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| Imagem meramente ilustrativa |
*LRCA Defense Consulting - 23/12/2025
Em um movimento estratégico para modernizar suas capacidades militares e fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID), o Exército Brasileiro lançou uma Requisição de Informações (RFI) para a aquisição de drones de ataque das Categorias 0 e 1. O anúncio, publicado no Diário Oficial da União nesta terça-feira, 23 de dezembro de 2025, marca um passo significativo na adaptação das Forças Armadas às realidades da guerra moderna, impulsionando a busca por soberania tecnológica em sistemas de vigilância, inteligência e ataque preciso.
A "dronização" da guerra
moderna
A decisão do Exército Brasileiro de
investir em drones de ataque não é isolada, mas sim uma resposta direta à
crescente "dronização" da guerra, um fenômeno evidenciado em
conflitos recentes no Leste Europeu e Oriente Médio. Nesses cenários, veículos
aéreos não tripulados (VANTs) têm demonstrado sua eficácia em missões de
vigilância, reconhecimento e, crucialmente, ataque preciso, minimizando a
exposição de tropas e maximizando a eficiência operacional.
O Brasil, com sua vasta extensão territorial e complexidade de fronteiras, enfrenta desafios significativos de vigilância e defesa. A incorporação de drones oferece uma solução moderna e eficaz para monitorar áreas remotas, coletar informações em tempo real e responder agilmente a potenciais ameaças. Além disso, a utilização de VANTs pode reduzir custos operacionais e aumentar a capacidade de resposta do Exército em diversas situações, alinhando as Forças Armadas brasileiras às tendências globais de defesa.
Um workshop realizado pela Diretoria de Fabricação (DF) do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército em dezembro de 2025, que contou com a participação de indústrias da BID, já havia discutido a obtenção de drones Cat 0 e 1, sinalizando a importância que o tema ganhou internamente. A iniciativa reflete a priorização da soberania tecnológica, buscando desenvolver e integrar soluções nacionais que atendam às necessidades específicas de defesa do país.
Detalhes do chamamento público
A Requisição de Informações,
divulgada pela Diretoria de Fabricação (DF), visa mapear as capacidades nacionais em tecnologias de
drones kamikazes e lançadores de munições. O chamamento público destina-se a
empresas, consórcios e associações com expertise no setor, com foco na
adaptação e integração dessas tecnologias para aplicações militares.
Os interessados em participar
podem acessar a documentação completa no site da DF, www.df.eb.mil.br, a partir
de 5 de janeiro de 2026. As respostas às solicitações de informação, bem como a
formulação de perguntas e retirada de dúvidas, devem ser enviadas por meio do
correio eletrônico iniciativa_drones@df.eb.mil.br. O prazo final para submissão
das respostas ao RFI é 6 de fevereiro de 2026, às 16h (horário de Brasília). A
transparência do processo é garantida, com as respostas a perguntas e dúvidas
sendo disponibilizadas publicamente no site da DF.
Os requisitos técnicos, embora
não detalhados especificamente no extrato do RFI, implicam a busca por sistemas
capazes de operar em diversos ambientes, com foco em vigilância, inteligência e
ataque preciso. Isso sugere a necessidade de drones com autonomia, capacidade
de carga útil para armamentos leves e sistemas avançados de navegação e
comunicação.
Classificação de drones nas
Forças Armadas brasileiras
As Forças Armadas Brasileiras, com
ênfase no Exército Brasileiro (EB), adotam uma classificação de Sistemas de
Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP ou UAS) baseada em peso, autonomia, raio
de ação e escalão tático, alinhada a doutrinas como CONDOP 02-2014 e Portaria
COTER Nº 333/2023.
- Categoria 0 (Microdrones): até 2 kg, autonomia <1 hora, raio curto; emprego em pelotão/companhia para observação próxima, como contra-encostas ou perímetros.
- Categoria 1 (Mini e Pequenos): 2-150 kg, autonomia 1-2 horas, raio estendido; uso em batalhão para acompanhamento de frações e hunter-killer.
- Categoria 2 (Médios): 150-600 kg, como Nauru 1000C, autonomia até 8 horas, alcance 60 km; para brigadas em ISTAR furtivo.
Implicações estratégicas para a
modernização militar
O RFI representa um salto qualitativo
na modernização das capacidades militares do Brasil. A adoção de drones de
ataque das Categorias 0 e 1 permitirá ao Exército Brasileiro uma gama expandida
de operações, incluindo:
● Vigilância e reconhecimento: monitoramento contínuo de vastas áreas, identificação de movimentos suspeitos e coleta de informações em tempo real, essenciais para a segurança de fronteiras e controle territorial.
● Apoio a operações terrestres: fornecimento de suporte aéreo próximo, com capacidade de identificação de alvos e coordenação para ataques precisos, aumentando a eficácia das tropas em campo.
● Operações em ambientes urbanos: realização de missões em áreas densamente povoadas, onde drones podem atuar com precisão, minimizando riscos para militares e civis.
Essa iniciativa não só aprimora a capacidade de resposta do Exército a ameaças internas e externas, mas também reduz a exposição de soldados em situações de risco, um valor inestimável para qualquer força armada moderna. Ao se alinhar com as tendências globais, o Brasil se posiciona como um ator mais relevante no cenário militar internacional, dotado de tecnologias que redefinem o campo de batalha.
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| Demonstração operacional do drone bombardeiro MQ-18 |
Oportunidades para a Indústria de Defesa
O chamamento público é uma janela de
oportunidades sem precedentes para a Base Industrial de Defesa (BID)
brasileira. Ao focar em capacidades nacionais, o Exército busca não apenas
adquirir tecnologia, mas também fomentar o desenvolvimento e a autossuficiência
do setor. Empresas brasileiras têm agora a chance de demonstrar seu potencial
no desenvolvimento e fornecimento de soluções de drones que atendam aos
rigorosos requisitos militares.
Um exemplo notável da capacidade nacional já foi observado em outubro de 2025, quando empresas como Mac Jee e Aero.ID demonstraram o drone lançador de munições MQ-18 Arqus no Arsenal de Guerra do Rio, para representantes da DF e do CTEx. Além delas, outras companhias como Stella Tecnologia, Hyperlift, AEL, XMobots, SIATT e Modirum/Gespi participaram de workshops prévios, indicando um ecossistema robusto e inovador.
A Stella Tecnologia, em particular, já é reconhecida por desenvolver o Atobá, considerado o maior drone já produzido na América Latina, com uma impressionante capacidade de voo de 35 horas e sendo 40% maior que o israelense Hermes 900. Este feito evidencia o alto nível de engenharia e inovação presente na indústria de defesa brasileira.
O setor tem mostrado um crescimento expressivo, com exportações atingindo US$ 3,1 bilhões em 2025, um aumento de 74% em relação a 2024. Este cenário favorável reforça a ideia de que o RFI não apenas atenderá a uma necessidade militar, mas também impulsionará a economia e a inovação tecnológica no país.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar das oportunidades claras, a
implementação de drones em larga escala nas operações militares brasileiras
apresenta seus desafios. A integração desses sistemas exigirá investimentos
significativos em treinamento de pessoal, o desenvolvimento de novas doutrinas
operacionais e a garantia de interoperabilidade com outros sistemas de defesa
já existentes.
Para a indústria nacional, os desafios incluem escalar a produção, obter certificações rigorosas e garantir a conformidade com padrões internacionais de defesa. A experiência de países como a Ucrânia, que multiplicou sua produção de drones em mais de 100 vezes desde 2022, serve como um testemunho do potencial, mas também da complexidade, de se estabelecer uma indústria de drones militar robusta.
As perspectivas, no entanto, são promissoras. Com investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, a criação de parcerias estratégicas e o apoio governamental, o Brasil tem a capacidade de se consolidar como um ator relevante no cenário global de drones militares. A "iniciativa drones" da DF é um passo fundamental nessa direção.
Reações e expectativas do setor
O lançamento do RFI está sendo recebido com otimismo por especialistas, autoridades militares e representantes da
indústria de defesa. A iniciativa é amplamente vista como um passo positivo
para a modernização das Forças Armadas e um motor para o fortalecimento da
indústria nacional.
Autoridades militares enfatizam a importância de incorporar tecnologias avançadas para enfrentar os desafios contemporâneos e assegurar a soberania nacional. A aquisição de drones de ataque é considerada um componente essencial para a atualização operacional do Exército.
Representantes da indústria, por sua vez, esperam que o RFI estimule a inovação, crie novos empregos e aumente a competitividade do Brasil no mercado global de defesa. A expectativa é que este movimento estratégico abra caminho para inovações e parcerias que beneficiarão o país a longo prazo, consolidando sua posição como um polo de tecnologia de defesa na América Latina.
Marco na busca por
modernização e eficiência operacional
O RFI do Exército Brasileiro para drones de ataque Categorias 0 e 1 é um marco
na busca por modernização e eficiência operacional. Ao aliar a necessidade
estratégica de defesa com o fomento à indústria nacional, o Brasil não apenas
se prepara para os desafios da guerra moderna, mas também pavimenta o caminho
para a inovação tecnológica e a soberania em um dos setores mais críticos da
segurança nacional.
Este é um momento decisivo, onde a visão estratégica do Exército se encontra com o dinamismo da indústria, prometendo um futuro onde os céus brasileiros serão patrulhados por tecnologia de ponta, desenvolvida em casa.


