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17 dezembro, 2025

Portugal recebe primeiros Super Tucano e anuncia fábrica da Embraer no país

Força Aérea Portuguesa torna-se primeira na Europa a operar o A-29N, variante NATO do Super Tucano; governo e fabricante brasileira assinam carta de intenções para linha de montagem em Beja 
 


*LRCA Defense Consulting - 17/12/2025

Portugal deu um passo significativo na modernização de suas capacidades militares ao receber, nesta quarta-feira (17), os cinco primeiros aviões A-29N Super Tucano da Embraer. A cerimónia de entrega, realizada nas instalações da OGMA em Alverca, marcou também o anúncio de uma possível fábrica da aeronave brasileira em solo português, especificamente na cidade de Beja.

Entrega recorde e nova fábrica
A entrega das aeronaves ocorreu apenas um ano e um dia após a assinatura do contrato de aquisição, celebrado em 16 de dezembro de 2024. O acordo, avaliado em 200 milhões de euros, prevê a compra de 12 unidades do A-29N, sendo as sete restantes entregues nos próximos dois anos. O pacote inclui ainda um simulador de voo, além de serviços de suporte e logística.

Durante a cerimónia, o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, e o presidente da Embraer Defesa & Segurança, Bosco da Costa Junior, assinaram uma Carta de Intenções para viabilizar a instalação de uma linha de montagem final do A-29N em Portugal. As aeronaves produzidas nessa unidade atenderiam possíveis demandas de outros países europeus através de negociações intergovernamentais.

"Hoje damos este passo, que é relevante. Não adquirimos apenas, adquirimos e queremos participar", afirmou Nuno Melo. O ministro destacou ainda que a iniciativa se insere numa estratégia mais ampla do governo português de não apenas comprar equipamento militar, mas de participar ativamente em sua produção, citando projetos semelhantes com satélites, fragatas e munições.

Primeira operadora NATO da nova variante
Portugal tornou-se o primeiro país europeu a operar este tipo de aeronave, posicionando-se como referência entre forças aéreas congêneres. A variante A-29N foi especialmente configurada para atender aos requisitos operacionais da OTAN, incluindo sistemas de aviônicos avançados e equipamentos de comunicação específicos da aliança.

As cinco aeronaves foram batizadas com champanhe pelas mãos do ministro, do chefe da Força Aérea e do presidente da Embraer, numa cerimônia que simbolizou o compromisso estratégico entre Brasil e Portugal.

O General João Cartaxo Alves, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa, ressaltou a importância da aquisição: "Para além da substituição de equipamento de formação de pilotos em funcionamento há quase quatro décadas, esta aquisição permite também o reforço de novas capacidades, nomeadamente no apoio aéreo aproximado em operações conjuntas".

Capacidade anti-drone desperta interesse europeu
Um dos aspectos que tem gerado maior interesse no mercado europeu é a recente capacidade do A-29 Super Tucano para abater drones. A Embraer anunciou, em novembro de 2025, a expansão do portfólio de missões da aeronave para incluir o combate a sistemas aéreos não tripulados.

A solução utiliza sensores eletro-ópticos e infravermelhos já integrados ao Super Tucano, combinados com novos datalinks para identificação de coordenadas, designação a laser e foguetes guiados. O armamento inclui metralhadoras calibre .50 instaladas nas asas, capazes de neutralizar drones de diferentes perfis.

"Existe um interesse crescente na utilização do A-29 em missões de combate a drones na Europa", afirmou Bosco da Costa Junior. A necessidade de soluções de baixo custo para enfrentar a ameaça crescente de drones tem se tornado prioritária para muitos países europeus, especialmente após os conflitos recentes na Ucrânia demonstrarem a importância desses sistemas.

O argumento comercial da Embraer é direto: usar caças de última geração para derrubar drones é economicamente ineficiente. Um exemplo foi a interceptação de um drone na Polônia por um F-35 holandês, que empregou um míssil de US$ 500 mil para destruir uma aeronave estimada em US$ 10 mil.

Impacto na economia e indústria portuguesa
De acordo com o ministro da Defesa, em 2025 nasceram 60 novas empresas nas indústrias de Defesa em Portugal, o que demonstra o impacto do setor na economia nacional. A possível instalação da linha de montagem do Super Tucano representa um reforço adicional à base industrial de defesa portuguesa.

A OGMA, subsidiária da Embraer em Portugal onde o Estado detém 35% das ações, será responsável pela integração dos sistemas NATO nas aeronaves e poderá desempenhar papel crucial na futura linha de montagem. A empresa já realiza trabalhos de montagem e manutenção para a Embraer, incluindo suporte ao programa do KC-390 Millennium.

Aeronave comprovada em combate
O A-29 Super Tucano é líder mundial em sua categoria, tendo sido selecionado por 22 forças aéreas em todo o mundo. A aeronave acumulou mais de 600.000 horas de voo, incluindo mais de 60.000 horas em combate, demonstrando sua eficácia em diversos teatros de operações, da América do Sul à África e ao Oriente Médio.

A plataforma é capaz de realizar uma ampla gama de missões: treinamento avançado de pilotos, apoio aéreo aproximado, patrulha aérea, interdição aérea, inteligência, vigilância e reconhecimento armados, vigilância de fronteiras e escolta aérea. Seu diferencial está na capacidade de operar em pistas não pavimentadas, em ambientes hostis e sem infraestrutura, com requisitos de manutenção reduzidos e custos operacionais competitivos.

Momentum comercial
A aquisição portuguesa ocorre em momento de renovado interesse pelo Super Tucano. Além de Portugal, o Paraguai adquiriu seis aeronaves, o Uruguai encomendou outras seis, e um país africano não identificado ordenou mais seis aeronaves. As Filipinas também recentemente ampliaram sua frota com o modelo.

Com a guerra na Ucrânia acelerando projetos de modernização militar e a crescente necessidade de sistemas anti-drone, a Embraer posiciona o Super Tucano como solução flexível e de rápida integração para o mercado europeu. A empresa planeja apresentar a solução antidrone a operadores europeus ao longo de 2026.

Para Portugal, as aeronaves serão integradas à Esquadra 103 "Caracóis" da Força Aérea, preenchendo uma lacuna deixada pela aposentadoria dos Dassault/Dornier Alpha Jet em janeiro de 2018. As primeiras unidades devem estar operacionais no início de 2026, reforçando tanto as capacidades de treinamento quanto operacionais da FAP.

16 dezembro, 2025

Marinha impulsiona Projeto Radar Gaivota com parceria tecnológica estratégica da Embraer e FDTE

Embraer e FDTE firmam primeiro contrato de desenvolvimento científico com a Base Industrial de Defesa voltado ao Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul

Engenheiro Fábio Henrique Caparica Santos, Vice-Presidente de Contratos e Propostas da Embraer, defendeu a soberania tecnológica

*LRCA Defense Consulting - 16/12/2025

A Marinha do Brasil deu um passo histórico no fortalecimento da soberania tecnológica nacional ao promover, no dia 3 de dezembro de 2025, a cerimônia de assinatura do primeiro contrato de desenvolvimento científico e tecnológico do Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação com a Base Industrial de Defesa voltado ao Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz).

O acordo, realizado pela Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), marca uma aliança estratégica entre a Embraer e a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) para o desenvolvimento de tecnologia de ponta aplicada à vigilância costeira brasileira.

Contrato e seus objetivos
O contrato prevê a implementação de um software de processamento de sinal que será embarcado no Radar Gaivota de Vigilância Costeira. Este radar atuará como sensor do SisGAAz e integrará uma rede de radares de vigilância que serão distribuídos ao longo de toda a costa brasileira, fortalecendo significativamente a capacidade de monitoramento das águas jurisdicionais do país.

O radar está sendo desenvolvido no âmbito do projeto da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do SisGAAz - fase 2, representando um investimento significativo em autonomia tecnológica na área de defesa.

Cerimônia reuniu lideranças das três hélices da inovação
A cerimônia de assinatura ocorreu nas instalações do InovaUSP, em São Paulo, e contou com a presença de autoridades representando o modelo "tripla hélice" da inovação - governo, indústria e academia. Entre os presentes estavam:

  • Almirante de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha
  • Engenheiro Fábio Henrique Caparica Santos, Vice-Presidente de Contratos e Propostas da Embraer
  • Professor Doutor José Roberto Castilho Piqueira, Diretor de Operações da FDTE
  • Professor Doutor Marcelo Knörich Zuffo, Diretor do InovaUSP
  • Vice-Almirante Carlos Henrique de Lima Zampieri, Diretor de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM)
  • Vice-Almirante Marcelo da Silva Gomes, Diretor de Gestão de Programas da Marinha (DGePM)
  • Contra-Almirante Marcos Fricks Cavalcante, Diretor do Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro (CTMRJ)

A visão da Marinha: modelo tripla hélice em ação
O Contra-Almirante Fricks destacou a relevância tecnológica do acordo durante seu discurso: "Este contrato é uma iniciativa para a elevação do grau de maturidade tecnológica dos radares da família do Radar Gaivota, visando a sua completa produção pelo setor industrial brasileiro, representando uma materialização do modelo tripla hélice da inovação tecnológica proposta por Etzkowitz e Leydesdorff".

A declaração evidencia a estratégia da Marinha de não apenas desenvolver tecnologia, mas de criar um ecossistema de inovação sustentável que integre as capacidades das forças armadas, da indústria nacional e das instituições acadêmicas.

Embraer: compromisso com a soberania tecnológica
O Vice-Presidente de Contratos e Propostas da Embraer, Engenheiro Fábio Henrique Caparica Santos, agradeceu à Marinha pela confiança depositada na empresa e ressaltou os impactos estratégicos da parceria.

"O fortalecimento e a diversificação da área de Defesa e Segurança da Embraer estão alinhados com o desenvolvimento autônomo de capacidades críticas no País, visando atender às necessidades das Forças Armadas por soluções tecnologicamente avançadas e integradas, ao mesmo tempo em que preservam os interesses nacionais e a soberania", afirmou Caparica.

A declaração sublinha o papel da Embraer não apenas como fornecedora de tecnologia, mas como parceira estratégica no desenvolvimento de capacidades críticas de defesa, reduzindo a dependência tecnológica externa do Brasil.

FDTE: a ponte entre academia e defesa nacional
O Professor Doutor José Roberto Castilho Piqueira, Diretor de Operações da FDTE, expressou gratidão pela parceria histórica com a Marinha: "Para nós é uma honra trabalhar com a Marinha do Brasil. Sempre foi uma troca de experiências de muito valor no âmbito tecnológico".

A FDTE, fundação ligada à Escola Politécnica da USP, desempenha papel fundamental ao viabilizar a transferência de conhecimento acadêmico para aplicações práticas em defesa, demonstrando como a pesquisa universitária pode contribuir diretamente para a segurança nacional.

Assinatura do contrato entre FDTE e Embraer

InovaUSP: inovação pública impulsionando o setor privado
O Diretor do InovaUSP, Professor Doutor Marcelo Knörich Zuffo, destacou o compromisso institucional com o avanço tecnológico do país: "O compromisso de nós como Estado com a nação brasileira é devido. Nós não podemos fugir da nossa responsabilidade como inovadores. A inovação tem que estar em nosso sangue. É a inovação pública que permitirá a inovação privada".

A declaração de Zuffo enfatiza o papel das instituições públicas como catalisadoras da inovação no setor privado, criando as condições para que empresas brasileiras possam desenvolver tecnologias de ponta.

Visão de futuro: um Brasil que não para
Ao término da cerimônia, o Almirante de Esquadra Rabello projetou uma visão otimista sobre os impactos da iniciativa: "Começamos agora a impulsionar o Brasil e esse Brasil não para. O desafio é equalizar esse desenvolvimento pelo país e torná-lo cada vez mais próspero".

A fala do Diretor-Geral da DGDNTM revela a compreensão de que o desenvolvimento tecnológico em defesa tem efeitos multiplicadores sobre toda a economia, contribuindo para reduzir desigualdades regionais e impulsionar o desenvolvimento nacional.

Visita ao Laboratório de Micro-Ondas
Após a cerimônia oficial, os representantes da FDTE e da Embraer foram recebidos pela DGDNTM no Laboratório de Micro-Ondas de Potência e Fotônica (LaMP), onde puderam acompanhar uma apresentação das principais atividades e capacidades tecnológicas do laboratório.

Esta visita técnica demonstra a transparência da Marinha em compartilhar suas capacidades tecnológicas com parceiros estratégicos, facilitando a sinergia necessária para o desenvolvimento de soluções integradas.

Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)
O SisGAAz é um sistema estratégico que visa monitorar, de forma contínua e integrada, as Águas Jurisdicionais Brasileiras e as áreas internacionais de responsabilidade do país. A Amazônia Azul corresponde a aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros quadrados - uma área equivalente a cerca de metade do território continental brasileiro.

O sistema integrará uma rede de sensores terrestres e marítimos, centros de comando e controle, e recursos de monitoramento aéreo e ambiental, proporcionando ao Brasil capacidade efetiva de controlar sua mobilidade estratégica e responder prontamente a ameaças, emergências ou desastres ambientais.

Radar Gaivota: tecnologia nacional de ponta
O Projeto Radar Gaivota representa anos de desenvolvimento pela Marinha do Brasil, com foco na criação de capacidade nacional de produção de radares de vigilância costeira. A família de radares Gaivota está sendo desenvolvida para atender tanto necessidades de vigilância costeira quanto de busca de superfície em plataformas embarcadas.

A elevação do grau de maturidade tecnológica destes radares, objetivo central do contrato firmado, permitirá que o setor industrial brasileiro domine completamente o ciclo de produção, desde o projeto até a fabricação, reduzindo vulnerabilidades estratégicas e criando oportunidades de exportação futura.

Impactos para a Base Industrial de Defesa
O acordo celebrado marca mais um passo relevante no fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira e na consolidação de parcerias estratégicas da Marinha com o setor científico e tecnológico nacional.

Ao desenvolver capacidades críticas em território nacional, o Brasil:

  • Reduz dependência de fornecedores externos em áreas sensíveis
  • Cria empregos altamente qualificados em engenharia e tecnologia
  • Desenvolve conhecimento que pode ter aplicações civis
  • Fortalece sua posição negociadora em cooperações internacionais
  • Garante autonomia para modernização e manutenção de sistemas críticos

Modelo de desenvolvimento para outros setores
A parceria entre Marinha, Embraer e FDTE estabelece um modelo que pode ser replicado em outros setores estratégicos. A integração entre as necessidades operacionais das forças armadas, a capacidade de produção industrial da Embraer e o conhecimento acadêmico canalizado pela FDTE cria um ciclo virtuoso de inovação.

Este modelo de "tripla hélice" permite que pesquisas acadêmicas encontrem aplicações práticas, que a indústria desenvolva novos produtos com menor risco tecnológico, e que as forças armadas obtenham soluções customizadas para suas necessidades específicas.

Contexto internacional e soberania tecnológica
Em um cenário internacional marcado por crescentes restrições à transferência de tecnologias sensíveis, o desenvolvimento de capacidades autônomas em vigilância e defesa torna-se cada vez mais crítico. O Projeto Radar Gaivota insere-se neste contexto como afirmação da capacidade brasileira de desenvolver tecnologias de ponta sem depender de licenças ou autorizações externas.

A soberania tecnológica em sistemas de defesa garante ao país não apenas autonomia operacional, mas também liberdade de ação na política externa, sem restrições impostas por fornecedores de equipamentos críticos.

Perspectivas futuras
Com a assinatura deste primeiro contrato voltado ao SisGAAz entre a Base Industrial de Defesa e o setor de Ciência, Tecnologia e Inovação, abre-se caminho para novas parcerias e projetos. A implementação do software de processamento de sinal no Radar Gaivota de Vigilância Costeira é apenas o primeiro passo de um programa mais amplo que visa equipar o Brasil com capacidade completa de monitoramento de suas águas jurisdicionais.

Os próximos desafios incluem a produção em escala dos radares, sua integração efetiva ao SisGAAz, o treinamento de pessoal para operação e manutenção, e a criação de uma cadeia de fornecedores nacionais capaz de sustentar o programa a longo prazo.

Desenvolvimento tecnológico autônomo
A cerimônia de 3 de dezembro de 2025 representa mais do que a assinatura de um contrato - simboliza o compromisso do Brasil com seu desenvolvimento tecnológico autônomo e com a proteção efetiva de seu território marítimo. A parceria entre Marinha, Embraer e FDTE demonstra que o país possui as capacidades institucionais, industriais e acadêmicas necessárias para alcançar a soberania tecnológica em áreas críticas.

Como afirmou o Almirante Rabello, "esse Brasil não para". O Projeto Radar Gaivota e o SisGAAz são provas concretas de que o país está no caminho certo para garantir sua segurança e soberania através da ciência e da tecnologia. 

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