*LRCA Defense Consulting - 16/09/2025
A Espanha anunciou o cancelamento do contrato de €700 milhões para a aquisição do sistema de lançamento múltiplo de foguetes PULS (SILAM), desenvolvido sob licença da israelense Elbit Systems, conforme destaca matéria do site turco especializado SavunmaSanayiST.com. A medida faz parte de um plano abrangente do Ministério da Defesa espanhol para eliminar gradualmente sistemas militares com origem ou componentes israelenses, restringindo contratos diretos e produtos licenciados, com objetivo de acelerar a redução da dependência tecnológica do país em relação a Israel.
Plano de independência de Israel focado em Indra e
Escribano
O programa de separação prioriza especialmente duas
empresas-chave do setor de defesa espanhol: a Indra, que oferece
alternativas tecnológicas, e a Escribano, voltada a soluções de artilharia
e munição. A primeira fase do plano será identificar se há equipamentos e
sistemas produzidos internamente capazes de manter as atuais capacidades
militares. Caso não sejam encontrados produtos adequados na Espanha, a prioridade
será buscar aquisições no exterior, com foco em fornecedores europeus.
ASTROS volta a ser lembrado como opção
Apesar de não haver uma decisão formal para substituir o
PULS, o sistema brasileiro ASTROS, da Avibras, surge entre as
possibilidades citadas em análises de mercado, tendo participado anteriormente
de processos licitatórios espanhóis. Em parcerias recentes, a Avibras uniu-se à
espanhola NTGS e à britânica Milanion para produzir o ASTROS localmente, caso
sua proposta fosse selecionada pelo país. Essa cooperação futura visava garantir elevado conteúdo
nacional e industrialização na Espanha, um fator alinhado com os esforços de
autonomia do bloco europeu em defesa.
No contexto dessa parceria, especula-se que, no cenário atual, poderia ser oferecida à Espanha não apenas a versão atual do ASTROS, mas também versões modernizadas como o ASTROS II AFC ou até o ASTROS III.
O ASTROS II AFC (Astros II Advanced Fire Control)
representa uma evolução da plataforma tradicional, com sistema de comando e
controle aprimorado, integração de sensores modernos e maior capacidade de
coordenação entre lançadores. Isso traz maior rapidez na aquisição e
engajamento de alvos, além de ampliar a interoperabilidade com outros sistemas
de defesa, pontos críticos para as necessidades espanholas.
O ASTROS II AFC pode operar isoladamente ou em seção, sendo que sua lançadora possui maior
poder de fogo e capacidade de calcular os elementos de tiro, efetuar o
disparo e buscar abrigo (“Shoot & Scoot”), minimizando a exposição
do Sistema AFC. Tais avanços tecnológicos colocam o ASTROS em nível competitivo com os mais modernos sistemas de lançamento de mísseis e foguetes, como o HIMARS americano, o Chunmoo
sul-coreano ou o próprio PULS israelense.
Já o ASTROS III, ainda em projeto, é uma nova geração do sistema, com melhorias significativas em alcance, precisão e versatilidade operacional. Essa versão é baseada em viatura 8x8, que terá o dobro do poder de fogo do ASTROS II AFC e acumulará todo o legado tecnológico do ASTROS MK6, lançando foguetes balísticos, foguetes guiados, mísseis balísticos e mísseis táticos de cruzeiro.
A possibilidade de oferecer ao mercado espanhol tecnologias
atualizadas poderia fortalecer a candidatura do ASTROS, ao apresentar uma
solução que alia flexibilidade operacional, modernidade e potencial de produção
integrada na Espanha, crucial diante das prioridades de autonomia e
substituição impostas pelo veto a sistemas israelenses.
![]() |
| ASTROS III |
Questões tecnológicas, situação da Avibras e oportunidade para a Espanha
Segundo as informações públicas disponíveis, não há
evidências de que o sistema ASTROS incorpore componentes ou tecnologias
israelenses, o que favoreceria sua aceitação dentro dos critérios estabelecidos
pela Espanha. Ainda assim, pela natureza sigilosa dos sistemas militares, essa
conclusão permanece limitada e não deve ser encarada como absoluta.
Apesar de o ASTROS estar tecnicamente consolidado como um dos sistemas de foguetes de artilharia mais flexíveis do mercado, a própria fabricante brasileira enfrenta sérios desafios. A Avibras permanece em processo de recuperação judicial e, de acordo com informações recentes, seu retorno parcial às operações está previsto apenas para outubro de 2025.
Esse cenário complica qualquer perspectiva imediata de exportação em larga escala. Mesmo que a Espanha optasse futuramente por reabrir uma concorrência internacional, a situação financeira e operacional da Avibras seria um fator crítico a ser analisado, tanto em termos de capacidade produtiva quanto de confiabilidade na entrega. A incerteza sobre o ritmo de retomada da produção e a necessidade de investimentos adicionais podem representar riscos para o cumprimento de prazos e especificações contratuais, aspectos fundamentais em processos de defesa.
Contudo, essa conjuntura delicada também pode ser interpretada como uma excelente oportunidade para a indústria de defesa espanhola. O potencial desenvolvimento do ASTROS diretamente na Espanha, em parceria com a Avibras e seus aliados europeus, permitiria a criação de um produto novo e tecnologicamente moderno, adaptado às necessidades específicas das Forças Armadas espanholas e europeias.
Além disso, a situação atual da Avibras pode facilitar negociações comerciais com condições mais vantajosas, possibilitando custos menores na aquisição e produção do sistema. Essa condição, aliada à transferência de tecnologia e à participação das empresas espanholas e britânicas na parceria, poderia fomentar a geração de empregos qualificados e fortalecer o complexo industrial de defesa local, moldando um sistema competitivo e alinhado às políticas de autonomia estratégica da União Europeia.
Assim, enquanto os desafios financeiros e operacionais da Avibras trazem incertezas, eles também podem abrir caminho para uma colaboração industrial mais produtiva e integrada, que beneficiaria tanto a Espanha quanto o futuro do sistema ASTROS no mercado internacional.
Avaliação e próximos passos
Atualmente, o Ministério da Defesa da Espanha mantém como
prioridade máxima a substituição interna das plataformas israelenses, com a
indústria nacional e europeia como foco primário. Caso não se obtenha sucesso
nesta fase, só então se definirá o caminho para a aquisição de fornecedores
internacionais fora do continente.
Mesmo considerando as incertezas associadas à Avibras, tal condição pode representar uma janela estratégica para a Espanha, agregando valor industrial, tecnológico e econômico ao processo de substituição dos sistemas de artilharia, sem perder de vista o compromisso político de autonomia e independência tecnológica.
O embargo espanhol a Israel e o consequente cancelamento do
PULS marcam um momento estratégico para a redefinição do parque tecnológico das
Forças Armadas espanholas, com reflexos no mercado global de defesa. O ASTROS, um exitoso fruto da experiência tecnológica da Avibras, permanece uma
alternativa possível num horizonte ainda distante, especialmente nos cenários de uma recuperação plena da empresa e de uma eventual nova parceria com a espanhola NTGS e a britânica Milanion.



Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).