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22 agosto, 2021

A indústria brasileira de defesa e a questão do Afeganistão

 


*LRCA Defense Consulting - 22/08/2021

Com a nova ascensão do Talibã ao governo e ao provável domínio da maior parte do Afeganistão, passou a ser previsto o risco real de esse país se tornar um futuro vetor para ataques terroristas no mundo.

Em termos geopolíticos, um dos grandes receios mundiais é que - além do risco de um país inteiro com 40 milhões de habitantes passar a ser dominado por uma seita violenta - esteja em formação um novo e poderoso eixo radical islâmico formado pelos vizinhos Emirado Islâmico do Afeganistão e Irã, com a agravante de o Irã possuir um grande, moderno e poderoso arsenal, além de uma ligação muito estreita com o Talibã, por meio da Força Quds.  

De acordo com o que afirmou o cientista político norte-americano Seth Jones ao portal russo Sputnik, a Força Quds do Irã está expandindo sua presença clandestina no Afeganistão e, a partir daí, buscaria apoiar milícias e grupos políticos da região para promover os interesses iranianos. A Força Quds é um poderoso braço paramilitar de elite da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, considerado pelos Estados Unidos como um grupo terrorista.

A cooperação do Irã com o Talibã também se baseia na hostilidade compartilhada em relação a potências ocidentais, como os Estados Unidos e o Reino Unido. A extensão desses laços se tornou visível quando o líder talibã Mullah Akhtar Mansour foi morto em um ataque de drones dos Estados Unidos em maio de 2016, enquanto voltava do Irã para o Paquistão.

Há que se considerar também a real probabilidade de o Talibã aproveitar o grande êxodo em curso no Afeganistão para infiltrar seus militantes nos países nos quais tem interesse, especialmente os ocidentais, deixando-os adormecidos até o momento de serem úteis para alguma ação. A propósito, é relevante saber que, na última semana, o Talibã libertou cerca de 4.000 homens que estavam presos em cadeias no Afeganistão, boa parte deles condenados por ligações com organizações terroristas, como a Al-Qaeda.

Conforme o analista Oleg Glazunov, membro da Associação dos Analistas Políticos Militares russos, os talibãs já têm células adormecidas em todos os países da Ásia Central, incluindo nos vizinhos (e aliados da Rússia) Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão. Junto com os refugiados do Afeganistão, podem chegar a estes países futuros terroristas. "Por quê? Acho que os talibãs têm um plano de longo alcance que vai além do Afeganistão: criar um cinturão de Estados islâmicos na Ásia Central", afirmou o analista ao portal Sputnik.

O Talibã tem agora capacidades bélicas completamente novas
Com a captura do armamento e equipamento americano, russo e de outros países deixados para trás ou tomados das forças afegãs, o emirado islâmico tem a sua disposição helicópteros, tanques e outros veículos blindados, além de material de artilharia leve e pesada, lançadores de foguetes, veículos aéreos não tripulados (drones), mísseis antitanque e antiaéreos, e itens de visão noturna.

Conforme o boletim anual The Military Balance, citado pelo portal Sputnik, as tropas governamentais possuíam 40 tanques médios russos T-55 e T-62, 620 veículos blindados americanos MSFV (Mobile Strike Force Vehicles), 200 carros blindados americanos MaxxPro e uns 1.000 veículos americanos Hummer. Havia ainda 50 lança-foguetes russos Grad (BM-21), 85 obuseiros russos D-30 de 122 mm e 24 obuseiros americanos M114A1 de 155 mm, bem como 600 morteiros. 

Destruição garantida! Saiba como lançadores de foguetes Grad se tornaram  populares no mundo - Sputnik Brasil
Lançador múltiplo de foguetes BM 21 russo, mais conhecido como Grad

O ssss
MSFV americano exposto no QG da ISAF em Cabul


A Força Aérea do país incorporava 22 aeronaves turboélice de ataque leves EMB-314 Super Tucano, quatro aviões de transporte C-130H Hercules, 24 leves Cessna 208B e 18 PC-12. Na aviação do Exército havia seis helicópteros de ataque Mi-35, 76 Mi-17, 41 leves MD-530F e até 30 multifuncionais UH-60A Black Hawk. É certo que nem todo o material será útil. Mesmo assim, se só uma parte das aeronaves for capaz de voar, o Talibã tem agora capacidades completamente novas.

A aviação nas mãos da organização terrorista é uma grande ameaça para os países vizinhos. Hipoteticamente, cada aeronave do Talibã é uma arma que pode ser preenchida com explosivos e utilizada para ataques, inclusive suicidas, como nas Torres Gêmeas. Os militares afegãos não perceberam isso e deixaram o equipamento intacto, sem sequer tentar destruí-lo. Além disso, muitos pilotos afegãos voluntariamente se juntaram aos talibãs.

 Helicóptero russo de ataque Mi-35 da Afghan National Air Force

EMB-314 Super Tucanos da Força Aérea Afegã

Embora os talibãs ainda não tenham competências para usar meios aéreos e outros equipamentos sofisticados, é possível prever que a competência para utilizá-los possa ser adquirida em médio prazo, especialmente com o concurso de instrutores militares iranianos da Força Quds.

No entanto, há indícios que os insurgentes já estejam vendendo alguns armamentos no exterior - na Ásia Central e no Oriente Médio, e no futuro, provavelmente, na África oriental. Um modo de ganhar dinheiro que poderá ter efeitos devastadores em outros cenários bélicos no mundo. 

Além disso, foram capturadas milhares de armas leves (fuzis, submetralhadoras, metralhadoras e pistolas) de produção ocidental, toneladas de munição, equipamentos de visão noturna e de infravermelhos, uniformes, entre outros materiais.

Combatentes do Talibã com armas de ataque dos EUA são fotografados em um desfile do Dia da Independência na cidade de Qalat, Afeganistão, na quinta-feira (19)
Combatentes do Talibã com fuzis dos EUA são fotografados em um desfile do Dia da Independência na cidade de Qalat, Afeganistão, na quinta-feira (19) - CNN Brasil


Um novo fator de medo e preocupação

Entre 1996 e 2001,  o Talibã chegou a controlar até 90% do Afeganistão e se tornou um santuário para extremistas islâmicos de todo o mundo que ali iam para serem treinados, principalmente os da Al-Qaeda.

A renovada ameaça mundial, configurada agora com a criação do Emirado Islâmico do Afeganistão sob o domínio do Talibã, tende a elevar a preocupação de muitos países com sua segurança interna e externa, especialmente aqueles que possuem relações mais próximas com os Estados Unidos e com outras potências ocidentais, o que pode levá-los a acelerar a compra de armamentos modernos para suas forças armadas e policiais. Nesse caso, encontram-se, por exemplo, países como Índia, Filipinas e Bangladesh, além de outros do Oriente Médio e da África. No caso da Índia, a preocupação é dupla, pois a separá-la do Afeganistão, está seu arqui-inimigo atômico Paquistão, cujas ligações com o Talibã são historicamente fortes.

O fato também acrescenta um novo fator de medo à população dos Estados Unidos, que sabe que sua pátria, gente e interesses são os principais alvos dos radicais islâmicos do Talibã. Sempre é bom lembrar que foi do Afeganistão (então sob o domínio Talibã), com o silêncio cúmplice do vizinho Paquistão, que Osama Bin Laden planejou e executou os ataques de 11 de setembro de 2001.

Ataque às Torres Gêmeas em Nova Iorque - 11 Set 2001

Possíveis consequências para a indústria brasileira de defesa
Esta Consultoria acredita que a indústria brasileira de defesa - representada principalmente pela Embraer, Avibras, CBC e Taurus - possa vir a ser alvo de consultas e pedidos de armas, equipamentos e munições realizados com base no novo cenário. 

Neste caso, o destaque seria para: aviões Super Tucano e C-390 Millennium da Embraer; lançadores de foguetes Astros 2020 e foguetes da Avibras; munições de diversos calibres da CBC; e fuzis T4, pistolas TS9 e submetralhadoras SMT9 da Taurus Armas. A oportunidade também poderá ser aproveitada pela Mac Jee para exportar o seu inovador e ágil lançador de foguetes Armadillo, caso consiga acelerar e ultimar os testes necessários com os foguetes junto à Avibras e à Imbel.

No caso do mercado interno dos Estados Unidos, não será surpresa se esse novo fator vier a pressionar ainda mais a já enorme demanda por armas leves e munições, levando as empresas do setor, incluindo a Taurus e a CBC, a ver um aumento dos pedidos em carteira (backorder) já existentes.

Minha viagem ao Afeganistão! - Viagens e Beleza

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