou por procuração, sobretudo em áreas instáveis como o Saara Ocidental, Mali e Líbia.

Os países vizinhos (Tunísia, Mauritânia, Níger) podem ser pressionados a tomar partido ou modernizar suas próprias capacidades defensivas.

Por fim, o fato pode aumentar a militarização da costa mediterrânea africana, o que também é relevante para a Europa.

Declaração estratégica de alinhamento geopolítico
A compra do Su-57 pela Argélia e do F-35 pelo Marrocos é mais que uma simples modernização militar — é uma declaração estratégica de alinhamento geopolítico. 

A rivalidade tradicional entre os dois países está agora sendo espelhada em uma competição de blocos: Rússia vs. OTAN. O Magreb torna-se, assim, um palco importante de influência das grandes potências e potencial ponto de tensão regional nos próximos anos.

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Embraer C-390 como parte da modernização militar do Marrocos
Em julho de 2023, o portal marroquino Hespress, publicou a matéria "Marrocos conta com o Brasil na indústria militar", divulgando a intenção do país em fabricar submarinos tipo "Riachuelo", as aeronaves Embraer C-390 Millennium e A-29 Super Tucano, mísseis brasileiros antinavio guiados por radar e até o lançador de mísseis brasileiro Astros.

De lá para cá, houve muitas evoluções, especialmente com relação à Embraer. A empresa já visitou recentemente o Marrocos para avaliar a cadeia de suprimentos aeroespacial do país, iniciativa que seguiu a um Memorando de Entendimento (MoU) assinado entre o governo do Marrocos e a Embraer para explorar potenciais projetos conjuntos. 

A cooperação em defesa entre Marrocos e Brasil não é nova. Em 2023, o Congresso brasileiro ratificou um acordo-quadro de cooperação em defesa, assinado em 2019, que promove exercícios militares conjuntos, coordenação em sistemas de equipamentos, pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico e aquisição de produtos e serviços de defesa. Este acordo também facilita a troca de informações, tecnologia e conhecimento entre as forças armadas de ambos os países.

Em 2024, a aliança foi fortalecida com a criação de um posto de adido militar na Embaixada do Marrocos em Brasília e o reconhecimento pelo Brasil de um novo mapa oficial marroquino que inclui o Saara.

No dia 04 de outubro de 2024, o grupo de "países usuários" do Embraer C-390 esteve reunido na sede da empresa para compartilhar experiências da FAB e de todos os outros primeiros usuários do C-390 Millennium. Além disso, fornecedores como Knight Aerospace e Pratt & Whitney compartilharam suas ideias. No slide onde são mostrados os "usuários", ao lado de Brasil, Portugal, Hungria, Holanda, Áustria, Coreia do Sul e República Tcheca, apareciam países que ainda não adquiriram a aeronave: Marrocos, Emirados Árabes Unidos e Chile. 

Em novembro de 2024, Arjan Meijer, Presidente e CEO da Embraer Aviação Comercial, concedeu uma entrevista ao portal Le360 revelando os motivos da Embraer para diversas iniciativas que se propõe a ter no Marrocos como: Mobilidade Aérea Urbana, Centro de MRO (manutenção, reparação e revisão), formação de excelência e estabelecimento de "uma colaboração industrial significativa no setor de defesa".

O CEO da Embraer afirmou que "O Marrocos é um parceiro extremamente importante e queremos levar as nossas relações para o próximo nível. Estamos atualmente em negociações com as FAR que desejam adquirir a nossa aeronave militar C-390, uma aeronave que atenderia perfeitamente às necessidades de Marrocos se o país pretende adquirir uma aeronave de transporte tático de nova geração".

Fontes especializadas marroquinas já dão como certa a aquisição do KC-390 Millennium pelas Forças Armadas Reais Marroquinas, estabelecendo uma crescente aliança que vai além da simples compra de equipamentos militares.

Assim, tais fontes acreditam que essa aquisição não será um evento isolado, mas sim mais um passo na consolidação de uma aliança estratégica transatlântica entre Marrocos e Brasil, com implicações significativas para a geopolítica regional e o desenvolvimento da indústria de defesa em ambos os países. Esta parceria, baseada em interesses econômicos e estratégicos compartilhados, promete um futuro de cooperação e benefícios mútuos em ambos os lados do Atlântico. 

Saiba mais:
Marrocos, a nova potência militar do Magreb, pode ser uma oportunidade ímpar para a Indústria de Defesa brasileira
- Rabat está modernizando rapidamente seu exército, aproximando-se cada vez mais dos padrões ocidentais e equiparando-se às capacidades argelinas 

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