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26 novembro, 2023

Necessidades de artilharia podem tornar o Brasil um importante produtor de munição 155 mm


*Bulgarian Military, por Boyko Nikolov - 24/11/2023

À medida que potenciais compras de veículos blindados obuseiros no valor de R$ 1 bilhão [204 milhões de dólares] de países como Israel, França e China estão a ser consideradas pelo comando militar (brasileiro), surgem questões: deveria este capital ser investido na promoção do desenvolvimento nacional?

O comando do Exército brasileiro concluiu recentemente seu processo de aquisição para aquisição de novos 36 veículos blindados de combate, transação que está avaliada em R$ 1 bilhão. O financiamento para esta compra originou-se do novo projeto PAC. Essa iniciativa destinou R$ 6,7 bilhões [US$ 1,3 bilhão] para os planos estratégicos do Exército a serem concretizados entre 2024 e 2027.

Do jeito que as coisas estão, o cronograma planejado pelo Exército prevê uma lista finalizada de candidatos a ser divulgada até dezembro. Fontes internas da Sputnik Brasil revelam que os modelos preferidos vêm de Israel, França e China. A brasileira Avibras também está na disputa, oferecendo um modelo que repete o Tatra indiano para atender às necessidades do Exército.

Necessidades urgentes

Sandro Teixeira Moita, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, acredita que o arsenal de artilharia do Brasil precisa urgentemente de uma reformulação.

“Acontecimentos recentes na Ucrânia demonstraram que a artilharia rebocada tradicional é suscetível a ataques de drones e disparos de contra-bateria”, revelou Moita durante bate-papo com a Sputnik Brasil. “O Exército Brasileiro está atualmente explorando obuseiros autopropulsados ou canhões de rodas, que oferecem disparo eficiente e capacidade de retirada rápida de uma posição de combate.”

Atualmente, a frota de artilharia do Brasil é composta por veículos obtidos durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo com atualizações contemporâneas, estas máquinas têm uma vida útil limitada. Prevê-se que outro salto na modernização seja a transição do atual calibre 105 mm para o calibre 155 mm, reconhecido como o “padrão NATO”. (veja Nota ao final da matéria)

“O Brasil depende fortemente de equipamentos militares de origem ocidental que se alinhem aos padrões da OTAN. Por isso, pode ser difícil operar com outro calibre além deste”, opina Moita. “Notavelmente, até mesmo a empresa rival chinesa, Norinco, revelou seu veículo no formato 155 mm, explicitamente para satisfazer as exigências do exército brasileiro.”

Uma chance de aumentar a produção

O Brasil fabrica munição 155 mm, embora a escala de produção seja relativamente pequena. Um professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército prevê que o advento das novos obuseiros levará a um aumento na demanda por munições produzidas internamente.

Uma das condições desta competição é que uma empresa local como a IMBEL [Indústria de Material Bélico do Brasil] tenha capacidade para produzir munições 155mm em maior escala, abrindo caminho para uma maior autossuficiência do Brasil”, disse Moita.

Ele destacou que a competição é “educativa” porque o Exército Brasileiro delineou explicitamente as características desejáveis ​​dos veículos, juntamente com as especificações sobre os recursos nacionais.

“O Exército documentou meticulosamente suas necessidades operacionais, referindo-se ao tipo de arma, especificações de tiro, aspectos de desgaste e procedimentos de manutenção”, garante o professor. “Por exemplo, um dos critérios é que os veículos sejam transportáveis ​​através de aeronaves C-390 Millennium [fabricadas pela brasileira Embraer].”

Despesa ou investimento?
Alguns especialistas expressaram insatisfação com o pedido do comando do exército para uma grande compra, apresentando pontos de vista críticos. O analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, Robinson Farinazzo, sugere que, em vez de gastar fundos substanciais em produtores externos de veículos de artilharia, o Brasil deveria recorrer às suas capacidades de produção doméstica.

“Há um consenso sobre a necessidade indispensável de atualizar a nossa frota de artilharia. Porém, se nosso novo Programa de Aquisições [PAC] injetar dinheiro na compra internacional de equipamentos militares, especialmente de países que se intrometem em nossos assuntos na Amazônia, estará simplesmente desperdiçando recursos”, lamentou Farinazzo.

Farinazzo prevê um cenário ideal onde projetos estrangeiros sejam adquiridos e implementados em nível local. Além disso, defende um processo de seleção mais rigoroso na escolha de parceiros internacionais.

“Devemos ter cuidado com os erros do passado. Veja o exemplo da Argentina. Eles compraram mísseis franceses, mas durante a Guerra das Malvinas contra o Reino Unido; quando precisaram de substitutos, a França, aliada do Reino Unido, tornou-se um obstáculo”, advertiu o oficial naval reformado.

O cerne do argumento reside na forma como os fundos destinados a compras no exterior poderiam, em vez disso, reforçar a base industrial de defesa do Brasil, conhecida como BID.

Estamos negligenciando nossa própria indústria e terceirizando empregos. A má gestão dos fundos públicos desta forma não é sustentável”, criticou Farinazzo. “A legislação para melhorar os gastos com a defesa também deve concentrar-se no fortalecimento da nossa indústria nacional.”

Sando Moita, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, apoia Farinazzo na questão do recebimento de recursos pelo BID. No entanto, aponta a lamentável ausência de um projeto nacional que possa satisfazer as necessidades de artilharia do país.
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Notas da LRCA Defense Consulting
26/11/2023

Material 155mm
Apesar de a matéria parecer sugerir que o parque de artilharia brasileiro seja restrito a armas da 2ª Guerra Mundial no calibre 105mm, o Exército Brasileiro possui material de 155mm, como o obus rebocado M114 e os obuseiros autopropulsados sobre lagartas de fabricação norte-americana M109 A3, comprados do exército belga e modernizados pela empresa Sabiex Internacional S/A (entre 1999 e 2001) e M109 A5+ BR, doados pelo Exército Americano, modernizados pela empresa BAE Systems, com as últimas unidades sendo entregues em 2019.

Obuseiro autopropulsado sobre lagartas M109 A5+ BR modernizado e entregue em 2019

Munição 155mm
No Brasil, além da IMBEL, a Mac Jee e a CSD - Componentes e Sistemas de Defesa SA também produzem munição 155mm.

Munição CSD


Munição Mac Jee


Munição IMBEL

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