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| Imagem meramente representativa |
*LRCA Defense Consulting - 22/11/2025
A Embraer Defesa e Segurança consolidou na Europa um eixo estratégico centrado no KC/C-390 Millennium e no A-29N Super Tucano, ancorado em encomendas de múltiplos países da OTAN, acordos industriais profundos e parcerias tecnológicas em defesa digital e serviços, criando massa crítica suficiente para um papel estrutural no ecossistema de defesa europeu nas próximas décadas. Essa expansão tende a acelerar, com efeitos relevantes sobre a autonomia militar europeia, a interoperabilidade OTAN e o peso político-industrial do Brasil no continente.
Panorama atual da presença na Europa
A coluna vertebral da expansão é o C-390 Millennium/KC-390,
hoje em operação em Portugal e Hungria, com encomendas firmes ou seleções
oficiais por Holanda, Áustria, República Tcheca, Lituânia, Suécia e Eslováquia.
Paralelamente, o A-29N Super Tucano entrou no mercado europeu com Portugal como
cliente-âncora, oferecendo uma solução integrada de treinamento avançado,
ataque leve e, em sua versão em desenvolvimento, defesa anti-drone.
Nos Países Baixos, a Embraer consolidou uma parceria estratégica com contrato para nove C-390 (cinco para a Holanda e quatro para a Áustria) em arranjo cooperativo que padroniza configuração, treinamento e suporte. O Fokker Services Group foi designado como centro de modificação, engenharia e certificação do C-390M, criando um polo de MRO e engenharia de relevância europeia.
A criação da Embraer Defense Europe: estratégia e significado
Em dezembro de 2024, a Embraer deu um passo estratégico
significativo para consolidar sua presença no continente europeu ao inaugurar a
subsidiária dedicada a defesa e segurança em Lisboa, denominada Embraer
Defense Europe. Essa
iniciativa marca a materialização da visão de longo prazo da Embraer para a
região e demonstra seu comprometimento em atender as necessidades específicas
das forças armadas dos países membros da OTAN e da União Europeia.
Com uma equipe especializada em gerenciamento de programas, apoio e engenharia, a subsidiária assume o papel de hub regional para coordenar projetos, suporte logístico e desenvolvimento tecnológico, alinhando soluções inovadoras de defesa às exigências operacionais europeias. A formalização dessa unidade em Portugal também reforça o relacionamento institucional e político com o país, por meio da ligação com a subsidiária portuguesa do grupo, aproximando governo, indústria e Força Aérea.
A Embraer Defense Europe atua na interface entre o desenvolvimento tecnológico da empresa, a adaptação das plataformas KC-390 Millennium e A-29N Super Tucano às necessidades locais, e a coordenação de parcerias industriais e comerciais em todo o continente. Esse centro não apenas favorece a entrega de soluções customizadas, mas também facilita a participação em licitações multilaterais europeias, valorizando o conteúdo industrial local e a cooperação estratégica.
A subsidiária simboliza a ambição da Embraer de se tornar protagonista no ecossistema de defesa europeu, oferecendo capacidade de resposta ágil, suporte permanente e inovação contínua, em um cenário marcado por desafios crescentes de segurança e por mercados altamente competitivos. A cerimônia de inauguração, presidida pelo Ministro da Defesa Nacional de Portugal, Nuno Melo, ressaltou a importância desse movimento para a indústria nacional e para o posicionamento internacional da empresa.
Dessa forma, a Embraer Defense Europe representa um vetor essencial para a sustentabilidade e expansão das operações da Embraer, ampliando sua influência política, industrial e militar no continente, enquanto contribui para a autonomia e integração das forças de defesa da Europa.
Embraer Defense Europe
Modelo de expansão: encomendas e ecossistema C-390
A estratégia de Embraer combina vendas governamentais,
memorandos de entendimento multilaterais e compensação industrial local. A
Suécia ingressou em 2025 com pedido de quatro aeronaves e sete opções,
liderando um modelo trilateral com Holanda e Áustria que padroniza frotas e
maximiza interoperabilidade e eficiência de custos.
A República Tcheca e a Lituânia completam o quadro europeu: a primeira com encomenda de duas aeronaves enfatizando benefícios industriais locais; a segunda associando a compra a pacotes de cooperação tecnológica e MRO que ampliam a inserção de sua base industrial. Essa modelo de aquisição compartilhada define o paradigma atual de defesa europeia colaborativa.
A-29N Super Tucano: do treinamento à defesa anti-drone
O A-29N representa a entrada da Embraer no segmento de
treinamento avançado e ataque leve em padrão OTAN, com custo operacional
competitivo (menos de US$ 1.000/hora). Portugal encomendou 12 aeronaves em
2024, recebendo as primeiras unidades em 2025 para integração de equipamentos
OTAN.
A Embraer está desenvolvendo uma versão adaptada para missões de Counter-UAS (CUAS), respondendo à crescente ameaça de drones táticos e suicidas evidenciada no conflito Rússia-Ucrânia. Equipada com sensores eletro-ópticos avançados, armamento guiado e enlaces de dados para defesa em rede, esta variante oferece uma solução econômica e flexível para enfrentar drones dos grupos 2 a 5 da classificação OTAN. Seu baixo custo operacional, aliado à capacidade de operar em pistas curtas, a torna ideal para defesa descentralizada e resposta rápida em operações híbridas. Essa evolução multiplica o valor estratégico do Super Tucano, posicionando-o como vetor chave na defesa aérea multicamadas europeia.
Rede industrial e parcerias tecnológicas na UE
A Embraer transcendeu o papel de fornecedora de plataformas,
estruturando uma rede industrial europeia em pesquisa aplicada, software de
defesa e simulação. Nos Países Baixos, acordos com TNO, OPT/NET e ILIAS visam
desenvolver sistemas multiagentes, gestão de dados para vigilância e
plataformas integradas de logística, manutenção e treinamento para forças
armadas.
Na Lituânia, a empresa assinou múltiplos MoUs com
universidades (KTU, Vilnius Tech), empresas de tecnologia avançada (Aktyvus
Photonics, Brolis Defence, J&C Aero, Nordic Aircraft Systems, DAT) e o
Instituto Báltico de Tecnologia Avançada, cobrindo MRO, engenharia e cadeia de
suprimentos integrada. Paralelamente, acordos com Rheinmetall (simuladores de
voo, centros de treinamento) estabelecem infraestrutura europeia compartilhada,
reduzindo custos e aumentando interoperabilidade.
O papel da OGMA no ecossistema de defesa europeu da Embraer
A OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.), empresa do Grupo Embraer, desempenha
um papel crucial na estratégia da gigante brasileira para consolidar sua presença e
ampliar capacidades no mercado de defesa europeu. Como principal centro
português de manutenção, reparo e revisão (MRO) de aeronaves militares e civis,
a OGMA se configura como um elo fundamental para a sustentação operacional do
KC-390 Millennium e do A-29N Super Tucano em Portugal e além.
Sua participação possibilita que a Embraer ofereça não apenas aeronaves, mas também um suporte logístico e de manutenção local robusto, reduzindo tempos de indisponibilidade e aumentando a disponibilidade operacional das plataformas no continente. Além disso, a OGMA viabiliza o desenvolvimento de projetos industriais cooperativos, integrando fornecedores portugueses e facilitando a transferência tecnológica alinhada aos programas multilaterais europeus.
A inserção da OGMA no ecossistema de defesa fortalece a cadeia de valor regional, contribui para a autonomia técnica e estratégica de Portugal e da União Europeia em defesa aérea, e cria sinergias essenciais para a expansão da Embraer como integradora completa de soluções em defesa. Dessa forma, a colaboração com a OGMA materializa-se em vantagem competitiva para a Embraer, agregando valor tangível às suas ofertas e consolidando parcerias institucionais que incentivam o crescimento sustentável no setor de defesa europeu.
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| Sede da OGMA |
Vetores de expansão futura
A consolidação de um "cluster C-390" é iminente,
com vocação para: centro de MRO (Holanda/Fokker com satélites na Europa
Central), hub de treinamento (Rheinmetall e centros europeus de simulação) e
rede de P&D (TNO, universidades lituanas e outros parceiros). Esse
ecossistema reduz barreiras políticas para futuras aquisições, pois entrega
contrapartidas industriais tangíveis e reforça a narrativa de autonomia
estratégica europeia.
Alvos comerciais naturais incluem: países dependentes de C-130 legados, nações com frotas fragmentadas de cargueiros médios, e Estados buscando diversificação de fornecedores além de dependências norte-americanas. A participação da Embraer em feiras como MSPO, oferecendo nacionalização de sistemas e centros de manutenção, a posiciona bem para futuras licitações na Europa Central e Oriental.
Impactos estratégicos: consequências para a Embraer
Para a Embraer, a Europa torna-se o principal mercado-âncora
do C-390 fora do Brasil, com impacto positivo em escala de produção, diluição
de custos fixos e previsibilidade de backlog de longo prazo. A densidade de
clientes europeus reforça a credibilidade em outras regiões (Oriente Médio,
Ásia-Pacífico, África), que veem a adoção pela OTAN como selo de confiança
operacional.
A empresa evolui de fornecedora de aeronaves para integradora de soluções de defesa completa, incluindo software de C2, análise avançada de dados, simulação e ciclo de vida, ampliando margens de serviço e resiliência de receita. Politicamente, o enraizamento industrial em Estados-membros da UE cria "partidários naturais" em Bruxelas e capitais nacionais, mitigando riscos comerciais em cenários protecionistas.
Impactos militares: consequências para a Europa
A difusão do C-390 gera ganhos concretos de
interoperabilidade em transporte tático, evacuação médica, reabastecimento em
voo e operações humanitárias, padronizando doutrinas, treinamento e logística
entre forças aéreas europeias. Sua performance em carga útil, velocidade e
alcance, aliada a alto índice de disponibilidade, aumenta a capacidade de
resposta rápida da OTAN no flanco Leste.
A entrada de um fornecedor não europeu, com forte conteúdo industrial local e parcerias tecnológicas profundas, introduz competição e inovação na base industrial de defesa europeia. A versão anti-drone do Super Tucano adiciona um componente inovador à defesa aérea tática, equilibrando custo e eficácia contra ameaças assimétricas emergentes. Simultaneamente, a cooperação Brasil-Europa em tecnologias de vigilância, IA aplicada a C2 e logística de defesa cria interdependência estratégica explorável diplomaticamente em agendas de segurança global.
Protagonista na
arquitetura de defesa europeia
A Embraer ultrapassou o estágio de campanhas pontuais,
construindo um ecossistema robusto em torno do KC-390 Millennium, do A-29N
Super Tucano (incluindo sua variante anti-drone) e de parcerias industriais
profundas. A combinação de encomendas multiestatais, centros de MRO, simulação,
P&D e software de defesa posiciona a empresa como protagonista na
arquitetura de defesa europeia.
Este movimento eleva a influência e sustentabilidade comercial da Embraer, fortalece a capacidade militar e a interoperabilidade OTAN, amplia a autonomia estratégica da Europa em operações aéreas conjuntas, e estabelece bases sólidas para presença duradoura da empresa brasileira no mercado global de defesa. A expansão europeia exemplifica como um fabricante emergente pode integrar-se profundamente no tecido industrial-estratégico de aliados, transformando transações comerciais em parcerias estruturantes para décadas.


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