*LRCA Defense Consulting - 04/09/2025
A promessa de aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOLs) transformando o cenário urbano está cada vez mais próxima da realidade. Longe de ser apenas ficção científica, a Mobilidade Aérea Urbana (UAM) emerge como uma solução potencial para o congestionamento terrestre, a poluição e a demanda por transporte eficiente nas grandes cidades.
Vertiportos: a próxima fronteira dos transportes urbanos
No entanto, o sucesso dessa revolução depende intrinsecamente do
desenvolvimento de uma infraestrutura terrestre robusta e bem planejada: os
vertiportos.
Um guia recente da Eve Air Mobility, uma empresa que se beneficia da expertise da Embraer – um pilar da indústria aeroespacial brasileira, que também contribui significativamente para a Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS) brasileira, aborda de forma detalhada os requisitos para a construção e operação desses terminais aéreos urbanos. O documento destaca que a integração de aeronaves, instalações terrestres, sistemas de energia e redes digitais em um ecossistema único e contínuo é fundamental.
O coração da UAM
Os vertiportos são as plataformas essenciais para a operação dos eVTOLs,
servindo como pontos de embarque, desembarque, carregamento e manutenção. Eles
são muito mais do que simples helipontos elevados, exigindo considerações
complexas de design e operação.
O guia da Eve Air Mobility categoriza os vertiportos em quatro tipos principais, que variam em complexidade e capacidade:
- Vertistop:
o menor, com uma única área de pouso/decolagem (FATO/TLOF), focando em
locais de baixa demanda.
- Vertistation:
localizado em centros urbanos, com 1 a 4 stands, oferecendo serviços
básicos.
- Vertihub:
o maior, com múltiplas áreas de pouso e mais de 4 stands, capaz de abrigar
eVTOLs durante a noite e fornecer manutenção pesada.
- Supercenter: voltado para operações de grande escala, com múltiplas áreas FATO/TLOF, mais de quatro stands e uma gama completa de serviços de suporte.
A escolha e o design de um vertiporto envolvem fatores críticos como a proteção do espaço aéreo para rotas de aproximação e partida, a compatibilidade com o zoneamento local, a infraestrutura de energia disponível e a integração com outros modais de transporte terrestre para garantir uma conectividade de "última milha" eficiente. A acessibilidade para pessoas com deficiência também é uma exigência regulatória vital, com padrões como o ADA nos Estados Unidos e a Resolução nº 280 da ANAC no Brasil.
Energia e carregamento são desafios
Um dos pilares da UAM é a propulsão elétrica, e com ela vem a necessidade
de uma infraestrutura de carregamento robusta e confiável. O documento da Eve
Air Mobility ressalta que as baterias dos eVTOLs exigirão recarga após cada
voo, seja parcial (rápida) ou completa (durante a noite).
Os vertiportos precisarão de um suprimento de energia considerável. Carregadores rápidos podem fornecer até 500 kW, com tempos de recarga variando de 15 a 30 minutos. Para operações simultâneas, um único stand pode demandar cerca de 550 kW, considerando o carregador, o sistema de resfriamento/aquecimento externo da bateria (essencial para gerenciar a temperatura das baterias de íon-lítio durante o carregamento) e uma Unidade de Força Terrestre (GPU). A integração com as redes elétricas existentes e a possível construção de novas subestações são desafios significativos que demandam planejamento antecipado, dado o tempo necessário para licenciamento e instalação.
Soluções como os "hatch pits" – fossos
subterrâneos que permitem o uso de carregadores móveis diretamente nos stands –
são recomendadas para otimizar o tempo de resposta (TAT) e melhorar a
segurança, eliminando a necessidade de movimentar os eVTOLs para carregadores
fixos.
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Projeto do vertiporto de Osaka (Japão) |
Segurança e regulamentação: a busca pela aceitação
A segurança é, sem dúvida, o ponto central para a aceitação pública e o
sucesso comercial da UAM. A preocupação com a segurança contra incêndios,
especialmente devido ao uso de baterias de íon-lítio, é uma prioridade.
Entidades como a National Fire Protection Association (NFPA) já publicaram
diretrizes, como a NFPA 418, que está sendo atualizada para incluir os
vertiportos. No entanto, as técnicas e procedimentos de combate a incêndios
específicos para eVTOLs ainda estão em desenvolvimento e podem variar entre os
fabricantes.
A regulamentação é um campo em constante evolução. Órgãos como a FAA (EUA), EASA (Europa) e ANAC (Brasil) estão trabalhando na definição de padrões para o design de vertiportos, procedimentos de voo e requisitos de segurança. A coordenação entre essas agências é crucial para evitar a fragmentação de padrões e garantir uma mobilidade aérea inclusiva e acessível globalmente.
A aceitação da comunidade também é vital. Embora os eVTOLs sejam projetados para serem significativamente mais silenciosos que os helicópteros, a integração em áreas urbanas densas exige planejamento cuidadoso, que considera o ruído, o impacto visual e a gestão do tráfego terrestre. O engajamento transparente com a comunidade e a incorporação de soluções arquitetônicas para amortecer o som são estratégias para harmonizar os vertiportos com o ambiente urbano.
Um futuro em construção
A Mobilidade Aérea Urbana representa uma visão audaciosa para o futuro dos
transportes. Os desafios são muitos: desde a obtenção de aprovação regulatória
e a construção de infraestrutura de energia e carregamento, até a garantia de
segurança e a conquista da aceitação pública. No entanto, o potencial de
transformar a forma como as pessoas se movem nas cidades, reduzindo o tempo de
viagem e o impacto ambiental, é imenso.
Especialistas da indústria e analistas de transporte apontam que a colaboração entre governos, reguladores, empresas de tecnologia e comunidades será fundamental para superar esses obstáculos. A medida que os eVTOLs se aproximam da operação comercial, o desenvolvimento de vertiportos eficientes, seguros e integrados não é apenas uma necessidade técnica, mas um passo crucial para decolar o sonho da mobilidade aérea urbana para a realidade.
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