*LRCA Defense Consulting - 08/12/2025
Em uma demonstração significativa de cooperação interforças e desenvolvimento tecnológico nacional, o Centro de Avaliações do Exército (CAEx) realizou no último dia 4 de dezembro testes pioneiros de uma munição 105mm com tecnologia Base Bleed, desenvolvida em parceria com a Marinha do Brasil. A iniciativa representa um marco na busca pela independência tecnológica do país no setor de defesa.
Colaboração entre Forças Armadas e academia
Os testes, conduzidos no Campo de Provas da Marambaia, reuniram especialistas de diversas instituições militares e civis. Participaram da atividade a Subseção de Rastreio, Eletrônica e Comunicações do CAEx, a Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM), o Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro (CTMRJ), o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), o Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON).
O evento integra um projeto ambicioso de pesquisa e desenvolvimento focado em modelagem aerotermodinâmica, desenvolvimento de propelentes, aviônica e ferramentas experimentais para testes de projéteis de alcance estendido e foguetes. O trabalho conta com colaboração de universidades nacionais e internacionais, incluindo o Instituto Militar de Engenharia (IME), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Instituto Fraunhofer, da Alemanha.
O que é a tecnologia Base Bleed?
A tecnologia Base Bleed representa uma solução inovadora para aumentar o alcance de projéteis de artilharia sem a necessidade de propulsão adicional. O sistema utiliza um gerador de gás instalado na base do projétil que, ao ser acionado durante o voo, preenche a área de baixa pressão atrás da munição, reduzindo significativamente o arrasto aerodinâmico.
Diferentemente de projéteis assistidos por foguete, que fornecem impulso adicional, o Base Bleed atua melhorando o coeficiente aerodinâmico do projétil. Essa abordagem é particularmente eficaz para artilharia supersônica de longo alcance, onde o arrasto da base domina a resistência ao avanço.
Na prática, munições convencionais de 105mm alcançam cerca de 16 quilômetros de distância. Com a tecnologia Base Bleed, esse alcance pode ser estendido para até 21 ou 23 quilômetros, ampliando significativamente a capacidade operacional das forças de artilharia.
Essa tecnologia, já dominada por países da OTAN, tem aplicações diretas em obuseiros e canhões de 105 mm, como os utilizados no Leopard 1A5BR e em sistemas de artilharia de campanha do Exército Brasileiro.
Financiamento e importância estratégica
O projeto recebe financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e, conforme mencionado por pesquisador do IPqM nos comentários da notícia original, também da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio do Programa Pró-Defesa (Edital nº 36/2023).
A iniciativa reflete o compromisso do Brasil com o fortalecimento da Base Industrial de Defesa e a redução da dependência externa em tecnologias militares críticas. O domínio nacional dessa tecnologia é estratégico não apenas para ampliar a capacidade operacional das Forças Armadas, mas também para gerar conhecimento científico e tecnológico que pode ter aplicações em outros setores.
Histórico de desenvolvimento nacional
Este não é o primeiro esforço brasileiro em munições de alcance estendido. O país já possui experiência no desenvolvimento de munições para diferentes calibres, incluindo projetos em andamento para morteiros de 120mm em parceria com o Exército dos Estados Unidos, além de diversos programas da Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) para produção nacional de munições.
O Instituto de Pesquisas da Marinha, fundado em 1959, tem sido protagonista em diversos projetos de desenvolvimento tecnológico para a defesa nacional, atuando nas áreas de armamento, guerra eletrônica, acústica submarina, controle e monitoração, materiais e navegação inercial. O instituto mantém parcerias com universidades, empresas e centros de pesquisa civis e militares, consolidando-se como referência em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico de interesse da Marinha.
Perspectivas futuras
O sucesso desses testes iniciais abre caminho para o aperfeiçoamento contínuo da tecnologia e sua eventual incorporação ao arsenal das Forças Armadas brasileiras. A experiência adquirida no desenvolvimento de munições Base Bleed de 105mm poderá ser aplicada em projetos futuros envolvendo calibres maiores, ampliando o portfólio tecnológico nacional.
A colaboração entre Exército e Marinha, juntamente com instituições acadêmicas e de pesquisa, demonstra um modelo eficaz de integração que fortalece simultaneamente a capacidade de defesa do país e o desenvolvimento científico-tecnológico nacional, contribuindo para a soberania e a autonomia estratégica do Brasil.


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