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31 dezembro, 2025

Investimento da United Airlines na Azul pode beneficiar a Embraer

Aprovação do Cade abre caminho para fortalecimento de importante cliente da fabricante brasileira


*LRCA Defense Consulting - 31/12/2025

A aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) da aquisição de participação minoritária da Azul Linhas Aéreas pela United Airlines, divulgada nesta quarta-feira (31), pode representar um importante ponto de inflexão para a Embraer. A fabricante brasileira de aeronaves, que enfrentou recentemente a redução de um grande pedido da companhia aérea nacional, vê agora uma possibilidade de estabilização de um de seus principais clientes globais.

O acordo crucial
A operação aprovada permite que a United Airlines invista aproximadamente US$ 100 milhões em ações ordinárias da Azul, elevando sua participação de 2,02% para cerca de 8% do capital social da companhia brasileira. O movimento faz parte da reestruturação societária da Azul sob o "Chapter 11" nos Estados Unidos, iniciado voluntariamente em maio de 2025, com o objetivo de reduzir a dívida financeira e assegurar liquidez imediata.

Segundo analistas de mercado, o investimento conjunto da United e da American Airlines na Azul deve gerar economia de aproximadamente US$ 200 milhões anuais em pagamentos de juros para a companhia aérea brasileira. Este alívio financeiro é crucial para a continuidade das operações e compromissos com fornecedores.

O baque recente
A relação entre Azul e Embraer atravessou momento delicado nos últimos meses. Como parte das negociações da recuperação judicial, a companhia aérea brasileira reduziu sua encomenda de jatos E195-E2 de 51 para 25 aeronaves. O corte foi significativo para a Embraer, considerando que a Azul é a maior operadora da família E2 no Hemisfério Sul.

Apesar do revés, a Embraer manteve o ritmo de entregas. Em dezembro de 2025, a fabricante entregou a 41ª aeronave Embraer 195-E2 para a Azul, marcando a última entrega prevista do ano e demonstrando que, mesmo em meio às turbulências financeiras, o relacionamento comercial permanece ativo.

A conexão estratégica
O que torna o investimento da United particularmente relevante para a Embraer é a intrincada rede de relacionamentos que conecta as três empresas. A United Airlines mantém parceria de codeshare com a Azul desde 2015, permitindo compartilhamento de rotas entre Brasil e Estados Unidos e facilitando o acesso dos passageiros a diversos destinos em ambos os países.

Mais importante ainda, a United é, por si só, uma grande cliente da Embraer. Em 2019, a companhia norte-americana assinou contrato para a compra de até 39 jatos E175, em negócio avaliado em US$ 1,9 bilhão. A Mesa Airlines, subsidiária regional da United, já no início de 2025 definiu que sua frota será 100% composta por jatos E-175 da Embraer.

Benefícios indiretos, mas relevantes
Especialistas do setor avaliam que o fortalecimento financeiro da Azul, viabilizado pelo investimento da United, pode trazer benefícios indiretos importantes para a Embraer em três frentes principais:

- Estabilidade operacional: uma Azul financeiramente mais sólida terá maior capacidade de honrar os compromissos remanescentes de aquisição das 25 aeronaves E195-E2 ainda em carteira, além de eventualmente retomar expansões futuras com a fabricante brasileira.

- Fortalecimento da parceria internacional: a conexão mais profunda entre United e Azul pode estimular a padronização de frotas e práticas operacionais, beneficiando fabricantes que atendem ambas as companhias. A United, já comprometida com a Embraer em suas operações regionais, pode ver na experiência da Azul com a família E2 argumentos adicionais para futuras aquisições.

- Credibilidade de mercado: a manutenção de um importante operador da família E2 em atividade plena reforça a viabilidade comercial das aeronaves da Embraer no competitivo segmento de jatos regionais e de até 150 assentos.

Perspectivas cautelosas
Analistas do BTG Pactual avaliam que o risco para a Embraer decorrente da recuperação judicial da Azul é limitado, dado o vasto pipeline de contratos potenciais em outros mercados. De fato, a Embraer tem diversificado sua carteira de clientes globalmente, reduzindo a dependência de um único operador.

Contudo, a recuperação da saúde financeira da Azul, viabilizada em parte pelo investimento da United, oferece à Embraer algo igualmente valioso: a manutenção de uma vitrine de sucesso para suas aeronaves E2 no maior mercado doméstico da América Latina.

Para a Embraer, o investimento da United na Azul não representa um benefício direto e imediato em termos de novos pedidos, mas sim um alívio estratégico. Em um setor caracterizado por relacionamentos de longo prazo e investimentos bilionários, a estabilidade de clientes importantes é tão valiosa quanto a conquista de novos contratos.

O movimento aprovado pelo Cade demonstra que, no complexo ecossistema da aviação comercial, as conexões entre fabricantes e operadores transcendem contratos individuais, criando redes de interdependência onde o fortalecimento de um elo pode beneficiar toda a cadeia.

Stella Tecnologia desenvolve primeiro drone kamikaze do Brasil que desafia a guerra eletrônica

 Empresa brasileira desenvolve tecnologia de ponta para a defesa nacional

Imagem aproximada do drone com fibra óptica da Stella Tecnologia


*LRCA Defense Consulting - 31/12/2025

A Stella Tecnologia, empresa estratégica de defesa sediada em Duque de Caxias (RJ), entrou para o seleto grupo de desenvolvedores de drones kamikaze guiados por fibra óptica, tecnologia que está revolucionando conflitos modernos e representa um marco na indústria de defesa brasileira.

Pioneirismo nacional
A Stella Tecnologia apresentou protótipos de um drone de ataque usando fibra óptica em evento militar recente, tornando-se referência no desenvolvimento dessa tecnologia no país. A empresa, reconhecida pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa (EED), vem consolidando sua posição no mercado de sistemas não tripulados desde sua fundação em 2015.

Tecnologia imune a interferências
A principal vantagem dos drones com fibra óptica está na sua resistência à guerra eletrônica. Enquanto drones convencionais podem ser neutralizados por sistemas de interferência de rádio, os drones guiados por fibra óptica são praticamente imunes à guerra eletrônica, mantendo controle e transmissão de vídeo estáveis até o impacto final.

O funcionamento é baseado em um cabo de fibra óptica ultrafino que conecta fisicamente o drone ao operador. Os dados viajam como pulsos de luz através do cabo, tornando o enlace de controle imune a interferências e bloqueios por rádio, diferentemente das vulneráveis comunicações sem fio.

Alcance e especificações
Segundo informações técnicas, os drones kamikaze com fibra óptica da Stella Tecnologia possuem alcance mínimo de 10 km, podendo chegar até 50 km com cabos mais longos. O alcance prático de drones militares com fibra óptica varia de 10 a 20 km, com ataques reportados entre 20 e 30 km.

Contexto internacional
A tecnologia ganhou destaque nos conflitos atuais. No campo de batalha da Ucrânia, os drones com fibra óptica estão se destacando por sua capacidade de operar sem vulnerabilidade eletrônica. Tanto forças russas quanto ucranianas adotaram massivamente essa tecnologia após constatar sua eficácia contra sistemas de interferência.

Estima-se que cerca de 10% dos drones ucranianos já são guiados por fibra óptica, enquanto fontes russas reportam produção de dezenas de milhares de unidades mensalmente.

Portfolio da Stella Tecnologia
A Stella possui amplo portfólio de drones, incluindo o Atobá, maior VANT da América Latina com 11 metros de envergadura e autonomia de 28 horas, além do Albatroz para operações embarcadas e o ambicioso Atobá XR, com 1.400 kg e capacidade para 300 kg de carga útil.

O sistema desenvolvido pela Stella envolve munições suicidas com peso de cerca de 15 kg no lançamento, equipadas com câmera no nariz e receptor/emissor datalink criptografado.

Desafios e limitações
Apesar das vantagens, a tecnologia apresenta limitações. O peso adicional do cabo de fibra óptica exige baterias mais potentes ou motores mais fortes, encarecendo a fabricação e potencialmente reduzindo velocidade e manobrabilidade.

Outro desafio é logístico: cada drone deixa para trás quilômetros de cabo plástico no campo de batalha, criando um problema ambiental significativo que pode durar séculos.

Parceria entre Stella e Thales
A parceria entre a Stella Tecnologia e a Thales fortalece o ecossistema de drones da Stella, integrando sistemas avançados de vigilância e defesa a plataformas como o Atobá, promovendo soberania tecnológica brasileira. A aliança estratégica, firmada na LAAD 2025, combina a expertise da Stella em VANTs de classe MALE com sensores e eletrônica da Thales (via Omnisys), permitindo soluções embarcadas ideais para drones com comunicação por fibra óptica, que oferecem baixa detectabilidade e alta segurança em missões ISR.

Além disso, reforça a autonomia nacional em sistemas não tripulados, com desenvolvimento local de payloads para drones ópticos, reduzindo dependências externas, elevando capacidades em cenários de guerra eletrônica e abrindo mercados globais, como OTAN, para exportação de drones Stella equipados com tecnologia Thales, gerando empregos e inovação em fibras ópticas para defesa aérea.

Em síntese, essa colaboração posiciona os drones de fibra óptica da Stella como referência em soberania e interoperabilidade. 

Mercado em expansão
O mercado global de drones atados por fibra óptica foi estimado em 300 milhões de dólares em 2024 e deve se aproximar de 460 milhões até 2033, demonstrando o crescente interesse militar nesta tecnologia.

Com o desenvolvimento da Stella Tecnologia, o Brasil se posiciona estrategicamente neste mercado emergente, agregando capacidade tecnológica nacional ao setor de defesa e oferecendo alternativas às soluções importadas tradicionalmente utilizadas pelas Forças Armadas.

30 dezembro, 2025

A revolução dos drones na logística de guerra: como veículos não tripulados estão redefinindo o campo de batalha moderno

 Há um novo paradigma logístico nos conflitos do Século XXI...

 


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LRCA Defense Consulting - 30/12/2025

Os campos de batalha de 2025 pouco se parecem com as imagens gravadas em guerras anteriores. Em trincheiras ucranianas, não são mais caminhões militares que levam munição, água e alimentos às posições mais avançadas. São drones terrestres e aéreos que, silenciosamente, atravessam zonas perigosas para reabastecer combatentes. Esta mudança fundamental na logística militar representa uma das transformações mais significativas na arte da guerra desde a mecanização das forças armadas.

A guerra na Ucrânia tornou-se um laboratório em tempo real para inovações militares, especialmente no uso de veículos aéreos não tripulados. O que começou como uma necessidade tornou-se doutrina: drones não são mais apenas ferramentas de reconhecimento ou armas de ataque, mas a espinha dorsal da logística tática moderna.

A logística da "última milha" transformada
Em algumas brigadas ucranianas de elite, como a 3ª Brigada de Assalto e unidades Azov, os números são impressionantes. Entre 50% e 80% das entregas de suprimentos na zona mais avançada já são realizadas por robôs terrestres e multirrotores pesados, substituindo completamente os veículos tripulados nas áreas mais perigosas. Uma brigada específica relatou que seus robôs terrestres transportam cerca de 40 toneladas de carga por semana para cinco batalhões, chegando a responder por aproximadamente 80% da logística de linha de frente em condições favoráveis de terreno.

Os motivos para essa transformação são claros: veículos convencionais tornaram-se alvos fáceis diante da saturação de drones de reconhecimento e ataque. A ameaça constante de UAVs russos transformou cada movimento de caminhão ou blindado em uma operação de alto risco. A resposta ucraniana foi criar um "método alternativo de entrega" que reduz drasticamente a vulnerabilidade humana.

Outra brigada de Assalto Aéreo reportou 10 a 12 toneladas mensais entregues por robôs, equivalendo a aproximadamente 80% dos suprimentos de primeira linha. Estes dados demonstram não apenas a viabilidade técnica, mas a escalabilidade da solução quando há número suficiente de sistemas disponíveis.

O ciclo industrial: da encomenda ao campo em 24 horas
A guerra ucraniana também revolucionou a cadeia de suprimentos de equipamentos militares. Em vez de grandes estoques centralizados e vulneráveis, unidades já encomendam drones diretamente a fabricantes ou plataformas digitais de aquisição, com ciclos de 24 horas entre pedido e entrega na linha de frente. Esta logística just-in-time reduz a necessidade de armazéns intermediários e minimiza perdas por ataques a depósitos.

A Ucrânia desenvolveu capacidade de produção em escala industrial, multiplicando sua fabricação de drones em mais de 100 vezes desde 2022, atingindo milhões de unidades anuais. Esta produção massiva converteu os VANTs táticos em "arma central" do conflito, democratizando o acesso a capacidades que antes eram restritas a grandes potências.

Saturação aérea: quando o céu se torna digital
Análises recentes indicam que entre 80% e 85% dos alvos de linha de frente são engajados por UAVs na guerra da Ucrânia, um número que revela a centralidade dessas plataformas no conflito moderno. A guerra mostrou que drones FPV (First Person View), multirrotores logísticos e robôs de solo podem ser usados em escala industrial, criando um ambiente de combate completamente novo.

Esta saturação implica que o controle do espaço aéreo baixo (até algumas centenas de metros) tornou-se tão crucial quanto o domínio aéreo tradicional. Forças que não conseguem proteger suas operações logísticas contra enxames de drones encontram-se em desvantagem crítica.

Europa e OTAN respondem à nova realidade
A União Europeia e a OTAN não ignoraram as lições ucranianas. A UE colocou sistemas de drones e contramedidas entre as prioridades máximas de investimento em defesa, financiando pesquisa, desenvolvimento e produção via Fundo Europeu de Defesa e projetos PESCO. O "White Paper for European Defence – Readiness 2030" lista drones e sistemas anti-drone como área prioritária, ao lado de defesa antiaérea, artilharia e munições.

Planos recentes projetam grandes investimentos conjuntos até 2027, com meta de elevar a 40% a proporção de aquisições de defesa feitas coletivamente entre Estados-membros. A OTAN, por sua vez, enfatiza a expansão de produção de munições, defesa aérea e plataformas não tripuladas, reconhecendo a necessidade de recursos suficientes para uma guerra prolongada em ambiente saturado por drones.

O futuro da guerra: enxames autônomos
Análises doutrinárias recentes sugerem que o futuro dos conflitos envolverá presença humana cada vez mais complementada por enxames de sistemas não tripulados no ar e no solo. Drones para reconhecimento, ataque de precisão, saturação e logística de última milha criarão campos de batalha onde a linha entre retaguarda e vanguarda se dissolve.

Esta visão reforça que Europa e OTAN precisam maximizar investimentos não apenas em VANTs, mas em contramedidas, guerra eletrônica e infraestrutura de dados associada. A guerra moderna exige integração completa entre sistemas tripulados e não tripulados, com capacidades de comando e controle que operem em tempo real.

Brasil: oportunidade estratégica em mercado bilionário

A base industrial brasileira
O Brasil encontra-se em posição única para capitalizar sobre esta transformação. O país já possui capacidades tecnológicas comprovadas no setor aeroespacial e de defesa, com empresas como Embraer, reconhecida globalmente por sua excelência em engenharia aeronáutica.

O Exército Brasileiro lançou recentemente uma Requisição de Informações para aquisição de drones de ataque das Categorias 0 e 1, sinalizando a modernização das Forças Armadas e o reconhecimento da centralidade desses sistemas na guerra contemporânea. Este movimento estratégico marca uma adaptação às realidades mostradas na Ucrânia, impulsionando a busca por soberania tecnológica.

A Marinha do Brasil ativou no último dia 12 de dezembro o Esquadrão de Drones Táticos de Esclarecimento e Ataque no Batalhão de Combate Aéreo, localizado no Complexo Naval da Ilha do Governador. A iniciativa representa um marco na modernização das Forças Armadas brasileiras e coloca o Corpo de Fuzileiros Navais na vanguarda tecnológica e doutrinária do país.


Drones Atobá, da Stella/Thales (acima), e Nauru 1000C da XMobots

Capacidades técnicas existentes
O Brasil já demonstra competências significativas na área de drones. A Stella Tecnologia desenvolveu o Atobá, considerado o maior drone da América Latina, com capacidade de voo de 35 horas e 40% maior que o israelense Hermes 900, potencializado agora após parceria com a Thales. Este feito evidencia o alto nível de engenharia presente na indústria nacional.

A Akaer desenvolveu família completa de sistemas não tripulados, incluindo o Albatross (classe 3, 1000 kg) para patrulha marítima e reconhecimento, e o Osprey, versão monomotor para missões similares. Ambos compartilham sistemas de terra e comunicação, permitindo otimização operacional. A empresa também trabalha em conceitos avançados como o AKR-HA, aeronave para missões na estratosfera acima de 15 km de altitude.

A XMobots, classificada como a sexta maior empresa de drones do mundo e com participação da Embraer, especializa-se em plataformas VTOL de alto desempenho, sensores multiespectrais e softwares de análise com inteligência artificial. A Tupan Aircraft desenvolve drones de carga com capacidades que variam de 125 kg a 400 kg de carga útil, com aplicações tanto civis quanto militares.

A SkyDrones forneceu plataformas Pelicano customizadas para o Technology Innovation Institute nos Emirados Árabes Unidos, operando com radares da brasileira Radaz. A Radaz, referência mundial em radares SAR para drones, possui tecnologia inédita de operação simultânea em múltiplas bandas, tendo inclusive criado subsidiária nos Emirados.

Drone Pelicano, da SkyDrones, com radar SAR da RADZ

A Moya Aero se destaca no desenvolvimento de drones logísticos elétricos. A empresa projetou o Moya eVTOL, primeiro veículo autônomo de alta capacidade totalmente elétrico do Hemisfério Sul. Em junho de 2025, anunciou sua família completa de drones elétricos de carga com arquitetura modular comum. 
 
O Moya 256, já em testes de voo, transporta até 30 kg por 160 km a 130 km/h, ideal para entregas urgentes. O Moya 760, com protótipo em desenvolvimento para testes em 2026, carrega até 190 kg por 190 km a 160 km/h. A versão híbrida estende o alcance para 300 km mantendo 200 kg de carga. Os drones utilizam configuração inovadora de asas basculantes em tandem, reduzindo arrasto em mais de 50% comparado a outros eVTOLs, com estrutura em fibra de carbono e módulos compartilhados entre modelos. 
 
A Moya é membro do Drone Logistics Ecosystem (50 organizações em 21 países), recebeu US$ 2 milhões da FINEP, participou do Techstars Los Angeles e possui cartas de intenção para mais de 100 unidades, incluindo 50 da Helisul Aviação. O primeiro voo do protótipo ocorreu com sucesso em dezembro de 2023, com meta de comercialização até 2027.
 
 
Moya eVTOL

Mercado interno: necessidades urgentes
Com a vasta extensão territorial brasileira e a complexidade das fronteiras, o país enfrenta desafios significativos de vigilância e defesa. A Amazônia, com seus 5,5 milhões de km², exige capacidades de monitoramento que sistemas tripulados tradicionais não conseguem prover com eficiência econômica. Drones oferecem solução ideal para patrulhamento de longas distâncias, combate ao desmatamento ilegal, fiscalização de garimpos e controle de fronteiras.

As Forças Armadas brasileiras necessitam modernizar capacidades em várias áreas:

Logística militar: em operações na Amazônia, o reabastecimento de posições isoladas é desafio constante. Drones logísticos poderiam transformar a capacidade de sustentação de destacamentos remotos, reduzindo custos e riscos.

Vigilância e reconhecimento: a vastidão do território nacional demanda sistemas de observação persistente. Drones de longa duração podem cobrir áreas impossíveis para meios tradicionais.

Defesa costeira e marítima: com mais de 7.400 km de costa e a Amazônia Azul (mais de 4,5 milhões de km² de zona econômica exclusiva), drones navais e submarinos oferecem multiplicação de força para a Marinha.

Potencial de exportação: América Latina e África
As exportações do setor de defesa brasileiro atingiram US$ 3,1 bilhões em 2025, aumento de 74% em relação a 2024, demonstrando o crescimento expressivo e a competitividade internacional da indústria nacional.

O mercado latino-americano de defesa deve crescer de US$ 1,38 bilhão em 2024 para US$ 1,78 bilhão até 2029, com taxa anual de 5,30%. Países da região enfrentam desafios similares ao Brasil: vastos territórios, florestas densas, controle de narcotráfico e vigilância de fronteiras. Drones brasileiros, desenvolvidos para essas condições, têm vantagem competitiva natural.

A África representa outro mercado estratégico. Nações africanas necessitam sistemas de vigilância acessíveis para combater insurgências, proteger recursos naturais e patrulhar fronteiras. Drones brasileiros, com custo inferior a equivalentes europeus ou americanos e adequados a ambientes tropicais, posicionam-se idealmente para esse mercado.

Diversificação: drones logísticos civis
Além de aplicações militares, drones logísticos têm enorme potencial civil no Brasil. Entregas médicas em áreas remotas da Amazônia, transporte de suprimentos para plataformas offshore, logística agrícola e entrega urbana são mercados em expansão global.

A experiência militar em drones logísticos pode catalisar desenvolvimento de soluções civis, criando indústria dual que amplia mercados e reduz custos por economia de escala. O Brasil poderia tornar-se hub de desenvolvimento e produção de drones logísticos para toda América Latina.

Desafios e oportunidades
Para capitalizar plenamente esta oportunidade, o Brasil enfrenta desafios:

Escala de produção: a experiência ucraniana mostra que conflitos modernos consomem drones aos milhares. Desenvolver capacidade industrial para produção em massa é essencial, tanto para atender necessidades nacionais quanto para competir em exportações.

Certificações e padrões: conquistar mercados internacionais exige conformidade com padrões rigorosos de defesa. Investimentos em certificação e homologação são necessários.

Pesquisa e desenvolvimento: manter competitividade tecnológica demanda investimento contínuo em P&D, especialmente em áreas como inteligência artificial, autonomia, guerra eletrônica e contramedidas anti-drone.

Integração de sistemas: drones modernos devem integrar-se perfeitamente com redes de comando e controle, compartilhando dados em tempo real. Desenvolver esta capacidade é crucial.

Formação de recursos humanos: a indústria necessita engenheiros, técnicos e operadores especializados. Investir em educação e treinamento é fundamental para sustentabilidade do setor.
 

Albatross (direita) e Osprey (esquerda) formam a nova família de UAVs da Akaer

Momentum político e industrial
O RFI do Exército Brasileiro e a ativação d
o Esquadrão de Drones Táticos de Esclarecimento e Ataque no Batalhão de Combate Aéreo dos Fuzileiros Navais representam momentum importante. Autoridades militares reconhecem a importância de incorporar tecnologias avançadas para assegurar soberania nacional. Representantes da indústria esperam que este movimento estimule inovação, crie empregos e aumente competitividade global.

A Embraer, já com parcerias estratégicas com gigantes como Saab, BAE Systems, Thales e L3 Harris, demonstra interesse crescente no mercado de drones. A aquisição de participação na XMobots e o desenvolvimento do Super Tucano em versão anti-drone indicam que a maior fabricante de aeronaves do Brasil vê potencial estratégico neste segmento.

Visão de futuro
O Brasil tem uma janela de oportunidade única. A guerra na Ucrânia demonstrou definitivamente que drones são componentes centrais da guerra moderna, e a demanda global por esses sistemas crescerá exponencialmente. Países que dominarem tecnologias de VANTs, tanto para uso próprio quanto para exportação, ganharão vantagem estratégica e econômica.

Com capacidades técnicas já estabelecidas, indústria aeroespacial madura, necessidades militares claras e mercados de exportação em expansão, o Brasil pode posicionar-se como potência regional em drones militares e logísticos. Este movimento fortaleceria não apenas a defesa nacional, mas criaria indústria tecnológica de alto valor agregado, gerando empregos qualificados e divisas.

A experiência ucraniana mostra o caminho: investimento massivo, produção em escala, integração operacional e adaptação doutrinária. O Brasil tem todos os elementos necessários. Resta decisão política e comprometimento industrial para transformar potencial em realidade.

Drones da Tupan Aircraft

O momento de agir é agora
A revolução dos drones na logística militar não é tendência passageira, mas transformação fundamental na natureza da guerra. Forças que não se adaptarem encontrar-se-ão em desvantagem crítica nos conflitos futuros. A União Europeia e a OTAN já reconheceram esta realidade e mobilizam recursos massivos.

Para o Brasil, esta é oportunidade de modernizar suas Forças Armadas, desenvolver soberania tecnológica em área estratégica e criar indústria competitiva globalmente. A base existe, as capacidades estão sendo desenvolvidas e o mercado está em franca expansão. O momento de agir é agora, antes que a janela de oportunidade se feche e outros países consolidem posições dominantes neste mercado bilionário.

A questão não é mais se drones dominarão a logística militar do futuro, mas quais países terão capacidade de produzi-los, operá-los e exportá-los. O Brasil pode e deve estar entre eles.

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