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*LRCA Defense Consulting - 08/06/2025
O jornal indiano The Economic Times divulga hoje que o Ministério da Defesa da Índia está prestes a analisar um projeto de 10.000 crores de rúpias (cerca de US$ 1,166 bilhão). Este projeto visa adquirir três aviões espiões avançados (ISTAR) para aprimorar as capacidades de vigilância e aquisição de alvos da Força Aérea Indiana, fornecendo inteligência ar-solo detalhada, o que permitirá ataques precisos contra alvos inimigos. O sistema ISTAR será desenvolvido internamente pelo DRDO, que equipará as aeronaves com sensores e sistemas eletrônicos totalmente nacionais. Esses sistemas de vigilância e direcionamento a bordo já foram desenvolvidos e testados pelo Centro de Sistemas Aerotransportados (CABS) do DRDO. O jornal especula que as aeronaves provavelmente serão de "gigantes da aviação internacional como Boeing ou Bombardier".
O sistema ISTAR (Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvos e Reconhecimento) é amplamente utilizado em aeronaves militares, especialmente em drones (Veículos Aéreos Não Tripulados - VANTs) e plataformas tripuladas para missões de coleta de dados, monitoramento e apoio tático, constituindo-se em uma capacidade estratégica essencial para forças armadas modernas. Vários países operam aeronaves equipadas com capacidades ISTAR, que incluem sensores avançados, radares, câmeras de alta resolução e sistemas de comunicação criptografada.
Assim, surge a pergunta: poderia o C-390 Millennium preencher os requisitos indianos?
A possibilidade de as aeronaves ISTAR (Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvos e Reconhecimento) mencionadas para aquisição pela Força Aérea Indiana (IAF) serem o Embraer C-390 Millennium é plausível e será analisada nos tópicos abaixo, mas depende de alguns fatores-chave, considerando-se as informações disponíveis e o contexto do programa indiano de aquisição de aeronaves de transporte médio (MTA) e capacidades ISTAR.
O projeto ISTAR indiano é mais voltado para missões de inteligência e vigilância terrestre e aquisição de alvos em ambientes de guerra de superfície (semelhante ao JSTARS americano), não apenas vigilância aérea, o que, em tese, contraindicaria aeronaves menores e mais leves, como o Embraer Praetor 600 AEW&C, desenvolvido pela Embraer e pela IAI / ELTA Systems, cujo foco está em missões de alerta antecipado e vigilância aérea.
Interesse da Índia no C-390 Millennium
A Índia tem demonstrado interesse no C-390 Millennium da Embraer, especialmente no contexto do programa Medium Transport Aircraft (MTA). Uma delegação de defesa indiana visitou o Brasil em novembro de 2024, e relatórios indicam que discussões sobre a aquisição do C-390 estão em andamento. A Embraer, em parceria com a Mahindra Defence Systems, assinou um Memorando de Entendimento (MoU) para avaliar a fabricação conjunta do C-390 na Índia, o que reforça a posição da aeronave como candidata forte para programas de defesa indianos.
A Embraer também estabeleceu uma subsidiária integral na Índia, sinalizando um compromisso estratégico para expandir sua presença no mercado indiano, especialmente para o programa MTA.
Em matéria de 11/04/2023, o portal indiano idrw.org publicou que a Força Aérea Indiana (IAF) está procurando adquirir de 60 a 80 aeronaves de transporte multifuncionais (MTA) para serem usadas como transportadores de médio curso, para fabricá-las em conjunto no país sob Transferência de Tecnologia (ToT). Informou também saber que a aeronave que for selecionada será usada como uma plataforma para o desenvolvimento de aeronaves de reabastecimento em voo (FRA) e, também, de alerta aéreo antecipado e controle (AEW&C), pois a IAF planeja ter mais plataformas locais para reforçar seus requisitos enquanto a Força Aérea Chinesa (PLAAF) expande sua frota de multiplicadores de força (como são conhecidas as aeronaves AEW&C).
Em 16/12/2024, o idrw.org divulgou uma novidade importante: "A Embraer, em seu briefing para a Força Aérea Indiana (IAF) para a licitação de aeronaves de transporte médio (MTA) para 60 transportadores, apresentou uma nova proposta ousada: o C-390M Millennium equipado com hardpoints sob suas asas para transportar sistemas de armas ar-superfície. Essa capacidade, destinada a fornecer capacidades operacionais antiterrestres e antinavio, pode posicionar o C-390M como uma plataforma versátil e multifuncional, além de suas funções primárias de transporte".
Segundo declarações atribuídas à Embraer, o C-390 Millennium pode ser
modificado, interna e externamente, para se adequar às exigências
operacionais do usuário.
Capacidades ISTAR do C-390 Millennium
O C-390 Millennium é uma aeronave multimissão que já possui capacidades para missões de transporte tático, reabastecimento aéreo (como KC-390) e está sendo adaptada para missões ISTAR, incluindo patrulha marítima (Maritime Patrol). Em dezembro de 2024, a Embraer e a Força Aérea Brasileira (FAB) assinaram um acordo para desenvolver uma variante específica do C-390 para missões de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR), chamada C-390 IVR, com foco em patrulha marítima. Essa variante incorpora sistemas avançados de comunicação, sensores e autoproteção, que atendem aos requisitos de missões ISTAR.
Portugal, que aderiu ao programa em 2010 e recebeu sua primeira unidade em outubro de 2022, está participando do desenvolvimento da nova variante ISR do C-390. Esta versão integrará radar de abertura sintética, sensores eletro-ópticos e infravermelhos, sistemas de comunicação avançados e pontos de fixação externos para carga útil, com uma configuração modular roll-on/roll-off para manter a flexibilidade entre as missões. Esses desenvolvimentos foram anunciados na exposição de defesa LAAD 2025, onde foram formalizados acordos de cooperação entre a Embraer e a Força Aérea Portuguesa.
A aeronave já é reconhecida por sua versatilidade, com capacidade de carga de 26 toneladas, velocidade máxima de 470 nós e alta confiabilidade (taxa de conclusão de missões acima de 99%). Essas características a tornam adequada para as exigências operacionais de missões ISTAR, incluindo vigilância e reconhecimento.
Requisitos da Índia para sistemas nacionais
O projeto ISTAR da Índia enfatiza a integração de sensores e sistemas eletrônicos totalmente nacionais. Embora o C-390 seja uma plataforma brasileira, a Embraer tem experiência em integrar sistemas personalizados para atender às necessidades específicas de clientes. A parceria com a Mahindra Defence Systems poderia facilitar a incorporação de tecnologias indianas, como sensores e sistemas de comunicação desenvolvidos localmente, para cumprir os requisitos de nacionalização.
A Índia já opera o Embraer ERJ-145 modificado com radar AESA israelense para alerta antecipado (Netra AEW&C), suítes de guerra eletrônica e outros equipamentos AEW&C desenvolvidos e implantados pelo DRDO. No entanto, esse é um jato regional, não um cargueiro militar, e o C-390 ainda não foi testado nesse tipo de papel, além de não haver ainda uma variante oficial sua voltada para missões ISTAR, AEW&C (Alerta Aéreo Antecipado) ou SIGINT (inteligência de sinais).
As três plataformas EMB 145 AEW&C - chamados de Netra Mark-1 ou Netra AEW&C nesse país - são produto da colaboração entre a Embraer e a estatal indiana Organização de Desenvolvimento e Pesquisa de Defesa (DRDO). São equipadas com um conjunto completo de sistemas de missão, composto por um potente radar de vigilância aérea e sistema de comando e controle, além de um conjunto completo de sistemas de apoio à missão, tais como avançados sistemas de comunicação e apoio eletrônico, link de dados, e dispositivos de autoproteção. Os sistemas de missão foram desenvolvidos pelo Centre for Airborne Systems (CABS) do Departamento de Defesa da Índia e pelo DRDO, e foram integrados com a plataforma do EMB 145, sob a coordenação do CABS.
A menção de "gigantes da aviação internacional como Boeing ou Bombardier" pode sugerir que a Índia também pode estar considerando plataformas como o Boeing P-8 Poseidon (usado para patrulha marítima e ISR) ou outras aeronaves de transporte multimissão. O P-8, por exemplo, já é operado pela Marinha Indiana para missões ISTAR, mas é uma plataforma mais especializada e cara, projetada principalmente para patrulha marítima, e não um transporte tático como o C-390.
Concorrência e contexto geopolítico
Entre as aeronaves de transporte, o principal concorrente do C-390 é o C-130J Hercules da Lockheed Martin, que já é operado pela Força Aérea Indiana. A escolha do C-390 pode ser influenciada por questões geopolíticas, custos e a capacidade de produção local. A Embraer enfrenta desafios para competir com a hegemonia da Lockheed Martin, especialmente devido à forte influência dos EUA no mercado de defesa global, mas o C-390 tem se destacado por sua eficiência e menor custo operacional.
A Índia também está interessada em fortalecer laços industriais com o Brasil, como indicado pela possibilidade de joint ventures para fabricação do C-390 e até mesmo discussões sobre a aquisição do caça indiano LCA Tejas e do Sistema de Artilharia Antiaérea Akash pelo Brasil, o que poderia favorecer a escolha do C-390 como parte de um acordo bilateral mais amplo.
Outras aeronaves na disputa
A menção de "três aeronaves avançadas" e "gigantes da aviação como Boeing ou Bombardier" sugere que a Índia pode estar considerando outras plataformas, como o Airbus C-295, que já foi selecionado para substituir a frota envelhecida de Avro 748 da IAF. A Índia encomendou 71 unidades do C-295, que pode ser configurado para missões de vigilância e reconhecimento, e está em negociações para adquirir mais 10 unidades. O C-295 é uma opção mais leve (capacidade de carga de 8 toneladas) em comparação com o C-390 (26 toneladas), mas sua produção local na Índia, em parceria com a Tata, pode ser um fator decisivo.
Fontes indianas sugerem preferência por jatos executivos modificados, como o Bombardier Global 6000 ou Gulfstream G550, mais discretos e eficientes para vigilância de longa distância em zonas sensíveis. Há também relatos de tratativas entre Índia e Boeing para adaptação do P-8 ou derivado semelhante, o que colocaria o C-390 em desvantagem.
Conclusão
O Embraer C-390 Millennium pode ser um forte candidato para o projeto ISTAR da Força Aérea Indiana, especialmente devido ao interesse existente no programa MTA, à parceria com a Mahindra para produção local e aos esforços da Embraer para desenvolver uma variante ISR do C-390, que atende aos requisitos de missões ISTAR.
A exigência de sistemas eletrônicos nacionais e a concorrência com plataformas como o Airbus C-295 (já em produção na Índia) e o C-130J Hercules (já operado pela IAF) podem representar desafios. A menção de "Boeing ou Bombardier" sugere que outras opções podem estar sendo consideradas, mas o C-390 tem vantagens em termos de versatilidade, custo-benefício e potencial para integração de sistemas indianos, como já ocorre com o Embraer EMB 145 Netra AEW&C indiano.
Embora o C-390 Millennium tenha potencial técnico para ser adaptado para missões ISTAR, ele ainda não possui versões consolidadas para essa finalidade e não há indícios de que a Índia o esteja considerando no momento. A preferência parece recair sobre plataformas já utilizadas ou adaptadas com sucesso para vigilância e inteligência.
No entanto, se a Embraer apresentar uma proposta para um rápido desenvolvimento de uma variante específica para ISTAR, isso poderia mudar o cenário — inclusive com oportunidades futuras de cooperação Brasil–Índia.
Portanto, em tese, o C-390 Millennium poderia ser a aeronave escolhida para o projeto ISTAR, especialmente se a Índia priorizar a parceria com a Embraer e a fabricação local. A decisão final, porém, dependerá de fatores como urgência da Índia, custo, integração de sistemas nacionais indianos e alinhamento estratégico com fornecedores.
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