Pesquisar este portal

19 dezembro, 2025

Marinha do Brasil ativa esquadrão inédito de drones e aposta em nova doutrina de combate

Corpo de Fuzileiros Navais inaugura unidade tática que marca salto tecnológico e alinha o país às forças armadas mais modernas do mundo

 

*
LRCA Defense Consulting - 19/12/2025

A Marinha do Brasil ativou no último dia 12 de dezembro o Esquadrão de Drones Táticos de Esclarecimento e Ataque no Batalhão de Combate Aéreo, localizado no Complexo Naval da Ilha do Governador. A iniciativa representa um marco na modernização das Forças Armadas brasileiras e coloca o Corpo de Fuzileiros Navais na vanguarda tecnológica e doutrinária do país.

A criação do novo esquadrão vai muito além da simples incorporação de equipamentos. Segundo o Comandante de Operações Navais, Almirante Claudio Henrique Mello de Almeida, trata-se de galgar uma vanguarda tecnológica e doutrinária que deve atender às demandas para o combate, com foco na prontidão operativa e no preparo para enfrentar novas ameaças em um cenário de guerra cada vez mais automatizado.

Uma filosofia diferente
O que torna essa unidade singular não é apenas o armamento ou os sensores de última geração, mas a filosofia operacional que ela representa. O Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Almirante Carlos Chagas Vianna Braga, destacou que o esquadrão já nasce como unidade tecnologicamente avançada e com uma filosofia diferente, na qual os militares devem estar aptos a operar lado a lado com máquinas autônomas.

Esse novo paradigma reflete as lições aprendidas em conflitos recentes, especialmente na guerra da Ucrânia, onde drones tornaram-se elementos decisivos no campo de batalha. O Comandante Rodrigo Rodrigues ressaltou que o esquadrão simboliza a consolidação de um conceito operacional avançado, no qual tecnologia, informação e precisão convergem para ampliar significativamente a capacidade de proteger o território e antecipar ameaças.

Investimento em capacitação
Para dar suporte à nova doutrina, a Marinha anunciou a criação da Escola de Drones do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, prevista para entrar em funcionamento em 2026. O curso abrangerá drones dos tipos 0 e 1, que podem ser pilotados por quem não é piloto profissional, e inicialmente será voltado para militares da Marinha, podendo ser expandido futuramente para outras forças.

Além da escola, destaca-se a Unidade Fabril Expedicionária do Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais, capaz de fabricar componentes em campanha, prestando apoio industrial diretamente no campo de batalha. Essa capacidade de produção em ambiente operacional representa um diferencial estratégico importante.

Contexto de modernização
O Esquadrão de Drones Táticos de Esclarecimento e Ataque não é a primeira iniciativa da Marinha com aeronaves remotamente pilotadas. Em 2022, já havia sido criado o 1º Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas, equipado com drones ScanEagle, voltado para missões de inteligência, vigilância e reconhecimento.

Mais recentemente, em outubro de 2024, a Marinha incorporou o drone NAURU 500C, rebatizado de RQ-2, desenvolvido com tecnologia 100% nacional pela empresa XMobots, que conta com participação da Embraer. Esse equipamento opera no Sistema de Busca e Salvamento Marítimo, com capacidade de se afastar até 60 quilômetros do ponto de controle e autonomia de voo de quatro horas.

Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, a modernização enfrenta obstáculos orçamentários significativos. Durante o III Simpósio de Defesa e Segurança Internacional, realizado em outubro no Rio de Janeiro, o Almirante Carlos Chagas admitiu que nos últimos 11 anos houve uma queda nos gastos de defesa de 1,4% para 1% do PIB, enquanto o restante do mundo já ultrapassa 2%. Segundo ele, essa redução compromete a capacidade de resposta a imprevistos e afeta o planejamento de longo prazo.

Outro desafio é a crescente sofisticação do uso de drones pelo crime organizado. Casos recentes no Rio de Janeiro revelaram que facções criminosas têm utilizado drones adaptados com explosivos, inclusive com o envolvimento de militares, o que evidencia a urgência de o Estado desenvolver capacidades de defesa antidrone.

Alinhamento estratégico
A ativação do novo esquadrão posiciona o Brasil como ator relevante em fóruns multilaterais de defesa e inovação. A capacidade de operar tecnologias de ponta não apenas aumenta a efetividade operacional das Forças Armadas, mas também fortalece o papel do país no cenário internacional de segurança e defesa.

Com a nova unidade, o Corpo de Fuzileiros Navais demonstra estar acompanhando o ritmo acelerado da evolução tecnológica militar global, preparando-se para os desafios do futuro enquanto desenvolve uma doutrina própria adaptada à realidade brasileira.

Eve Air Mobility, da Embraer, realiza primeiro voo de protótipo eVTOL em escala real no interior de São Paulo


*LRCA Defense Consulting - 19/12/2025

A Eve Air Mobility alcançou um marco histórico na quinta-feira ao completar o primeiro voo de seu protótipo eVTOL (aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical) em escala real. O teste, realizado nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, no interior paulista, representa um avanço significativo no desenvolvimento de soluções para o mercado de Mobilidade Aérea Urbana (UAM).

O voo inaugural, que consistiu em uma manobra de pairar não tripulada, validou sistemas essenciais da aeronave, incluindo a arquitetura fly-by-wire de quinta geração e os rotores de sustentação de passo fixo. A empresa planeja expandir gradualmente o envelope de voo ao longo de 2026, com o objetivo de realizar centenas de testes antes da certificação.

"Este é um marco histórico para nossos funcionários, clientes, investidores e todo o ecossistema", declarou Johann Bordais, CEO da Eve. Segundo o executivo, o voo permitiu capturar dados de alta fidelidade que possibilitarão avanços seguros rumo à certificação da aeronave.

Durante o teste, a equipe técnica avaliou as leis de controle, a integração dos oito propulsores, o gerenciamento de energia, a resposta dinâmica e os níveis de ruído do equipamento. "O protótipo se comportou conforme previsto por nossos modelos", afirmou Luiz Valentini, diretor de Tecnologia da empresa.

A Eve planeja fabricar seis protótipos em conformidade com as normas para conduzir a campanha completa de testes de voo. A companhia mantém diálogo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), autoridade certificadora principal do projeto, além da FAA e EASA. A certificação de tipo, primeiras entregas e entrada em operação estão previstas para 2027.

Jorge Bittercourt, diretor de Produtos da Eve, destacou que o voo valida elementos críticos desde a arquitetura até a mecânica de voo, com foco em confiabilidade, eficiência e simplicidade para os futuros operadores.

A Eve conta com os 56 anos de experiência aeroespacial da Embraer em projeto, certificação e fabricação de aeronaves, além da rede global de serviços pós-venda da empresa brasileira.

Brasil avança na corrida hipersônica com parceria estratégica entre IEAv e Mac Jee

 


*LRCA Defense Consulting - 19/12/2025 (atualizado às 20horas)

Em um movimento que consolida o Brasil no seleto grupo de nações com domínio sobre tecnologia hipersônica, o Instituto de Estudos Avançados (IEAv) e a empresa brasileira Mac Jee formalizaram, nesta quarta-feira (18), uma parceria estratégica para impulsionar o desenvolvimento do Projeto PropHiper 14-X. O acordo, publicado no Diário Oficial da União em 16 de dezembro, representa um marco na integração entre pesquisa militar e indústria nacional no setor aeroespacial.

A cooperação, com vigência de 36 meses, reunirá cerca de 40 engenheiros e cientistas dedicados ao desenvolvimento do sistema de propulsão hipersônica mais ambicioso já conduzido no país. O foco central do trabalho conjunto será o desenvolvimento do RATO-14X (Rocket Assisted Take-Off), o foguete acelerador que levará o veículo hipersônico 14-X às condições ideais para o início de seus testes em voo.

Um projeto de décadas
O Projeto PropHiper teve início em 2006 com a missão de desenvolver tecnologias críticas para o domínio da propulsão hipersônica aspirada, incluindo o motor scramjet e o veículo hipersônico 14-X em configuração waverider. Desde então, o Brasil investiu na construção de laboratórios de ensaios hipersônicos no IEAv/ITA, referência regional na América Latina, e na capacitação de recursos humanos especializados.​

Em dezembro de 2021, o demonstrador 14-X S alcançou velocidade próxima a Mach 6 em seu primeiro teste de voo, na Operação Cruzeiro em Alcântara, validando condições de partida e combustão do scramjet em ambiente relevante. Isso posicionou o Brasil entre os poucos países capazes de ensaiar tecnologias hipersônicas aspiradas em condições reais.​

Atualmente, o projeto avança para etapas subsequentes, como a configuração 14-X SP, na qual o motor scramjet deverá efetivamente propelir um veículo hipersônico em ensaios planejados.

 

Desafio técnico e parceria
O grande desafio técnico que motivou a parceria é o desenvolvimento de um novo veículo acelerador, pois o 14-X SP é mais pesado que a capacidade máxima do VSB-30, foguete usado no primeiro teste de 2021. É aí que entra o RATO-14X, desenvolvido pela Mac Jee após vencer edital da FINEP, com apoio do DCTA/FAB e FNDCT.​

Funcionamento do RATO-14X
O foguete aeroespacial transportará o veículo hipersônico 14-X entre 30 e 40 km de altitude na atmosfera superior, alcançando velocidades acima de Mach 8 (aproximadamente 8.500 km/h ou mais). Nesse ponto, o motor scramjet do 14-X, que precisa de velocidades extremamente altas para funcionar, será acionado e o veículo seguirá sua trajetória de forma autônoma.

Sinergia público-privada
A parceria estabelece uma divisão estratégica de competências. O IEAv, organização militar vinculada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), apoiará a Mac Jee na realização de simulações e análises aerotermodinâmicas de alta complexidade, aproveitando sua expertise consolidada em hipersônica.

Em contrapartida, a Mac Jee disponibilizará equipamentos, serviços e insumos que ampliarão a infraestrutura do IEAv, fortalecendo sua capacidade de desenvolver tecnologias e conhecimentos na área. "A parceria com o IEAv acelera a maturação de capacidades nacionais em propulsão hipersônica e contribui para a preparação do sistema integrado e da campanha de testes do PROPHIPER 14-X", destacou Simon Jeannot, chairman do Grupo Mac Jee.

Mac Jee: de startup à protagonista aeroespacial
Fundada em 2007, a Mac Jee iniciou operações com distribuição de componentes militares importados e, ao longo de 18 anos, tornou-se uma das principais empresas da Base Industrial de Defesa brasileira. Nos últimos quatro anos, investiu R$ 120 milhões na construção de duas fábricas em São José dos Campos e Paraibuna, tornando-se a empresa com maior capacidade de produção e armazenamento de materiais energéticos do Hemisfério.

Mais de 500 profissionais estarão envolvidos no projeto, desde o detalhamento dos requisitos técnicos até o lançamento do foguete, previsto para o final de 2027, no Centro Espacial de Alcântara. A empresa também firmou parcerias com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e diversos fornecedores do ecossistema aeroespacial.

Rumo à soberania tecnológica
Para o Coronel Aviador Charlon, Diretor do IEAv, "o acordo fortalece a pesquisa aplicada e a integração tecnológica necessárias aos ensaios em voo do 14-X, somando competências do IEAv e da indústria com foco em resultados diretamente ligados ao aumento da capacidade aeroespacial brasileira."

Após a conclusão do Projeto PropHiper, a sociedade brasileira poderá usar a tecnologia hipersônica aspirada para desenvolver diversos novos produtos, mas o maior potencial e objetivo atual é desenvolver uma maneira mais eficiente, econômica e segura de acesso ao espaço.

O projeto prevê quatro fases principais, culminando no 14-XWP: um veículo hipersônico autônomo, totalmente controlável e manobrável com propulsão hipersônica ativa. Se bem-sucedido, o Brasil se juntará aos Estados Unidos, China, Rússia, França, Japão e Austrália no grupo de países com domínio completo sobre essa tecnologia estratégica.

Concepção artística do 14-X em órbita

A dimensão estratégica: tecnologia hipersônica e defesa nacional
O domínio da tecnologia hipersônica representa muito mais do que um avanço científico, sendo fundamental para a manutenção da soberania nacional, colocando o Brasil em posição de enfrentar os desafios geopolíticos do século XXI.

Armas hipersônicas, capazes de superar Mach 5 e realizar manobras imprevisíveis, dificultam sua interceptação por sistemas defensivos convencionais. Atualmente, apenas Estados Unidos, China e Rússia operam sistemas hipersônicos militares em escala, com mísseis que podem manobrar durante o voo, tornando sua interceptação extremamente difícil.

O Projeto PropHiper 14-X, embora tenha como foco primário garantir o domínio da tecnologia do motor scramjet, estabelece as bases tecnológicas que poderão, no futuro, ser aplicadas ao desenvolvimento de sistemas de defesa avançados. A tecnologia é considerada um dos meios mais eficientes de acesso ao espaço no futuro, podendo ser utilizada para colocar satélites em órbita e fazer voos suborbitais, mas também representa a base para eventuais sistemas de armamento de nova geração.

O domínio da tecnologia hipersônica insere o Brasil em um seleto grupo de países com capacidade de desenvolver vetores autônomos de alta velocidade, recurso que combina dissuasão, soberania e inovação. Em um cenário internacional onde o Brasil não possui meios para interceptar de forma confiável mísseis hipersônicos, desenvolver essa capacidade tecnológica torna-se um imperativo estratégico.

O Ministério da Defesa definiu sistemas de propulsão hipersônica como fundamentais para a modernização das forças armadas, incluindo a tecnologia entre as 24 áreas críticas para a autonomia nacional. O investimento no PropHiper 14-X não apenas reduz a dependência tecnológica externa, mas fortalece toda a Base Industrial de Defesa brasileira, criando capacidades que vão desde materiais resistentes a temperaturas extremas até sistemas avançados de controle e navegação.

Enquanto a Rússia desenvolveu o Kinzhal, capaz de atingir Mach 12, e a China apresentou o DF-17, o Brasil traça seu próprio caminho. O objetivo atual é o desenvolvimento tecnológico e científico, mas as aplicações futuras dessa expertise podem incluir desde lançadores espaciais mais eficientes até sistemas de defesa que garantam a proteção do território nacional contra novas ameaças hipersônicas que já são realidade em outros continentes.

A parceria entre IEAv e Mac Jee, portanto, transcende o âmbito puramente científico: em uma característica dual, é um investimento estratégico na soberania tecnológica brasileira e na capacidade de o país responder aos desafios de segurança e defesa nas próximas décadas.

Postagem em destaque