*Por Jorgito Stocchero, via LinkedIn - 12/08/2025
Os conflitos militares contemporâneos se desenvolvem simultaneamente em múltiplos domínios, integrando capacidades na terra, ar, mar, espaço e ciberespaço. As Guerras na Rússia-Ucrânia e no Oriente Médio demonstraram a eficácia da combinação de capacidades de alta tecnologia — tais como sistemas não tripulados, plataformas autônomas e ferramentas de guerra eletrônica — com o emprego ágil de tropas. As novas tecnologias aceleram a tomada de decisões e permitem ações rápidas e decisivas. Por exemplo, na Ucrânia, o uso de drones para vigilância e ataques precisos integrou dados de sensores em tempo real com inteligência artificial, permitindo que forças menores neutralizassem ameaças numericamente bem superiores.
Para tal, o ciclo sensor-to-shooter (do sensor ao atirador) deve ser fechado o mais rapidamente possível. Iniciando com a detecção eficiente de ameaças, o processamento de inteligência e a execução de ataques precisos — frequentemente utilizando enxames de drones, munições guiadas (possivelmente assistidas por IA) e sistemas de guerra eletrônica para perturbar comunicações e defesas inimigas.
Essa abordagem é perfeitamente exemplificada por uma unidade especial das Forças de Defesa de Israel, a Unidade 888 Refaim, ou fantasma, em hebraico. Operando à frente das forças convencionais para detectar, atacar e destruir ameaças, a Refaim atua em múltiplas dimensões, seja contra alvos terrestres, navais, aéreos, espaciais e até mesmo cibernéticos. Sua agilidade, independência e uso maciço de sistemas autônomos permitem adaptações rápidas para vencer células inimigas. Seu apelido de fantasma advém que muitas vezes sua presença só é percebida quando o alvo é atingido, por exemplo, por um drone kamikaze.
A guerra eletrônica, por sua vez, está cada vez mais presente no campo de batalha, desafiando estruturas de comando tradicionais. É utilizada tanto para proteger redes e radares, como para interferir em sistemas inimigos e garantir a eficácia do ciclo sensor-to-shooter. A operação Midnight Hammer, desencadeada pelos Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã, utilizou técnicas de interferência eletrônica em todo o espectro eletromagnético, além do emprego de aeronaves especializadas de guerra eletrônica como o EA-18G Growler, para desestabilizar os sistemas de radar e comunicação iranianos, permitindo que os bombardeios B-2 penetrassem no espaço aéreo inimigo sem serem detectados e atingissem seus alvos com precisão.
Em suma, a integração de sensores, guerra eletrônica e sistemas autônomos é essencial para resultados efetivos nos combates modernos, permitindo aos comandantes múltiplas opções estratégicas e táticas, criando dilemas para adversários. Entretanto, como evidenciado nos conflitos em curso, a tecnologia deve ser incorporada a tropas bem treinadas e com doutrina militar atualizada. A tecnologia é um multiplicador do poder de combate e não uma substituição das tropas.
*Jorgito Stocchero é Diretor de Negócios na AEL Sistemas, com foco em Sensores e Guerra Eletrônica, com mais de 30 anos de experiência na área de defesa. Doutor em Computação pela UFRGS, com expertise em sistemas C4ISR. É engenheiro de Comunicações pelo IME e atua na liderança de projetos estratégicos que envolvem sensores, integração de dados e consciência situacional para aplicações militares.
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