Pesquisar este portal

12 maio, 2025

Conflito Índia & Paquistão: consequências para a Indústria Brasileira de Defesa

 


*LRCA Defense Consulting - 12/05/2025 (atualizado às 20h11)

O conflito armado entre Índia e Paquistão tende a trazer consequências diretas e indiretas para a Indústria de Defesa Brasileira, com ênfase nas empresas que já estão localizadas na Índia ou que nela pretendam produzir localmente, como Taurus Armas e CBC, no primeiro caso, e Embraer, no segundo.

Isto porque, em situações de ameaça à segurança nacional, os governos tendem a agilizar a aquisição de equipamentos militares para fortalecer suas forças armadas o mais rápido possível. Em um cenário de urgência por armamentos, as parcerias locais e a capacidade de produção doméstica (mesmo que parcial) são vistas como vantagens, potencialmente agilizando futuras licitações ou expansões de contratos existentes.

Neste cenário é comum que os países envolvidos priorizem a modernização e ampliação de suas forças armadas. Isso pode levar a:

- Agilização de processos burocráticos para compras de armamentos;

- Aumento do orçamento de defesa, com foco em itens de pronta entrega ou de rápida integração;

- Busca por fornecedores alternativos, especialmente se houver entraves com parceiros tradicionais.

Aquisições de Defesa da Índia
No geral, as aquisições de Defesa da Índia seguem regras rígidas de conteúdo local (Made in India - Feito na Índia e Atmanirbhar Bharat - Índia Autossuficiente). Isso significa que mesmo se houver aceleração nas compras, fornecedores estrangeiros precisarão ou produzir localmente ou transferir tecnologia substancial para parceiros indianos.

Fatores que podem influenciar a agilidade das licitações:

- Urgência e Prioridade: o nível de urgência ditado pela gravidade das tensões influenciará diretamente a velocidade dos processos burocráticos e de avaliação. A tendência é preferir fornecedores com capacidade de entrega rápida.

- Necessidades Específicas: as necessidades militares imediatas (por exemplo, armas leves, munições, aeronaves de transporte e sistemas de defesa aérea) direcionarão quais licitações serão aceleradas e quais empresas poderão se beneficiar mais rapidamente.

- Políticas de Aquisição: as políticas de aquisição de defesa, incluindo as iniciativas Make in India e Atmanirbhar Bharat, favorecem decisivamente empresas com produção local ou planos de transferência de tecnologia. As parcerias já estabelecidas pela Taurus e CBC são exemplos de alinhamentos a essas políticas.

- Considerações Geopolíticas: a Índia pode considerar a diversificação de seus fornecedores de armas para reduzir a dependência de um único país. O Brasil, como um parceiro estratégico em ascensão, pode se beneficiar desse fator.

Taurus Armas
A Taurus, por meio da joint venture JD Taurus com a indiana Jindal Defence, está participando de uma megalicitação  (a maior licitação do mundo para armas leves) para fornecer 425 mil fuzis ao Exército Indiano. O fuzil T4, desenvolvido em colaboração entre as duas empresas, passou por rigorosos testes em condições extremas, incluindo temperaturas elevadas nos Himalaias, e obteve resultados completamente positivos. A produção piloto já foi iniciada na fábrica em Hisar, Haryana, com capacidade para produzir até 1.500 armas por dia. A decisão final sobre a licitação é esperada para o primeiro semestre de 2025, com um contrato estimado entre US$ 340 milhões e US$ 380 milhões. 

Em 2024, a Submetralhadora JD Taurus T9 fez sua estreia na Índia, vencendo uma licitação para o fornecimento de 500 unidades para o Exército desse país, um marco histórico para a JD Taurus, pois foi a primeira licitação militar vencida pela empresa pouco tempo após ter iniciado sua produção.

A empresa está participando de 14 outras licitações com forças paramilitares e polícias estaduais para a pistola TS9, a submetralhadora T9 e os fuzis T4 e T10, que devem ser concluídas no 1º semestre de 2025. Em conjunto, a demanda supera 20 mil unidades. Tais licitações também  tendem a ser aceleradas com o conflito com o Paquistão. 

Com relação ao mercado civil, foram vendidas mais de 5.000 armas (pistola PT 57 SC) para o mercado civil em 2024, com a Taurus detendo cerca de 50% do mercado local, onde também busca lançar novos produtos. Atualmente, está sendo lançado um revólver em aço inoxidável, o primeiro da Índia; em junho, lançará uma pistola .380 nas versões metálica e polímero; e em setembro, lançará uma pistola .45.

A produção inicial, embora seja ainda relativamente pequena, é compensada pelos altos valores com que as armas produzidas estão sendo comercializadas, que variam de 1.200 a 1.600 dólares por unidade. A previsão de Salesio Nuhs, CEO Global da Taurus, é de que a capacidade produtiva seja dobrada nos próximos meses, possibilitando alavancar o ramp-up e as vendas.

Este mercado, apesar de ser civil, também deve apresentar uma maior demanda com o conflito em curso, haja vista que os cidadãos passam a sentir a necessidade de dispor de uma defesa própria para si, seus familiares e seus bens, a fim de fazer frente a possíveis distúrbios civis, atos de terrorismo, ocorrências de saques ou até mesmo para se sentir mais preparado com relação ao inimigo.

À semelhança do que já ocorreu em outros países em situação de conflito externo, é razoável também considerar uma possível flexibilização nas rígidas normas de posse e/ou porte de armamento pela população civil, seja pela facilitação da aquisição, seja pela permissão de uso de calibres mais potentes do que o .32.

CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos)
A CBC estabeleceu uma joint venture com a indiana SSS Springs, formando a SSS Defense, com foco na produção de munições. A empresa já obteve as licenças necessárias e está fornecendo munições em diversos calibres, atendendo tanto ao mercado militar quanto civil indiano, além de possíveis exportações para países amigos.

Embraer
A Embraer identificou a Índia como um mercado estratégico para sua divisão de defesa, especialmente com o transporte militar C-390 Millennium, haja vista que a Índia pretende adquirir cerca de 60 aeronaves. A empresa assinou um memorando de entendimento com a Mahindra Defence Systems em 2024 e planeja abrir uma subsidiária em Nova Délhi até o segundo trimestre de 2025. A Embraer propõe não apenas a venda, mas também a montagem local, transferência de tecnologia e completo suporte logístico, alinhando-se com as iniciativas Make in India e Atmanirbhar Bharat.

A Embraer tem um portfólio diversificado que inclui aeronaves de transporte militar (o multimissão C-390) e de ataque leve (A-29 Super Tucano, que pode ser uma eficaz solução antidrone), radares e sistemas de defesa. Em um contexto de tensões elevadas, a Índia pode priorizar a aquisição de aeronaves, sistemas de alerta antecipado (AEW&C) ou outras soluções de defesa oferecidas pela empresa. O interesse demonstrado pelo Brasil em sistemas de mísseis indianos, como o BrahMos e o Akash, pode também abrir caminho para uma maior cooperação e possíveis aquisições de produtos da Embraer pela Índia, especialmente se houver uma busca por diversificação de fornecedores e tecnologias.

Conclusão
Diante do aumento das tensões regionais, esta Consultoria acredita que o agravamento das tensões com o Paquistão leve a Índia a acelerar suas aquisições de defesa. 

Empresas brasileiras como Taurus Armas, CBC e Embraer, que já estão integradas (ou em vias de) ao mercado indiano por meio de parcerias locais e transferência de tecnologia, estão bem posicionadas para se beneficiar dessa demanda crescente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque