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*LRCA Defense Consulting - 20/11/2025
A escalada no uso de drones em conflitos contemporâneos vem redefinindo as doutrinas de defesa aérea. No front ucraniano, segundo o Defence Blog, os drones suicidas de fabricação iraniana Shahed-136 (e seu similar russo Geran-2) tornaram-se uma das armas mais disruptivas do campo de batalha, rivalizando em eficiência e impacto com mísseis balísticos, mas a uma fração do custo destes.
Nos recentes combates na Ucrânia, inovadoras táticas de guerra têm emergido na forma de ataques precisos contra a robusta defesa aérea russa apoiada pelo sistema antimíssil S-400 Triumf. O uso inteligente de drones de baixo custo tem permitido às forças ucranianas desestabilizar um dos mais avançados sistemas antiaéreos do mundo, como a neutralização de quatro lançadores S-400 e radares vitais na base russa de Novorossiysk, no Mar Negro, neste mês, como reportou o portal Army Recognition.
A operação ucraniana combinou enxames de drones táticos, drones de ataque e mísseis de cruzeiro Neptune, explorando a vulnerabilidade dos sistemas fixos e caros russos a ameaças assimétricas. Ao destruir sensores cruciais como os radares 96N6 “Cheese Board” e 92N6 “Grave Stone”, as forças ucranianas abriram brechas significativas na cortina defensiva russa, criando oportunidades para ataques subsequentes contra a infraestrutura econômica estratégica, como o porto de exportação de petróleo.
Cenários como esses, segundo especialistas, estão forçando forças aéreas do mundo todo a buscar alternativas de interceptação mais econômicas e flexíveis do que o emprego de caças supersônicos e mísseis antiaéreos de alto custo.
Nesse contexto, o A-29 Super Tucano, desenvolvido pela brasileira Embraer, desponta como uma resposta viável e pragmática para o desafio dos sistemas aéreos não tripulados (UAS). O avião turboélice, tradicionalmente associado a missões de apoio aéreo e contrainsurgência, está sendo adaptado pela Embraer para missões de Counter-UAS (CUAS), uma função que promete ampliar consideravelmente sua relevância no cenário estratégico global.
Adaptação da plataforma para novas ameaças
“Estamos vendo essa demanda [por sistemas contra drones] aumentar muito no atual cenário de guerra”, destacou Bosco da Costa Junior, CEO da Embraer Defesa e Segurança, em entrevista à Shephard Media. Segundo ele, a empresa já trabalha na integração de novos sensores e sistemas ao Super Tucano para ampliar suas capacidades de detecção, rastreamento e engajamento de UAS inimigos.
A aeronave já dispõe de uma base sólida para essa nova função: sensores eletro-ópticos de alta precisão, metralhadoras e foguetes guiados a laser permitem interceptar drones de médio porte (Grupos 3 a 5, segundo a classificação da OTAN), como o Bayraktar TB2 e o próprio Shahed-136, embora, no entender desta Consultoria, alguns drones na faixa superior do Grupo 2 também estejam no escopo, como o Orlan-10 russo e similares. A meta da Embraer é expandir essas capacidades via integração de enlaces de dados e sistemas de aviso antecipado de alvos, tornando o A-29 parte ativa de redes de defesa aérea distribuídas.
“É preciso usar a ferramenta certa para a ameaça certa”, ressaltou Frederico Lemos, diretor comercial da Embraer Defesa e Segurança. “Com o link de dados adequado, o A-29 pode enfrentar qualquer tipo de UAS com sucesso, graças aos sensores e à agilidade que a plataforma possui.”
Grupos de UAS com base em publicação do Departamento de Defesa dos EUA
| Grupo | Peso típico | Altitude de operação | Velocidade típica | Exemplos de UAS | Modelos guerra Rússia x Ucrânia | Aplicações principais |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Grupo 1 | Menos de 9 kg | Até 365 m AGL (acima do nível do solo) | Menos de 463 km/h | RQ-11 Raven, DJI Mavic 3, Parrot Anafi, Skydio X2, DJI Mini 4 Pro, Autel Nano+, Teledyne FLIR Black Hornet | DJI Mavic 3, DJI Mini (ambos os lados), Autel Nano+ (ambos os lados), Black Hornet (Ucrânia), drones FPV caseiros (ambos os lados) | Reconhecimento tático, vigilância de curto alcance, inspeção civil, ataque improvisado |
| Grupo 2 | 9,5 kg a 25 kg | Até 1.067 m AGL | Menos de 463 km/h | ScanEagle, AeroVironment Puma AE, Delair UX11, Quantum Trinity F90+ | Leleka-100 (Ucrânia), Orlan-10 (Rússia), Fury (Ucrânia) | Reconhecimento tático, inteligência, apoio em campo, guerra eletrônica |
| Grupo 3 | 25 kg a 600 kg | Até 5.486 m MSL (acima do nível médio do mar) | Menos de 463 km/h | RQ-7 Shadow, Insitu Integrator, Elbit Hermes 450, IAI Heron | Bayraktar TB2 (Ucrânia), Shahed-136/Geran-2 (Rússia), Zala Lancet (Rússia), Spectator-M (Ucrânia) | Reconhecimento estratégico, vigilância prolongada, ataque kamikaze, munições vagantes |
| Grupo 4 | Mais de 600 kg | Até 5.486 m MSL | Qualquer velocidade | MQ-8 Fire Scout, MQ-1 Predator, MQ-1C Gray Eagle, CAIC Wing Loong II, Bayraktar Akıncı | Orion/E (Rússia), UCAVs turcos operados pela Ucrânia | Ataque armado, reconhecimento de longo alcance, suporte aéreo |
| Grupo 5 | Mais de 600 kg | Acima de 5.486 m MSL | Qualquer velocidade | MQ-9 Reaper, RQ-4 Global Hawk, MQ-4C Triton, X-47B UCLASS, Northrop Firebird | Não há uso registrado de modelos desta categoria no conflito Rússia x Ucrânia até o momento | Vigilância estratégica global, ataque de precisão, inteligência de alta altitude |
Vantagem econômica e operacional
Enquanto o custo operacional de um caça supersônico ultrapassa facilmente dezenas de milhares de dólares por hora de voo, o A-29 mantém um perfil econômico de operação abaixo de US$ 1.000 por hora segundo estimativas de analistas, o que o torna ideal para missões de patrulha e interceptação de drones de baixo custo. Um par de caças a jato dificilmente seria mobilizado para neutralizar um quadricóptero modificado de menos de US$ 5.000, mas o Super Tucano oferece essa flexibilidade com poder de fogo adequado.
Para forças aéreas com orçamentos limitados, ou para países que enfrentam ameaças assimétricas, essa capacidade representa um equilíbrio ideal entre custo, prontidão e eficácia. Além disso, por operar em pistas curtas e ambientes não pavimentados, o A-29 pode ser rapidamente deslocado para áreas de fronteira ou zonas de conflito remoto, algo inviável para plataformas mais pesadas.
Para forças aéreas com maior abundância de recursos, dispor de um ou dois esquadrões de A-29 estrategicamente localizados, significa um importante reforço nos sistemas de defesa aérea tradicionais, complementando-os de forma inteligente e racional, haja vista que preenche uma lacuna crítica, tornando-se a peça que faltava no complexo quebra-cabeça da defesa em camadas contra a ameaça dos drones.
Modernização conjunta e novos mercados
Atualmente, cerca de 22 forças aéreas utilizam o Super Tucano, entre elas a Força Aérea Brasileira (FAB), que está conduzindo um programa de modernização de meia-vida de sua frota de 90 aeronaves. Segundo da Costa Junior, a Embraer oferece aos clientes atuais e potenciais a opção de incorporar as novas capacidades CUAS durante essas atualizações.
O Oriente Médio e a África despontam como mercados prioritários para essa nova fase do A-29. Em parceria com a americana Sierra Nevada Corporation, a Embraer vem apresentando o Super Tucano como uma solução modular para defesa anti-drone, combinando vigilância, ataque de precisão e interoperabilidade com redes de comando e controle regionais.
Tais características tornam a aeronave uma ferramenta ideal também para forças aéreas da OTAN, cujos países estão sob potencial ameaça de drones russos e iranianos, e para Japão, Índia, Coreia do Sul e outros países asiáticos, que têm sobre si o risco de drones chineses e/ou norte-coreanos.
Uma aeronave do futuro próximo
Em 2025, com a proliferação de drones kamikaze e de reconhecimento, munições vagantes e enxames autônomos, a guerra aérea está migrando da velocidade para a versatilidade. A próxima geração de combates exigirá aeronaves que possam reagir a ameaças imprevisíveis, operando perto do solo e com custos sustentáveis.
Nessa transição, o Super Tucano surge não apenas como um avião de ataque leve, mas como um vetor de dissuasão adaptável à era dos drones, um verdadeiro elo entre a aviação tática convencional e a guerra tecnológica em rede.
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