Embraer e FDTE firmam primeiro contrato de
desenvolvimento científico com a Base Industrial de Defesa voltado ao Sistema
de Gerenciamento da Amazônia Azul
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| Engenheiro Fábio Henrique Caparica Santos, Vice-Presidente de Contratos e Propostas da Embraer, defendeu a soberania tecnológica |
*LRCA Defense Consulting - 16/12/2025
A Marinha do Brasil deu um passo histórico no fortalecimento
da soberania tecnológica nacional ao promover, no dia 3 de dezembro de 2025, a
cerimônia de assinatura do primeiro contrato de desenvolvimento científico e
tecnológico do Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação com a Base Industrial de
Defesa voltado ao Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz).
O acordo, realizado pela Diretoria-Geral de Desenvolvimento
Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), marca uma aliança estratégica entre
a Embraer e a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE)
para o desenvolvimento de tecnologia de ponta aplicada à vigilância costeira
brasileira.
Contrato e seus objetivos
O contrato prevê a implementação de um software de
processamento de sinal que será embarcado no Radar Gaivota de Vigilância
Costeira. Este radar atuará como sensor do SisGAAz e integrará uma rede de
radares de vigilância que serão distribuídos ao longo de toda a costa
brasileira, fortalecendo significativamente a capacidade de monitoramento das
águas jurisdicionais do país.
O radar está sendo desenvolvido no âmbito do projeto da
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do SisGAAz - fase 2, representando
um investimento significativo em autonomia tecnológica na área de defesa.
Cerimônia reuniu lideranças das três hélices da inovação
A cerimônia de assinatura ocorreu nas instalações do
InovaUSP, em São Paulo, e contou com a presença de autoridades representando o
modelo "tripla hélice" da inovação - governo, indústria e academia.
Entre os presentes estavam:
- Almirante
de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, Diretor-Geral de
Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha
- Engenheiro
Fábio Henrique Caparica Santos, Vice-Presidente de Contratos e
Propostas da Embraer
- Professor
Doutor José Roberto Castilho Piqueira, Diretor de Operações da FDTE
- Professor
Doutor Marcelo Knörich Zuffo, Diretor do InovaUSP
- Vice-Almirante
Carlos Henrique de Lima Zampieri, Diretor de Sistemas de Armas da
Marinha (DSAM)
- Vice-Almirante
Marcelo da Silva Gomes, Diretor de Gestão de Programas da Marinha
(DGePM)
- Contra-Almirante
Marcos Fricks Cavalcante, Diretor do Centro Tecnológico da Marinha no
Rio de Janeiro (CTMRJ)
A visão da Marinha: modelo tripla hélice em ação
O Contra-Almirante Fricks destacou a relevância tecnológica
do acordo durante seu discurso: "Este contrato é uma iniciativa para a
elevação do grau de maturidade tecnológica dos radares da família do Radar
Gaivota, visando a sua completa produção pelo setor industrial brasileiro,
representando uma materialização do modelo tripla hélice da inovação
tecnológica proposta por Etzkowitz e Leydesdorff".
A declaração evidencia a estratégia da Marinha de não apenas
desenvolver tecnologia, mas de criar um ecossistema de inovação sustentável que
integre as capacidades das forças armadas, da indústria nacional e das
instituições acadêmicas.
Embraer: compromisso com a soberania tecnológica
O Vice-Presidente de Contratos e Propostas da Embraer,
Engenheiro Fábio Henrique Caparica Santos, agradeceu à Marinha pela confiança
depositada na empresa e ressaltou os impactos estratégicos da parceria.
"O fortalecimento e a diversificação da área de Defesa
e Segurança da Embraer estão alinhados com o desenvolvimento autônomo de
capacidades críticas no País, visando atender às necessidades das Forças
Armadas por soluções tecnologicamente avançadas e integradas, ao mesmo tempo em
que preservam os interesses nacionais e a soberania", afirmou Caparica.
A declaração sublinha o papel da Embraer não apenas como
fornecedora de tecnologia, mas como parceira estratégica no desenvolvimento de
capacidades críticas de defesa, reduzindo a dependência tecnológica externa do
Brasil.
FDTE: a ponte entre academia e defesa nacional
O Professor Doutor José Roberto Castilho Piqueira, Diretor
de Operações da FDTE, expressou gratidão pela parceria histórica com a Marinha:
"Para nós é uma honra trabalhar com a Marinha do Brasil. Sempre foi uma
troca de experiências de muito valor no âmbito tecnológico".
A FDTE, fundação ligada à Escola Politécnica da USP,
desempenha papel fundamental ao viabilizar a transferência de conhecimento
acadêmico para aplicações práticas em defesa, demonstrando como a pesquisa
universitária pode contribuir diretamente para a segurança nacional.
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| Assinatura do contrato entre FDTE e Embraer |
InovaUSP: inovação pública impulsionando o setor privado
O Diretor do InovaUSP, Professor Doutor Marcelo Knörich
Zuffo, destacou o compromisso institucional com o avanço tecnológico do país:
"O compromisso de nós como Estado com a nação brasileira é devido. Nós não
podemos fugir da nossa responsabilidade como inovadores. A inovação tem que
estar em nosso sangue. É a inovação pública que permitirá a inovação
privada".
A declaração de Zuffo enfatiza o papel das instituições
públicas como catalisadoras da inovação no setor privado, criando as condições
para que empresas brasileiras possam desenvolver tecnologias de ponta.
Visão de futuro: um Brasil que não para
Ao término da cerimônia, o Almirante de Esquadra Rabello
projetou uma visão otimista sobre os impactos da iniciativa: "Começamos
agora a impulsionar o Brasil e esse Brasil não para. O desafio é equalizar esse
desenvolvimento pelo país e torná-lo cada vez mais próspero".
A fala do Diretor-Geral da DGDNTM revela a compreensão de
que o desenvolvimento tecnológico em defesa tem efeitos multiplicadores sobre
toda a economia, contribuindo para reduzir desigualdades regionais e
impulsionar o desenvolvimento nacional.
Visita ao Laboratório de Micro-Ondas
Após a cerimônia oficial, os representantes da FDTE e da
Embraer foram recebidos pela DGDNTM no Laboratório de Micro-Ondas de Potência e
Fotônica (LaMP), onde puderam acompanhar uma apresentação das principais
atividades e capacidades tecnológicas do laboratório.
Esta visita técnica demonstra a transparência da Marinha em
compartilhar suas capacidades tecnológicas com parceiros estratégicos,
facilitando a sinergia necessária para o desenvolvimento de soluções
integradas.
Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)
O SisGAAz é um sistema estratégico que visa monitorar, de
forma contínua e integrada, as Águas Jurisdicionais Brasileiras e as áreas
internacionais de responsabilidade do país. A Amazônia Azul corresponde a
aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros quadrados - uma área equivalente a
cerca de metade do território continental brasileiro.
O sistema integrará uma rede de sensores terrestres e
marítimos, centros de comando e controle, e recursos de monitoramento aéreo e
ambiental, proporcionando ao Brasil capacidade efetiva de controlar sua
mobilidade estratégica e responder prontamente a ameaças, emergências ou
desastres ambientais.
Radar Gaivota: tecnologia nacional de ponta
O Projeto Radar Gaivota representa anos de desenvolvimento
pela Marinha do Brasil, com foco na criação de capacidade nacional de produção
de radares de vigilância costeira. A família de radares Gaivota está sendo
desenvolvida para atender tanto necessidades de vigilância costeira quanto de
busca de superfície em plataformas embarcadas.
A elevação do grau de maturidade tecnológica destes radares,
objetivo central do contrato firmado, permitirá que o setor industrial
brasileiro domine completamente o ciclo de produção, desde o projeto até a
fabricação, reduzindo vulnerabilidades estratégicas e criando oportunidades de
exportação futura.
Impactos para a Base Industrial de Defesa
O acordo celebrado marca mais um passo relevante no
fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira e na consolidação
de parcerias estratégicas da Marinha com o setor científico e tecnológico
nacional.
Ao desenvolver capacidades críticas em território nacional,
o Brasil:
- Reduz
dependência de fornecedores externos em áreas sensíveis
- Cria
empregos altamente qualificados em engenharia e tecnologia
- Desenvolve
conhecimento que pode ter aplicações civis
- Fortalece
sua posição negociadora em cooperações internacionais
- Garante
autonomia para modernização e manutenção de sistemas críticos
Modelo de desenvolvimento para outros setores
A parceria entre Marinha, Embraer e FDTE estabelece um
modelo que pode ser replicado em outros setores estratégicos. A integração
entre as necessidades operacionais das forças armadas, a capacidade de produção
industrial da Embraer e o conhecimento acadêmico canalizado pela FDTE cria um
ciclo virtuoso de inovação.
Este modelo de "tripla hélice" permite que
pesquisas acadêmicas encontrem aplicações práticas, que a indústria desenvolva
novos produtos com menor risco tecnológico, e que as forças armadas obtenham
soluções customizadas para suas necessidades específicas.
Contexto internacional e soberania tecnológica
Em um cenário internacional marcado por crescentes
restrições à transferência de tecnologias sensíveis, o desenvolvimento de
capacidades autônomas em vigilância e defesa torna-se cada vez mais crítico. O
Projeto Radar Gaivota insere-se neste contexto como afirmação da capacidade
brasileira de desenvolver tecnologias de ponta sem depender de licenças ou
autorizações externas.
A soberania tecnológica em sistemas de defesa garante ao
país não apenas autonomia operacional, mas também liberdade de ação na política
externa, sem restrições impostas por fornecedores de equipamentos críticos.
Perspectivas futuras
Com a assinatura deste primeiro contrato voltado ao SisGAAz
entre a Base Industrial de Defesa e o setor de Ciência, Tecnologia e Inovação,
abre-se caminho para novas parcerias e projetos. A implementação do software de
processamento de sinal no Radar Gaivota de Vigilância Costeira é apenas o
primeiro passo de um programa mais amplo que visa equipar o Brasil com
capacidade completa de monitoramento de suas águas jurisdicionais.
Os próximos desafios incluem a produção em escala dos
radares, sua integração efetiva ao SisGAAz, o treinamento de pessoal para
operação e manutenção, e a criação de uma cadeia de fornecedores nacionais
capaz de sustentar o programa a longo prazo.
Desenvolvimento tecnológico autônomo
A cerimônia de 3 de dezembro de 2025 representa mais do que
a assinatura de um contrato - simboliza o compromisso do Brasil com seu
desenvolvimento tecnológico autônomo e com a proteção efetiva de seu território
marítimo. A parceria entre Marinha, Embraer e FDTE demonstra que o país possui
as capacidades institucionais, industriais e acadêmicas necessárias para
alcançar a soberania tecnológica em áreas críticas.
Como afirmou o Almirante Rabello, "esse Brasil não
para". O Projeto Radar Gaivota e o SisGAAz são provas concretas de que o
país está no caminho certo para garantir sua segurança e soberania através da
ciência e da tecnologia.