Negócio de US$ 600 milhões pode marcar entrada da aeronave brasileira no mercado africano e consolidar modernização militar marroquina
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| Imagem meramente representativa |
*LRCA Defense Consulting - 04/12/2025
A Embraer está em fase final de negociações para vender entre quatro e cinco aeronaves KC-390 Millennium à Força Aérea Real Marroquina, em um contrato estimado em aproximadamente US$ 600 milhões. Se confirmado, o acordo representará um marco histórico tanto para a indústria aeroespacial brasileira quanto para a estratégia de defesa do país norte-africano.
Negociações em estágio avançado
Segundo fontes da mídia especializada e publicações do
setor, as tratativas entre a Embraer e o governo marroquino encontram-se em
estágio avançado, com expectativa de conclusão até o final de 2025 e primeiras
entregas previstas para 2027. A fabricante brasileira já enviou delegações ao
Marrocos para tratar dos detalhes técnicos e comerciais da operação.
Apesar dos sinais positivos, tanto a Embraer quanto as autoridades marroquinas mantêm discrição pública sobre o assunto. Até o momento, não houve comunicado oficial detalhando quantidade exata de aeronaves, valores ou cronograma definitivo de entregas.
O interesse marroquino pelo KC-390 foi oficialmente revelado em setembro de 2024, durante um encontro de operadores da aeronave, quando o Marrocos apareceu listado entre os novos clientes potenciais, ao lado de Chile e Emirados Árabes Unidos. Meses antes, em março, um KC-390 de demonstração realizou voos com membros da Força Aérea Marroquina nas cidades de Rabat e na Base Aérea de Kenitra, com recepção considerada extremamente positiva pelos militares locais.
Modernização de frota envelhecida
A aquisição dos KC-390 faz parte de um amplo programa de
modernização das Forças Armadas Reais do Marrocos, que conta com um orçamento
de defesa superior a US$ 12 bilhões anuais. O país busca elevar suas
capacidades de projeção regional, especialmente nas áreas do Sahel e do Saara
Ocidental, regiões estratégicas onde mantém interesses de segurança.
Atualmente, a Força Aérea Real Marroquina opera cerca de 14 aeronaves C-130H Hércules, incluindo duas variantes KC-130H utilizadas para reabastecimento em voo. Muitas dessas aeronaves possuem mais de quatro décadas de uso, o que gera custos crescentes de manutenção e menor disponibilidade operacional.
A substituição por KC-390 representa um salto tecnológico significativo. Enquanto os C-130H marroquinos enfrentam limitações de idade e disponibilidade, o jato brasileiro oferece carga útil de até 26 toneladas, velocidade aproximada de 870 km/h (470 nós) e capacidade de operar em pistas curtas ou semi-preparadas — superando em carga, velocidade e eficiência os turbo-hélices atualmente em serviço.
Capacidades e versatilidade operacional
O KC-390 Millennium é uma aeronave multimissão de última
geração, desenvolvida pela Embraer em parceria com a Força Aérea Brasileira e
outros parceiros internacionais. Incorpora tecnologia fly-by-wire, suíte
completa de autoproteção (incluindo sistemas de alerta radar, alerta de mísseis
e lançadores de chaff/flare) e compatibilidade com pods de reabastecimento
padrão OTAN.
Essa versatilidade permite que a aeronave atue em diferentes papéis: transporte estratégico e tático, vetor de assalto aeroterrestre, evacuação médica, busca e salvamento, combate a incêndios florestais e reabastecimento aéreo para caças e helicópteros. Para o Marrocos, essas capacidades são especialmente relevantes diante dos desafios de segurança em seu entorno estratégico.
Dimensão estratégica e geopolítica
Se o acordo for confirmado, o Marrocos se tornará o primeiro
operador do KC-390 no continente africano, um feito significativo para a
penetração da Embraer em mercados emergentes. A escolha também reflete a
estratégia marroquina de aproximação aos padrões OTAN e diversificação de
fornecedores militares, reduzindo a dependência exclusiva de soluções
norte-americanas.
A negociação ganha contornos ainda mais relevantes no contexto das tensões regionais, especialmente com a Frente Polisário, apoiada pela Argélia. A modernização da capacidade de transporte e projeção de força aérea torna-se, assim, uma prioridade estratégica para Rabat.
Cooperação industrial e offsets
Além da venda das aeronaves, o contrato deve incluir pacotes
abrangentes de suporte logístico, manutenção e capacitação de pilotos e
mecânicos. Há também a possibilidade de produção parcial das aeronaves
localmente, o que fortaleceria a nascente indústria aeroespacial marroquina.
Em outubro de 2024, o governo marroquino assinou um Memorando de Entendimentos com a Embraer para lançar projetos conjuntos no setor aeroespacial, abrangendo aviação comercial, defesa e até mobilidade aérea urbana. A empresa brasileira vem estruturando uma cadeia de fornecedores no país norte-africano, o que pode facilitar acordos de cooperação industrial e offsets ligados ao programa KC-390.
Consolidação do KC-390 no mercado global
Para a Embraer, a venda ao Marrocos representa mais do que
um contrato comercial: é a consolidação do KC-390 como alternativa competitiva
aos gigantes Boeing e Lockheed Martin no segmento de transporte militar. Seria
um dos maiores contratos já firmados pela fabricante brasileira com um país
africano.
Atualmente, além do Brasil, o KC-390 já foi adquirido por Portugal, Hungria, Holanda, Áustria e Coreia do Sul. A entrada no mercado africano abre novas perspectivas de expansão em um continente que busca modernizar suas forças armadas e possui necessidades crescentes de transporte estratégico.
Enquanto aguardam a confirmação oficial, observadores do setor apontam que todos os sinais técnicos, comerciais e políticos indicam que o acordo está próximo de ser fechado, marcando um novo capítulo na projeção internacional da indústria de defesa brasileira.
Quadro Comparativo: KC-390 Millennium vs C-130H/KC-130H
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Aspecto |
KC-390 Millennium (proposto) |
C-130H/KC-130H (atual Marrocos) |
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Situação |
Em negociação (4–5 unidades) |
Frota em operação, aeronaves envelhecidas |
|
Carga máxima |
~26 toneladas de carga útil |
Volume e capacidade útil prática inferior |
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Velocidade |
~470 nós (~870 km/h) |
Inferior, com tempos de translado maiores |
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Tecnologia |
Fly-by-wire, suíte de autoproteção moderna |
Aviônicos antigos, custos de manutenção crescentes |
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Papel estratégico |
Modernização, maior alcance no Sahel e interoperabilidade OTAN |
Capacidade atual limitada por idade e disponibilidade |

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