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30 dezembro, 2025

Com caça F-39E Gripen plenamente operacional, FAB eleva dissuasão e soberania no espaço aéreo brasileiro

 


*LRCA Defense Consulting - 30/12/2025

A Força Aérea Brasileira (FAB) consolidou um dos passos mais aguardados de seu processo de modernização ao declarar que o caça F-39E Gripen alcançou plena capacidade operacional, coroando uma sequência de ensaios, certificações e exercícios de tiro real conduzidos ao longo de 2024 e 2025. O marco coloca o Brasil em um novo patamar de dissuasão e capacidade de resposta, ao combinar armamentos de última geração, integração em rede e elevada consciência situacional em um vetor já inserido na rotina operacional do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), o Esquadrão Jaguar.​

Segundo a FAB, a certificação operacional do Gripen resulta de uma campanha abrangente que envolveu o lançamento real do míssil ar-ar de longo alcance Meteor, a integração de mísseis de curto alcance e a plena validação dos sistemas de reabastecimento em voo com o KC-390 Millennium, além do primeiro exercício de tiro aéreo com o canhão Mauser BK-27 de 27 mm. Esses eventos, realizados em coordenação com o Instituto de Aplicações Operacionais (IAOP) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), permitiram avaliar desempenho, logística e doutrina de emprego em cenários reais, desde o alerta de defesa aérea até desdobramentos em diferentes regiões do território nacional.​

Do ponto de vista operacional, a chegada do Gripen representa um salto em relação às plataformas de gerações anteriores, como o F-5M, ao oferecer maior alcance, melhor performance em combate além do alcance visual (BVR) e um pacote de sensores e armamentos capaz de engajar múltiplos alvos em ambientes complexos. Com a combinação do radar avançado, sistemas de guerra eletrônica e datalinks táticos, o caça torna-se um nó central na arquitetura de comando e controle da FAB, ampliando a capacidade de vigilância e resposta rápida frente a ameaças aéreas ou incursões em áreas sensíveis.​

A plena capacidade operacional do F-39E também tem impacto direto sobre a doutrina e a formação de pilotos de caça, que vêm passando por processos de treinamento específicos, tanto na Suécia quanto no Brasil, para explorar todo o potencial do novo vetor multimissão. Exercícios recentes de tiro e reabastecimento em voo são usados como laboratório para o desenvolvimento de táticas, técnicas e procedimentos, reforçando a prontidão do 1º GDA para manter o alerta de defesa aérea 24 horas por dia.​

No plano estratégico, a FAB destaca que a consolidação do Gripen como caça plenamente operacional fortalece a soberania e o domínio aeroespacial do país, ao integrar capacidade de defesa aérea, policiamento do espaço aéreo e missões de emprego de precisão em profundidade. A frota em expansão de F-39E, recebida em lotes ao longo dos últimos anos, passa agora a operar com todo o espectro de armamentos homologados, elevando o patamar tecnológico da Força e projetando efeitos sobre a indústria de defesa nacional, envolvida em transferência de tecnologia, engenharia e suporte logístico ao longo de todo o ciclo de vida da aeronave.

29 dezembro, 2025

Polônia está vivamente de olho nas asas brasileiras: Embraer na rota da modernização militar europeia

País prepara força aérea para cenário de guerra prolongada com a Rússia e aeronaves brasileiras surgem como soluções estratégicas 

Imagem meramente ilustrativa mostrando um A-29N e um C-390 sobre Varsóvia

 *LRCA Defense Consulting - 29/12/2025

Em um hangar da Força Aérea Polonesa, o General de Divisão Ireneusz Nowak não esconde a urgência. "Talvez precisemos manter certas posições por muitos meses, ou até anos", afirma o comandante, referindo-se à nova doutrina militar do país. A guerra na Ucrânia mudou tudo. E nessa reformulação estratégica, duas aeronaves brasileiras da Embraer emergem como candidatas fortes: o cargueiro militar KC-390 Millennium e o avião de ataque leve A-29 Super Tucano.

A transformação em curso na Polônia vai muito além da compra de equipamentos. Trata-se de reconstruir toda a arquitetura do poder aéreo polonês para um cenário que ninguém na Europa imaginava possível há apenas três anos: uma guerra de alta intensidade contra uma potência militar próxima, com linhas logísticas sob pressão constante e incertezas políticas.

A lição ucraniana
A invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 expôs uma verdade brutal: superioridade aérea não significa nada sem a capacidade de sustentá-la. Aviões de combate sofisticados ficam inúteis no solo sem combustível, peças de reposição ou munição. Foi essa lição que levou Varsóvia a repensar prioridades.

"O foco não está mais apenas no combate aéreo em si, mas na capacidade de sustentá-lo em um conflito prolongado contra um adversário equiparado", explicou Nowak em entrevista à publicação especializada Defence24. Por isso, antes mesmo de adicionar novos esquadrões de caça, a Polônia está correndo para preencher lacunas críticas em transporte aéreo, reabastecimento em voo e suporte logístico.

É nesse contexto que entram as aeronaves brasileiras.

KC-390: o cargueiro tático que Varsóvia quer
O KC-390 Millennium, jato cargueiro militar desenvolvido pela Embraer, não está competindo com ninguém na Polônia — ao menos não diretamente. O país europeu adota uma estratégia de complementaridade: o espanhol C-295 cobre o transporte leve, o brasileiro KC-390 assumiria o segmento médio, e o europeu A400M Atlas ficaria responsável pelas cargas pesadas e desdobramentos estratégicos.

"Não se trata de uma competição, mas de camadas de capacidade alinhadas aos padrões operacionais da OTAN", esclareceu o Coronel Paluch, responsável por aquisições na Força Aérea Polonesa. O KC-390 oferece velocidade, eficiência logística e custos operacionais mais baixos — atributos essenciais para operações sustentadas.

A Embraer não está fazendo apenas promessas comerciais. Em 2 de dezembro de 2025, a empresa brasileira assinou cinco memorandos de entendimento com a Polska Grupa Zbrojeniowa (PGZ), o conglomerado de defesa estatal polonês, e suas subsidiárias. Os acordos estabelecem cooperação de longo prazo que inclui produção local de componentes, polonização dos sistemas da aeronave, manutenção e até a possível instalação de uma linha de montagem final na Polônia.

"Estamos oferecendo muito mais do que aviões. Estamos oferecendo transferência de tecnologia, capacitação industrial e soberania operacional", destacou um executivo da Embraer presente nas negociações. Para um país como a Polônia, traumatizado pela experiência com os F-16 — onde a falta de capacidade local de manutenção de motores se tornou um problema estrutural —, essa proposta tem peso.

Analistas do setor avaliam a probabilidade de concretização do negócio do KC-390 entre 70% e 80%. Ainda não há contrato assinado, mas os sinais são inequívocos: a Polônia precisa da aeronave, a Embraer está disposta a se comprometer industrialmente, e não há concorrência direta no segmento específico que o KC-390 ocuparia.

Super Tucano: o caçador de drones de uso duplo
Mais instigante que o interesse no KC-390 é o olhar polonês sobre o A-29 Super Tucano, um turboélice de ataque leve que parece saído de outra era. Mas a guerra moderna tem suas ironias.

A Ucrânia revelou um problema que poucos previram: a proliferação massiva de drones de todos os tipos e tamanhos. Desde pequenos quadricópteros comerciais adaptados para lançar granadas até UAVs de reconhecimento de médio porte, essas ameaças de baixo custo se multiplicam mais rápido do que as defesas conseguem acompanhar. Usar um caça a jato moderno, que custa dezenas de milhares de dólares por hora de voo, para abater um drone de US$ 5.000 não faz sentido econômico ou operacional.

É aí que entra o Super Tucano. "Tem que ser uma solução de treinamento e combate, de uso duplo: quando não está treinando pilotos, pode ser usada para missões simples de combate ou patrulha", explicou o General Nowak. A aeronave brasileira combina sensores eletro-ópticos, enlaces de dados e armamentos guiados a laser, exatamente o necessário para detectar, rastrear e interceptar drones. E faz isso por uma fração do custo de um jato supersônico.

"Definitivamente testaremos o Super Tucano e o examinaremos mais de perto no início de 2026", confirmou Nowak. A Embraer apresentou oficialmente as capacidades contra-UAS (sistemas aéreos não tripulados) do A-29 durante a cerimônia de assinatura dos memorandos em dezembro passado.

Mas o Super Tucano enfrenta mais incertezas. A avaliação só começará em 2026, não há definição de quantidades, e outras plataformas - incluindo helicópteros Apache AH-64E e até o transporte leve M-28 Brisa - também estão sendo consideradas para missões anti-drones. A probabilidade de aquisição é estimada entre 55% e 65% — menor que a do KC-390, mas ainda significativa.

Soberania industrial: a nova moeda europeia
O que torna a estratégia da Embraer particularmente inteligente é o timing. A Europa, e especialmente a Europa Oriental, está obcecada com soberania industrial em defesa. A dependência de fornecedores externos - sejam americanos, russos ou até mesmo de outros países europeus - revelou-se uma vulnerabilidade perigosa.

"No caso de um conflito, você nunca sabe se haverá restrições de acesso às aeronaves por razões políticas", argumentou Nowak, justificando por que a Polônia recusou soluções multinacionais da OTAN para reabastecimento aéreo e preferiu desenvolver capacidade nacional própria.

A Embraer entendeu o recado. Os acordos com a PGZ não são meros contratos de compensação industrial — são parcerias de longo prazo que visam integrar empresas polonesas na cadeia de valor global da fabricante brasileira. Isso inclui não apenas produção de componentes, mas desenvolvimento de novas capacidades e até a possibilidade de que a indústria polonesa contribua para operações da Embraer em outros mercados europeus.

"A Polônia não está buscando soluções exóticas ou que criem dependência, mas plataformas comprovadas, interoperáveis e sustentáveis", resume a análise publicada pela Aviacionline, portal especializado em defesa. "Precisamente o domínio onde o KC-390, o A400M, o Super Tucano e o A330 MRTT têm mais a oferecer."

A janela de oportunidade
Para o Brasil e para a Embraer, o momento é histórico. Pela primeira vez, uma nação europeia da OTAN considera seriamente a aquisição em escala de aeronaves militares brasileiras, não por filantropia ou cooperação Sul-Sul, mas porque elas representam a melhor solução técnica, operacional e industrial para necessidades reais e urgentes.

A transformação da Força Aérea Polonesa está apenas começando. O país planeja investir dezenas de bilhões de euros na próxima década para se tornar a força aérea mais poderosa da Europa Oriental, uma posição que a geografia e a história lhe impõem. Nesse processo, haverá espaço para múltiplos fornecedores: Airbus, Lockheed Martin, Boeing e, potencialmente, Embraer.

"A Polônia não está se preparando para dissuadir. Está se preparando para resistir", concluiu um analista de defesa europeu que pediu anonimato. "E quando você se prepara para uma guerra longa, cada decisão de compra se torna estratégica. A Embraer entendeu isso."

Os próximos meses dirão se as asas brasileiras cruzarão definitivamente os céus do Leste Europeu. Mas uma coisa é certa: Varsóvia está prestando atenção. E no atual cenário de segurança europeu, atenção é o primeiro passo para um contrato.

28 dezembro, 2025

Da defensiva à vanguarda: como a Ucrânia pode se tornar o escudo aéreo da Europa

Taxa de interceptação de 97% em ataque russo demonstra capacidade que poucos países da OTAN possuem 

*LRCA Defense Consulting - 28/12/2025

A data de 23 de dezembro de 2025 pode marcar um ponto de inflexão não apenas para a defesa aérea ucraniana, mas para toda a arquitetura de segurança europeia. Naquele dia, pilotos ucranianos de F-16 interceptaram 34 dos 35 mísseis de cruzeiro lançados pela Rússia em um ataque maciço que mobilizou 673 armas aéreas, incluindo 635 drones e 38 mísseis de diversos tipos.

A taxa de interceptação de 97% surpreendeu analistas militares e reacendeu um debate que ganha urgência crescente em Bruxelas e capitais europeias: a Ucrânia, depois de quase três anos absorvendo a experiência de combate mais intensa desde a Segunda Guerra Mundial, está desenvolvendo capacidades de defesa aérea que a maioria dos países da OTAN não possui.

A batalha que mudou a narrativa
O Coronel Yurii Ihnat, chefe de comunicações da Força Aérea ucraniana, confirmou que os F-16 desempenharam papel fundamental na interceptação dos mísseis de cruzeiro. O ataque russo tinha como alvos principais a infraestrutura energética nas regiões ocidentais da Ucrânia, e visava causar apagões em massa durante o inverno.

O que torna esse resultado particularmente significativo é a complexidade do cenário: além dos F-16, participaram da defesa caças Mirage-2000, MiG-29, Su-27, drones interceptadores e grupos móveis de fogo. A coordenação entre sistemas antigos soviéticos e plataformas ocidentais modernas demonstra um nível de integração operacional que poucos países conseguem alcançar mesmo em tempos de paz.

Tecnologia e experiência: a combinação letal
A capacidade demonstrada pelos pilotos ucranianos não surgiu do vácuo. Imagens recentes revelaram que os F-16 ucranianos estão equipados com pods de direcionamento Sniper, que incluem câmeras de luz diurna e infravermelho, além de designador a laser.

Esta tecnologia permite que os pilotos detectem mísseis de cruzeiro e drones usando câmeras ou radar, e então os "iluminem" com o laser para guiar armamentos. Mais importante, os pods Sniper são sensores passivos que não emitem radiação, permitindo que o F-16 opere "silencioso" sem revelar sua localização.

O armamento também evoluiu. Os F-16 ucranianos agora utilizam o Sistema Avançado de Arma de Precisão Letal (APKWS), um foguete guiado a laser de 15 kg com alcance de até 11 km. Com custo de apenas US$ 35 mil por unidade, o APKWS é uma das poucas munições anti-drone no inventário ucraniano mais barata que seu alvo, em comparação com os US$ 500 mil de um míssil AIM-9.

O contexto europeu: um continente despreparado
A performance ucraniana expõe uma vulnerabilidade crítica: a Europa não está preparada para defender seus próprios céus contra ameaças em massa. Segundo estimativas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), até o final de 2023, a Ucrânia possuía aproximadamente 564 plataformas antiaéreas em serviço. Para comparação, todos os países europeus combinados têm apenas cerca de 1.600 plataformas.

A desproporção é ainda mais gritante quando se considera a extensão territorial e populacional da Europa comparada à Ucrânia. A realidade é que a demanda ocidental por sistemas de defesa aérea era historicamente baixa, e a produção industrial não acompanhou as novas ameaças.

Esta lacuna tornou-se dolorosamente evidente em setembro de 2025, quando enxames de drones russos Gerbera violaram o espaço aéreo polonês. A assimetria de custos enfrentada pelos aliados ao interceptar a frota de drones Gerbera sobre a Polônia deixou clara a necessidade de adquirir sistemas mais econômicos, como o caça leve turboélice Embraer A-29N Super Tucano em sua nova configuração anti-drone. Usar caças e mísseis ar-ar caros para derrubar drones é operacionalmente possível, mas economicamente insustentável.

Operação Eastern Sentry e a resposta da OTAN
A resposta da OTAN não tardou. A Operação Eastern Sentry, lançada ao longo do flanco oriental da aliança, visa fortalecer ainda mais a postura de proteção de todos os aliados. A Dinamarca contribuiu com dois F-16 e uma fragata antiaérea, a França com três Rafales, e a Alemanha com quatro Eurofighters.

Paralelamente, está em desenvolvimento a Linha de Dissuasão do Flanco Oriental (EFDL, na sigla em inglês), uma iniciativa que busca desenvolver sistemas padronizados baseados em dados, lançadores comuns e coordenação baseada em nuvem. O conceito prevê a implantação de milhares de drones comerciais, sensores em rede e postos de comando digital que podem detectar e atacar em profundidade.

O paradoxo estratégico
Enquanto a Europa corre para construir suas defesas, a Ucrânia já possui pilotos com centenas de horas de combate real, testando táticas contra a força aérea russa e seu sistema integrado de defesa aérea. F-16s fornecidos à Ucrânia como parte da ajuda militar ocidental agora voam aproximadamente 80% das missões de combate da Força Aérea ucraniana.

Esta experiência é inestimável. Fornecer F-16s à Ucrânia apresenta à OTAN e aos Estados Unidos uma oportunidade única de coletar inteligência sobre a potência de aeronaves e armas aliadas contra equipamentos e táticas russas e iranianas. A guerra na Ucrânia tornou-se, involuntariamente, o maior laboratório de guerra moderna desde 1945.

A afirmação de Stan Zemlyanyy: visão ou realidade?
Quando Stan Zemlyanyy postou no LinkedIn que "nesse ritmo, a Ucrânia pode em breve estar ajudando a proteger o céu da Europa, em vez de a Europa proteger o da Ucrânia", muitos podem ter interpretado como bravata. Os fatos, contudo, sustentam a afirmação.

A Ucrânia possui:

  • Pilotos com experiência de combate real contra ameaças russas modernas
  • Capacidade comprovada de integrar sistemas ocidentais e soviéticos
  • Doutrina operacional testada em batalha para defesa aérea em camadas
  • Taxa de interceptação superior a 90% em múltiplas operações
  • Experiência em operar sob intensa guerra eletrônica

Compare isso com a maioria dos países europeus, cujos pilotos voam principalmente missões de treinamento e patrulha em tempo de paz. Países do flanco oriental com maior potencial continuarão a desenvolver capacidades de ataque de longo alcance como meio de punição convencional, mas a capacidade defensiva continua deficiente.

 

O Centro Europeu de Treinamento F-16
Reconhecendo esta realidade, a Romênia adquiriu 18 F-16 holandeses por apenas um euro cada para dedicá-los ao Centro Europeu de Treinamento F-16 (EFTC). A importância do EFTC só aumenta à medida que Holanda, Dinamarca e Noruega aposentam completamente seus F-16, enquanto Bélgica está em processo de fazê-lo.

O EFTC oferece agora uma capacidade única na Europa, fornecendo um programa completo de treinamento para pilotos de F-16, bem como uma estrutura na qual instrutores e pilotos de diferentes países da OTAN - incluindo a Ucrânia - podem treinar juntos, segundo os mesmos padrões.

Desafios e limitações
Apesar dos sucessos, a situação ucraniana permanece precária. As forças aéreas enfatizaram que mísseis para sistemas de defesa aérea e mísseis ar-ar fornecidos por parceiros não estão chegando nas quantidades necessárias. A escassez de munições é citada repetidamente por pilotos, liderança militar e pelo presidente Zelenskyy.

Além disso, a Ucrânia ainda opera com número limitado de F-16 - cerca de 50 dos 87 prometidos - e sofreu perdas, incluindo pelo menos quatro aeronaves destruídas ou abatidas desde agosto de 2024. A Ucrânia não pode se dar ao luxo de usar seus F-16 como consumíveis.

Implicações para a defesa europeia
A questão central não é se a Ucrânia pode ajudar a proteger os céus europeus, mas quando e sob quais condições. A União Europeia e a OTAN estão desenvolvendo múltiplas iniciativas:

  • Muro europeu de drones: proposto pela presidente da Comissão von der Leyen durante seu discurso de 2025 sobre o Estado da União, busca integrar defesas antidrones ao longo da fronteira oriental.
  • Vigilância do flanco oriental: reforçaria as fronteiras orientais da UE contra ameaças híbridas, cibernéticas, marítimas e convencionais da Rússia e Belarus através da integração de defesa aérea, guerra eletrônica, vigilância e sistemas de segurança marítima.
  • Escudo aéreo europeu: visa criar uma defesa antimísseis integrada continental.
  • Na composição da vigilância e do muro é que seriam inseridas as aeronaves Embraer A-29N Super Tucano, aptas a realizar patrulha aérea de longa duração e, se for necessário, atuar contra drones russos. 

O fator experiência
O que diferencia a proposta ucraniana de uma mera especulação é a experiência operacional. Nenhuma força aérea da OTAN enfrentou combate aéreo de alta intensidade nas últimas décadas. Os pilotos da OTAN são altamente treinados, mas carecem da experiência que apenas o combate real proporciona.

Até o momento na guerra, a Ucrânia abateu mais de 100 aeronaves russas, e a Rússia abateu pelo menos 75 aeronaves ucranianas. Este intercâmbio manteve ambos os lados cautelosos, mas forneceu aos ucranianos conhecimento tático inestimável sobre como operar contra sistemas russos modernos.

O caminho à frente
A transição da Ucrânia de país que recebe proteção para país que fornece proteção não acontecerá da noite para o dia. Requer:

  1. Continuidade do fornecimento de F-16 e munições: sem armas suficientes, mesmo os pilotos mais experientes são ineficazes.
  2. Integração institucional com estruturas de comando da OTAN: a experiência ucraniana precisa ser formalizada e integrada nos sistemas de defesa coletiva.
  3. Sustentação da base industrial: manutenção e suporte logístico são tão críticos quanto as aeronaves em si.
  4. Transferência de conhecimento: a OTAN deveria incorporar pilotos de caça às unidades da Força Aérea ucraniana para auxiliar em debriefings, aprendizado e planejamento de missões.

Um novo paradigma de segurança
A afirmação de Stan Zemlyanyy, longe de ser exagero nacionalista, reflete uma realidade emergente que a Europa precisa confrontar. Após quase três anos de guerra de alta intensidade, a Ucrânia desenvolveu capacidades e expertise em defesa aérea que a maioria dos países europeus simplesmente não possui.

A questão para os formuladores de políticas europeus não é se devem aceitar ajuda ucraniana, mas como institucionalizar e integrar essa experiência antes que seja tarde demais. Com a Rússia demonstrando disposição crescente para testar as defesas da OTAN através de violações de espaço aéreo e guerra híbrida, o tempo para decisões estratégicas está se esgotando.

Como demonstrou o ataque de 23 de dezembro, quando se trata de defender os céus contra mísseis e drones em massa, a Ucrânia pode não estar apenas à altura do desafio - pode estar liderando o caminho.

27 dezembro, 2025

Centauro II-BR: Defesa brasileira avança rumo à produção nacional de blindados sobre rodas

 


*LRCA Defense Consulting - 27/12/2025

O Exército Brasileiro (EB) está prestes a dar um dos passos mais significativos em sua modernização terrestre nas últimas décadas. Conforme apuração da CNN Brasil, a assinatura do contrato para aquisição da Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav) Centauro II-BR está prevista para ocorrer entre fevereiro e maio de 2026. O acordo, que envolverá a Iveco Defence Vehicles (IDV) e a Oto Melara, integrantes do consórcio italiano CIO, marca o início de uma nova era para a indústria nacional de defesa, com ampla transferência de tecnologia e produção local.

Produção em território nacional
A montagem final dos veículos será realizada na fábrica da IDV em Sete Lagoas, Minas Gerais, onde atualmente são produzidos os blindados Guarani 6x6. O plano industrial prevê que, a partir de 2027, os cascos e as torres do Centauro II passem a ser fabricados inteiramente no Brasil, integrando uma cadeia de fornecedores nacionais. O programa contempla 96 unidades do blindado 8x8, totalizando um investimento da ordem de R$ 5 bilhões, com entregas previstas até 2033.

A decisão faz parte de uma política de autonomia estratégica da Força Terrestre, que busca reduzir a dependência externa em veículos e munição de grosso calibre. Segundo fontes do Exército, cerca de 60% dos componentes poderão ser nacionalizados ao longo dos primeiros lotes de produção.

Transferência de tecnologia e armamento
Um dos pontos-chave do contrato é o pacote de transferência de tecnologia. A operação inclui o know-how de fabricação de munições de 120 mm — incluindo tipos APFSDS, HE e programáveis —, além de sistemas de controle de tiro, eletrônica embarcada, optrônicos e integração de sensores.

A IMBEL já trabalha em conjunto com a Comissão do Exército responsável pelo projeto para absorver parte dessa tecnologia, especialmente na fabricação local de munição e rádios criptografados, como o sistema Mallet. Paralelamente, o Exército lançou consulta pública para a aquisição de munições de 120 mm, preparando o terreno para o início da produção sob licença no país.

Impacto estratégico e industrial
O Centauro II-BR será o substituto do histórico EE-9 Cascavel, em operação desde a década de 1970. Mais potente, com canhão de 120 mm e mobilidade superior, o veículo coloca o Brasil no mesmo patamar de exércitos europeus em termos de capacidade de combate sobre rodas.

Para além do ganho operacional, o acordo é visto como um impulsionador do setor industrial de defesa. Especialistas apontam que essa parceria poderá abrir portas para exportações futuras e consolidar o país como referência regional em blindados fabricados localmente.

Segundo analistas ouvidos pela CNN e por publicações especializadas como Tecnodefesa e DefesaNet, o Brasil caminha para uma nova fase de independência tecnológica, em que acordos de compensação industrial (offsets) assumem papel estratégico no fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID).

Próximos passos
Com a assinatura do contrato esperada até o primeiro semestre de 2026, os dois protótipos atualmente em testes no Brasil servirão de base para ajustes finais e treinamento de pessoal. As primeiras unidades de série devem começar a ser entregues em 2027, coincidindo com a consolidação da linha de produção nacional.

Caso o cronograma seja mantido, o Centauro II-BR não será apenas um novo blindado nas fileiras do Exército — mas um símbolo da reindustrialização de defesa, unindo soberania, tecnologia e oportunidade econômica para o país.

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