Pesquisar este portal

13 agosto, 2025

Taurus Armas responde ao "tarifaço" dos EUA com ousadia e estratégia para manter fôlego global

Empresa brasileira do setor de defesa reage a imposto de 50% com estoques antecipados, transferência de produção, lobby intensivo e otimismo para resultados positivos em 2025
 
 


*LRCA Defense Consulting - 13/08/2025

Em um cenário econômico global marcado por incertezas e uma recente escalada de tensões comerciais, a Taurus Armas S.A. se encontra no olho do furacão de um "tarifaço" imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Contudo, a companhia, que já havia surpreendido o mercado com resultados sólidos no segundo trimestre de 2025, reage com uma combinação de agilidade operacional e uma ofensiva estratégica de múltiplas frentes, buscando proteger sua competitividade e rentabilidade no principal mercado mundial de armas.

No 2T25, a Taurus registrou um lucro líquido de R$ 33,2 milhões e, mais notavelmente, uma margem bruta de 38,0% – o melhor patamar desde 2023. Isso ocorreu mesmo sob o impacto inicial de uma tarifa de 10% já em vigor nos EUA e um "pênalti" cambial do dólar, que teve uma queda de 13% em relação ao trimestre anterior. Para Salésio Nuhs, CEO Global da Taurus, o resultado demonstra uma "resiliência operacional muito grande", com a empresa mostrando capacidade de se adaptar "rapidamente a situações novas e até situações adversas".

Segundo Marco Saravalle, analista principal e CEO da MSX Invest, um dos destaques foi o forte crescimento de vendas nas três geografias: EUA +10,2%, Brasil +100% e ROW +85%, com a estratégia de diversificação geográfica mostrando mais uma vez sua assertividade. "Os resultados da Taurus no 2º trimestre de 2025 vieram acima das expectativas, reforçando a consistência operacional da companhia mesmo em um ambiente global de incertezas e volatilidade", afirmou Saravalle.

A luta contra os 50%: estoques, fábrica e diplomacia
A partir de 6 de agosto, a entrada em vigor de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos EUA representa um "impacto severo" para a Taurus, dado que o mercado norte-americano responde por cerca de 77% da receita do segmento de armas e acessórios da empresa. Em resposta, a companhia acionou um plano de guerra de cinco frentes.

A primeira delas foi o reforço preventivo de estoques nos EUA. "Quando começou a se falar de taxação lá em abril, a gente imediatamente decidiu por transferir estoque para os Estados Unidos", revelou Salésio Nuhs na conferência de resultados que fez hoje, juntamente com o CFO Sérgio Sgrillo, no canal MSX Invest no YouTube, com Marco Saravalle. Essa manobra resultou em um estoque estratégico de cerca de 300 mil armas, avaliadas em aproximadamente US$ 90 milhões, importadas antes da nova tarifa, além de mais de 5 mil carregadores/dia enviados para reforçar a capacidade de montagem local.

A segunda frente envolve uma reestruturação produtiva sem precedentes. A Taurus está transferindo parte da linha de montagem da popular "família G" para sua fábrica nos EUA. A partir de setembro, a unidade americana terá capacidade para montar cerca de 900 armas/dia dessa linha, de um total de 2.100 armas/dia destinadas ao mercado americano. "Nós vamos mandar as peças para os Estados Unidos não montadas... para minimizar o efeito da taxa nas peças", explica Salésio, indicando uma mudança estratégica de exportar produtos acabados para kits de montagem.

Financeiramente, a empresa também age com proatividade. Houve uma redução nos preços de transferência de armas do Brasil para a operação nos EUA, buscando mitigar a incidência da tarifa sobre as margens. No Brasil, o foco é a geração de caixa através da liberação de créditos de ICMS junto ao governo do Rio Grande do Sul e a modificação de benefícios fiscais. Sérgio Sgrillo, CFO da Taurus, destaca que a "grande questão agora... é caixa", e que a dívida nos EUA, apesar de um pequeno aumento, é "barata" (cerca de 6,5%-6,8% ao ano), sendo utilizada para financiar o estoque estratégico.

Por fim, a mais visível das frentes é o lobby diplomático intensivo. A Taurus, ciente de sua relevância (é a maior exportadora do RS para os EUA e empresa estratégica de defesa para o Brasil), tem mantido contato com altas autoridades. Reuniões com o Vice-Presidente da República do Brasil, governadores estaduais (inclusive o da Geórgia, onde a Taurus tem fábrica, que virá ao Brasil para discutir o tema), Embaixada dos EUA e equipe da Vice-Presidência dos EUA mostram a força da articulação. Salésio Nuhs se permite um otimismo pessoal, acreditando que "dificilmente as taxas ficarão em 50%", argumentando o interesse americano no produto da Taurus e na Segunda Emenda.

Mercados: o Brasil reage, o mundo abre portas
Enquanto o desafio americano domina a pauta, a Taurus observa sinais promissores em outros mercados. O mercado brasileiro, embora ainda estagnado pela regulamentação, apresenta uma "expectativa de melhora" para o segundo semestre. A transferência do controle dos CACs (Caçadores, Atiradores, Colecionadores) do Exército para a Polícia Federal é vista com otimismo pela gestão, que projeta uma maior agilidade nas autorizações (promessa de 11 dias). Essa mudança pode destravar uma "demanda reprimida".

Além disso, a Taurus consolidou sua distribuição direta para lojistas no Brasil a partir de fevereiro/março, movimento que "aumenta muito a nossa margem" e permite uma interação mais próxima com o consumidor, otimizando o mercado nacional de "melhores margens".

No cenário internacional (ROW), a empresa registrou um crescimento de 18,2% nas exportações para 26 mil unidades no 2T25. Há uma "retomada das licitações do mundo", com 150 mil armas mapeadas em potencial em diversas regiões como América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. Na Índia, apesar de ter ficado em terceiro lugar em uma grande concorrência, a Taurus participa de outras licitações com potencial de venda de 34 mil unidades, avaliadas em US$ 27 milhões. A inovação também impulsiona resultados, com 26,5% da receita líquida do 2T25 vindo de novos produtos, como a bem-sucedida pistola GX2.

Perspectivas e o jogo de xadrez da Taurus
Apesar do aumento da dívida líquida (R$ 607,8 milhões) e da alavancagem (Dívida Líquida/EBITDA de 3,23x), devido ao financiamento dos estoques nos EUA (muito mais barato que o tarifaço), o CFO Sérgio Sgrillo considera a estrutura de capital segura, esperando uma redução da dívida com a venda dos estoques nos EUA. A empresa mantém a disciplina financeira e o foco no investimento em tecnologia.

A Taurus se autodenomina uma empresa "ágil" e que "toma decisões sempre antecipadas". Assim foi quando da pandemia, em se tornou a maior vendedora de armas leves do mundo, e assim está sendo agora, pois desde abril a companhia já vinha tomando medidas (aumento de estoques nos EUA e planejamento prévio da então possível transferência da Linha G para este país) para mitigar o tarifaço que poderia vir. A complexidade do cenário atual exige um "jogo de xadrez" inteligente, proativo e constante, mas a gestão expressa total confiança na empresa.

Para Salesio Nuhs, "mesmo que a taxa de cinquenta por cento aconteça... a companhia vai continuar uma companhia que o resultado é positivo no cenário que a gente desenhou".

A capacidade da Taurus de transformar desafios em oportunidades (antifragilidade), aliada à sua visão estratégica e à execução disciplinada, será o fator determinante para seu sucesso em 2025 e nos anos seguintes, consolidando seu papel como um player global em um setor de alta sensibilidade política e econômica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será submetido ao Administrador. Não serão publicados comentários ofensivos ou que visem desabonar a imagem das empresas (críticas destrutivas).

Postagem em destaque