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08 dezembro, 2025

Guerra de mísseis: SIATT rebate acusações da Avibras em disputa judicial sobre Sistema ASTROS


*LRCA Defense Consulting - 08/12/2025

A SIATT – Engenharia, Indústria e Comércio S/A protocolou nesta segunda-feira uma resposta contundente à notificação judicial apresentada pela Avibras, refutando integralmente as acusações de uso indevido de propriedade intelectual e solicitando o imediato arquivamento do procedimento. A disputa judicial envolve a integração do míssil antinavio MANSUP ao sistema de lançamento ASTROS e pode afetar projetos estratégicos da Marinha do Brasil.

Contexto da disputa
O conflito teve início no final de outubro, quando a Avibras Indústria Aeroespacial S/A, empresa em processo de recuperação judicial, ajuizou notificação contra a SIATT, ligada ao grupo EDGE dos Emirados Árabes Unidos, alegando indícios de uso indevido de propriedade intelectual relacionada ao sistema ASTROS.

A controvérsia gira em torno do recebimento pela SIATT de uma viatura ASTROS 2020 do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), destinada à modernização para integrar sistemas de lançamento do míssil MANSUP (Míssil Antinavio Nacional de Superfície). A Avibras acusou a concorrente de se apresentar como detentora de capacidade técnica para modificação do sistema ASTROS, além de alegar quebra de termos de confidencialidade e contratação de ex-funcionários.

A defesa da SIATT: "manobra oportunista"
Na resposta protocolada, a SIATT não economizou nas palavras. Logo no início da manifestação, a empresa classificou a medida da Avibras como uma tentativa de instrumentalizar o Judiciário para fazer acusações graves contra uma concorrente, caracterizando a iniciativa como manobra oportunista de uma empresa aparentemente desesperada para superar sua crise financeira.

A SIATT esclareceu que jamais interveio na tecnologia do sistema ASTROS propriamente dito. Segundo a resposta judicial, o que a empresa fez foi integrar o míssil MANSUP ao sistema através de um mecanismo desenvolvido pela própria SIATT, uma tecnologia de natureza "stand-alone".

"A SIATT basicamente faz uma conversão momentânea da plataforma lançadora para acomodar o suporte do míssil MANSUP, que leva algumas poucas horas e pode ser revertida a qualquer momento, sem qualquer interferência nos sistemas preexistentes", explica o documento.

Reconhecimento institucional
A empresa destacou que a Marinha do Brasil reconhece formalmente a SIATT como a única empresa nacional que detém capacidade completa para a integração do míssil, por possuir conhecimento sobre as interfaces mecânicas, eletrônicas e sistêmicas do MANSUP.

Esse reconhecimento fundamentou a Declaração de Exclusividade concedida pela ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança), que concluiu que a SIATT possui capacidade técnica para adaptar plataformas para o lançamento do MANSUP, incluindo, mas não se limitando ao sistema ASTROS.

Questão de compatibilidade, não apropriação
A SIATT reafirmou que nunca se apresentou como titular, detentora ou parceira autorizada do sistema ASTROS. As menções ao sistema foram apenas indicações de compatibilidade, prática comum na indústria de defesa, similar ao que ocorre com outros sistemas multipropósito mundialmente.

Quanto à acusação de apropriação indevida de informações, a resposta protocolada afirma que a Avibras não apresentou prova alguma, tampouco indicou quais seriam os alegados segredos industriais violados.

Dano reputacional
Paradoxalmente, a SIATT argumenta que o único prejuízo reputacional concreto identificado no episódio recaiu sobre ela própria. A empresa apontou que a Avibras divulgou nota à imprensa no mesmo dia da notificação, gerando diversas notícias negativas que abalaram a reputação da SIATT no mercado.

Contexto estratégico
O projeto em disputa é de alta relevância estratégica. A integração do MANSUP ao sistema ASTROS permite que o míssil antinavio seja disparado a partir de plataformas terrestres, além de navios, aumentando significativamente a capacidade de defesa costeira do Brasil. 

A prova de conceito foi realizada em dezembro de 2024, e o Corpo de Fuzileiros Navais entregou a primeira viatura ASTROS demonstradora à SIATT no final de outubro. O projeto visa fortalecer a defesa litorânea brasileira com baterias missilísticas de forma inédita, utilizando a modularidade do sistema.

Situação delicada da Avibras
A Avibras, tradicional empresa brasileira de defesa com mais de 60 anos de história, atravessa momento difícil. Em recuperação judicial desde 2020, a empresa enfrenta dificuldades financeiras após não conseguir entregar mísseis e viaturas planejadas ao Exército Brasileiro devido a cortes orçamentários e à pandemia de COVID-19.

Recentemente, a empresa teve aprovado um plano alternativo de recuperação judicial e busca retomar sua capacidade produtiva com apoio da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados.

Implicações para a defesa nacional
O desfecho desta disputa pode ter impactos significativos para a Base Industrial de Defesa Brasileira. De um lado, há a necessidade de proteger direitos de propriedade intelectual de empresas nacionais tradicionais. De outro, existe a urgência de avançar em projetos estratégicos de defesa costeira que fortaleçam a soberania nacional.

Especialistas apontam que a disputa exemplifica tensões típicas do setor de defesa, onde a necessidade de inovação e integração de sistemas muitas vezes colide com questões de propriedade intelectual e contratos comerciais.

Próximos passos
A SIATT manifestou confiança de que a avaliação dos fatos levará ao reconhecimento da improcedência das acusações. A empresa reafirmou seu compromisso com integridade, ética e respeito às normas legais, destacando sua determinação em continuar avançando em suas atividades tecnológicas em prol da defesa e soberania nacional.

O caso agora aguarda análise judicial, enquanto o projeto estratégico de integração do MANSUP ao sistema ASTROS permanece em desenvolvimento pelos Fuzileiros Navais, com a primeira viatura já em processo de modernização.

A disputa levanta questões fundamentais sobre inovação, propriedade intelectual e cooperação na indústria de defesa brasileira, em um momento em que o País busca fortalecer sua autonomia tecnológica e capacidade de defesa costeira.

Projeto conjunto Exército & Marinha avança em munição de longo alcance Made in Brazil


*LRCA Defense Consulting - 08/12/2025

Em uma demonstração significativa de cooperação interforças e desenvolvimento tecnológico nacional, o Centro de Avaliações do Exército (CAEx) realizou no último dia 4 de dezembro testes pioneiros de uma munição 105mm com tecnologia Base Bleed, desenvolvida em parceria com a Marinha do Brasil. A iniciativa representa um marco na busca pela independência tecnológica do país no setor de defesa.

Colaboração entre Forças Armadas e academia
Os testes, conduzidos no Campo de Provas da Marambaia, reuniram especialistas de diversas instituições militares e civis. Participaram da atividade a Subseção de Rastreio, Eletrônica e Comunicações do CAEx, a Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM), o Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro (CTMRJ), o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), o Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON).

O evento integra um projeto ambicioso de pesquisa e desenvolvimento focado em modelagem aerotermodinâmica, desenvolvimento de propelentes, aviônica e ferramentas experimentais para testes de projéteis de alcance estendido e foguetes. O trabalho conta com colaboração de universidades nacionais e internacionais, incluindo o Instituto Militar de Engenharia (IME), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Instituto Fraunhofer, da Alemanha.

O que é a tecnologia Base Bleed?
A tecnologia Base Bleed representa uma solução inovadora para aumentar o alcance de projéteis de artilharia sem a necessidade de propulsão adicional. O sistema utiliza um gerador de gás instalado na base do projétil que, ao ser acionado durante o voo, preenche a área de baixa pressão atrás da munição, reduzindo significativamente o arrasto aerodinâmico.

Diferentemente de projéteis assistidos por foguete, que fornecem impulso adicional, o Base Bleed atua melhorando o coeficiente aerodinâmico do projétil. Essa abordagem é particularmente eficaz para artilharia supersônica de longo alcance, onde o arrasto da base domina a resistência ao avanço.

Na prática, munições convencionais de 105mm alcançam cerca de 16 quilômetros de distância. Com a tecnologia Base Bleed, esse alcance pode ser estendido para até 21 ou 23 quilômetros, ampliando significativamente a capacidade operacional das forças de artilharia.

Essa tecnologia, já dominada por países da OTAN, tem aplicações diretas em obuseiros e canhões de 105 mm, como os utilizados no Leopard 1A5BR e em sistemas de artilharia de campanha do Exército Brasileiro.

Financiamento e importância estratégica
O projeto recebe financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e, conforme mencionado por pesquisador do IPqM nos comentários da notícia original, também da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio do Programa Pró-Defesa (Edital nº 36/2023).

A iniciativa reflete o compromisso do Brasil com o fortalecimento da Base Industrial de Defesa e a redução da dependência externa em tecnologias militares críticas. O domínio nacional dessa tecnologia é estratégico não apenas para ampliar a capacidade operacional das Forças Armadas, mas também para gerar conhecimento científico e tecnológico que pode ter aplicações em outros setores.

Histórico de desenvolvimento nacional
Este não é o primeiro esforço brasileiro em munições de alcance estendido. O país já possui experiência no desenvolvimento de munições para diferentes calibres, incluindo projetos em andamento para morteiros de 120mm em parceria com o Exército dos Estados Unidos, além de diversos programas da Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) para produção nacional de munições.

O Instituto de Pesquisas da Marinha, fundado em 1959, tem sido protagonista em diversos projetos de desenvolvimento tecnológico para a defesa nacional, atuando nas áreas de armamento, guerra eletrônica, acústica submarina, controle e monitoração, materiais e navegação inercial. O instituto mantém parcerias com universidades, empresas e centros de pesquisa civis e militares, consolidando-se como referência em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico de interesse da Marinha.

Perspectivas futuras
O sucesso desses testes iniciais abre caminho para o aperfeiçoamento contínuo da tecnologia e sua eventual incorporação ao arsenal das Forças Armadas brasileiras. A experiência adquirida no desenvolvimento de munições Base Bleed de 105mm poderá ser aplicada em projetos futuros envolvendo calibres maiores, ampliando o portfólio tecnológico nacional.

A colaboração entre Exército e Marinha, juntamente com instituições acadêmicas e de pesquisa, demonstra um modelo eficaz de integração que fortalece simultaneamente a capacidade de defesa do país e o desenvolvimento científico-tecnológico nacional, contribuindo para a soberania e a autonomia estratégica do Brasil.

05 dezembro, 2025

Marinha e XMobots avançam com drones Nauru: do SALVAMAR à vigilância offshore

 


*LRCA Defense Consulting - 05/12/2025

A Diretoria de Aeronáutica da Marinha do Brasil (DAerM) assinou um Acordo de Cooperação Técnica com a empresa brasileira XMobots para desenvolver metodologias operacionais e adaptar os drones táticos Nauru 500C e Nauru 1000C a operações no ambiente marítimo. O objetivo principal da parceria é permitir que esses veículos aéreos não tripulados (VANTs) operem com eficiência a partir de navios e plataformas offshore, fortalecendo a vigilância, segurança e proteção ambiental das águas brasileiras.

O Sistema de Busca e Salvamento Marítimo (SALVAMAR Brasil), coordenado pela Marinha, recebeu importante reforço em outubro de 2024 com a incorporação da aeronave remotamente pilotada (ARP) Nauru 500C, rebatizada como “RQ-2” e integrada ao 1º Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas (EsqdQE-1). Essa aquisição ampliou o alcance e eficiência das operações de resgate realizadas no litoral brasileiro e em águas interiores, representando um avanço significativo no contínuo desenvolvimento do Sistema de Planejamento e Apoio à Decisão em Operações de Busca e Salvamento (SPAD-SAR).

Os drones Nauru são desenvolvidos integralmente no Brasil e contam com características avançadas para missões de inteligência, vigilância, reconhecimento e busca e salvamento (SAR). O Nauru 500C possui capacidade de decolagem e pouso vertical, autonomia de até 4 horas, alcance operacional de 60 quilômetros e é resistente a ventos de até 60 km/h, o que o torna apto para operações marítimas desafiadoras. Já o Nauru 1000C apresenta capacidades furtivas aprimoradas e pode integrar sistemas ISTAR com potencial para uso em missões táticas mais complexas.

Essa cooperação técnica entre a Marinha e a XMobots agrega troca de informações, estudos técnicos e suporte para a adaptação dos drones ao ambiente marítimo, incluindo o desenvolvimento de capacidades de análise de dados e a criação de rotinas operacionais específicas para operação embarcada. Isso permitirá um incremento significativo na atuação da Marinha na proteção das águas jurisdicionais brasileiras, ampliando a capacidade de fiscalização, monitoramento ambiental e resposta rápida a incidentes no mar.

 

O uso de drones táticos adaptados para o mar também reduz riscos aos operadores humanos em ambientes difíceis, além de ampliar a presença dos meios aéreos em regiões remotas e offshore. O acordo reforça a confiança na tecnologia nacional desenvolvida pela XMobots, empresa reconhecida no ecossistema de defesa brasileiro, que já provê drones para várias forças armadas e órgãos de segurança. 

Especula-se que a participação minoritária da Embraer na XMobots, somada ao recente acordo da gigante aeronáutica com a Marinha para drones aeronavais de maior porte, possa abrir caminho para uma triangulação estratégica futura, integrando expertises em VANTs navais.

Com essa parceria, a Marinha do Brasil dá um passo importante rumo à modernização e à integração de novas tecnologias em suas operações, elevando o padrão de vigilância, segurança e proteção ambiental marítima, além de potencializar o protagonismo brasileiro no desenvolvimento e emprego de drones táticos.

Agrale Marruá AM250 Blindado: a fortaleza brasileira sobre rodas

Tradição nacional em veículos de segurança ganha nova versão blindada para missões de alto risco

 

*LRCA Defense Consulting - 05/12/2025

O Agrale Marruá AM250 Blindado representa a evolução de uma linhagem com forte presença na história militar brasileira. Desenvolvido pela Agrale SA, única fabricante de caminhões e tratores de capital brasileiro, o veículo combina tradição, engenharia nacional e tecnologia de proteção balística para atender às demandas cada vez mais complexas das forças de segurança.

Das origens militares à produção em série
A história do Marruá remonta ao legado da extinta Engesa, fabricante que marcou época na indústria de defesa brasileira. O veículo foi desenvolvido com base no jipe militar EE-12, incorporando melhorias específicas para atender aos requisitos das Forças Armadas brasileiras. Após rigorosos testes e homologação pelo Exército Brasileiro em 2005, o Marruá entrou em produção em série na fábrica da Agrale em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.

Desde então, o veículo tem sido constantemente aprimorado, resultando em versões cada vez mais especializadas, como o AM250 Blindado, projetado especificamente para missões em que a proteção balística é fundamental.

Especificações
Com dimensões de 4,52 m de comprimento, 1,96 m de largura e 2,05 m de altura, o AM250 pesa cerca de 2.200-2.910 kg em ordem de marcha e PBT de até 5.700 kg, mantendo transmissão manual de 5/6 marchas ou automática. Equipado com tração 4x4 de fábrica com reduzida, motor Cummins 3.8 diesel de 170 cv e torque de 600 Nm, atinge velocidade máxima de 160 km/h e acomoda 5 ocupantes, com suportes para armamento. 

Blindagem de alto desempenho
O grande diferencial do Agrale Marruá AM250 está em seu sistema de blindagem, disponível em duas configurações distintas para atender diferentes perfis de operação.

A versão militar, certificada em Nível III Plus, oferece proteção contra os calibres mais comuns em situações de combate e confronto armado. O veículo resiste a disparos de fuzis 7.62 milímetros, incluindo FAL, AR-15 e AK-47, além do calibre 5.56. A estrutura utiliza aço balístico estrategicamente distribuído, eliminando pontos vulneráveis que poderiam comprometer a segurança dos ocupantes.

Um dos aspectos mais críticos em veículos blindados é a proteção contra explosivos e estilhaços, especialmente em operações que envolvem risco de emboscadas ou artefatos explosivos improvisados. O Marruá AM250 incorpora um assoalho blindado com manta balística especialmente desenvolvida para oferecer proteção contra granadas e estilhaços, aumentando significativamente as chances de sobrevivência da tripulação em situações extremas.

Os vidros balísticos são compostos por múltiplas camadas de policarbonato e filmes poliméricos, garantindo visibilidade sem comprometer a proteção. Além disso, o sistema RunFlat permite que o veículo continue em movimento mesmo com os pneus danificados, uma característica essencial para escapar de zonas de perigo.

Para uso civil, especialmente por empresas de segurança privada e transporte de valores, o AM250 está disponível na versão Nível III-A. Essa configuração oferece proteção contra calibres até 9 milímetros, atendendo às necessidades de operações urbanas e missões de menor risco balístico.


Desempenho todo-terreno
Além da blindagem, o Marruá AM250 mantém as características de mobilidade que tornaram a linha Marruá famosa entre militares e profissionais de segurança. A tração 4x4 com caixa de redução de fábrica proporciona desempenho superior em terrenos acidentados, garantindo operação confiável mesmo nas condições mais adversas.

Essa capacidade off-road é fundamental para missões em áreas rurais, regiões de fronteira e locais de difícil acesso, onde as forças de segurança frequentemente precisam atuar sem contar com infraestrutura rodoviária adequada.

Versatilidade operacional
O projeto do AM250 Blindado prioriza a funcionalidade em situações reais de combate e policiamento. Com capacidade para cinco ocupantes, o veículo oferece portas mais largas com ampla abertura, facilitando o embarque e desembarque rápido de pessoal e equipamentos em situações de emergência.

O amplo espaço interno permite a instalação de suportes de armamento, transformando o veículo em uma plataforma de apoio tático. Essa versatilidade torna o Marruá adequado para diferentes tipos de missão, desde patrulhamento ostensivo até operações de resgate em áreas hostis.

Aplicações no cenário brasileiro
O Agrale Marruá AM250 Blindado tem sido direcionado principalmente às Forças Armadas e forças de segurança pública. A Polícia Rodoviária Federal, por exemplo, realizou testes com o veículo para uso em patrulhamento de áreas de risco, especialmente em regiões afetadas pelo crime organizado e rotas utilizadas para tráfico de drogas e armas.

Forças estaduais e municipais também demonstram interesse no veículo como forma de aumentar a capacidade de resposta em operações de alto risco, como cumprimento de mandados em áreas controladas por facções criminosas e apoio a grandes operações policiais.

No segmento privado, empresas de segurança e transporte de valores avaliam o AM250 Blindado como alternativa robusta para missões que exigem maior nível de proteção do que os veículos blindados convencionais podem oferecer.

 

 

Indústria Nacional de Defesa
A produção do Marruá AM250 Blindado reforça a importância da Agrale SA no contexto da indústria de defesa brasileira. Sediada em Caxias do Sul e mantendo três parques fabris na região, a empresa representa a continuidade da capacidade industrial nacional em um setor estratégico.

Como única fabricante de caminhões e tratores de capital brasileiro, a Agrale não apenas produz veículos civis, mas também mantém uma linha especializada em utilitários 4x4 para uso militar, contribuindo para a autonomia estratégica do país em equipamentos de defesa e segurança.

Perspectivas futuras
Com o aumento da complexidade das ameaças enfrentadas pelas forças de segurança, tanto no ambiente urbano quanto em áreas remotas, a demanda por veículos blindados com alta mobilidade tende a crescer. O Agrale Marruá AM250 Blindado posiciona-se como uma solução desenvolvida especificamente para o contexto brasileiro, considerando as particularidades do terreno nacional e os desafios enfrentados por militares e policiais.

A capacidade de customização do veículo, aliada à expertise da Agrale em desenvolver soluções para terrenos difíceis, sugere que novas versões e aprimoramentos continuarão surgindo para atender demandas específicas de diferentes operações e instituições de segurança.

04 dezembro, 2025

Filipinas dobram frota de Super Tucano em meio a tensões no Mar do Sul da China


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LRCA Defense Consulting - 04/12/2025

As Filipinas confirmaram a aquisição de mais seis aeronaves A-29B Super Tucano da Embraer, dobrando sua frota atual e consolidando a relação com a fabricante brasileira. O contrato, assinado em 27 de dezembro de 2024, tem valor estimado em 6,59 bilhões de pesos filipinos (aproximadamente US$ 112 milhões) e marca um passo estratégico no ambicioso programa de modernização militar do país asiático.

A Embraer havia anunciado, em 30/12/2024, um pedido firme de um cliente não revelado para seis aeronaves de ataque leve e treinamento avançado A-29 Super Tucano, equipados com capacidades aprimoradas para realizar missões como interdição aérea, apoio aéreo tático, patrulha marítima, ataque marítimo e outras operações de defesa territorial.  

Substituição de ícones do passado
A cerimônia de descomissionamento das duas últimas aeronaves OV-10 Bronco e dos dois helicópteros de ataque AH-1S Cobra, realizada em 28 de dezembro na Base Aérea Major Danilo Atienza, em Cavite, simbolizou o encerramento de uma era. Os Broncos, que serviram por 33 anos desde 1991, e os Cobras, doados pela Jordânia em 2019, foram fundamentais em operações de contrainsurgência, incluindo a Batalha de Marawi em 2017.

"O OV-10 realizou 88 ataques aéreos durante a Batalha de Marawi, fornecendo apoio aéreo próximo crucial às tropas terrestres que enfrentavam insurgentes do Estado Islâmico e do grupo Maute", destacou a Força Aérea Filipina (PAF) em comunicado oficial.

A aposentadoria dessas aeronaves veteranas abriu espaço para uma geração moderna de plataformas de ataque. Com as novas aquisições, a PAF terá 12 Super Tucanos operacionais, formando um esquadrão completo sob o comando da 15ª Ala de Ataque, baseada em Cavite.

Processo acelerado e justificativas estratégicas
O processo de contratação utilizou a modalidade de aquisição direta, permitida pela Lei de Aquisições Governamentais (RA 12009) para pedidos subsequentes de equipamentos já em operação. A tramitação foi notavelmente rápida: a conferência pré-aquisição ocorreu em 23 de outubro de 2024, seguida pela carta-convite em 28 de novembro, avaliação em 2 de dezembro e emissão do Aviso de Adjudicação em 19 de dezembro.

O valor superior ao primeiro lote – que custou 4,87 bilhões de pesos em 2020 – reflete não apenas a inflação acumulada, mas possíveis melhorias na configuração armamentista e nos sistemas de sensores das novas aeronaves.

Fontes militares consultadas por veículos locais sugeriram que as novas unidades podem incorporar atualizações tecnológicas similares às implementadas pela Força Aérea Brasileira em seu programa de modernização de meia-vida (MLU). Entre as possíveis melhorias estão novos sensores eletro-ópticos, blindagem reforçada, sistemas de proteção contra mísseis e displays de cockpit de ângulo amplo semelhantes aos utilizados no caça Gripen E/F.

As entregas estão programadas para 2026, segundo confirmou a Embraer, que incluiu o pedido em seu backlog do quarto trimestre de 2024.

Contexto geopolítico e estratégia de defesa
A aquisição ocorre em um momento de crescentes tensões no Mar do Sul da China – chamado de Mar das Filipinas Ocidentais por Manila. Sob a presidência de Ferdinand Marcos Jr., o país tem adotado uma postura mais assertiva em relação às reivindicações territoriais chinesas, reforçando alianças tradicionais e acelerando a modernização militar.

Em janeiro de 2024, o presidente Marcos aprovou o plano "Re-Horizon 3", terceira fase do Programa de Modernização das Forças Armadas, com orçamento previsto de US$ 35 bilhões ao longo de uma década. A iniciativa visa transformar as forças armadas filipinas em uma força de defesa credível e multidisciplinar, capaz de responder a ameaças convencionais e assimétricas.

"O programa Re-Horizon 3 concentra-se na melhoria da segurança marítima, vigilância aérea, defesa cibernética e capacidades de comando conjunto", explicou o general Romeo Brawner Jr., chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em declaração oficial.

A compra de Super Tucanos adicionais integra um pacote mais amplo que inclui a duplicação da frota de caças FA-50 sul-coreanos. Em junho de 2025, as Filipinas assinaram um contrato de US$ 700 milhões com a Korea Aerospace Industries (KAI) para a aquisição de 12 novos FA-50 Block 20, que serão entregues até 2030. Com essa compra, a frota filipina de FA-50 também dobrará para 24 unidades.

Super Tucano: versatilidade comprovada
O A-29 Super Tucano, desenvolvido pela Embraer, consolidou-se como uma plataforma versátil para operações de contrainsurgência, apoio aéreo próximo e inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR). A aeronave, operada por 22 forças aéreas ao redor do mundo, é especialmente adequada para teatros de operações assimétricos e ambientes insulares como o arquipélago filipino.

A primeira remessa de seis Super Tucanos chegou às Filipinas em 2020, e a experiência operacional tem sido positiva. Em 2023, a Embraer renovou o contrato de suporte logístico com a PAF, demonstrando a maturidade do programa no país. Em dezembro de 2024, os Super Tucanos filipinos integraram-se pela primeira vez com aeronaves A-10 Warthog da Força Aérea dos Estados Unidos em um exercício de Emprego de Força Dinâmica na Base Aérea de Clark.

Recentemente, a Embraer anunciou o desenvolvimento de capacidades antidrone para o A-29, incorporando novos sensores eletro-ópticos/infravermelhos, data links específicos e armamento de precisão guiado a laser. A modificação responde à crescente ameaça de sistemas aéreos não tripulados em conflitos modernos.

Desafios fiscais e prioridades de longo prazo
Apesar do ímpeto modernizador, analistas apontam desafios fiscais significativos. O orçamento de defesa das Filipinas para 2024 foi de aproximadamente 271,9 bilhões de pesos (US$ 4,65 bilhões), um aumento de 12,3% em relação ao ano anterior. No entanto, alcançar o investimento de US$ 35 bilhões ao longo de uma década exigirá aumentos substanciais e sustentados nos gastos militares.

"O governo precisará aumentar os investimentos significativamente e rapidamente para atingir sua meta. Dez anos é muito tempo e é difícil fazer previsões sobre a década de 2030, mas olhando para a situação fiscal de 2024, a resposta agora é provavelmente não", avaliou reportagem do The Diplomat em maio de 2024.

Mesmo assim, o Departamento de Defesa Nacional tem buscado fontes alternativas de financiamento, e o Congresso filipino tem demonstrado comprometimento com alocações orçamentárias adequadas. Em outubro de 2024, o presidente Marcos sancionou a Lei de Revitalização da Postura de Defesa Autossuficiente, que visa desenvolver a indústria de defesa local e reduzir a dependência de importações.

Implicações regionais
Para especialistas em defesa, a expansão da frota de Super Tucanos representa um avanço significativo, ainda que a partir de uma base relativamente fraca. "A Força Aérea Filipina tem sido historicamente uma das mais fracas da região. Sua capacidade é menor do que aquela que defendia o país durante a Guerra do Pacífico em 1942. Então, essa capacidade adicional é um salto significativo, mas a partir de uma base baixa", observou Malcolm Davis, especialista em defesa da China no Australian Strategic Policy Institute, em entrevista ao Breaking Defense.

Davis avaliou que, embora os Super Tucanos e os FA-50 não representem uma ameaça direta aos caças mais avançados da China, como o J-20, eles complicam o planejamento operacional de Pequim e melhoram a postura defensiva filipina em cenários de baixa intensidade.

A escolha por plataformas como o Super Tucano reflete uma estratégia pragmática: aeronaves robustas, de operação relativamente simples e custo acessível, ideais para missões internas de vigilância e ataque leve, além de treinamento avançado. Com entregas previstas para 2026, as Filipinas dão mais um passo na consolidação de capacidades de defesa aérea adequadas aos desafios do século XXI.

Saiba mais:

- A-29 Super Tucano em configuração de patrulha marítima armada (MPA): a novidade trazida pela Embraer 

Embraer e Aquarela Analytics aplicam IA para otimizar cadeia de suprimentos e preparam base para indústria 4.0


*LRCA Defense Consulting - 04/12/2025

A Embraer e a Aquarela Analytics concluíram um projeto de dez meses voltado ao uso intensivo de inteligência artificial (IA) e análise de dados para otimizar a cadeia de suprimentos da fabricante aeronáutica brasileira. Batizada de Smart Planning, a ferramenta analítica processou mais de dois terabytes de informações, oferecendo suporte avançado às equipes de compras e planejamento logístico da empresa.

Segundo Dimas Tomelin, vice-presidente de Estratégia, Digital e Inovação da Embraer, o sistema representa uma das principais apostas da companhia na transformação digital de seus processos industriais. “O Smart Planning é a ferramenta de dados mais moderna desenvolvida e integrada para tornar os processos da Embraer mais eficazes”, afirmou. O painel interativo permite monitorar materiais usados na produção de aeronaves e prever faltas ou excessos de estoque com base em modelos de IA — um avanço que, segundo o executivo, amplia a eficiência operacional e reduz desperdícios.

O projeto foi desenvolvido em parceria com a Aquarela Analytics, empresa catarinense referência na aplicação de inteligência artificial e big data em ambientes industriais. Ao longo do processo, foram combinadas a metodologia Agile da Embraer e a Cultura de Dados (DCM) da Aquarela, permitindo integrar equipes multidisciplinares e acelerar o desenvolvimento e a implantação do sistema.

De acordo com o CEO da Aquarela Analytics, Marcos Santos, o desafio foi transformar a imensa base de dados da Embraer em um ecossistema digital inteligente. “Aplicamos nossa expertise em análise de dados, algoritmos e plataformas de inteligência artificial para aprimorar, transformar e integrar o sistema operacional da Embraer. O resultado é uma base sólida para as próximas etapas da jornada digital da companhia”, destacou.

Digitalização e impacto no setor aeroespacial
A adoção de IA na indústria aeronáutica vem se intensificando globalmente, especialmente em áreas ligadas à manutenção preditiva, gestão de suprimentos e planejamento de produção. No caso da Embraer, o Smart Planning faz parte de uma estratégia mais ampla de digitalização voltada à Indústria 4.0, conceito que integra automação, computação em nuvem e análise de grandes volumes de dados.

Fontes do setor destacam que soluções desse tipo ajudam empresas como a Embraer a lidar com os desafios complexos de cadeias globais de fornecimento, altamente sensíveis a flutuações de demanda e gargalos logísticos. A integração digital de fornecedores e parceiros também fortalece a resiliência industrial da fabricante — considerada a maior exportadora de bens de alto valor agregado do Brasil.

Aquarela: plataforma nacional de IA ganha projeção
Fundada em Florianópolis, a Aquarela Analytics é uma das pioneiras brasileiras em inteligência artificial aplicada à indústria. Com presença em 15 estados e três países, a empresa oferece soluções de análise de dados, manutenção preditiva e roteamento inteligente, atendendo clientes como Mercedes-Benz, Scania, SolarBR Coca-Cola e a própria Embraer.

A companhia recebeu mais de R$ 10 milhões em investimentos da Votorantim Energia (atual Auren Energia) e foi premiada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) como Empresa de Produto Inovador. Sua principal estrutura tecnológica é a Aquarela Data Platform (ADP), que automatiza a criação de data lakes e aplicações analíticas corporativas.

Embraer amplia integração digital
Com unidades em quatro continentes e mais de 9.000 aeronaves entregues desde 1969, a Embraer investe progressivamente em automação e digitalização de processos industriais. A meta é ampliar a integração entre áreas de engenharia, compras e produção, tornando seu sistema logístico mais flexível diante de variações de demanda global.

“A digitalização e o uso inteligente de dados aumentam a previsibilidade, reduzem custos e criam um ecossistema mais integrado”, resumiu Tomelin. “Esse é o tipo de inovação que nos mantém competitivos e sustentáveis no longo prazo.”

Saiba mais:
 - Embraer e Google firmam parceria em inteligência artificial 

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