*LRCA Defense Consulting - 21/12/2025
A Força Aérea Polonesa demonstra forte interesse no avião brasileiro Embraer A-29 Super Tucano para missões de combate a drones, em um movimento que pode consolidar a aeronave como a principal plataforma antidrone da OTAN na Europa. O interesse polonês surge dias após Portugal ter se tornado o primeiro operador europeu do A-29N Super Tucano, com a entrega dos cinco primeiros aviões de um total de 12 unidades, e coincide com a assinatura de uma carta de intenções para estabelecer uma linha de montagem da Embraer em Beja, Portugal.
Contexto da ameaça de drones na Polônia
O interesse polonês ganha particular relevância após a noite de 9 para 10
de setembro de 2025, quando cerca de 19 a 23 drones não tripulados russos
invadiram o espaço aéreo polonês, em um incidente sem precedentes que levou a
Polônia a ativar o Artigo 4 do Tratado da OTAN. O episódio expôs as
vulnerabilidades da defesa aérea polonesa contra ameaças de baixo custo e
movimento lento, forçando o país a buscar soluções mais econômicas e eficientes
do que o uso de caças convencionais e mísseis ar-ar caros.
Segundo informações do portal Defence24, na entrevista concedida pelo major-general Ireneusz Nowak, vice-comandante geral das Forças Armadas polonesas, a Força Aérea do país está avaliando a possibilidade de usar plataformas aéreas adicionais para combater alvos lentos e de baixa altitude, como drones suicidas do tipo Geran-2 e Shahed.
Avaliação do Super Tucano em 2026
Na entrevista ao Defence24, o general Nowak foi direto sobre o interesse no
Super Tucano: "Estamos pensando nisso. Vamos certamente testar o Super
Tucano e observá-lo mais de perto no início de 2026. Queremos formar uma
opinião sobre o assunto". O oficial enfatizou que a guerra moderna exige
criatividade e adaptação, e que todas as possibilidades disponíveis estão sendo
avaliadas, incluindo a adaptação de aeronaves M-28 e helicópteros para o
combate a drones.
O general polonês destacou um ponto crucial: "Quando surge uma ameaça massiva, é preciso levar em consideração todos os meios disponíveis". Ele questionou se a Polônia pode se dar ao luxo de destruir alvos de baixo custo com efetores caros, mencionando especificamente o sistema APKWS (Advanced Precision Kill Weapon System), já comprovado em combate na Ucrânia.
A capacidade anti-drone do Super Tucano
A Embraer anunciou em novembro de 2025 que o A-29 Super Tucano está
expandindo seu portfólio de missões para combater ameaças aéreas não tripuladas
de forma eficaz e econômica. A aeronave utiliza uma combinação de recursos
existentes e novos sensores, incluindo links de dados específicos para receber
coordenadas iniciais do alvo, sensor eletro-óptico/infravermelho para
rastreamento e designação a laser, além de foguetes guiados a laser e
metralhadoras calibre .50 montadas nas asas.
Uma das principais vantagens do A-29 em missões contra-UAS é sua velocidade, ou melhor, sua falta dela. Enquanto caças convencionais são rápidos demais para usar seus canhões com segurança contra alvos lentos, o turboélice Super Tucano pode patrulhar por longos períodos, manobrar facilmente em torno de alvos lentos e operar a uma fração do custo por hora de voo.
O sensor eletro-óptico/infravermelho do Super Tucano pode rastrear e designar UAS, e a aeronave pode engajá-los diretamente com foguetes guiados a laser, bem como com suas metralhadoras calibre .50. A Embraer enfatiza que o conceito de operações definido permitirá que operadores atuais e futuros do A-29 adicionem missões contra drones aos seus perfis operacionais sempre que necessário.
Contexto europeu e papel de Portugal
A entrega dos primeiros A-29N a Portugal representa um marco estratégico. O
ministro da Defesa português, Nuno Melo, destacou que o Super Tucano oferece a
possibilidade de desempenhar missões de luta anti-drone, comprovando a
flexibilidade da aeronave. Portugal tornou-se o primeiro operador mundial do
A-29N com configuração NATO, posicionando o país como referência na Europa para
este tipo de aeronave.
A assinatura da carta de intenções para estabelecer uma linha de montagem em Beja é particularmente relevante para o mercado europeu. As aeronaves produzidas nessa linha deverão atender eventuais demandas de outras nações europeias, por meio de negociações governo a governo, contribuindo para o fortalecimento da base industrial de defesa em Portugal e na Europa.
Expansão da Embraer na Polônia
O interesse polonês no Super Tucano ocorre em um momento de intensa
aproximação entre a Embraer e a Polônia. Em dezembro de 2025, a Embraer assinou
acordos de cooperação nos setores de aviação e defesa com cinco empresas
pertencentes ao Grupo de Armamentos Polonês (PGZ). Esses acordos incluem
suporte operacional, manutenção, reparo e revisão (MRO), fabricação de
componentes e soluções de cadeia de suprimentos.
A Embraer estima que as parcerias gerarão US$ 3 bilhões em valor para a economia polonesa ao longo de 10 anos e potencialmente criarão 5.000 empregos. A empresa também está explorando o estabelecimento de uma linha de montagem final do KC-390 Millennium na Polônia, o que poderia gerar um impacto econômico de até US$ 1 bilhão e criar aproximadamente 600 empregos no país.
Desafios e oportunidades
A situação operacional da Força Aérea Polonesa adiciona urgência à
necessidade de novas plataformas. O general Nowak revelou que os anos de
2025-2026 serão os mais difíceis e críticos para o componente de aviação de
combate, com as forças operando em regime de quase plena prontidão de combate
há quase quatro anos desde o início da guerra na Ucrânia.
A solução anti-drone é particularmente atraente porque após os eventos de setembro de 2025, a Polônia iniciou trabalhos para que o sistema APKWS seja integrado aos F-16 poloneses e aos FA-50, para que os caças possam combater grandes invasões no espaço aéreo polonês de forma econômica e mais massiva.
Lições da Ucrânia
O conflito na Ucrânia tem demonstrado a eficácia de aeronaves turboélices
no combate a drones. A Ucrânia adaptou aeronaves de pulverização Zlin para caça
a drones, equipando-as com mísseis guiados por infravermelho. Essas operações
improvisadas destacam a necessidade de soluções dedicadas e mais robustas, como
o Super Tucano, que oferece uma plataforma já projetada para operações
militares com sistemas integrados.
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| Imagem meramente ilustrativa |
Espinha
dorsal da resposta da OTAN contra drones russos
A avaliação do Super Tucano pela Polônia no início de 2026 pode ser
decisiva não apenas para o mercado polonês, mas para toda a Europa Central e
Oriental. Com 22 forças aéreas já operando o A-29 globalmente e mais de 600.000
horas de voo acumuladas, a aeronave tem um histórico comprovado que pode
facilitar sua adoção por países da OTAN.
A combinação do interesse polonês, da entrega bem-sucedida a Portugal, da linha de montagem proposta em Beja e das capacidades anti-drone recentemente anunciadas posiciona o Super Tucano como uma solução potencialmente transformadora para a defesa aérea europeia contra ameaças de drones. Se a avaliação polonesa for positiva, o A-29 pode se tornar a espinha dorsal da resposta da OTAN ao desafio crescente representado por drones de baixo custo em seu flanco oriental.
Solução que combina eficácia operacional, custo acessível
e capacidade comprovada
O general Nowak foi claro sobre a filosofia de combate necessária:
"Ameaça massiva de baixo custo deve ser combatida com atuação também de
baixo custo e massiva. E ameaça 'hi-end' — com métodos tecnologicamente
avançados. Aqui não há espaço para economias e compromissos. Ou temos
capacidades e reagimos, ou não temos e estamos indefesos".
Com a Polônia planejando gastar 4,8% do PIB em defesa em 2026, e a crescente ameaça de drones na fronteira oriental da OTAN, o Super Tucano surge como uma solução que combina eficácia operacional, custo acessível e capacidade comprovada — exatamente o que a Europa precisa neste momento crítico.


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