*LRCA Defense Consulting - 09/08/2025
A Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, está posicionando a
Índia como um pilar estratégico para sua expansão global, com planos ousados
que incluem a construção de uma fábrica de aviões no país e a disputa por um
contrato bilionário com a Força Aérea Indiana.
Explanado no LIDE Brazil-India Forum, realizado entre 6 e 8 de agosto de 2025
em Mumbai, o projeto teve a divulgação realizada por Márcio Monteiro, vice-presidente de Inteligência de Mercado da Embraer Defesa e Segurança, e reflete a visão da empresa brasileira de consolidar sua
presença na Ásia, transformando a Índia em um hub regional para a aviação de
defesa e, potencialmente, para outros segmentos. Com uma parceria estratégica
com o grupo indiano Mahindra e a abertura de uma subsidiária em Nova Délhi, a
Embraer está apostando alto em um mercado dinâmico e geopoliticamente
relevante.
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Márcio Monteiro, vice-presidente de Inteligência de Mercado da Embraer Defesa e Segurança. (Foto: FTF/LIDE) |
O maior contrato da história da Embraer
O cerne da iniciativa é a participação da Embraer em uma licitação para
substituir a frota de aviões de transporte médio da Força Aérea Indiana, com a
oferta do cargueiro militar KC-390 Millennium. Segundo Márcio Monteiro, o
contrato, que pode envolver a venda de 40 a 80 aeronaves, é avaliado em cerca
de R$ 65 bilhões, com cada unidade do KC-390 custando aproximadamente US$ 150
milhões (R$ 820 milhões). “Esse tem o potencial de ser o maior contrato da
história da Embraer”, destacou Monteiro durante o fórum em Mumbai. Caso a
licitação seja vencida, a empresa planeja instalar uma linha de montagem na
Índia, atendendo à exigência do governo indiano de que pelo menos 50% do
conteúdo das aeronaves seja produzido localmente.
O KC-390 Millennium é um cargueiro militar de última geração, capaz de transportar até 26 toneladas de carga útil, superando concorrentes em velocidade e alcance. Suas capacidades incluem missões de transporte de tropas, evacuação médica, busca e salvamento, combate a incêndios e apoio humanitário, o que o torna uma solução estratégica para a Índia, especialmente em um contexto geopolítico onde a preparação para defesa é prioridade. A Embraer já assinou um memorando de entendimento com a Mahindra Defence Systems, que será responsável pela nacionalização da produção, reforçando a transferência de tecnologia e o envolvimento de fornecedores locais.
Parceria com a Mahindra e hub regional
A colaboração com o grupo Mahindra é um dos pilares do projeto. A empresa
indiana, referência no setor industrial, será parceira na construção da fábrica
e na produção local do KC-390. “Vamos, basicamente, ter uma fábrica de aviões
da Embraer na Índia, fazendo esses aviões”, afirmou Monteiro, destacando o
potencial de transformar o país em um hub regional para atender mercados
vizinhos na Ásia. Essa estratégia alinha-se ao programa “Make in India”,
iniciativa do governo indiano para promover a manufatura local e atrair
investimentos estrangeiros.
Além da fábrica, a Embraer anunciou a abertura de uma
subsidiária, a Embraer Índia, e de um escritório em Nova Délhi, descrito como
uma “instalação estado da arte” voltada para o setor aeroespacial. Essas
iniciativas reforçam o compromisso da empresa com o mercado indiano,
facilitando relações institucionais e a integração com a cadeia de suprimentos
local. A presença física também é um sinal de confiança na capacidade da Índia
de se tornar um polo de inovação e produção aeronáutica.
Oportunidades além da Defesa
Embora o foco inicial seja o setor de defesa, a Embraer enxerga oportunidades
adicionais na aviação comercial e executiva. A empresa está promovendo seus
jatos E2, com capacidade para até 150 passageiros, como uma solução eficiente
para o mercado indiano, que enfrenta crescente demanda por conectividade aérea
regional. O plano UDAN do governo indiano, que visa expandir a aviação para
cidades menores, foi mencionado pelo presidente brasileiro em
conversa com o primeiro-ministro Narendra Modi, destacando o potencial dos
aviões da Embraer para apoiar essa iniciativa.
A Embraer também vê na Índia um mercado promissor para seus jatos executivos e serviços de suporte, aproveitando sua expertise em oferecer soluções personalizadas e tecnologicamente avançadas. Com mais de 9.000 aeronaves entregues globalmente e operações em mais de 100 países, a empresa está bem posicionada para atender às necessidades de um mercado em rápida expansão como o indiano.
Desafios no cenário global
Apesar do otimismo, a Embraer enfrenta desafios externos que podem impactar
seus planos. Nos Estados Unidos, a empresa lida com uma sobretaxa de 10% sobre
produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump em abril de 2025.
Embora a Embraer esteja na lista de exceções de uma tarifa mais alta de 50%, o
CEO Francisco Gomes Neto afirmou que a companhia trabalha para reduzir essa
sobretaxa a zero, já que ela afeta a competitividade no mercado americano, onde
a Embraer é líder em jatos regionais. A Índia também enfrenta tarifas
americanas, o que reforça a importância de parcerias bilaterais entre Brasil e
Índia, como destacado pelo presidente brasileiro em sua ligação com Modi.
Um salto estratégico
O projeto na Índia representa um marco potencial para a Embraer, que celebra 55
anos em 2025 como uma das líderes mundiais em aviação, com uma trajetória que
começou com o Bandeirante em 1969 e evoluiu para um portfólio diversificado de
aeronaves comerciais, executivas, militares e agrícolas. A possível conquista
do contrato com a Força Aérea Indiana não apenas consolidaria a posição da
Embraer no setor de defesa, mas também abriria portas para novos negócios na
Ásia, reforçando sua estratégia de crescimento sustentável e inovação.
Com a combinação de tecnologia de ponta, parcerias estratégicas e uma visão de longo prazo, a Embraer está pronta para transformar a Índia em um novo capítulo de sua história global. A expectativa é que, se bem-sucedida, a iniciativa não apenas gere retornos financeiros expressivos, mas também fortaleça os laços econômicos e tecnológicos entre Brasil e Índia, em um momento em que a aviação global busca soluções mais eficientes e sustentáveis.
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