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Imagem meramente ilustrativa da parceria Brasil - Portugal |
*TSF Rádio Notícias, por Ana Maria Ramos - 02/08/2025
Depois de instalar a subsidiária dedicada à Defesa em Lisboa, onde já emprega 30 pessoas, a Embraer vai instalar em Portugal outra unidade dedicada ao controle de tráfego aéreo e sistemas de defesa, confirma Frederico Lemos, CCO da companhia brasileira em Portugal.
A nova subsidiária da Embraer, intitulada ATEC* (veja a Nota ao final), especializada na área de controle de tráfego aéreo e integração de sistemas de defesa, vai ficar baseada em Lisboa, onde a companhia brasileira já tinha instalado a unidade de Defesa, liderada por Frederico Lemos desde 2023.
Em entrevista à TSF, o engenheiro, ex-presidente executivo da EID, agora diretor de operações em Lisboa e também novo vice-presidente sênior para o negócio internacional da Embraer, adianta que a mudança desta unidade para Portugal confirma a “vontade da empresa em criar valor e desenvolver a sua atividade para a Europa e para a NATO, a partir de território português”.
Frederico Lemos assegura que a Embraer tem uma relação histórica de 20 anos com Portugal, marcada pela entrada no capital das OGMA e hoje está a crescer em áreas como a defesa, a aviação comercial, a aviação executiva e na área de suporte para manter em atividade todas essas aeronaves um pouco por todo o mundo. Vem daí a importância da cooperação com Portugal, que levou, no ano passado, à instalação em Lisboa da unidade que passou a chamar “Embraer Defense Europe”, para responder aos requisitos específicos da União Europeia e da NATO.
Para este responsável, existe já na unidade de Lisboa capacidade de engenharia, de logística, de desenvolvimento de negócio e de relações com o Governo e com instituições europeias para fazer crescer o negócio.
A empresa não fecha a porta à construção de uma nova fábrica em Portugal para montagem de um novo avião, mas, para já, apenas confirma a expansão das suas operações em Évora, com a criação de um centro de engenharia e tecnologia para desenvolvimento de peças e estruturas em materiais compósitos, com previsão de contratar 20 engenheiros.
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Frederico Lemos |
Há 12 países interessados no KC-390
Por enquanto, o foco é mesmo na aeronave KC-390, classificado como canivete suíço dos ares, e nos 12 A-29N ou caças Super Tucano.
No período pré-pandemia fechou acordo com o Estado português no valor de 850 milhões de euros para este adquirir cinco KC-390 com opção de compra de mais um e hoje tem 12 países interessados no avião que pretende substituir o Hercules C-130, dez da NATO e dois fora do espaço da Aliança Atlântica, como a Coreia do Sul.
Boa parte deste avião está a ser produzida em Portugal, num processo que leva tempo e no qual foram introduzidas modificações à aeronave para a adequar aos requisitos estabelecidos por instituições como a ONU, a União Europeia e a própria NATO.
O gestor acrescenta que o projeto do KC-390 “envolveu centenas de milhares de horas de engenharia portuguesa e tornou Portugal a plataforma de lançamento da aeronave para outros parceiros da NATO, pois é a partir de solo português que continuam a ser feitos os seus componentes e áreas criticas do aparelho como a fuselagem, as asas, os estabilizadores e outro tipo de equipamentos que geram imenso valor econômico para Portugal".
O acordo do KC-390 foi fechado em 2019 com o Estado português. Incluía ainda um simulador já entregue, assim como três das seis unidades previstas.
Durante o último Paris Air Show, em junho, o ministro da Defesa português justificou a sexta opção, dizendo aos jornalistas que “estava prevista no contrato inicial uma aquisição feita ao preço da celebração do contrato, ou seja, não ao preço a que a aeronave está a ser vendida agora. Pelo que, no limite, se Portugal a quisesse vender, a revenderia com um enorme lucro".
Para Nuno Melo, a parceria com a Embraer traz mais-valias para o nosso país e vai ser ainda reforçada pela "opção potencial por dez outras aeronaves e cada avião vendido significará 11 milhões de euros para o Estado português com vantagens que serão acrescidas ainda com mais lucro".
Já para Frederico Lemos, outra mais-valia é “minimizar o esforço de procurement, dos processos de aquisição, desses outros países que podem fazer um acordo, tipo Governo-Governo, um G2G, o que, no espírito de novo fôlego da defesa europeia, traz esses benefícios de sinergias e otimização de recursos para terem plataformas modernas e capazes que projetam as capacidades das suas Forças Armadas para as próximas décadas".
Sobre a possibilidade de abrir o projeto a mais dez países da NATO, o gestor confirma manifestações de interesse, desde a ida à última edição do Paris Air Show, evento de referência mundial do setor da aviação, que este ano aconteceu na véspera da Cimeira da Aliança Atlântica, mas não adianta quais os países interessados. Apenas refere que a maioria é dentro do espaço europeu e dois fora do mercado extracomunitário.
Quanto aos 12 aviões A-29N Super Tucano para a Força Aérea Portuguesa, o voo inaugural do primeiro foi feito já no mês de julho, mas o contrato de aquisição inclui também um simulador de voo e serviços associados, num investimento total de cerca de 200 milhões de euros, o que torna Portugal no primeiro país a operar esta nova variante do avião de treino avançado e ataque leve, que atende aos requisitos da NATO.
A produção deste tipo de aviões, adaptados aos padrões da Organização do Atlântico Norte, está a ser feita em Portugal, em parceria com empresas portuguesas como a OGMA, GMV, ETI e CEIIA, sendo um contrato que reforça a parceria com a indústria de defesa portuguesa, abrindo caminho para uma cooperação industrial mais ampla.
A Embraer ambiciona continuar a trabalhar com qualquer parceiro que, em solo português, contribua com avanços de engenharia ou de tecnologia para os seus projetos, incluindo o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto de Matosinhos, ou empresas, como a Takever, produtora de drones com estatuto de unicórnio, sediada em Ponte de Sor, e já com vários contratos na área da Defesa.
Questionado sobre expetativas para a nova legislatura agora iniciada, Frederico Lemos limita-se a afirmar: "Nós temos sido abençoado com excelentes relações com diferentes países ao redor de todo o mundo e em Portugal temos muito orgulho no relacionamento que temos tido com diferentes governos ao longo destes 20 anos de presença no país e esperemos que assim continue a ser.”
Se poderia haver mais mecanismos fiscais, ou outro tipo de incentivos, para alavancar a atividade em Portugal, o gestor responde: ”Tudo ajuda com os bons projetos que nós temos, com boas pessoas e com um bom relacionamento institucional e eu acho que o futuro vai ser risonho para todos.”
Talvez, por isso, deixa um sorriso de despedida desta entrevista, quando confrontado com a hipótese de os portugueses poderem esperar, em breve, ter mais um novo avião da Embraer a ser construído no país, que possa levar à criação de uma nova fábrica e mais postos de trabalho e remata, dizendo: “Quem sabe? Não poderemos adiantar muito, mas a Embraer é uma companhia que já projetou dezenas de aeronaves na sua história, certamente não vai parar por aqui".
*Nota da LRCA: a empresa deve ser a Atech, como já foi noticiado em junho.
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