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03 dezembro, 2025

Robôs, drones e IA: o papel do Robô Expedicionário na nova doutrina dos Fuzileiros Navais


*LRCA Defense Consulting - 03/12/2025

O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) deu mais um passo na consolidação de sua doutrina de emprego de sistemas não tripulados ao apresentar o veículo terrestre não tripulado “Robô Expedicionário” durante o 1º Workshop sobre o Emprego de Drones e o 1º Campeonato de Drones Militares do CFN, no Rio de Janeiro. A exibição do sistema em um evento dedicado originalmente a plataformas aéreas evidencia a intenção da Marinha de tratar drones terrestres, aéreos e navais sob uma mesma lógica de transformação tecnológica e integração operacional.​

Um UGV pensado para ambientes hostis

Desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN), o Robô Expedicionário é um veículo operado remotamente, projetado para apoiar missões de reconhecimento da Infantaria, de Operações Especiais e de unidades NBQR, reduzindo a exposição de tropas em áreas de alto risco. A plataforma foi concebida para atuar em cenários com ameaça nuclear, biológica, química e radiológica, além de operações em áreas urbanas complexas, funcionando como “batedor” robotizado na linha de frente.​

Suas principais características técnicas são: peso de 11 kg, velocidade máxima de 10 km/h, bateria de lítio 24 V (20 Ah), torque total de 13,76 N.m, potência de 400 W, autonomia mínima de 120 minutos, largura de 395 mm, comprimento de 461 mm e altura de 235 mm.

O sistema integra sensores e câmeras que permitem o envio de imagens e dados em tempo real ao operador, facilitando a avaliação do terreno, a identificação de ameaças e o planejamento de progressão da tropa antes da entrada de militares em ambiente potencialmente contaminado ou dominado por forças hostis. Em apresentações públicas e feiras como a DroneShow Robotics 2025, a Marinha tem enfatizado o caráter dual do equipamento, com aplicações tanto em operações militares quanto em apoio a respostas a desastres e acidentes envolvendo materiais perigosos.​

Vitrine da agenda de inovação dos Fuzileiros
A presença do Robô Expedicionário no 1º Workshop sobre o Emprego de Drones e no 1º Campeonato de Drones Militares insere o UGV em um contexto mais amplo de modernização do CFN, que inclui desde drones de reconhecimento até munições “kamikaze” e outros robôs autônomos em desenvolvimento. O evento reuniu representantes das três Forças, indústria e academia, servindo como laboratório para discutir doutrina, interoperabilidade e capacitação em sistemas não tripulados.​​

Paralelamente, a Marinha anunciou a criação de uma Escola de Drones a partir de 2026, indicando que plataformas como o Robô Expedicionário tendem a ser incorporadas a currículos de formação e aperfeiçoamento, com ênfase em operação, manutenção e integração com outros vetores. A aposta em treinamento estruturado acompanha a percepção da alta administração naval de que a guerra contemporânea, influenciada por conflitos recentes, é cada vez mais marcada pelo emprego massivo de sistemas remotos, inteligência artificial e sensores distribuídos.​

Parcerias com universidades e ecossistema de P&D
O Robô Expedicionário resulta diretamente de uma parceria entre o CTecCFN e a Universidade Federal de Goiás (UFG), formalizada por acordo de cooperação técnica assinado em outubro de 2021, coordenado pelo professor Sólon Bevilácqua da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT/UFG). A UFG lidera o desenvolvimento de software, hardware, programação e integração de sensores para o ROV portátil (cerca de 20 cm e 5 kg, transportável em mochila), enquanto o CTecCFN cuida do chassi, testes operacionais e validação militar para missões de reconhecimento de infantaria, operações especiais e inspeções NBQR em áreas como favelas ou zonas contaminadas.​

O protótipo já recebeu honrarias da Marinha em 2023 e foi apresentado em eventos recentes como o 1º Workshop de Drones do CFN, confirmando sua maturidade operacional. Essa colaboração foi reforçada por visitas do CTecCFN à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 2024, criando um protocolo tripartite (Marinha-UFG-UFSM) para evoluções em autonomia, IA e robótica militar e uma agenda alinhada a protocolos de cooperação com a Marinha voltados à robótica, simulação e engenharia. 

Esse ecossistema de pesquisa contribui para iterar rapidamente protótipos, testar módulos de inteligência artificial, sensores e arquitetura de comando e controle, além de ampliar a base de conhecimento nacional na área de UGVs e integrar a academia a requisitos reais do CFN. 

Atenção internacional e perspectiva de emprego
O Robô Expedicionário já começou a ganhar espaço em publicações especializadas estrangeiras, como a Janes, que destacam o sistema como um exemplo da entrada mais consistente da América do Sul no mercado de veículos terrestres não tripulados. Essas análises costumam situar o UGV brasileiro em um cenário em que exércitos da região ainda conciliam meios tradicionais, como cavalaria montada, com plataformas robotizadas emergentes, o que torna a adoção de UGVs um movimento gradual e sensível a restrições orçamentárias.​

Para o CFN, contudo, o valor do Robô Expedicionário parece ir além do equipamento em si: o sistema funciona como demonstrador tecnológico, permitindo amadurecer doutrina de emprego, protocolos de segurança NBQR e integração com drones aéreos e sensores de superfície. Em termos operacionais, o UGV tende a ser empregado inicialmente em tarefas de reconhecimento, avaliação de rotas, inspeção de áreas contaminadas e apoio à proteção de instalações sensíveis, com possibilidade de evolução para configurações mais armadas ou dotadas de maior autonomia, conforme avancem os projetos de pesquisa. 

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